Cookies de Laranja escrita por Mychelle_Wilmot


Capítulo 1
Fazendo os Cookies


Notas iniciais do capítulo

Esse capítulo se passa na primeira metade da primeira temporada.



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***

Quando Will pensou sobre aquela tarde em retrospecto, ele não soube porque ele foi até a casa de Hannibal. Ele também nunca teve certeza de porque ele sentiu a necessidade de ficar, quando normalmente ele só esperaria até a próxima sessão para falar com ele.

Will não tinha nenhum motivo urgente para vê-lo, não quando o último caso fora resolvido com relativamente pouco sangue derramado no final, permitindo que Will tivesse alguns momentos de paz. Will nem sequer havia se sentido doente nos últimos dias, com exceção de sua sempre presente enxaqueca.

Mas naquele dia, dirigindo sem pensar muito em onde estava indo, ele logo se encontrou diante da porta de Hannibal, com o homem em pessoa sorrindo polidamente para ele.

— Will. Por favor, entre.

Will entrou na casa, tentando não olhar fixamente para as paredes. Essa não fora a primeira vez que ele entrara na casa de Hannibal, mas ele ainda não estava acostumado com a requintada, de certa forma esquisita decoração que o doutor tinha em seus cômodos.

— Me desculpe por ter vindo sem avisar - Will disse quando Hannibal fechou a porta - Eu honestamente nem estou certo de por que eu vim.

— Eu normalmente não apreciaria convidados não anunciados, mas você é sempre boa companhia, Will - Hannibal disse, educadamente - Você é sempre bem vindo em minha casa, com ou sem aviso.

Will sorriu um pouco, e pendurou o seu casaco.

— Se você continuar me concedendo tanta liberdade, não se surpreenda se algum dia eu entrar na sua casa abruptamente, sem me preocupar em esperar você abrir.

— Como um gato impaciente. Estranhamente, eu não acho que eu me importaria com isso também - Hannibal disse, lhe lançando um olhar divertido.

Will teve que desviar o olhar antes, não sabendo como exatamente responder a aquilo, sem ter certeza se Hannibal estava brincando ou não. Will ainda tinha dificuldade em interpretar a linguagem corporal de Hannibal; ele era mais difícil de ler do que a maioria das pessoas que Will já conhecera.

— Eu queria agradecer por você ter tomado conta dos cachorros de novo quando eu viajei - Will disse, sem erguer os olhos novamente - Eu fico realmente grato, especialmente porque eu te pedi tão em cima da hora.

— Você não precisa me agradecer toda vez que eu fizer isso - Hannibal disse com um tom de voz gentil - Eu honestamente não me importo. Eu não o faria se me importasse.

Will suspirou, mexendo nervosamente em seu cabelo. Ele ainda estava tão desacostumado com simples e gentis atos de amizade vindo tão facilmente, sem nenhuma outra intenção escondida por trás.

— Eu não perguntei os detalhes quando você me disse que o caso estava resolvido, mas você está bem? Você deseja discutir o caso?

— O caso terminou relativamente bem. Nosso cara foi detido quando ele foi encontrado rondando a vizinhança de seu próximo alvo.

— Ele se rendeu?

— Não - Will bufou - Eles raramente o fazem. Jack teve que atirar no ombro dele, mas ele está bem.

Mais do que bem, na verdade. Will esperaria que o homem estivesse inconsciente ou furioso depois de ter levado um tiro, mas ele permaneceu irritantemente calmo, provocando Jack até que o reforço chegasse. Will se lembrava de ter visto Jack apertar sua arma com força, como se estivesse lutando contra o impulso de atirar na cabeça do homem dessa vez.

— Eu imagino que deva ser uma boa sensação, então.

— Bem, sim. Quer dizer, é sempre melhor se nós conseguirmos apenas prender eles, e não executá-los quando eles são detidos.

— Com o benefício de estar salvando uma vida inocente, seu principal motivo por ainda estar trabalhando no FBI.

Não era realmente uma questão, mas Hannibal estava olhando atentamente para ele conforme ele falava, então Will assentiu que sim com a cabeça.

— Sim, é sempre a melhor parte. Mas eu não… quer dizer, eu não quero realmente falar sobre esse caso. Ele terminou, não houve mais casualidades, não há mais garotas mortas. É bom o suficiente para mim.

— Parece ser uma boa mudança na rotina do seu trabalho,” Hannibal observou “Mas eu não irei pressioná-lo para você me contar mais detalhes. Nós não estamos em terapia, e você tem a liberdade de escolher o que você quer conversar comigo.

Will sentiu-se grato por Hannibal não insistir no assunto. Ele realmente não queria se aprofundar naquele caso por mais tempo.

Ele olhou para Hannibal para dizer alguma coisa, e seus olhos notaram pela primeira vez o avental ao redor de sua cintura; Hannibal pareceu notar o olhar curioso em seu rosto.

— Temo que você tenha me pegado durante a conclusão de uma indulgência culinária, Will,” Hannibal começou a desatar o avental de sua cintura - Mas estou feliz que você esteja aqui. Eu gostaria de pedir a sua ajuda.

Will franziu as sobrancelhas, incapaz de deduzir o que Hannibal exatamente queria; Will se considerava um cozinheiro decente, mas ele estava acostumado a fazer apenas o básico na cozinha e não conseguia imaginar o que ele poderia fazer para ajudar alguém tão habilidoso como Hannibal.

Mas ainda assim, o olhar quase ansioso no rosto de Hannibal fora suficiente para que Will assentisse com um relutante aceno de cabeça.

***

— Isso é delicioso - Will disse, sua boca ainda meio cheia de creme.

No fim das contas, a indulgência culinária de Hannibal era uma sobremesa que já estava feita e pronta para ser comida, e aparentemente tudo o que Hannibal precisava era de alguém que a provasse e dissesse para ele o quão gostosa ela estava. Normalmente Will não estaria tão disposto a alimentar as tendências narcisistas de Hannibal, mas a sobremesa realmente era maravilhosa.

— O Tiramisù é o mais conhecido e popular dolce italiano - Hannibal parecia deliciado pela boa recepção de Will - O seu ingrediente pessoal é o queijo Mascarpone, notório por ser doce e cremoso.

— É realmente muito bom,” Will engoliu o pedaço ainda em sua boca - Eu nunca havia comido antes.

— Não é sempre que eu consumo o Tiramisù, considerando que meu paladar não é sempre favorável a sabores doces, mas o Tiramisù é uma exceção. Eu gostava muito dessa sobremesa quando eu morava na Itália, e eu nunca enjoei desse sabor.

— Eu adoro doces - Will admitiu, comendo mais uma colherada - Mas eu sempre fui um desastre quando o assunto é fazer sobremesas. Eu não sou um cozinheiro ruim, mas eu nunca fui capaz de fazer sobremesas ou mesmo cookies comestíveis.

— Cookies são normalmente muito fáceis de fazer. Por que você tem dificuldade em fazê-los?

Will engoliu o último pedaço da sobremesa, e puxou seu prato para o lado.

— Eu não tenho certeza. Eles sempre terminam ou meio crus ou queimados. Falta de prática, talvez - Will deu de ombros - Quando eu era criança, meu pai só cozinhava o mais básico, e quase todas as receitas dele incluíam peixe. Eu tentei aprender mais durante os meus anos de faculdade, mas eu nunca realmente aprendi a fazer doces e sobremesas. Não sou um cozinheiro habilidoso de forma alguma.

— Talvez o que faltou para você é um professor competente.

Will piscou, confuso por um momento, e então olhou para Hannibal com uma sobrancelha erguida.

— Você está se oferecendo para me ensinar, Doutor Lecter?

Hannibal sorriu diante da questão.

— Eu estou, se você estiver interessado - Hannibal parecia deliciado com a possibilidade.

Will hesitou.

— Eu não tenho certeza se eu seria um bom aprendiz.

— Não seja tão duro consigo mesmo, Will, eu tenho certeza de que você é mais do que capaz. E eu sou mais do que confiante na minha habilidade como professor.

Will sorriu um pouco diante daquilo, e considerou a proposta seriamente pela primeira vez.

Por que não? Ele não tinha lugar alguma para ir pelo resto da tarde ou mesmo da noite, e ele não tinha ninguém esperando por ele além de um leal bando de cachorros. Se ele ficasse, ele poderia talvez aprender uma habilidade que ele sempre quis dominar, mas cuja destreza lhe faltava. Valia a pena tentar, mesmo que isso lhe obrigasse a sair de sua estimada solidão.

Mas mesmo isso não seria um grande problema. Diferente da maior parte das pessoas que ele tinha contato, Hannibal não era uma pessoa difícil de se estar perto. Seu exterior calmo e sua eterna paciência eram sempre uma âncora para a mente de Will, e ele não se importava em ficar por um longo tempo na presença do doutor - ele até gostava, até mesmo das horas de terapia.

Quando ele olhou novamente para Hannibal, foi com um olhar desafiador.

— Tudo bem então, doutor. Ensine-me a fazer cookies, se você puder.

O sorriso de Hannibal foi sua única resposta, mas foi o suficiente para Will entender que seu desafio fora aceito.

Eles limparam a mesa, e Hannibal começou a colocar alguns ingredientes nela, e instruiu Will a lavar suas mãos. Ele então colocou novamente seu avental e o amarrou em sua cintura, e então pegou outro avental, parecido com o que ele usava, e o entregou para Will.

— Eu nunca cozinho com um avental - Will confessou enquanto ele amarrava um ao redor de sua cintura - Eu nem sequer tenho um.

— Então esse é seu a partir de agora.

Will começou a protestar, mas Hannibal não deu importância a seus protestos.

— Eu insisto. Aventais são muito úteis na cozinha, e podem fazer a arte de cozinhar muito mais higiênica, especialmente quando alguém tem tantos cachorros como você tem.

— Eu não deixo os meus cachorros passearem pela cozinha quando eu estou cozinhando - Will disse, ligeiramente ofendido pela insinuação.

— Eu não estava insinuando que você o faz, mas você é dono de vários cachorros. Um dono muito dedicado de sete cachorros, e as suas roupas podem ter pelo de cachorro que não é facilmente removido em uma lavagem comum, e um avental pode impedir esse mesmo pelo de cair na comida que você está preparando.

Will ainda se sentia levemente irritado, mas a motivação de Hannibal fazia sentido, então ele relutantemente aceitou o presente.

— Obrigado - Will disse, tentando não soar sarcástico; Hannibal não fora nada além de gentil com ele desde que ele batera em sua porta, e Will não queria ofender ele, mesmo que ele não fosse usar um avental em sua casa.

— De nada - Hannibal disse com um pequeno sorriso, e Will sentiu-se um pouco melhor por não ser deliberadamente ser grosso.

— Então, hm, o que vamos fazer?

— Considerando que você mencionou gostar de cookies, eu pensei em fazermos um dos meus doces favoritos da minha juventude na Itália.

Will assentiu, esperando para ver se Hannibal elaboraria.

— Eu pensei em ensinar a você uma receita mais elaborada, mas eu achei que seria menos intimidante se nós começássemos com algo mais simples, que não pede ingredientes raros. Essa receita em particular eu adquiri de uma senhora muito memorável, proprietária de uma padaria que se situava na mesma rua que a casa de meu tio. Eu nunca me esqueci dessa receita.

— Qual é o sabor deles? - Will perguntou. Ele não comentou, mas ele estava aliviado por Hannibal não começar lhe ensinando alguma receita super elaborada de um cookie gourmet que ele nunca teria a energia de fazer sozinho.

Hannibal ergueu um dos ingredientes que ele havia colocado na mesa; uma laranja.

— Ele tem uma textura bem delicada; se feito da maneira correta, ele irá derreter em sua boca.

Will sorriu, um pouco sem graça.

— Vamos ver, então. O que eu tenho que fazer?

— Eu vou lentamente guiar você, mas por enquanto você pode bater três quartos de xícara de manteiga com um terço de xícara de açúcar, enquanto eu pego os ovos e a baunilha.

Will assentiu, focando toda a sua atenção no que ele estava fazendo. Era bom estar fazendo um trabalho manual que não desafiava todos os seus limites, mas que era algo novo. Will estava tentando ao máximo absorver cada palavra dita por Hannibal, pois assim ele seria capaz de se lembrar de como fazer a receita sozinho, se ele gostasse do sabor.

Era bastante fácil de seguir as instruções de Hannibal. Ele se movia sem esforço pela cozinha, com graça e habilidade, como um grande felino se espreguiçando em seu território. Will obedientemente seguiu as instruções de Hannibal quando ele lhe disse para adicionar os ovos, a baunilha e o suco de laranja, e Hannibal mediu a farinha e o fermento em pó, lentamente colocando na mistura enquanto Will batia a massa.

Quando era hora de amassar a mistura na mesa, Hannibal virou-se para ele.

— Você quer que eu assuma agora?

— Eu acho que eu preferiria ter a experiência toda - Will disse, surpreendendo a si mesmo em quão sincero ele soava; ele realmente queria fazer o processo todo se pudesse.

— Como você quiser - Hannibal disse, claramente satisfeito.

Hannibal o guiou em por quanto tempo ele deveria amassar a mistura, e em como ele poderia enrolar a massa em pequenas partes, com o comprimento de seis polegadas, e começou a ajudá-lo a moldar a massa em anéis.

— O processo se torna repetitivo agora, então nós terminaremos mais rápido se eu te ajudar - ele explicou.

Will não respondeu, mas abriu espaço para que Hannibal pudesse trabalhar.

Quando eles terminaram os anéis, Hannibal começou a colocá-los em formas para cookies, sem as untar.

— Agora nós deixamos a massa descansar por quinze minutos antes de colocar ela no forno,” Hannibal explicou conforme ele começou a limpar a mesa.

Will assentiu, tentando não ficar no caminho de Hannibal para não atrapalhá-lo.

— Você, hm, precisa de ajuda para limpar?

— Não é necessário. Eu vou lavar tudo depois que nós fizermos a cobertura - Hannibal disse, limpando a mesa.

— Você é um cozinheiro muito organizado - Will observou sem nenhuma surpresa; com exceção dos cookies e dos utensílios não lavados, tudo estava novamente guardado e em seus devidos lugares.

— Eu estou acostumado a cozinhar grandes quantidades de comida, frequentemente com detalhes elaborados. Nesse tipo de condições, você aprende a se tornar um cozinheiro organizado ou você descende ao caos.

— Temo que eu tenha escolhido adotar o caos - Will sorriu um pouco diante do olhar sofrido de Hannibal - Foi o único jeito que eu aprendi a fazer qualquer coisa na cozinha.

— Talvez eu possa passar alguns bons hábitos para você, então - a voz de Hannibal soou esperançosa para os ouvidos de Will.

— Talvez - Will concedeu - Mas não ponha muita fé nisso, doutor. Velhos truques são difíceis de se desaprender.

— Eu não sou nada além de persistente.

Will surpreendeu a si mesmo com uma risadinha.

— Eu acho que eu nunca conheci alguém tão passional sobre comida e cozinha quanto você.

— A culinária é uma forma de arte, e eu sou muito passional sobre todas as formas de arte. Não é apenas uma maneira de se ganhar nutrição - Will achou que ele podia ver os olhos de Hannibal brilharem um pouco conforme ele falava - É o ato de transformar algo rudimentar em algo melhor, aprimorado. É o ato de consumir uma vida, seja a vida de um vegetal ou algum outro tipo de vida.

— É um modo bem particular de se ver isso, mas eu consigo ver o porque você pensa assim. Mas acho que pra mim nunca significou nada além de nutrição - Will disse em um tom de desculpas.

— Por causa da sua infância?

— Talvez. Provavelmente - Will coçou a cabeça - Quer dizer, eu nunca passei fome, meu pai sempre tinha alguma comida na mesa para nós. Mas nós não tínhamos dinheiro para diversidade. Às vezes eu ficava duas semanas comendo apenas sopa e feijões em lata, ou um mês inteiro comendo arroz e peixe. Eu podia comer frutas só se estivéssemos em um lugar com árvores perto, e eu praticamente só comia chocolate se eu ficasse doente. Quando eu era adolescente as coisas melhoraram, mas acho que já era tarde demais para o meu paladar.

— Nunca é tarde demais para se aprender bons hábitos.

— Sim, mas aquilo que você aprende na sua infância tem o desagradável hábito de ficar com você.

— Às vezes - Hannibal concordou - Às vezes não. Às vezes você pode aprender a ignorar ou compensar um hábito adquirido na infância.

Alguma coisa na voz de Hannibal despertou curiosidade em Will.

— A sua paixão por culinária é uma maneira de compensar?

— Eu não simplificaria meus hobbies dessa maneira - Hannibal disse, quase zombando da noção - Mas eu suponho que tenha alguma verdade nessa ideia. O período após a morte dos meus pais e antes do meu tio me adotar foi um tempo muito… difícil.

Will achou que aquilo era provavelmente um eufemismo, e imediatamente se sentiu mal por perguntar; ele esqueceu que uma vez Hannibal havia comentado que ele se tornou um órfão muito cedo. Apesar de seu modo elegante e suntuoso de viver, ele provavelmente foi uma criança faminta durante alguns anos de sua vida, no tipo de pobreza que vem com o abandono e que Will teve sorte e não experimentar em sua infância.

Mas antes que Will pudesse dizer mais alguma coisa que ele fosse se arrepender, Hannibal se virou para ele.

— Está na hora de assar os cookies, agora. Vai levar mais ou menos quinze ou dezessete minutos para eles ficarem assados, e nós podemos fazer a cobertura enquanto isso.

Will assentiu, e ajudou Hannibal a colocar os cookies no forno.

— Como nós fazemos a cobertura? - ele perguntou quando eles terminaram; Hannibal já estava colocando ingredientes na mesa.

— É uma cobertura muito simples. Açúcar de confeiteiro e suco de laranja, até formar uma cobertura espelhada. Você gostaria de fazer?

— Sim - Will disse - Só me diga quando eu devo parar. Eu não tenho certeza se vou saber quando está bom o suficiente.

Após alguns minutos, Hannibal disse para ele parar, e cinco minutos depois, eles tiraram os fumegantes cookies do forno.

— O cheiro é muito bom - Will comentou enquanto eles colocavam os cookies na mesa novamente.

— E o gosto vai ser ainda melhor - Hannibal prometeu, com um sorriso no canto dos lábios.

Eles trabalharam juntos para colocar a cobertura nos cookies, e essa etapa foi muito mais rápida do que anterior, e em menos de cinco minutos eles já haviam terminado.

— Antes de você experimentar, deixe-me limpar a mesa e colocá-los em um prato - Hannibal disse quando Will pegou um dos cookies; ele assentiu e pacientemente esperou, lutando contra um sorriso. A necessidade de Hannibal de apresentações elegantes parecia mais cativante do que irritante naquele momento.

Por fim, Hannibal colocou os cookies em um de seus belos, elegantes pratos; os cookies eram bem diferentes das sobremesas extravagantes que ele normalmente apresentava, mas eles pareciam tão deliciosos quanto para os olhos de Will.

— Posso provar um agora? - Will perguntou, não resistindo a oportunidade de provocar um pouco.

— É claro. É apenas justo que você aprecie o sabor de seu trabalho duro.

Com isso, Will finalmente trouxe um cookie para sua boca, mordendo um pedaço.

Tão logo a sua língua entrou em contato com o cookie, ele sentiu a doçura do açúcar contrastando com o levemente ácido gosto da laranja e a macia, cremosa textura, e ele foi incapaz de engolir um gemido.

— Eu presumo que você gostou? - Hannibal perguntou, claramente convencido da resposta.

— Gostei, sim - Will respondeu; normalmente ele sentiria o impulso de negar a satisfação a Hannibal, mas parecia não ter sentido nesse caso.

— Eu não estou surpreso. Eu sempre tive grande confiança em suas habilidades - Hannibal sorriu, um sorriso de verdade, que não era apenas um movimento de alguns segundos.

— Apesar de eu agradecer a sua fé em mim, você não pensaria assim se você tivesse comido os cookies que eu fiz no passado.

— Talvez - Hannibal concedeu - Mas esses parecem realmente estarem gostosos.

— Seja o juiz, então - Sem pensar no que estava fazendo, Will pegou um cookie e o levou a direção da boca de Hannibal.

Foi apenas quando Hannibal ergueu uma sobrancelha que Will percebeu o que ele havia feito e as implicações, e sentiu sua pele esquentar um pouco. Mas antes que ele pudesse abaixar seu braço, Hannibal mordeu o cookie. Seus lábios não tocaram os dedos de Will, mas ele conseguiu sentir o calor da respiração de Hannibal em seus dedos durante aqueles centésimos de segundo, e ele sentiu seu rosto corar ainda mais conforme ele abaixou seu braço.

— Verdadeiramente formidável, Will - Hannibal elogiou, e Will não conseguiu se convencer a fazer contato visual.

— Hm, obrigado. É como aqueles que você comia em sua juventude?

Hannibal balançou a cabeça.

— Não exatamente, não. Dois gostos nunca serão iguais. É diferente, mas a sua versão não é menos deliciosa, e eu gostei muito.

Will conseguiu erguer seus olhos para Hannibal novamente, se sentindo melhor com a calma expressão na face do doutor, mesmo que ele ainda conseguisse sentir o calor em seu rosto.

— Obrigado - Will conseguiu dizer - Eu não teria conseguido sem sua ajuda.

— De nada. Se a nossa pequena aventura hoje puder ajudar você no futuro, eu vou me sentir realizado.

Hannibal sorria enquanto ele dizia isso, e Will abaixou a cabeça com um pequeno sorriso, ainda com a sensação da respiração de Hannibal em sua pele e o gosto de laranja em sua língua.

***

Depois daquele dia, pelo menos um mês se passou antes que Will se sentisse a vontade o suficiente para tentar fazer sozinho a receita que Hannibal lhe ensinou.

Era um domingo de chuva; seu celular permaneceu abençoadamente quieto, sem ligações urgentes de Jack e sem ligações amigáveis de Alana ou Hannibal. Seus cachorros estavam entediados dentro da casa, quase todos tirando uma soneca.

Depois que ele terminou de almoçar, depois que ele arrumou a casa tanto quanto o clima chuvoso permitia, e depois que ele alimentou os cachorros, ele ficou sem ter nada o que fazer quando tinha bastante tempo livre, e foi durante esses momentos que ele se lembrou daquele dia estranho.

Will entrou em sua cozinha e checou para ver se ele tinha todos os ingredientes, e uma vez que ele confirmou que tinha, ele hesitou apenas por um momento antes de começar a separar o que ele precisava. Ele pediu para Hannibal ensinar a receita para dias como esse.

Will ainda se lembrava de tudo o que ele precisava fazer, mas o processo levou o dobro do tempo sem a ajuda de Hannibal. Mesmo assim, Will não se importou com o trabalho extra; ele não tinha pressa.

Quando tudo havia terminado, alguns cookies estavam levemente queimados e a cobertura estava um pouco mais ácida do que antes, mas eles ainda estavam gostosos, então Will não se importou com os pequenos defeitos.

Com a chuva ainda caindo preguiçosamente lá fora, Will se sentou em sua cama com um prato cheio de cookies, com uma agradável doçura em sua boca e quietos pensamentos sobre cookies de laranja italianos, e um jovem Hannibal Lecter impressionado com eles.


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Notas finais do capítulo

Erros gramaticais são minha culpa, não tenho beta. Se sintam a vontade para apontá-los!

Se vocês se interessarem pela receita do Tiramisù (confesso que nunca comi):

http://www.petitgastro.com.br/a-historia-do-tiramisu-o-mais-famoso-dolci-italiano/

Obrigada por ler, comentários são sempre bem vindos!



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