Crônicas das terras arrasadas: O sentimento algoz escrita por Abistrato


Capítulo 13
Capítulo 13 - Jennifer Wagen




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Capítulo 13 – Jennifer Wagen

As balas de Dimitri se chocavam contra as sombras próximas da silhueta macabra. Os flashes e sons de metal com metal se repetiam freneticamente iluminando a figura até que começaram a atingir o chão.

— Bosta! Onde ela está? — disse Dimitri tremendo.

— Eu não sei! — respondi pondo a baioneta em Herrenvolk.

— O som! — Dimitri vira-se rapidamente e solta uma rajada onde um flash entrega a posição da Açougueira.

Ele rapidamente liga a lanterna, mas ela sumiu novamente restando no lugar apenas esqueletos limpos usando as mesmas roupas de proteção para motocross pichadas em cores chamativas dos assaltantes que nos atacaram antes de descermos para o metrô.

— Eles já sabiam que tinha alguma coisa aqui, por isso nos prenderam... Liga o gerador... — eu sussurro enquanto observo meu arredor a espera de um ataque. — Agora!!

O Russo corre assim que a lâmina da motosserra surge do meu lado, mas um pulo assustado me salva. O retorno do golpe foi parado pela baioneta em um tranco violento torceu meu tronco. Sob a chuva de faíscas que surgiu desse encontro, nós rosnamos uma para a outra, mas ela via o medo escondido em meus olhos, ela conhecia a própria fama. A Açougueira sorri lambendo os beiços e acelera mais a sua arma fazendo o barulho ecoar pela estação. Eu tento resistir, mas meus músculos cansados não suportam a força da máquina. Eu esquivo para a esquerda e com a força da própria motosserra consigo acertar a coronha de Herrenvolk na cara da infeliz, mas não foi o suficiente para fazê-la cair. Ela recua com o impacto e sua testa começa a sangrar dando-a uma cara ainda mais assustadora. Ela fixa seus olhos em mim e ajeita os dedos segurando sua arma com mais firmeza começando uma série de golpes.

Meus braços e pernas começam a tremer pelo cansaço ao me esquivar sempre por muito pouco das investidas da lenda. No momento que as luzes se ligam iluminando todo o corredor da estação me vejo segurando o trilho da motosserra com o corpo de Herrenvolk. Lascas de madeira e faíscas voam em mim ao passo que o coturno dela atinge minha barriga.

Sob a luz seu rosto era especialmente assustador, pois seu sorriso largo de dentes pontiagudos parecia desproporcional ao tamanho da cabeça pequena de uma jovem. Seus olhos estalados e grandes eram independentes um do outro e enquanto um olhava diretamente para mim o outro acompanhava cuidadosamente Dimitri.

Eu caio no chão vendo a ponta da corrente vindo em minha direção.  Instintivamente eu rolo e o azulejo explode ao meu lado sob o som dos tiros de Dimitri. Eu entro em choque ao ver que não era a escuridão que a protegia, mas um cutelo. Um maldito cutelo! Ela o movia com uma velocidade sobre-humana, mas, de tão rápido, a sensação era que um vulto negro a protegia, assim como diziam nas lendas, as balas de Dimitri caiam aos pés dela depois de se chocarem contra a lateral da grossa lâmina. Não tem como simplesmente sobreviver a essa louca!

Eu arrisco uma estocada seguido de um tiro, mas rapidamente a lâmina maldita aparece para mim quando os cliques anunciam o fim da munição de Dimitri.  Eu recuo fugindo da corrente dentada que me persegue ao passo que destroça o chão. Usando toda a força que me sobrou eu rolo para trás me pondo de pé novamente com a Açougueira bem na frente do meu cano, mas o novo tiro que apenas resulta em um clique.

— Merda! Estou sem munição! — berro, mas isso era tudo que ela queria saber.

Com a motosserra alta no ar, olhos estalados e lábios salivantes para seu golpe final, a Açougueira desfrutava do momento como um galga faminto nos momentos antes de abater sua presa cercada e amedrontada. Meus músculos enrijecem aceitando o destino do meu corpo. Eu engulo o seco sem conseguir fugir, apenas esperando o impacto fatal enquanto ela corta o ar em um movimento que terminará por me degolar. É quando um carregador voador acerta sua cabeça.

— Corre, Jenny!! — Dimitri grita ao sair da posição de arremesso.

Nos breves segundos que ela perde a concentração me viro para fugir, mas, um passo depois de me virar, algo me puxa, pela cabeça jogando meu corpo novamente ao chão. Eu fecho os olhos de dor quando minha bunda atinge o chão e os abro novamente apenas para ver a aterrorizante corrente dentada quase encostando no meu rosto.

Mas eu não morri? Como isso é possível?.... A corrente está parada! Minha alegria dura até minha cabeça ser jogada para direita e esquerda junto da corrente, é então que eu entendo o que realmente aconteceu tornando um milagre numa das piores maldições possíveis: Meu cabelo, de alguma forma, havia enroscado na corrente e travado o motor da motosserra.

Como eu pretendia manter minha cabeça no corpo eu tomo a terceira pior decisão da minha vida (na verdade é a segunda... a primeira não foi culpa minha) então num movimento cheio de remorso e raiva eu corto meu cabelo. Eu me levanto rapidamente ao passo que a Açougueira jogava sua arma de lado.

Uma encarando a outra, eu passo a mão por meus cabelos que foram brutamente diminuídos. Um calor surge dentro de mim enquanto eu cerro os dentes, minha respiração acelera e fica mais profunda.

Ela nota minha raiva e sorri sacando seu cutelo e um gancho de carne

Dimitri dispara seu revólver contra ela, mas seu olho cuidadoso não deixa isso passar e o cutelo surge no caminho. Eu sinalizo para que ele para que ele pare. Agora sou só eu e ela! Eu solto Herrenvolk e empunho BFF.

— Sua puta! Eu demorei 8 para crescer e manter esse cabelo! Você me paga, sua vaca! — Eu disparo loucamente cartucho após cartucho, mas ela não demorou para se aproximar de mim.

Ferozmente nós trocamos coronhadas, socos e cortes. Enquanto meu colete me salvava dos golpes do cutelo, o gancho dela me fazia errar os tiros. Com ambas as cabeças sujas de tecos do teto, rostos sangrando, bochechas esmagadas, braços cortados e narizes tortos eu comecei a me cansar, mas Amy ainda estava com toda a energia.

Nós disputamos à força a posição de BFF até que eu consigo alinhar o cano dela sob o queixo de Amy. Um sorriso sádico surge forçosamente em meu rosto, mas ele é seguido de um clique? Sério?! Justo agora pra errar na contagem de balas? Desesperadamente eu soco a cara dela e chuto sua barriga conseguindo, ao custo de um corte na perna, me afastar um pouco, mas suficiente para golpeou  BFF em sua cabeça com toda força que dispunha.

Atordoada, a Açougueira demorou um pouco para se recuperar me dando tempo para fugir em direção a Dimitri. Eu jogo BFF para Dimitri que, atrapalhado, deixa-a cair no chão. Eu tiro o revólver da calça dele enquanto entrego um par de cartuchos:

— Recarrega!

Quando me viro a Açougueira não está mais onde eu a deixei. É quando uma faca se crava na lateral do meu colete revelando que ela não está a mais de cinco metros de nós vindo lentamente como um gato que brinca com o rato antes de o devorar.

Eu disparo todos os quatro tiros que restaram, mas o resultado já era o esperado, então jogo a arma nela conseguindo tempo para sacar Valquíria e Come-Quieta.

— Dá pra ir mais rápido ai?! — eu berro para Dimitri ao passo que disparo ambas as armas para a atrasar.  

— Eu nunca carreguei uma arma na vida!

— Ela tá chegando perto! — Nós recuamos em direção a pequena sala como o corpo.

— Toma!

Eu solto Come-Quieta e num único movimento pego já apontando BFF que fica a menos de um centímetro do rosto da Açougueira. Meu sorriso sádico volta enquanto ela olha assustada para dentro do cano.

Com o estrondoso estampido ela é arremessada contra a bilheteria, fazendo o resto dos cacos de vidro caírem à medida que seu corpo faz o mesmo sentado.

A felicidade e meu ego crescem em meu peito e eu começo a rir largamente sabendo que sobrevivi a uma lenda viva e ainda consegui a matar.

Dimitri me olha assustado e aliviado ao mesmo tempo:

— Nós sobrevivemos! — Percebo a cara de assustado do russo — Você não tá feliz? Vamos lá!

— Eu não contaria com a vitória ainda... — Minha risada cessa ao ouvir mais barulho de vidro.

Lentamente eu me viro apenas para ver que a maldita ainda estava viva. Ela tremendo se levantou tirando o cutelo da frente do rosto que estava marcado com a silhueta da lâmina em vermelho. Atrás de mim Dimitri começa a rezar baixinho:

— Pai nosso que estais no céu santificado seja...

— Dimitri, improvisa uma arma... Agora... — Como uma barata tonta o russo, ainda rezando, começa a procurar coisas dentro da pequena sala enquanto eu saio para nos conseguir tempo.

Ela rosnando e com o olhar fixo em meus olhos vem correndo como quem diz que a brincadeira acabou. Eu disparo novamente BFF sendo esse o último cartucho, mas ela rapidamente se aproxima e puxa o cano da minha escopeta me fazendo desperdiçar o tiro, mas não a coronhada de valquíria que eu segurava como um porrete. Afasto-me com mais um corte em meu colete que estava destinado ao meu pescoço.

Entro em na pequena sala que era a parada final. Eu estava cansada, com pensamentos confusos e pessimistas. Não via como iríamos sobreviver a louca que nos perseguia. Ela vinha lentamente e a cada passo que dava eu perdia parte da minha esperança. Soltando BFF no chão eu miro displicentemente Valquíria aceitando que não havia mais nenhuma chance para nós. Amy não era um ser humano... Ela é um demônio... Vejo Dimitri pegar um crucifixo em cima do batente da porta e molhá-lo com o combustível do gerador.

Meu primeiro tiro é parado pelo cutelo e o segundo vai em direção ao seu nariz, mas com a mesma lâmina dividindo seu sorriso macabro em partes simétricas ela corta a bala ao meio. O terceiro não passa de um clique então levando Esperança esperando pelo corpo a corpo que eu não ganharia.

Dimitri atrás de mim tenta, com o canivete que dei a ele, acender o álcool em seu crucifixo... Genial... vamos morrer cortados e queimados... A Açougueira vai ser escalada à Churrasqueira... que beleza... mas ela tem cara de quem gosta de carne crua... principalmente a nossa carne!

Ela se aproxima rápido com o cutelo alto no ar. Eu jogo Esperança no caminho, mas o gancho lentamente começa a abaixar Esperança numa disputa de força que eu não conseguia mais suporta ao passo que o cutelo procura um lugar bom para cortar minha garganta.

— Consegui! — diz Dimitri que, ao me empurrar para o lado, acerta seu crucifixo em chamas na cabeça da Açougueira.

Ela muda o foco para ele já com sua lâmina alta no ar enquanto recua tentando apagar o fogo no próprio cabelo, mas então ela para e ambos seus olhos se voltam para o que a acertou. Com as mãos altas para seu próximo golpe e sentido o cheiro de cabelo queimado, Dimitri a havia hipnotizado. Nós não entendíamos o que ele acabou de fazer, mas foi o suficiente para fazer uma psicopata parar sua carnificina noturna!

Ela está fixada no crucifixo... Com dois lentos passos para trás ela olha assustada para o objeto fazendo Dimitri acertar o ar. Lágrimas surgem em seus olhos e suas armas caem das suas mãos. Ela foge para perto da bilheteria onde começa a chorar aos soluços em posição fetal.

Nem Dimitri, nem eu, entendemos o que se passava. O russo não sabe o que fazer então sinalizo para que ele pegue Herrenvolk no chão. Ele o faz então me aproximo pegando na mochila em suas costas meus metros de corda.

Quando chegamos perto da Açougueira ela nos olha ainda soluçando e com a maquiagem gótica toda borrado apenas para receber a coronhada de Dimitri a fazendo apagar. Logo que ela desmaia eu tiro o cinto de facas e a amarro o mais firme que posso.

— Wow! Essa foi por Jesus!

— Ótima hora... para brincar Dimitri... Nós nem... quase morremos... — Minha respiração ofegante impedia que as palavras viessem a minha boca enquanto eu me apoiava exausta nos meu joelhos.

— Já tá cansada, Jenny? Esqueceu de treinar o músculo mais importante? — Eu odeio quando ele faz isso.

— Cala... a... boca... seu bosta... — Apoiei-me nele — Você não... fez... — Meus batimentos desaceleram repentinamente e tudo começa a ficar preto – Porra... nem... uma... — E lá eu vou de novo... Pelo menos ele não me deixou cair.

...__________...

Quando eu acordei novamente todas minhas feridas estavam envoltas por um pano branco rasgado que não estava mais tão brancos assim. Eu levantava lentamente ao som da nossa nova melhor amiga tentando se soltar do seu confinamento. Um balde pela metade de insetos que eventualmente fugiam me esperava não muito longe, mas antes de me alimentar eu decidi tirar a corda, que Amy roía com seus dentes pontiagudos, de sua boca foi quando senti e vi uma cena, no mínimo nojenta.

O cheiro ali estava ainda mais perturbador do que antes chegando a me dar náuseas. O pano em sua boca estava ensopado de um líquido marrom-amarelado e viscoso que molhava o chão e parte do seu cabelo e rosto que estavam no chão, fazendo-me hesitar com grande repulsa.   Foi quando da escuridão minha amada Irmã surgiu:

— Espero que não vá deixar de comer por causa do cheiro... Seria uma desfeita com o Dimitri e você está fraca...

— Eu não consigo comer agora. Você sabe o que esse cheiro me lembra.

— O dia em que eu morri? Você precisa muito superar isso... até por que você não quer que sua amiguinha se afogue no próprio vômito também, né?

Depois de, com muito cuidado e nojo, tirar a mordaça vomitada de Amy logo antes de seu próximo jato, sentei de lado encarando a Açougueira que resmungava em dor sem entender nada do que se passava. Ao tocar sua pele eu percebi que ela estava ardendo em febre.

— Então ela está doente...

— Claro que sim — Respondeu Dakota — Caso contrário vocês dois não teriam a menor chance contra ela.

— Sem sombra de dúvidas...

Eu comecei a comer os agora nem tão deliciosos bichinhos. Ao passo que o tempero da fome se perdia mordida a mordida, Amy parou de grunhir e começou a me encarar também.

Amy “A Açougueira” Sawyer era completamente diferente do que Frenzy tinha desenhado em seu estúdio. Ela deve ser um pouco mais nova do que eu e seu comprimento não chega aos um e setenta. Seu rosto era coberto por uma maquiagem preta que se desfez com suas lágrimas e suor. Sua pele era bem mais branca do que a minha e, sem dúvidas, mil vezes mais macia e menos marcada. Ela não deve ter visto o sol por muito tempo... Algo compreensível para alguém que é “protegida pelas sombras”. Seu curto cabelo negro era ondulado e volumoso. Aparentemente a parte de trás não tinha visto um pente em séculos, já na frente duas mechas iam de suas orelhas até seu maxilar e sua franja tinha um triangulo no centro que alcançavam a divisão das sobrancelhas cobertas pelas extremidades do cabelo. Suas roupas eram estranhas: Ela usava uma camiseta de manga longa listrada preta e vermelha por baixo de outra de manga curta preta com um pentagrama sangrando em vermelho estampado. Sob onde estava seu cinto de lâminas se pendurava aquilo que um dia talvez houvesse sido uma longa saia negra que alcançava seus joelhos, mas dela só havia frangalhos rasgados, imundos e furados. Nas pernas ela usava um par de meias longas e listradas nas mesmas cores da camiseta que iam até dentro de sua saia negra com fundo roxo cujo comprimento não chegava aos joelhos. Os pés eram protegidos por um par de galochas de plástico preto que com certeza eram maiores do que seu número. O corpo dela era relativamente franzino e não apresentava quase nenhuma curva além dos seus músculos que apesar de franzinos eram bastante evidentes apesar de pouco escondida pela roupa. As suas mãos eram horríveis: tinham dedos longos e tortos com unhas quebradas e sujas.

— Me diz uma coisa? Aquela história de que você matou duzentos e cinquenta homens em Numpur é verdade? — Ela negou com a cabeça — Toda a história é mentira? — Ela balançou a cabeça como em: “mais ou menos”. O silêncio dela me incomodava — Por que você não fala? — Ela esticou o pescoço mostrando uma cicatriz profunda de ia de um ponto ao outro de sua garganta — Nossa! Então é dai que surgiu a história de que você só morre se cortarem a cabeça — Ela fez uma cara de: “Que?” enquanto virava o rosto de lado quando percebi que as cicatrizes se repetiam nos pulsos aos montes também — Como que isso aconteceu? — Ela virou os olhos, bufou e ficou quieta. Depois de um breve silêncio ela olhou para minha tatuagem e soltou um pequeno urro — O quê? Isso? Eu tomei algumas decisões ruins na vida...

O som de passos chamou nossa atenção ao corredor que dava para a saída da estação quando um pseudorrusso seminu voltava molhado com meu cantil de água. A ausência de nenhum pelo em seu peitoral me incomoda muito, mas eu podia perceber o porquê as outras meninas gostavam... O tempo que ele passou deitado na caçamba da Woman O’War haviam dourado um pouco seus gominhos quadrados que brilhavam com a água que escorria do seu corpo. Eu fico imaginando o quanto tempo ele perdeu apenas para ganhar esse abdome, esse peitoral quadrado e esses trapézios definidos. Será que ele sabe ler? Bem... ele seria o próximo a cuidar do bar da família então deveria saber fazer, pelo menos, as operações básicas.

— Eu enchi seu cantil de água fresca — Ele veio sorrindo.

— Brigada...

— E aí já decidiu o que vamos fazer com ela? — Ele apontou para Amy. — O que aconteceu aqui?

— Olha que sorte, calhamos de pegar a lenda mais perigosa do Sul por que ela está passando mal! Deve ser a carne podre que ela comeu.

— Faz sentido... mas e aí?

— Não sei... Deu pra ver onde estamos lá de fora?

— Não, esse lugar parece um labirinto, mas tem uma estrada larga que corta a cidade ao meio saindo para os dois sentidos.

— Foi a estrada pela que viemos, mas não adianta... nós temos que achar minha caminhonete primeiro, toda minha comida e munição estão lá.

— E para onde vamos é muito longe?

— Nem eu sei para onde vamos... Eu só sei que estamos no caminho certo.

— Ok... Já que eu estou no meio disso você pode começar me explicando o que tá acontecendo.

Memórias de Will voltaram à minha mente fazendo surgir um nó em minha garganta. Segurando firmemente, eu levante e comecei a andar até o lugar onde Dimitri tinha reunido todas as armas:

— Eu... Eu moro no sul, numa cidade chamada Acampamento. Lá eu era uma caçadora, a melhor atiradora do lugar... ou a segunda melhor.  Nunca tive muitos amigos...

— Nem imagino o porquê... — Dimitri ironizou.

— Cala a boca, Dimitri, antes que eu a cale para você! Bem... Mas eu tinha um namorado, quero dizer, nós éramos mais do que namorados, já fazia cinco anos que moramos juntos. Um dia um grupo disfarçado Draugs apareceu enquanto caçávamos... — Minha culpa e meu ódio surgiam em minha fala enquanto eu tentava esmagar o cabo da minha faca para não aparentar meus sentimentos — O mataram.

Amy começou a urrar desesperadamente olhando para mim como quem queria falar comigo.

— Mas como você sabe que estavam disfarçados? — Dimitri perguntou.

— Eles destruíram uma base inteira de Draugs...

Amy urrava ainda mais alto balançando a cabeça da direita para a esquerda e vice-versa repetidamente.

— Talvez eles só tenham brigado com os Draugs como todo o resto das terras arrasadas.

— Dimitri, eu vi o que eles fazem. Não era uma guerra ou disputa, era mais parecido com uma carnificina. Aqueles cadáveres não pareciam estar lutando, mas sim fugindo de um paredão de atiradores. Se eu tivesse certeza que eles parariam nos Draugs, não estaria aqui, mas quem tem poder para fazer isso com os Draugs pode fazer com quem quiser e eu não posso deixar isso acontecer. — Eu já até podia ouvir Dakota dizer: “Belas palavras, Jenny, pena que é tudo mentira”

— Daqui a pouco você não vai precisar mais de mim... — Minha irmã comentou com o seu raro, mas cortante, sorriso surgindo ao meu lado.

Eu iria responder, mas Dimitri exclamou:

— Bem... então vai ser meio complicado. Caçar Draugs já é quase impossível, quem dirá caçar aqueles que caçam Draugs! — concluiu genialmente.

— Jura? Sabe que eu nem tinha pensado nisso...  É claro que vai ser! E é por isso que eu preciso da bosta da minha caminhonete e de toda munição que eu trouxe, mas, pera, alguém perdeu tudo e me botou num maldito labirinto!

— A Amy já está aqui há algum tempo, ela deve saber os caminhos por aqui — Sugeriu o imbecil.

— Claro! Mas se soltarmos ela nós viramos jantar como o Draug ali, sua anta!

— Mas será que aquele é um Draug? Quem sabe vocês tenham interesses em comum — Dimitri

Ela deitou no chão e apontava o nariz para o cinto de facas dela. Eu abaixei e comecei a fuçar na cutelaria móvel. Entre facas de cozinha, facas de militares, tesouras, facas tortas e estranhas, o cutelo e aquelas faquinhas que Angel e Samuel usavam havia algo que chamou uma atenção: Um bloco de notas com um pequeno lápis. Será que ela está mesmo disposta a nos ajudar?

Eu ponho o lápis na boca de Amy e seguro o bloco enquanto ela lentamente escreve. Ela termina depois de alguns minutos.

— O que ela escreveu? — Pergunta Dimitri curioso.

— Leia você mesmo.

— Eu estou atrás deles...

— E quem garante que ela não vai nos matar quando a soltarmos? — eu duvido.

— Bem, de fato eu já faz uns 8 anos que ouço as histórias dela, se ela esteve sempre atrás deles e ainda não os encontrou deve ser por que não é nada boa em procurar, é só ver que provavelmente ela matou o Draug ali antes de arrancar alguma coisa dele, mas agora com uma caçadora é tipo uma chance única... Fora que ela não parece estar em condições de tentar uma segunda luta agora. — Eu fico impressionada com o raciocínio dele

— Que seja então... Solte-a... mas mantenha o crucifixo por perto... ou joga sua arma nela — Eu empunho BFF

— HaHaHa... — Ele faz irônico. — Deu certo, não deu?

Quando as cordas caem ao chão ela se levanta ajeitando sua roupa e me olhando com uma cara de bosta ao passo que estende a mão esperando seu cinto. Eu entrego sem tirá-la da mira. Depois de o afivelar, Amy pega sua motosserra num piscar de olhos e a põe sobre o ombro apoiando seu braço na corrente e volta a olhar tediosamente para mim.

— Os caras que estão com minha caminhonete estão entre dois prédios com a fachada destruída perto de uma saída do metro numa rua cheia de carcaças de carros, você sabe onde fica?

Ela balança a cabeça afirmativamente caminha zigue-zagueando até as escadas esperando que a acompanhássemos. Eu arrumo todas as minhas armas recarregando BFF e recarrego a arma de Dimitri com o carregador que voou. Depois que de me agradecer o russo me entregou o crucifixo. Com a nossa nova companheira canibal nós voltamos para a escuridão dos túneis do metrô ainda tensos com a presença assustadora que ela impunha sobre nossas mentes.


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Notas finais do capítulo

Olá se você leu até aqui então você deve ter gostado! Por favor, deixe seu comentário para que eu tenha um feedback da história, agradeço desde já!



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