Um cara velho chamado Thomson que Quatro me apresentou,dirige pelo deserto,cada vez mais o muro fica mais perto,e os sentimentos borbulham dentro de mim.
Quatro está no banco da frente com Beatrice no colo e eu e Zeke no banco de trás.
Uma filha.E agora,o que eu faço? Quatro cuidando sozinho, tenho que ajuda-lo a cuidar dela,mesmo que eu não ame realmente Beatrice como minha filha,mas o tempo fará que eu a ame.
Thomson dirige por mais alguns quilômetros e o muro já está muito perto à nossa frente.O muro é enorme.Uma porta grande aparece e chegamos ao tão falado muro.Thomson para o carro e desce,indo até um painel bem pequeno ao lado do portão gigante e digita vários números,e o portão abre.
Há uma plantação enorme,parece que nunca acaba.Thomson volta a dirigir,nos levando para aquela imensa plantação.Passamos por plantações de milho,uva,várias macieiras,mangueiras até que chegamos a um lugar com várias casas feitas de madeira.
–Esta era a antiga facção da Amizade - explica Zeke.
Amizade,parece que eu não pertencia a esta facção.Thomson para o carro e todos descemos.Entramos em uma casa emorme de madeira.Uma mulher com uma cicatriz no rosto nos olha e vem em nossa direção.
–Quatro! Você voltou! - exclama a mulher.
Ela o abraça e olha para Beatrice.
–Nossa,como ela cresceu!
Depois ela olha todos nós e para o olhar em mim e vem em minha direção.
–Tris! - diz ela me abraçando - quanto tempo eu não te vejo!
Não digo nada,só retribuo o abraço.
–Johanna,venha,precisamos conversar - Quatro diz.
Ela me olha por mais alguns segundos como se nota-se algo diferente.Os dois vão para outro lugar conversar.
–Então Tris,eu te mostro o lugar
– Christina diz puxando minha mão.
–Hã? Eu que vou mostrar ela o lugar - Zeke diz segurando minha outra mão.
Era só o que faltava! Solto as mãos dos dois que seguram a minha mão e olho pra eles.
–Os dois me mostram o lugar,ok? - indago.
–Ok - os dois falam em uníssono.
–Houve grandes mudanças aqui e em todo o lugar -explica Zeke - Primeiro foi as ropas,a Amizade usava roupas "alegres",que era predominante a cor vermelha e amarela.Hoje todos,em todo o lugar,seja na antiga facção da Erudição,Abnegação,Audácia ou franqueza,usam as roupas de várias cores.
Andamos mais um pouco e vejo um refeitório mais à frente.
–Aqui é o refeitório - explica Christina.
Refeitório,esse lugar não me traz uma sensação boa.
Andamos por mais alguns corredores.
–Aqui é o banheiro - mostra Christina.
E um pouco mais à frente um quarto.
–Este é um dos muitos quartos - Zeke mostra.
Há uma cômoda encostada na parede,com um abajur em cima e uma cama encostada na parede.
Escondo o disco rígido atrás da comoda.
Outra lembrança? Eu escondendo um disco rígido atrás de uma cômoda.O que tinha naquele disco rígido?
Christina me puxa,interrompendo os meus pensamentos.
–Vamos,preciso lhe mostrar outro lugar.
Passamos por mais alguns corredores e saímos daquele lugar.
–Lhe apresento a estufa - ela diz.
–Nossa... - é a única palavra que sai.
Há uma estufa enorme à minha frente,e dentro dela há uma árvore gigante.Algumas pessoas estão sentadas em suas raízes enormes,outras encostadas no tronco.Um garoto nos vê e vem em nossa direção.
–Zeke! - o garoto diz abraçando Zeke,depois ele o empurra - você me deixou aqui! Eu queria ir com vocês!
–Ah Uriah,era melhor você ter ficado aqui - diz Zeke arrumando o cabelo.
Uriah me olha espantado.
–Tris! Você está viva mesmo!
Ele vem me abraçar mas Zeke o puxa para trás.
–Este é Uriah,meu irmão.
Uriah nos olha sem entender nada.Zeke tem um irmão.Espero que seja legal quanto Zeke.
–Olha Uriah,isso parece loucura mas eu perdi a memória,enfim,não te conheço.
Ele olha pra nós tentando processar a notícia que acabou de receber.
–Vocês estão fazendo algum tipo de gracinha comigo não estão? - ele indaga.
Parece que ele ficou muito surpreso.
–Uriah,é verdade,infelizmente mas sim - diz Zeke.
Ele me olha e não fala nada.
–Venha Tris,vamos pro refeitório.
Deixamos Zeke e Uriah conversarem sozinhos.Parece que ele ficou muito chocado com a notícia.
Votamos ao refeitório.Há várias pessoas sentadas no refeitório.Suas roupas não são mais só amarelas e vermelhas,há uma mistura de cores,preto,azul,cinza,vermelho,amarelo,verde,e outras.
Christina me leva até uma mesa e me sento.
–Espere aqui que eu irei pegar comida pra gente.
Só balanço a cabeça em um sim e ela se vai.Algumas pessoas me olham e outas não.
Avisto Caleb um pouco mais à frente à esquerda sentado ao lado de uma garota,os dois conversam,riem.Depois de um tempo a garota me olha.Sinto que nos conhecemos.Ela para de me olhar e volta a conversar com Caleb.Provavelmente eu a conheço,só não me lembro.
Christina volta com dois pães e dois sucos de manga.
–Aqui - ela diz me entrega um suco e um pão em um prato pequeno.
Dou uma mordida no pão e tomo um pouco de suco.
–Christina,quem é àquela sentada ao lado de Caleb? - pergunto.
–Não sei muito sobre ela,só sei que ela morava também na Abnegação,eu acho que ela era sua vizinha,se chama Susan e agora ela e Caleb estão namorando.
–Ah.
Caleb tem uma namorada.Minha vizinha.Parece que não éramos amigas.
Acabo de comer o pão e de tomar o suco.Nossa,que paz.
Ficamos lá por mais alguns minutos até que Quatro vem até nos com Beatrice no colo.Ele nos olha e olha o prato.
–Vocês comeram pão?
–Por quê?Qual o problema? - Christina indaga.
Ele balança a cabeça.
–Só queria saber se vocês se alimentaram-se.Precisamos ir.
Nos levantamos e vamos para os carros.Susan e Uriah também irão conosco.
Johanna está parada na porta.
–Se precisarem de algo,contem comigo.Hoje à tarde já estou retornando a cidade.
–Não irei esquecer - diz Quatro.
Voltamos para o carro e Thomson volta a dirigir.Passamos por mais algumas plantações e chegamos em um enorme portão aberto.Outro muro?
–Então,tem dois muros? - indago.
–Agora sim,abrimos o que dá ligação a antiga facção da amizade e construíram outro muro,aquele primeiro,as pessoas saíam da cidade o horário que quisessem,daí o muro.Não é proibido sair mas tem regras.
Hã,isso parece muito estranho.Quer dizer que temos que ficar aqui presos? Duvido que deixam passar pelo primeiro portão.
Chegamos a cidade.Há prédios enormes.
–Então,você quer ir para sua antiga casa na Abnegação ou para o lugar da antiga facção da Audácia? - Quatro me pergunta.
Audácia ou Abnegação? Parece que a Audácia me chama.
–Audácia.
Eles me olham surpresos.
Depois eu vou a abnegação.Há várias pessoas andando pelas ruas.Há carros também,não muitos mas há.
–Este lugar mudou muito,mas algumas pessoas,a maioria,se comportam como se estivessem em suas facções,elas ainda não largaram os costumes.Por exemplo,na Audácia,que agora não é mais,ainda há pessoas que treinam,que fazem combates mas também há pessoas que eram de outras facções que vão lá para treinar e outras coisas - Zeke explica.
–Então eles podem ir para outras facções na hora que quiserem? - indago.
–Não,só quando acabam o seus serviços ou aos domingos à tarde - Zeke responde.
Nossa,esse povo só trabalha?
Thomson dirige mais um pouco e para o carro.
–Bom,mudaram mais algumas coisas por aqui,por exemplo,a porta para entrar é mais em baixo - Uriah diz sorrindo.
Mais em baixo?
Olho aquele buraco enorme,parece que não tem fundo.Pulo dentro dele e caio em uma rede.Uma rede no fundo do buraco.
Outra lembrança.Ah,agora entendi sobre a porta mais em baixo.
Seguimos em direção a porta e entramos.A entrada é pequena,com grades à minha frente e na lateral das escadas para não caírmos lá em baixo.Há escada à minha direita e à minha esquerda.
–Aqui é o Fosso.
–Fosso? - digo rindo.
–Sim - Quatro diz.
Descemos a escada.Fosso? Que nome!
–Nós estamos prestes a entrar no fosso,que vocês um dia irão aprender a amar.Ele...
Christina ri jocosamente.
–Fosso?Que ótimo nome.
Quatro caminha até Christina e aproxima o rosto do dela. Seus olhos se estreitam e por um instante ele simplesmente a encara.
–Qual é o seu nome? - pergunta ele calmamente.
–Christina - responde baixinho.
–Bem,Christina,se eu quisesse aguentar os espertinhos da Franqueza,teria me juntado à sua facção - diz ele,irritado. - A primeira lição que você aprenderá de mim é como manter sua boca calada.Entendeu bem?
Ela acena que sim com a cabeça.
Outra lembrança.Parece que Quatro não gostava de Christina.Deve ser quando entramos na Audácia.
Há várias pessoas no "Fosso",há espaços reservados para comida,roupas,acessórios e atividades de lazer,construídos nas paredes de pedra.
Passamos por várias pessoas,a maioria me olhava.
–Quatro,preciso voltar,só vim até aqui pra dar uma olhadinha mais de perto - diz Thomson.
–Ok,pode ir.
Ele acena com a cabeça que sim e saí.
–E quatro,se não se importar vamos dar uma olhadinha no lugar.
Quatro balança a cabeça em um sim e Zeke e Uriah vão para outro lugar.
Então agora só ficou eu,Quatro e Beatrice.Perfeito!
–Venha,preciso lhe mostrar outras coisas - ele diz.
Sigo ele e subo as escadas.O corredor é um pouco escuro mas dá pra enxergar.Há portas na parede do corredor.
–Todas essas portas são quartos,só algumas que não.
Andamos por mais alguns corredores e Quatro bate em uma porta,espera alguns segundos e a abre.Ele entra e eu fico na porta.
Há uma cama ao meu lado esquerdo uma cômoda à minha direita e mais à frente um banheiro.E vejo palavras "Tão Somente Temei ao Senhor" pintadas em uma parede branca.Tudo simples.
Ele olha o quarto como se estivesse recordando de algo.Ele senta na cama e coloca Beatrice ao seu lado.Ouço alguém vir no corredor entro e fecho a porta e me sento na cama ao lado de Beatrice.Pego ela e coloco no meu colo e olho aqueles olhos azuis.
–Então,o que esse quarto te lembra?
Ele fecha os olhos.
–Quando me mudei pra Audácia,depois de muito tempo,esse quarto foi meu.E também quando você foi quase jogada no abismo - ele abre os olhos - daí eu te salvei e te trouxe pra cá.
Agora me lembro,um cara chamado Peter,Al e Drew.Quase me jogando no abismo mas veio alguém e me tirou daquele caos.Quatro.
–Ah,sim.
–Lembrou de algo? - ele pergunta.
Faço sim com a cabeça.
Quantas loucuras eu já passei! Parece que na maioria das vezes Quatro estava lá pra me salvar.
–Quatro,sobre o disco rígido,o que tinha nele?
Ele me olha.
–Tinha os dados da simulação,e a filmagem de tudo o que aconteceu.Mas todas as facções tinham aquilo gravado.
Ficamos em silêncio por alguns minutos,às vezes nossos olhares se encontravam.
–Vou te deixar sozinha.Daqui a pouco venho te buscar pra te mostrar todo o lugar - diz ele levando Beatrice.
–Ok.
Ele saí me deixando sozinha naquele quarto.Me levanto e olho todo o quarto.Vou até a parede branca e passo a mão nas letras.Vou até o banheiro e me olho no espelho.Tris,Tris,quando sua vida vai voltar ao normal,quer dizer,quando ela vai ser normal? Saio do banheiro e me deito na cama.Parece que cochilo e acordo quando uma porta se abre.
Sento na cama e esfrego os olhos.Quatro está me olhando e sorri.
–O quê? - indago.
–Seu cabelo,está bagunçado e maior.Mas continua lindo.
Sinto minha cara ficar vermelha e dou um sorriso discreto.Me levanto e vou até o espelho no banheiro.Meu cabelo está no ombro e um pouco bagunçado.Arrumo-o e vou até Quatro.
–Então?
–Continua linda.
Sinto minha cara ficar vermelha novamente.
–Então,onde vamos? - faço melhor a pergunta.
–Vamos treinar.
–Treinar?
–Sim.
–Pegue leve comigo.
Ele sorri e saí do quarto.Fecho a porta e o sigo.
Quatro,ele parece legal.Sinto uma ligação a ele.
–Mas você não iria me levar pra conhecer o resto do lugar?
–Depois eu te mostro.
Não falo nada só sigo-o.Entramos em uma sala com várias pessoas treinando.Vamos para o fundo da sala onde há um saco de pancada.
Encaro-o.Ele me olha.
Ele apresenta vários tipos diferentes de soco,demonstrando-os à medida que os apresenta.
–Agora tente.
Pego o jeito rápido mas o saco de pancadas machuca minhas mãos,deixando minha pele vermelha.
–Por enquanto é melhor usar os joelhos e cotovelos.Você conseguirá concentrar mais forças neles.
Continuo a treinar.Não sei pra que estou fazendo isso mas me sinto bem.
Depois fomos jantar.Comemos bolo de chocolate.Tomei um banho e Quatro disse eu iria dormir no quarto dele,já que todos os outros já estavam ocupados.
Ele coloca um colchão no chão e me deixa dormir na cama.Rapidamente durmo.Uma noite sem sonhos.
As outras duas semanas são a mesma coisa,apesar que
ele me mostrou o resto do lugar.Estou até com mais massa muscular por causa dos treinos.Ele também me perguntou em qual área que eu iria trabalhar.
–Ah,não sei.
–Precisa trabalhar em algo,as pessoas já estão notando que estamos à toa.
–Tá.Em que você trabalha?
–Bom,trabalho atrás de alguns monitores o dia todo.
–Tá,vou trabalhar nisso.
–Sério?
–Sim.Não tem mais nada de interessante e legal que eu goste,então vai esse mesmo.
Não me chamava mesmo a atenção outros trabalhos mas escolhi esse porque eu me lembrei de quando o Quatro escolheu esse,queria poder ver se dava pra sair desse lugar.
Eu e Quatro estávamos um pouco mais próximos,estou cuidando mais de Beatrice.Estamos nos dando bem.
Quatro falou que iria me mostrar um lugar depois que o trabalho acabasse.
Ele olha o relógio e espera um pouco.
–Pronto,acabou o nosso turno - ele diz puxando a minha mão.
Escolhemos o turno da tarde,assim ficamos livres de manhã e à noite.
–Pra onde vamos? - indago
–Você verá,não vou estragar a surpresa.
Surpresa,espero que seja boa.
Ultimamente Quatro está segurando sempre a minha mão,cansei de falar para soltar, daí eu deixo.Eu sei que ele gosta de mim e que éramos namorados,mas eu nem o conheço muito bem.
Caminhamos pela beirada do Fosso,por um caminho bem estreito levando às pedras no fundo do abismo.Alcançamos o final da passagem e chegamos ao fundo do abismo.O chão de rochas é pouco seguro,com inclinações íngremes saindo água turbulenta.Ele vai até uma pedra quase plana à beira do rio,onde a corrente é fraca e se senta.Ele solta a minha mão e fico em sua frente.
–Isso é a surpresa? Não que eu não tenha gostado,esse lugar é magnífico.Achei que era tudo, menos isso.
Ele sorri.
–A surpresa não é essa.
–Então,qual é?
Ele me olha por alguns segundos e depois toca suavemente o meu rosto e me beija.No começo fico tensa mas depois sou envolvida com o calor e o beijo.
Turbilhões de lembranças passam por minha mente.Paro de beija-lo e o olho.
–Tris me descul...
–Shiii - tampo a boca dele - eu lembrei de tudo.