O Labirinto escrita por Bia de asa


Capítulo 8
Capítulo 8


Notas iniciais do capítulo

(Não sei o que escrever na nota rsrsrs)
Você é de exatas ou de humanas?
Porque você é o humano exato para mim!
— Luba



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             Voltei a liderar a fila. De vez em quando lágrimas ameaçavam cair, mas eu as expulsava. Meu estômago roncou pela quarta vez consecutiva. Meus olhos ficaram embaçados, fiquei zonza e quase caí para trás. Henrico me segurou.

            — O que foi dessa vez? — ele perguntou. — Quer que eu chame o Castiel?

            Impressão minha ou Henrico tinha ressentimento na voz?

            — Eu tenho muita fome — respondi.

            — E sede também — acrescentou Julia.

            — E eu ainda quero fazer xixi! — reclamou Aiko.

            — Você é homem! Faça em um canto qualquer.

            E foi o que Aiko fez. Correu por onde tínhamos vindo até sumir de vista. Pelo menos ele teve um problema resolvido.

            — Acabou a comida? — Castiel perguntou revirando sua mochila.

            — Tudinho — falei.

            Puxei minha mochila e a abri para mostrar que estava vazia, mas, para minha surpresa, não estava.

            — Espera! — Sentei-me no chão. — Aqui tem... dois pacotes de salgadinhos, um de frutas secas e uma garrafa grande de água!

            — Na minha mochila também! — Se surpreendeu Castiel. — Agora que percebi.

            — Pessoal. — Aiko voltou correndo pelo corredor. — Eu tava ali fazendo... Bem, o que eu deveria fazer e, quando eu terminei, abri minha mochila e encontrei esses salgadinhos e outras coisas. Não me lembrava de ter trazido isso.

            — Então tem comida na mochila de todo mundo agora?

            Vi Julia mexendo também na sua mochila e afirmando com a cabeça. Esse era o primeiro acontecimento estranho bom que acontecia. Comecei a ligar algumas coisas na minha cabeça e cheguei a uma conclusão.

            — É isso! — declarei sorrindo. — Estou começando a entender o Labirinto!

            Todos me encararam com os olhos iluminados.

            — O que você entendeu? — Aiko perguntou esperançoso.

            — Vocês se lembram de quando o monstro de pedra me esmagou? — Eles assentiram. — Eu deveria estar morta depois daquilo, mas não, eu desmaiei e acordei em outro corredor com Castiel. E quando voltamos a nos encontrar? Todos nós entramos em uma espécie de alucinação onde enfrentávamos nossos maiores medos.

            — É, estava muito escuro — comentou Henrico.

            — Eu fui esmagada pelo Labirinto, parecia real, mas depois eu acordei ao lado de vocês!

            — Aonde você quer chegar com isso? — Julia foi bem direta com sua pergunta.

            — Quando passamos pela Encruzilhada da Angústia e você virou um zumbi, o Henrico um depressivo, o Castiel um suicida e o Aiko sumiu, eu tive que escolher um caminho e o ânimo de vocês. Escolhi seguir em frente, onde você estava. Vocês de tornariam zumbis, mas pelo menos não tentariam se matar. Significa que o Labirinto nos desafia psicologicamente e não fisicamente.

            Eles me lançaram um olhar confuso.

            — Olhem para vocês — continuei. — Não estamos feridos. Estamos aparentemente bem, mas estamos cansados e com a cabeça doendo.

            — Ainda mais com essa angústia... — lamentou Henrico.

            — É por isso que eu não morri. Não podemos morrer. O Labirinto afeta tanto nossa mente que morremos psicologicamente, mas depois nos recuperamos e esse lugar nos faz fraquejar de novo.

            — Como se fosse um teste mental.

            — Isso.

            Foram apenas poucos segundos demorados até que todos absorvessem e compreendessem minhas palavras. Também não demorou muito para eu perceber que havia falado demais.

            As paredes, o chão e o teto tremeluziram como se tivessem se tornando líquidas. O chão se movimentou em ondas e quatro figuras surgiram. Eram do nosso tamanho e feitas de água. Fantasmas aquáticos? Não sabia. Henrico foi o primeiro a percebê-las depois de mim. Ele abriu a boca para gritar, mas a criatura líquida o calou com um jato d’água. Ele tossiu, mas recebeu um abraço nada agradável do ser de água.

            Estava atônita demais para falar. Antes de eu sequer me mexer, todos os meus amigos foram embolhados. E quando digo embolhados quero dizer que as quatro criaturas feitas de água os agarraram e os envolveram em uma espécie de bolha de água.

            Tentei me mexer para salvar meus amigos do afogamento, mas uma mão gelada agarrou meu braço. Virei-me rapidamente e meu estômago nauseou quando eu vi o braço de pedra saindo da parede. Não tinha mais dúvidas de que o Labirinto tinha vida própria, eu estava sendo agarrada por ele!

            Minhas pernas bambearam e meu coração disparou tão rápido que não tive mais oportunidade de respirar. Encarei as quatro bolhas que continham meus amigos. Quanto uma pessoa consegue ficar sem respirar debaixo d’água?

            Dãã! Se a pessoa está debaixo d’água é óbvio que ela não vai respirar, sua idiota!, eu me xinguei mentalmente. Mas não tinha tempo para discutir comigo mesma, precisava de um Maldito Plano de Resgate para Amigos Embolhados e adivinha a novidade? Eu não tinha!

            Você é muito esperta, Annie.

            Ouvi aquela voz gélida e assustadora novamente. Percebi que era feminina. Estávamos em uma Labirinta? Sério, essa foi a piadinha mais ridícula que eu já inventei.

            — Ah, obrigada — eu respondi. Sim, eu sou uma louca que agradece a um Labirinto feminino.

            Vai ser tão emocionante destruir você, o Labirinto comentou, porque é muito comum um Labirinto falar com você, acontece quase todo dia.

            — Ah, guarde essa emoção para depois que eu sair daqui.

            O braço da parede continuava me prendendo.

            Não me provoque. Estou começando a achar que você não é tão esperta assim.

            Aqui vai uma dica da Annie: não conte piadinhas — principalmente as mais sem graças — para um Labirinto que quer destruir você.

            Um segundo braço surgiu na parede e me imobilizou por completo. De repente fui puxada contra o muro. Meu corpo ficou grudado à parede que estava quente. Ótimo, iria morrer em uma bela manhã de um belo dia qualquer.

            — Você quer mesmo me deixar abraçada a um muro? — perguntei.

            Não se preocupe, você terá uma morte emocionante. Não sei se foi impressão, mas ouvi o Labirinto rir.

            — Queria estar grudada assim no Castiel... — soltei em um murmúrio, sem querer.

            Ah, a voz feminina do Labirinto esbanjava deboche. Então você gosta daquele seu amiguinho, o Castiel?

            — O-o quê? N-não! Ei!

            Talvez eu possa fazê-la assistir a morte dele primeiro.

            — A morte do Castiel? — senti o desespero se espalhar por todo meu corpo. — Sua Labirinta desgraçada, eu odeio você! — minha voz saiu em volume máximo e com raiva. Mas não tão aterrorizante quanto uma garota abraçada por um muro de pedras poderia gritar.

            Ouvi um chiado e tive certeza de que o Labirinto estava rindo. Torci meu pescoço para olhar os meus amigos flutuando em bolhas de água. Ainda estavam vivos?

            No instante em que os vi, Aiko, Julia e Henrico caíram no chão, molhados e desacordados. Castiel continuava afogado com os olhos inexpressivos e a pele meio arroxeada e meio verde.

            — Você não pode matá-lo! — eu berrei com fúria.

            Nossa, não acredito que tirei você do sério, garotinha. A grande Cabeça não é tão brilhante assim; mal pode salvar a si mesma, quem dirá aos amigos e ao namorado.

            — Ele não é meu namorado — rosnei. Senti as lágrimas escorrerem, mas não chorava por tristeza. Eu estava enfurecida.  Ninguém, absolutamente ninguém poderia me humilhar! Confessor que não era nenhum gênio, mas não era tão idiota.

            Forcei meus braços a se soltarem, mas era impossível. Soltei um soluço de frustração.

            Pobrezinha...

            Eu odiava quando me tratavam como imprestável.

            Talvez eu deva soltá-la para lhe dar mais falsas esperanças.

            Fechei os olhos, respirei fundo e pensei com calma. Bancar a espertinha fez o Labirinto se revoltar contra mim. Fazer piadinhas não deu certo então minha única saída era bolar uma estratégia e não um plano.

            Eu ainda era a Cabeça. Meus amigos acreditavam em mim.

            E eu estava começando a acreditar também.

            — Tudo bem — falei. — Você gosta de joguinhos mentais, não é? — Não recebi resposta. — Me dê um desafio, se eu conseguir passar por ele, liberte a mim e aos meus amigos.

            E se você perder..., o Labirinto provocou.

            — Se eu não conseguir, pode me matar. Só não aos meus amigos.

            Bem, é uma pena que eu tenha que me livrar de você assim tão rápido...

            Senti minhas mãos livres. Afastei-me da parede e corri até Castiel. Toquei a bolha de água e ela explodiu, me molhando. Segurei Castiel nos braços antes que ele caísse. Estava gelado e não quente como sempre.

            O envolvi em um abraço apertado como se isso fosse acordá-lo. O deitei cuidadosamente no chão.

            Voltei a atenção para onde meus amigos estariam, mas eles haviam sumido.

            Encontre-os.

            Um vento forte bateu e me fez estremecer. O Labirinto passou de quente para frio.

            O rosto de Castiel voltou a ter sua cor levemente bronzeada. Ele abriu os olhos e suspirei com aqueles olhos castanhos claros.

            — Castiel — sussurrei aliviada o pressionando em um abraço.

            — Annie — sua voz saiu rouca. — Me sinto resfriado.

            Sorri. Por incrível que pareça, nossas roupas estavam secas.

            — Que bom que você não morreu.

            — Onde estão os outros? — Ele se sentou.

            — Estamos sozinhos novamente. Temos que encontrá-los.

            — Como eles sumiram?

            Contei ao Castiel minha conversa com o Labirinto. Ele não tirou os olhos de mim nem por um segundo, o que me deixou constrangida.

            — E o que vamos fazer para acha-los? — ele questionou depois de ouvir o que eu disse.

            Balancei a cabeça em negativa.

            — Eu não sei — confessei.

            Senti vontade de chorar, mas não quis demonstrar fraqueza perto do Castiel. Não depois do que aconteceu logo cedo.

            Castiel se deitou com a cabeça apoiada na mochila. Eu estava preocupada demais para dormir. Segurei uma mecha de meu cabelo e a observei. Estava oleoso, sujo e quebrado. Eu não me importava muito com aparência, mas agradeci mentalmente ao Labirinto por não estarmos em um corredor de espelhos.

            — Não acredito que você está se importando com o seu cabelo agora — Castiel falou me olhando ainda deitado.

   Me senti mal. Não queria que ele pensasse que eu era uma garota fútil.

            — Eu apenas toquei nele! — falei na defensiva. Castiel riu.

            — Você está bonita, se é isso que você quer saber.

            Deixei-me ficar boquiaberta e mergulhada nos olhos de Castiel. Ele realmente disse que eu estava bonita ou eu havia dormindo e estava sonhando?

            Ele riu de novo.

            — Não fique me olhando desse jeito — ele pediu.

            — Seus olhos mexem comigo — declarei bem baixinho.

            — O quê?

            — Eu disse que seus olhos são bonitos.

            — Ok, não precisava retribuir o elogio.

            Ele me deu um sorriso e se virou para dormir.


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