O Labirinto escrita por Bia de asa


Capítulo 1
Capítulo 1


Notas iniciais do capítulo

Oieeeeeeeee... Eis o primeiro capítulo.



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    Aos dezesseis anos eu não queria aprender a dirigir, ter um namorado ou me preocupar em ter feito o uso correto da maquiagem. O que eu mais queria era o fim do primeiro semestre e o começo das férias. E faltava apenas uma semana!

    Mas também não era aquele tipo de aluna que não fazia nada na escola além de chegar atrasada e dormir. Eu estudava — do meu jeito, mas estudava. Minha ansiedade era grande porque nessas férias meus pais prometeram me levar para ver neve. Eles não deram muito detalhe, só me disseram que eu ia ver neve nas férias. Só não sei onde.

    — Annie, para onde você quer viajar nessas férias? — perguntou meu pai nesse dia.

    — Não sei, papai. Para onde você quer ir? — perguntei de volta.

    — Não estou com ideias agora...

    — Annie adoraria ver a neve — disse minha mãe entrando na sala com uma revista.

    — É sério, filha?

    — Sim, mas... Neve no Brasil?

    — Sim. Vamos ver neve!

    Meus pais trocaram olhares divertidos e deram a conversa por encerrada. Fiquei imaginando como seria a neve.

    Uma certa professora destruidora de sonhos uma vez me disse friamente que, se eu quisesse ver neve, era só raspar o congelador. Mas eu ainda creio que a neve é como nos meus sonhos: macia, fofinha, cheirosa, quentinha... Com exceção desse último atributo.

    — Tome isso! — Julia apareceu com dois salgados na minha frente desviando meus pensamentos da neve. Ela me deu um dos salgados. — Rápido! Coma!

    — Mas eu não pedi um...

    Ela colocou o salgado nas minhas mãos.

    — O que deu em você para me comprar um lanche? — perguntei.

    — Comprei com o dinheiro do Aiko — respondeu Julia com um sorriso travesso.

    — E desde quando o Aiko dá dinheiro pra você?

    — Ele não me deu, eu peguei. Já faz duas semanas que eu o aviso para não deixar seu estojo aberto na hora do recreio, mas ele nunca me escuta.

    — Você o roubou!

    — Eu dei uma lição nele. É diferente.

    Ela se sentou despreocupada ao meu lado. Por um lado ela tinha razão. O Aiko era muito distraído, mas era um dos meus melhores amigos — um japonês baixinho de cabelo preto escorrido de rosto pálido com um nome engraçado. Aiko. Me lembrava aipo. Eu odiava aipo... Mas adorava o Aiko. Seu nome cairia bem em uma poesia.

    — Qual é, Annie? Entre na brincadeira! Foi melhor eu ter pego o dinheiro do que outra pessoa.

    — Mas você gastou o dinheiro. Deveria devolver.

    — Mas aí não seria mais uma lição.

    — E como o pobrezinho vai voltar pra casa sem o dinheiro para o ônibus?

    — Eu também não peguei tudo o que ele tinha!

    — Você é uma inconsequente.

    — Nossa, falou a responsável.

    Julia revirou os olhos e não pude deixar de rir. Eu não era, nem de longe, um exemplo de comportamento. Só se fosse de mau comportamento.

    — Tudo bem — disse por fim. — Vai ser divertido.

    Julia sorriu quando Castiel e Henrico se juntaram a nós na mesa do refeitório. Comecei a comer meu salgado — pago com o dinheiro do Aiko.

    — E aí? — Castiel se aproximou e sentou ao meu lado. Eu o considerava o garoto mais bonito da escola. Tinha cabelo castanho no estilo bagunçado e olhos da mesma cor; sua pele era levemente bronzeada. Ele parecia um daqueles homens bombados de academia, tirando a parte do bombado. parecia estar carregando pesos a todo momento, seus olhos estavam sempre concentrados (não sei em quê). Mas éramos apenas amigos. Castiel podia ser bonito, mas era muito introvertido, o contrário de mim que sempre falava demais. Não foram poucas as vezes que o deixei constrangido falando besteira.

    — Oi.

    — Hello, Cabelo de Fogo! — Henrico era o oposto de Castiel. Depois de mim, era o mais agitado. Usava sempre seu corte em estilo militar — os cabelos loiros bem curtinhos — e tinha os olhos azuis. Era um pouco fofinho (gordinho, pra falar a verdade) e tinha medo de escuro.

    — Não me chame de Cabelo de Fogo — pedi, mas não estava chateada. Henrico sempre me chamou de Cabelo de Fogo por eu ser ruiva. Nunca falei pra ele, mas Fogo deveria ser meu apelido oficial. Meu cabelo era vermelho e meus olhos eram negros como carvão. Não ficaria surpresa se, de repente, eu sofresse uma combustão espontânea.

    — Mas seu cabelo é fogo.

    — E se eu entrasse em combustão? — falei sem mais nem menos e meus amigos olharam para mim com os rostos cheios de dúvida.

    — Eu sairia correndo — disse Julia.

    — Eu nem ia perceber. — Henrico começou a rir. — Com esse seu cabelo, você parece estar em chamas o tempo todo.

    — Piada sem graça.

    — Então esquece. E o Aiko?

    — Cheguei — respondeu Aiko encolhendo seu corpo magricelo ao lado de Julia.

    Julia conteu o riso por pouco tempo e logo começou a gargalhar. E eu também.

    Olhei para meu salgado e comecei a comê-lo de um jeito engraçado sem tirar os olhos de Aiko que franziu as sobrancelhas.

    — O que houve com as duas? — ele perguntou.

    — Eu não sei — respondeu Castiel tentando não rir.

    — Annie, coma isso direito!

    — Por quê? — perguntei com a boca cheia e a minha voz saiu em um “bom quê?”.

    Julia riu mais alto ainda e alguns outros alunos pararam para vê-la. Eu também ria comendo de forma nojenta o lanche.

    — Acho que perdi a fome — resmungou Aiko virando o rosto.

    Paramos de rir aos poucos.

    — É sério, qual foi a graça? — quis saber Henrico se recuperando dos risos.

    — Depois contamos — prometi.

    Os garotos encararam a mim e a Julia.

    — Segredo me meninas — explicou Julia.

    Eles balançaram a cabeça, derrotados.

+++

Julia, Castiel, Aiko, Henrico e eu éramos da mesma turma então sempre saíamos juntos.

    — Quem quer ir a pé comigo? — perguntei.

    — Eu, como sempre — respondeu Julia levantando a mão.

    — Eu vou de ônibus como o Aiko e o Castiel — declarou Henrico.

    Aiko mexia nervosamente na mochila com uma expressão preocupada.

    — O que você está procurando? — questionei já imaginando o que seria.  

    — Meu dinheiro... Podia jurar que estava no estojo.

    Julia soltou uma risada.

    — Qual é a graça? — Aiko voltou o olhar para Julia.

    — Eu sempre te avisei: não deixe seu estojo aberto na sala.

    Aiko levou as mãos à cabeça como se tivesse se lembrado de algo importante.

    — Mas que droga! — Ele chutou o ar. — E agora? Como vou voltar pra casa?

    Não pude deixar de sorrir. O desleixo de Aiko passava de estressante para cômico. Tirei do bolso da calça a quantia que Julia gastou no salgado.

    — Tome — ofereci.

    — Não — ele recusou ofendido. — Você não tem a obrigação me dar dinheiro.

    — Não se preocupe, a Julia me devolverá depois.

    Lancei um olhar de “explique-se” para ela.

    Ela bufou.

    — Você sempre estraga as brincadeiras! — ela reclamou.

    — Na verdade, eu sempre começo as brincadeiras. Por isso eu me sinto ofendida quando alguém começa uma brincadeira que não saiu de minha brilhante cabeça. Nada contra você.

    — Sua egoísta!

    — Ei, meninas! — Aiko interrompeu. — Será que alguém pode me dar uma explicação plausível?

    — Julia pegou seu dinheiro para lhe dar uma lição — expliquei. Julia me olhou de cara feia.

    — Você simplesmente podia simplesmente ter avisado que meu estojo estava aberto! — Aiko gritou para Julia.

    — Eu já avisei muitas vezes! — Julia gritou de volta. — Agradeça por ter sido eu e não um desconhecido.

    — Já acabaram com essa briga ridícula? — A voz de Castiel nos chamou atenção.

    — Pois é — concordou Henrico. — Vamos todos andando, que tal?

    — Excelente — concordei. — E você dois. — Fitei Aiko e Julia com seriedade e eles logo entenderam.

    — Desculpe — murmurou Julia.

    — O quê? Não entendi — disse Aiko com rancor.

    — Não aja com desdém, Aiko — pedi.

    — Tudo bem, me desculpe também.

    — Agora deem um abraço e um beijo.

    Julia balançou a cabeça.

    — Mesmo quando você tenta ser séria, é uma piada — ela disse.

    — Não entendi.

    — Claro que não.

    — Julia disse para seguirmos andando. — Castiel mais uma vez roubou nossa atenção.

    — Eu não disse isso! — Julia se defendeu.

    — Ahh! — gritei estressada. — Vamos logo!

    Castiel, Julia, Aiko e Henrico me encararam surpresos. Logo riram.

    — Sabe, eu não entendo qual é a graça! — gritei outra vez.

    — Você é a graça, Cabelo de Fogo — falou Henrico explodindo em risadas.

    Não resisti e ri também. Já estava acostumada. Todo dia era a mesma coisa: riamos, discutíamos, riamos de novo e continuávamos amigos.

    Abracei Aiko e Henrico pelo pescoço.

    — Vamos, companheiros, rumo à Roma!

    E seguimos caminhando.


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Notas finais do capítulo

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