Capítulo 21

A chegada...O amor...E a apatia.

Mia estava espancando o saco de pancadas jogando para fora toda sua dor e frustração, desde que seu pai fora assassinado vivia um pesadelo, se arrependia por ter dado tanto trabalho ao pai, Luke Garroway, ou melhor, Lucian Graymark fora o melhor pai que alguém poderia pedir e mesmo assim ela lhe deu um trabalho imenso, o arrependimento lhe corroía por dentro e a saudade de seu pai aumentava a cada momento. 

Enxugou uma lagrima teimosa que insistia em correr por seu rosto e começou a socar o saco com mais ira ainda, socos desordenados que mostravam toda a sua raiva, magoa e dor.

— Se continuar a socar ele desse jeito vai acabar machucando seu pulso. 

Mia se virou em direção a porta assustada, estava tão perdida em sua dor que não havia notado o belo rapaz parado na soleira da porta a olhando incerto. 

— Quem é você? - Perguntou bruscamente e teve a surpresa de ver o rapaz corar.

— B-bem e-eu sou W-Willian C-Carstairs. 

Mia observou o rapaz com mais atenção, ele era moreno, tinha cabelos meio revoltosos e castanhos, era alto pele clara por sua expressão corporal  ele estava pouco a vontade ali, notava-se que era tímido, em nenhum momento durante sua inspeção o rapaz levantou a cabeça, essa continuava meia abaixada, seus cabelos caiam para a frente e ela não conseguia ver seus olhos. Analisou o pouco de seu rosto que aparecia a boca carnuda e bem desenhada e as bochechas corada. Mia não admitia, mas ficou encantada por ver um rapaz tão belo como aquele corar de vergonha, era como se ele não soubesse o quanto era lindo. 

A garota se lembrou de que sua irmã havia dito uma vez que Alec Lightwood era muito inseguro quando adolescente, coisa que Mia custou a acreditar, afinal Alec era um partidaço, mas realmente parecia não se dar conta disso e o jovem parado a sua frente parecia ter o mesmo problema. 

— O que faz aqui? Não pode ir entrando assim sem mais nem menos. 

— D-desculpe, e-eu me perdi, esse lugar é enorme e e-eu acabei me perdendo da minha família.  - Disse o garoto lançando um olhar assustado à ela. 

Por um momento Mia sentiu o ar lhe faltar, o que eram os olhos daquele garoto? Eram de um prata tão puro, tão transparente, ela se sentiu hipnotizada por eles. Com muito esforço desviou o olhar quebrando a conexão que se estabelecera entre eles e finalmente se deu conta de uma coisa. 

— Você é filho de James e Tessa Carstairs? 

— Sim. 

— Interessante. - Murmurou a garota chamando a atenção do rapaz.

— O que? - Perguntou confuso. 

— Nada, vou te levar onde eles devem estar. - Disse a menina passando por ele na porta, exitou por um momento e o olhou com um meio sorriso. - Só para constar, meus socos são muito bons. 

O menino corou mais um pouco, mas encarou os olhos da garota que tanto o intrigava. 

— Você está triste. - Sussurrou encarando os belos olhos verdes. 

— C-como? - Foi a vez de Mia gaguejar.

— Vejo a tristeza em seus olhos. 

— Não vê nada, você não sabe o que está dizendo, nem ao menos me conhece, acabou de chegar, então não, você não sabe de nada! - Disse a menina irritada, se tinha uma  coisa ao qual ela não gostava era de se sentir vulnerável e era exatamente assim que se sentia com esse garoto. 

— D-desculpe, tem razão não te conheço, nem ao menos sei seu nome, me desculpe. 

Ele pareceu tão arrependido e triste que Mia por um momento se esqueceu da raiva que sentira momentos antes, raiva infundada ela tinha que admitir, o rapaz não tinha culpa se seu pai havia sido assassinado por Valentim. Com um meio sorriso ela terminou de atravessar a porta e começou a seguir pelo grande corredor.

— Vamos Willian Carstairs, não tenho o dia todo, Mia Graymark é uma pessoa ocupada. - disse sorrindo de lado por cima do ombro.

Willy retribuiu o sorriso um pouco encabulado e a seguiu, feliz por ela ter lhe dito seu nome no fim das contas.

...

Gabriella está caminhando atrás de Rafael e Max, ela pode notar a tensão dos dois, principalmente, do seu parabatai. Eles já haviam enfrentado dois demônios e Gabriella estava sentindo o seu ombro, que havia sido deslocado.

—Você está bem para seguir? –Pergunta Max, preocupado.

—Estou. –Responde, suspirando.

—Não. Não está. –Afirma Rafael, negando com a cabeça.

—Calma. –Pede Max, aproximando-se de Gabriella, tocando o seu ombro e fazendo-a gemer de dor. –Vai ficar tudo bem. –Garante, começando a fazer uma magia no ombro da namorada, deixando-a mais relaxada. –Poderia ter me dito antes. –Acusa, revirando os olhos.

—Você já usou mais magia esses últimos dois dias do que em todos os dias da sua vida. –Acusa, revirando os olhos.

—Gabriella, não seja altruísta. –Manda Rafael, apontando a sua espada em direção a parabatai, que revira os olhos.

—Eu só não quero que ele desmaie de novo. –Resmunga, nervosa.

—Não vou. Eu garanto. –Garante Max, alisando o rosto de Gabriella, que suspira.

—Ok. –Sussurra, concordando com a cabeça.

—Podemos ir? –Chama Rafael, impaciente. –O Jade Wolf não fica tão longe. –Lembra, voltando a caminhar.

Gabriella e Max trocam um olhar significativo, um tentando descobrir qual dos dois conversaria com Rafael, já que Rafael estava irritado desde que saíram do instituto, por fim, Gabriella se deu por vencida e saiu correndo atrás do parabatai.

—Hei! –Chama, passando o braço no braço de Rafael.

—O quê? –Pergunta, irritado.

—Está chateado por Serena? –Pergunta, mordendo o lábio.

—Serena é boa de cama, Gabriella, mas ela não é a minha prioridade. –Responde, suspirando.

—A sua prioridade são Jordan e Cecily? –Pergunta, analisando-o com atenção.

—E o que esses dois tanto fazem juntos. –Resmunga, irritado.

—Você está todo irritadinho por que não foi com eles? –Pergunta, confusa. –Pensei que tinha gostado dos dois juntos, sendo amigos. O objetivo não eram que os dois ficassem amigos? –Questiona, mordendo o lábio.

—Não, eu quero que os dois fiquem amigos, mas eu quero que os dois fiquem comigo. –Responde, apontando em sua direção.

—Por que em vez de ficar pensando mil coisas você, simplesmente, não sugere esse relacionamento de uma vez? Antes que eles se peguem e você sobre. –Manda, alfinetando.

—Pare de me provocar, fofolete. –Manda, apontando em direção a Gabriella que ri.

Fofolete. Há muitos anos Rafael não a chamava assim, esse era o seu apelido oficial quando era pequena, pois ela sempre andava com uma toca vermelha com um pompom verde para cima e para baixo quando era pequena.

—Não deveria estar preocupado. –Garante, suspirando. –Com um pouco de esforço, ou às vezes nenhum, você consegue tudo o que quer sempre. Não vai ser diferente agora. –Afirma, beijando a bochecha de Rafael, que suspira.

—Eu sei disso. Agora, você e o Max? –Pergunta, malicioso.

—Não haja como se não soubesse que eu o amo desde sempre. –Manda, apontando em direção a Rafael, que solta uma gargalhada.

—Por que acha que eu me tornei seu parabatai? –Pergunta, sarcástico.

—Por que eu sou incrivelmente simpática? –Pergunta, amorosa.

—Para você não habitar a minha lista de possíveis envolvimentos sexuais. –Responde, despreocupado.

—Rafael. –Recrimina, fazendo-o rir.

—Só estou dizendo a verdade. –Afirma, beijando a bochecha de Gabriella.

—Não ficaria com você, não faz o meu tipo. –Afirma, negando com a cabeça.

—Sei, o seu tipo tem olhos e pele azul e chifres. –Acusa, sarcástico.

—Exatamente, mas também pode ser moreno, de olhos azuis e pele alva. –Afirma, dando de ombros.

...

Jace andava impaciente de um lado para o outro no escritório, seus passos sendo acompanhados pelos olhos sagazes de maryse, Clary, Magnus e Alec. Soltou um suspiro frustrado quando olhou para o parabatai, Alec ainda não o perdoara pelo o que fizera com Max, no fundo se sentia culpado, amava Max, ele era seu sobrinho, mas havia recebido ordens diretas da Clave, não tinha como não ter acatado, mas também tinha que admitir que ficara fora de si quando soube que Max podia ter feito algo que machucara Clary, tudo o que se referia a sua esposa o deixava fora de si. 

Soltou mais um suspiro impaciente, estavam esperando James Carstairs e sua família, assim como o viajante do tempo que deveria estar morto a muito tempo e que ainda por cima era seu tatatara-alguma-coisa avô.  A família estava atrasada e isso o estava irritando, andava sobrecarregado ultimamente, nunca pensou que seria tão desgastante administrar o instituto de Nova York. 

— Jace você está me deixando tonta! Além disso, vai fazer um buraco no chão! - Reclamou Clary. 

— Eu estou . . . 

Mas Jace não terminou a frase, nesse momento a porta se abriu e Robert deu passagem para Jem, Tessa que parecia preocupada e um rapaz incrivelmente parecido com Alec. 

— Pelo Anjo, o que significa isso? - Perguntou Maryse. 

Ela estava chocada com a semelhança entre aquele rapaz e seu filho. 

— Bem este é Willian Herondale, creio que Tessa já tenha falado dele na mensagem que lhes enviamos. - Disse Jem com sua habitual calma.

Jace invejava o ex-irmão do Silêncio, seu auto-controle era incrível, parecia nunca perder sua aparente calma.

— Sim e admito que estou surpreso, não esperava alguém tão. . . tão familiar assim. - Disse Jace cautelosamente.

Alec observava o rapaz Herondale, tinha que admitir que este se parecia e muito com ele, mas também havia diferenças, olhou soslaio para seu marido e o que viu lhe deixou com o coração aos saltos, Magnus olhava para Will com tanta saudade, tristeza e felicidade ao mesmo tempo. 

— Will, juro que não pensei que o veria novamente. - Disse o bruxo baixo. Porém Will o ouviu e pela primeira vez pareceu notar Magnus na sala. 

— Magnus? Que bom te ver! - Disse o garoto se aproximando e dando um abraço no bruxo, estava aliviado de ver que pelo menos Magnus parecia o mesmo que ele se lembrava, não envelhecera nem mesmo um dia. 

Magnus retribuiu o abraço afetuosamente, gostava muito de Will, ele foi seu primeiro amigo entre os caçadores de sombras, foi o primeiro a vê-lo como um ser humano. Afastou-se de Will e o segurou pelos ombros o encarado abertamente. 

— Olhe só para você, dezessete outra vez? - Perguntou alegremente, porém soltou o rapaz rapidamente quando ouviu uma tosse forçada. Olhou de soslaio para seu marido e soube que estava encrencado. 

— É parece que sim, eu não faço ideia do que estou fazendo aqu . . . - Will se interrompeu abruptamente e encarou Alec, não havia notado o rapaz um pouco mais afastado no canto da sala, a semelhança dele consigo mesmo era incrível! 

— Por acaso ele é Jace Herondale? - Perguntou a Jem. 

Jem o encarou por alguns segundos e depois deixou escapar um riso baixo. 

— Não Willian, este é Alec Lightwood-Bane. 

— Lightwood? Claro Cecily. - Murmurou o rapaz pensativo. - Espera! Lightwood - Bane? 

— Sim Will, Alexander é meu marido. - Disse Magnus alegremente. 

— VOCÊ se casou?! Admito, não esperava por essa, Magnus. 

— E por quê? Por ele ser um bruxo e eu um caçador de sombras? - Perguntou Alec com visível sarcasmo. 

Magnus olhou para Jace e Jem pedindo ajuda, era óbvio que Alec estava com ciúmes de Will e também era óbvio pela maneira que Will encarava o outro que não fugiria de um desafio. 

— Eu sou Jace Herondale e suponho que você seja um antepassado meu. - Disse Jace dando um passo à frente. 

Will o encarou por um momento, Jace era loiro, como diabos um Herondale nasceria loiro? E onde estavam os olhos azuis? Jem havia dito que Jace era uma cópia sua, mas o garoto não poderia ser mais diferente. Olhou para o parabatai com os olhos semi-serrados. Jem percebendo o que o garoto queria dizer soltou um riso abafado.

— Interessante, espero que a mente afiada também não tenha sido extinta com o passar dos anos assim como os cabelos e os olhos. - Disse Will irônico. 

Todos que estavam na sala arregalaram os olhos, Tessa se xingou mentalmente, deveria ter previsto que Will iria dizer algo desse tipo para Jace, conhecia Will  ele nunca iria deixar passar o fato de que um Lightwood se parecesse mais com ele que um Herondale. Jem apenas observou calmamente o duelo entre os Herondale. Clary por sua vez soltou uma exclamação de surpresa, não era todo mundo que falava com Jace assim. 

— E eu esperava que beleza não houvesse sido privilégio apenas das gerações mais novas de Herondale. - Retrucou Jace sarcástico, fazendo Will semi-serrar os olhos.

— Isso está saindo do controle, faça alguma coisa, Alec! - Sussurrou Maryse. 

— Por que eu? 

— Porque Jace é seu parabatai! 

— Chega! - Disseram Clary e Tessa em juntas. 

— Jace, chega! Você não é mais um adolescente, então não se comporte como um! - Disse Clary.

— E por que só sobra para mim? - Perguntou cruzando os braços emburrado.

— Porque tecnicamente eu sou um adolescente. - Retrucou Will, fazendo Jace revirar os olhos.

— James, onde está Willian? Já estou preocupada, faz tempo que ele sumiu! - Disse Tessa para o marido.

Jem não chegou a responder, nesse momento Willian entra na sala acompanhado por uma bela ruiva. 

— Perdemos algo de bom? - Perguntou Mia olhando com ar de deboche.