Os Howard - Fanfic Interativa escrita por Soo Na Rae


Capítulo 11
Chapter X


Notas iniciais do capítulo

Olá, senhores e senhoritas. Vos apresento dois galãs de nossa história. Boa leitura.



Este capítulo também está disponível no +Fiction: plusfiction.com/book/686069/chapter/11

Chapter 10

“...pois esse era o maior silêncio dos três, englobando os outros dentro de si. Era profundo e amplo como o fim do outono. Pesado como um pedregulho alisado pelo rio. Era o som paciente – som de flor colhida – do homem que espera a morte” – Patrick Rothfuss

Havia mais que simplesmente um suave badalar de sinos, na capela ao final da rua, era manhã de chuva em Birmingham e a chuva sempre lhe proporcionava um humor ainda mais taciturno que o de costume. Estranhamente, sentia dor em seus ossos, uma força invisível que o espremia contra a cama e o tornava impossibilitado de jogar as pernas para fora dela, calçar as pantufas e participar do desjejum com Cecílie. Sentiu a respiração embargada de um líquido quente, que fazia cócegas em suas narinas, e espirrou. Espirrou. Espirrou. A janela muito bem fechada parecia completamente aberta e ele poderia jurar que fora das cobertas o ar havia congelado. Permaneceu repelido, como um animal acuado e ferido, escondendo-se entre lençóis e pensamentos.

Quanto tempo demoraria até ela notar sua ausência? Não que ele costumasse ser pontual, mas normalmente avisava quando demoraria, nem mesmo um único criado entrara para abrir as cortinas ou trocar a água de lavar o rosto, isso era incomum. Onde estariam todas as almas vivas que ele contratara dias antes? Já eram empregados insubordinados e relaxados? Precisaria de novos anúncios de volantes e cozinheiras? Mas o que as cozinheiras tinham a ver com a água em sua penteadeira? A cabeça de Edmund começou a latejar e uma forte pontada tomou seus dois olhos, bem atrás dos globos oculares, fortes, quentes. Como se duas flechas estivessem se cravando através da nuca até a pupila.

Exprimiu um grito, um gemido de homem que tem orgulho a prezar, e revirou na cama, as mãos sobre o rosto, como se isso fosse capaz de conter o fogo que ardia dentro de si. Notou que suava e que a pedida que ia percebendo a temperatura elevada do próprio corpo, mais frio sentia. Mais, mais. Até que uma ânsia tomou seu esôfago e ardeu por toda a garganta, até escapar pela boca, carpete cheirando a vômito de um estômago vazio.

A fome então de repente se tornou insuportável e mal pôde tomar equilíbrio antes de se colocar de pé, ignorando as pantufas e partindo em direção ao corredor, em direção às escadas, em direção à cozinha. Abriu as portas duplas, revelando três cozinheiras (uma cozinheira e duas auxiliares, mas para ele era tudo a mesma coisa), correndo de um lado ao outro preparando o desjejum. Elas pararam em suas atividades, estáticas e pálidas, olhando espantadas o patrão de roupão, estranhamente amarelado e com um filete de algo verde escorrendo pelo queixo.

— Onde está o pão? – perguntou, a voz rouca e a garganta ainda ardendo.

Uma delas saiu apressadamente em busca da cesta sobre um dos balcões mais afastado, trouxe-a como se seu senhor fosse comer todos os pães da casa, e lhe ofereceu um. Edmund mordeu lentamente e sem vontade, por incrível que pareça, parecia que cada mordida ia tirando o resto de suas forças, tudo para morder mais um pouco. Parou, prestes a engolir. A garganta estava sensível, ardendo. Isso seria doloroso? Engoliu, sentindo a casca do pão deslizar goela abaixo. Não doeu, graças a Deus, e assim pôde se meter a devorar os pobres pãezinhos que a ajudante de cozinheira ia lhe oferecendo.

— Que horas são? – perguntou, mais como um rugido. A moça franzina e de cabelos claríssimos se encolheu, amedrontada.

— Cinco e vinte, meu senhor, é o que o relógio diz – ela afirmou, olhando para o alto da porta, onde no batente havia um objeto pendurado, feito de madeira escura e com números entalhados em prateado. Cinco. Quatro. Ela tinha razão.

Havia pensado que se tratava do desjejum, talvez tivesse se perdido no tempo quando ouviu a capela e as suas badaladas. Sim, talvez tenha contado os minutos como se fossem seus segundos, ou divagado entre a quinzena e uma hora. Suspirou, dando as costas às mulheres e se encaminhando novamente para as escadas, para o corredor, para o quarto, e enfim, para a cama. Caiu, feito pedra quando atirada a um rio agitado, afundando como se nenhuma força no universo fosse capaz de parar sua queda. Roncou alto, alto o suficiente para se acordar e notar que estava com parte do corpo fora da cama. Arrastou-se para o seu meio e então conseguiu se enrolar novamente nas cobertas e fechar os olhos, já pregados de sono. Queria continuar por todo o dia na cama. Não, por toda a vida. Lágrimas se formaram no canto dos olhos, e Edmund ressonou, dormiu, sonhou. Mas de nada se lembrou quando, enfim, acordou.

Ao pé da cama, Cecílie sorria. Ao seu lado, o médico lia um livro, quando enfim notou que seu paciente havia acordado, explicou-lhe que estava com uma gripe passageira, que a mudança de clima o pegara desprevenido e que em alguns dias tudo voltaria ao normal. Edmund não sabia se resmungava um palavrão ou se agradecia. Seus sonhos eram tão doces que queria viver neles para sempre.

º    º    º

Estas são as mudanças da alma. Eu não acredito em envelhecimento. Eu acredito em alterar para sempre o aspecto de alguém para a luz. Eis meu otimismo.” – Virgínia Woolf

Daughter –Youth

Jogou as flores para dentro do buraco na terra. Os coveiros terminaram de abaixar o caixão, e o padre abençoou uma última vez a alma de Stephanie Thierry Blanchet, para que enfim descansasse. O céu estava incrivelmente azul, todos diziam que os céus da Inglaterra eram todos cinzentos, mas o azul era profundo e vívido. Não havia nuvens ou qualquer sinal de frieza na brisa suave que balançava-lhe o paletó. A mão que segurava a cartola tremia levemente, enquanto a mantinha sobre o coração. Os cabelos negros se agitavam, conforme o vento mudava de direção sem aviso prévio. Tirou seus olhos da cova, assim que a terra começou a ser jogada para dentro. Logo a suas costas estava Gabrielle, desmanchando-se em lágrimas, fungando e ofegando, enquanto tentava se manter equilibrada entre a dama de companhia e uma das testemunhas que Joseph conseguiu comprar para o enterro.

— Gabi... – disse, mas ela virou o rosto, cobrindo os olhos com um lenço fino e pequeno, como se isso o impedisse de ver suas lágrimas escorrendo pela bochecha, até o queixo e então caindo para a garganta. Grandes e intermináveis. Verdadeiras.

Sentiu o ímpeto de envolvê-la num abraço fraternal e deixar que ela chorasse em seu ombro. Mas não era certo. Era? Ele nunca saberia agora que não tinha o pai para lhe torcer as orelhas ou a mãe para resmungar o quão tolo ele era. Era assustador. Não como quando recebera o título de conde após a morte de seu pai, ele ainda tinha como se apoiar na mãe, a mulher rígida e furtiva que realmente comandava a vida de tudo e todos. O condado não tinha uma condessa viúva, mas sim uma soberana digna a rainha. Infelizmente Stephanie Thierry Blanchet, assim como os monarcas, possuía uma saúde frágil para a viagem de navio e acabou por falecer dois dias após a chegada na Inglaterra.

Agora era preciso levá-la para a França, para a sepultura ao lado de seu pai. Teria de pagar caro por um trabalho bem feito, mas sua mãe merecia. Gabrielle, surpreendentemente, virou-se assim que ele se afastou o suficiente do velório e caminhou rapidamente até ele, segurando-o pelo braço, e passando a acompanhá-lo. Ela ainda fungava, mas conseguia esconder bem, a aba do chapéu não o permitia olhar diretamente para seus olhos, mas tinha a nítida impressão de que estavam vermelhos. Ela apertou no nariz com o lenço e então guardou-o na bolsa que segurava. Suas mãos se entrelaçando ao redor de seu braço.

— Temos de continuar, a Temporada começou ontem a noite, não quero perder mais um grande baile. – ela disse decididamente, demonstrando força e amadurecimento. Algo que admirava muito em Gabrielle.

— Então iremos para Birmingham imediatamente. – concordou, mas pensou “como era o desejo de mamãe”.

A carruagem os esperavam em frente do cemitério. Entraram sem trocar uma palavra com o cocheiro, que também não lhes perguntou qualquer coisa.  Gabrielle continuava quieta, reprimindo toda a sua tristeza e privando-o de sua histeria de mulher, algo que não costumava tolerar com facilidade, afinal era muito prático em seus relacionamentos. Mas a morte da mãe não era uma histeria. Não era nem mesmo um drama, eles perderam sua família, o que restava dela, o único refúgio no mundo. Agora estavam por si mesmos, herdeiros do legado dos Thierry, prontos para darem rumo a vida. Pela primeira vez, culpou-se por não ter exigido que Gabrielle se casasse antes, pois agora ela teria que se casar querendo ou não, com escolha ou não. Possivelmente os advogados exigiriam que ele decidisse por isso, e se Gabrielle não gostasse de sua escolha, a culpa seria somente dela de não se adaptar às necessidades da família. Isso lhe pesava o peito, essa responsabilidade que até então ficara nas mãos da mãe, o casamento, a Temporada. Vinham para a Inglaterra em busca de esperança, de algo que a agradasse, de alguém.

A carruagem passava por cenários de contos que ele ouvira quando criança, árvores, campos, conseguia ouvir o som dos animais de fazendas grandes, o som de carros, bicicletas, jornaleiros. Quando alcançaram o asfalto, a carruagem passou a balançar menos e os cavalos também correram mais. Gabrielle estava esfregando a renda de suas luvas, quando enfim pararam em frente a uma casa grande que lhes serviria de morada enquanto permanecessem em Birmingham.

Encostou a cabeça no assento. Era ali. Começaria a ser um adulto ali. O que mais o assustava não era ter de escolher alguém para Gabrielle, mas ter de escolher alguém para si mesmo.


Não quer ver anúncios?

Com uma contribuição de R$29,90 você deixa de ver anúncios no Nyah e em seu sucessor, o +Fiction, durante 1 ano!

Seu apoio é fundamental. Torne-se um herói!


Notas finais do capítulo

Espero que tenham gostado da passagem de Edmund (calma, ele só está resfriado!) e sobre os sonhos dele... Eu contarei mais depois ;) A leitora que fez a ficha do Eddie não está acompanhando a fanfic ativamente, e ela me explicou o por quê, mas como a ficha já estava comigo, eu já havia postado um capítulo do personagem e as vagas de meninos anda grande para poucas fichas enviadas, decidi que ele permanece na história, todavia a narrativa será breve e teremos mais foco no par romântico dele ^.^ E o Senhor Thierry também merece nossa atenção, não há como saber muito sobre sua personalidade no momento, mas creio que vão adorá-lo, como eu adoro.
Beijos da Meell Gomes.