Os Howard - Fanfic Interativa escrita por Soo Na Rae


Capítulo 10
Chapter IX


Notas iniciais do capítulo

Sim, eu sei, demorei. Sim, eu sei, não ficou bom. Boa leitura.



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Chapter 9

“Confiar desconfiando é uma regra muito salutar da prudência humana” – Marquês de Maricá

 

 

E hoje se passou mais um dia comum, como todos os anteriores e como todos os que eu sei que virão. Minha vida está tão monótona que sinto falta dos dias na Escócia, quando eu nem mesmo sonhava em vestir uma saia a menos que fosse uma ocasião especial, onde eu poderia correr com o corcel amarronzado, esfregar sua barriga com uma escova de palha e ouvir o som dos grilos do lado de fora da casa. Meu quarto tinha uma janela grande em direção a Lua e eu podia admirá-la em todas as suas fases, assim como a noite começava.

Nunca houve nuvem nos céus que me impedissem de observar a milhares de estrelas e suas constelações. Agora vivo presa nesta rua, de um baile ao outro, sem sair de April Street, esta longa e larga avenida cheia de casas imponentes e brancas, tão brancas que é difícil olhar diretamente para elas sem cerrar os olhos. Sinto falta do cheiro de terra e pinho, do gosto da fome em um dia de caça, da liberdade que meu uniforme de esgrimir me dava e eu não sabia.

Os longos dezessete dias que tenho passado em Birmingham para a Temporada têm me esgotado, papai insiste que eu deva conhecer mais e mais jovens e insiste que Henry seja um bom partido, afinal um garoto com a minha idade e com uma família rica sempre é um bom partido. Mas Henry é como um irmão para mim, seria impossível me casar com um Howard, eu quase pertenço àquela família. E além disto, ele já tem alguém em mente, posso ver em seus olhos, em todos os bailes que vamos, ele está sempre procurando por algo.

E é claro que eu irei ajudá-lo.

O mordomo bateu a porta, tomando a atenção de Adria de sobre o seu pequeno diário. Fechou-o e disse para que entrasse, o homem grisalho, porém alto e forte, em um belo terno preto meio-esbotado, embora ninguém fosse dizer a Nelson que seu terno fosse velho demais ou ele pensaria que estava sendo negligente em suas tarefas e se puniria por isso. Adria olhou a bandeja de prata em sua mão, com um pequeno bilhete nele, com seu nome escrito em uma letra rápida e urgente.

— É de Henricky Howard, minha senhora. – Nelson disse, como se Adria não já houvesse adivinhado, Henry estava contando com sua velha amiga para conquistar o coração de Jane Lancaster, uma dama recém-chegada a sociedade inglesa e que trazia consigo a grande reputação dos Lancaster. Mas, é claro, a família de Adria não conseguia entender que eles eram apenas amigos e insistiam em olhá-los de soslaio, com um sorriso nos lábios, planejando o nome dos bebês que teriam.

Henry era apenas um garoto. Carismático e divertido, mas ainda um garoto. Adria não queria se casar com um garoto. E Jane parecia combinar perfeitamente com ele, enigmática, responsável e astuta, formariam um belo casal, ou assim Adria planejava. Já havia bolado uma forma de deixá-los juntos sem que ninguém interrompesse ao pedir para seu pai que fizessem uma semana de retiro para a casa na Escócia, onde os convidados seriam tratados como reis, trinta no total, todos membros notórios e solteiros da sociedade. Tomou cuidado para convidar todos os irmãos de Henry, assim ninguém suspeitaria deles dois. Mas seu pai não ficou tão contente em saber que dos trinta jovens, quinze moças teriam de trazer uma acompanhante para que não transgredissem qualquer norma da sociedade aristocrática. A burocracia o irritava, assim como o fato de ter mais quarenta e cinco pessoas em casa.

Abriu o bilhete quando Nelson se foi, cuidando para não manchar o papel com a tinta que a caneta havia deixado em seus dedos. Era apenas uma frase “Convide Jane”, com certeza desnecessário, pois Adria estava a organizar tudo por ele mesmo, e não para outra qualquer pessoa ou para a Temporada. Queria se casar, queria ser amada. Mas não precisava ser agora, e não por um dos tantos que ela já havia conhecido e percebido que não passava de um garotinho mimado e inexperiente.

Quando já estava prestes a guardar o bilhete em sua caixa de cartas, um par de criadas adentrou o quarto segurando com muito esforço um grande vaso branco, com detalhes dourados e flores amarelas. Adria olhou para o arranjo com as sobrancelhas erguidas, em seu ar de surpresa e admiração, o mesmo ar que fascinava tantos rapazes nos salões de baile, mas que nunca se dirigia para alguém e sim para algo, coisas. Adria preferia admirar algo.

— Que é isto que me trazem a meu quarto? – perguntou, em um tom um pouco irritadiço. Uma das criadas ergueu o rosto para ela e esboçou um sorriso forçado, tentando permanecer imóvel com o peso nas mãos.

— Um presente de vosso pai, minha senhorita. Mandou-lhe as flores que estão nascendo nos campos de vossa casa, em Glaslow. São extremamente perfumadas, achamos que a senhorita gostaria de mantê-las ao lado da cama, para despertar com lembranças de casa.

Adria piscou, um pouco mais surpresa. Não esperava que as criadas recém contratadas fossem adivinhar tão bem o que ela mais queria fazer com o vaso, e assentiu, levemente ruborizada. Será que elas sabiam ainda mais do que apenas sobre sua saudade de casa? Não queria que mais pessoas andassem a bisbilhotar sua vida. Mas, ainda assim, antes de poder terminar seu pensamento (a casa em Birmingham estava sempre cheia de pessoas, era incrível!), entrou pela porta Dona Victoria, com seu grande chapéu de penas vermelhas e uma sombrinha fechada servindo de apoio quando andava, trajando um belíssimo vestido pouco rodado, mas longo e com uma cintura baixa, demarcada por um laço da mesma cor do tecido do vestido, marrom escuro. O veludo sempre caiu muito bem na pele pálida e enrugada da velha Lady Victoria, a acompanhante de Adria na Inglaterra. Victoria havia abandonado sua casa em Londres para passar a Temporada com Adria por ter sido muito amiga de sua mãe e madrinha de Adria em seu nascimento, deste modo, comprometera-se em cuidar do futuro da menina e agora estava junto a seu pai em busca de um bom esposo para a afilhada. E, claro, Henricky Howard era um dos primeiros nomes em sua lista de bons partidos.

— Parece-me que este será um dos piores invernos para nós, é possível que Birmingham amanheça nevando amanhã. – disse, introduzindo-se no quarto, sem rodeios. – Oh, são flores adoráveis! Aposto que vieram da Escócia, dizem que a natureza lá é selvagem e belíssima.

— Toda natureza é selvagem, não? – Adria questionou, deliciando-se da falta de oratória de Madame Victoria.

— Bem... eu quis dizer incomum, rara. As florestas na Inglaterra andam todas domadas por homens caçando com cavalos pintados de negro e arcos automáticos. Os bons escoceses sabem bem como seguir a tradição, a simplicidade. Sua mãe me escrevia sobre as caçadas, ela adorava, nunca entendi bem o por quê, mas creio que fosse por causa da natureza ao seu redor. Eu mesma poderia admirar este vaso de flores por longas horas.

— Para mim continua sendo apenas flores. – debochou Adria, com seu espírito vívido e jovem a flor da pele, sempre pronta a cutucar alguém.

— São apenas flores, assim como nós. – o olhar de Senhora Victoria desapareceu em algum ponto invisível na parede leste do quarto, talvez admirando o papel de parede ou o quadro de Adria pintado por um artista italiano. – Nós mulheres, somos arbustos, todos eles floridos, com brotos, sementes, pétalas e espinhos. Devemos permanecer juntas para que unidas tenhamos força de evitar os inimigos, mas separadas seremos sempre esmagadas ou despetaladas por mãos maléficas.

— É uma teoria um tanto pessimista.

— Eu li algo parecido em um livro. – explicou D. Victoria. – Mas, em todo caso, vim ajudá-la a organizar o acampamento, aposto que teremos caçadas divertidas. Poderei honrar a memória de sua mãe, como sempre quis.

— Ah, sim, teremos acampamentos na floresta – prometeu Adria, mas não sabia qual floresta a velha estava se referindo, afinal a Escócia não era um lugar cheio de arvores e javalis como a maioria dos ingleses pensavam. – E ensopados deliciosos para espantar o frio.

— A Escócia é tão fria quanto a Inglaterra! – exclamou a mulher, de repente horrorizada – Como hei de aguentar-me lá sem prejudicar minha saúde? Sempre fui frágil para gripes e resfriados!

— Entendo – disse Adria – Mas não se preocupe, há ervas que te fortalecem contra estas doenças. – garantiu e vislumbrou no olhar de Victoria um pouco mais de horror, pois todo inglês também acha que a Escócia é um lugar místico e cheio de bruxas.

— Trouxe uma lista de convidados que poderíamos chamar, todos jovens e muito ricos. Ah, e uma lista para convidadas também, são moças que ficam nas cadeiras dos bailes, elas não chamarão muita atenção, assim você terá destaque, Adria.

— Muito esperto da sua parte, Senhora. – observou Adria, carregando a voz de sarcasmo, mas Victoria apenas enrubesceu e empertigou-se em ombros, sinceramente envergonhada pelo elogio da garota.


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Notas finais do capítulo

Me perdoem pela demora, aconteceram várias coisas que se acumularam e me deixaram muito sem vontade de escrever. Primeiro que a escola de repente pediu diversos trabalhos um atrás do outro (trabalhos grandes e entediantes) que eu tive de realizar com pressa. Depois, começo de mês, cólicas e mau humor. Por fim, eu desanimei. No último capítulo, 3 leitores comentaram, e no anterior, apenas dois. Isso foi me deixando triste, porque tem vários leitores que acompanham e que têm personagens na história, e talvez essa parada repentina deles tenha a ver com a qualidade da minha escrita ou a qualidade da estória e BUM! desânimo total. Por favor, não deixem de comentar e dar a sua opinião, me perdoe se seu personagem demorar a aparecer, mas todos terão seu espaço na fanfic. Se não podem ou não querem mais participar, me avisem. Eu prefiro ser avisada da desistência de vocês, que simplesmente abandonada sem uma explicação, sem saber o que houve, cheia de dúvidas. Beijos da Meell.