À Espada Pelo Sangue escrita por LahChase


Capítulo 53
Capítulo 43 - Dance Macabre


Notas iniciais do capítulo

Heeey!
Gente, eu sei que já tá ficando chato ter que me perdoar toda vez por atrasar o capítulo, mas eu juro para vocês que realmente foi impossível escrever esse fim de semana. Para começar, eu nem estava em casa, meu pai viajou e levou o notebook... Enfim, precisei escrever a segunda metade inteira, revisar e corrigir tudo hoje na hora do almoço.
Bom, aviso importante: esse capítulo tem como trilha sonora a música Dance Macabre (uma clássica), e tudo o que é narrado nele se passa desde o início até o exato minuto em que ela termina (apesar de eu ter certeza de que vocês vão demorar mais que isso para ler).
Agradecimentos a Leta Le Fay, Ary e Malika por seus comentários maravilhosos ♥
Vou parar de enrolar



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Eu perdi a fala assim que as palavras de Hiro me atingiram, de repente com a mente pipocando com motivos para se preocupar. Minha família! Os demônios ameaçariam os mortais, ou pior, possuiriam seus corpos? A equipe! O que aconteceu com os outros? Himeko! O que faríamos quanto a ela?

Ian me lançou um olhar, e, apesar da tensão ali, sussurrou calmamente:

— Vou entregar a adaga. Fique atrás da porta e aguarde. Quando ela tiver ido embora, nós vamos atrás dos outros, certo?

Recuperei os sentidos, imediatamente perguntando-me se não era perigoso deixá-lo a sós com Himeko, mas em seguida concluindo que, se algo desse errado, teríamos melhores chances se eu fosse um elemento surpresa, além do fato de que ela mesma havia ordenado que Ian fosse sozinho. Acenei positivamente para ele, e nós dois caminhamos até a porta. Ele a abriu, saiu e a deixou entreaberta: o suficiente para que eu enxergasse pela fresta, mas permanecesse escondida. Apaguei a luz da sala para encobrir ainda mais minha presença, aumentando a escuridão no corredor, e me obriguei a normalizar a respiração ofegante.

Observar e esperar por um sinal era mais difícil do que parecia, já que a ansiedade não é combatida pela adrenalina do confronto ou pela necessidade de manter a calma em prol da eficiência e do raciocínio em batalha. Muito embora Ian e eu não tivéssemos combinado nenhum sinal, ambos sabíamos, de alguma forma, o que fazer quando chegasse a hora. Inexplicavelmente, nosso natural antagonismo desaparecia em batalha, como eu havia notado quando fomos atacados no restaurante. O que com certeza salvava as nossas vidas algumas vezes.

Já capaz de acalmar o peito, observei uma mulher caminhar sobre saltos altos até Ian. Ela vestia um vestido vermelho com detalhes pretos, sem mangas, e com uma fenda que exibia toda a sua perna direita. Os olhos repuxados, que pude enxergar com certo esforço, exprimiam um brilho afiado, e o cabelo preto era cortado curto quase cobrindo um dos olhos. Nas costas, ela carregava uma katana. Era a exata imagem que eu havia visto no Poço de RR.

Os dois se encararam por alguns segundos em silêncio, o que me permitia ficar mais consciente das notas macabras da música tocada no salão por pessoas quem nem tinham ideia de como elas se encaixavam como trilha sonora daquela cena. Himeko falou primeiro, e sua voz me alcançou apenas pelo rádio, mas ela falava em japonês.

— Hiro! – sussurrei, esperando que ele pudesse traduzir, e ele imediatamente respondeu:

— “Ian, você não deveria se curvar perante a nova líder dos Asada?” – a voz dele ainda soava ofegante, como se ele estivesse em batalha.

Ian retrucou algo em um tom ríspido.

— “Eu não reconheço um urubu como você como líder de uma família respeitada como os Asada, Himeko”.

A mulher sorriu.

— “Ah, você nunca entenderá o abismo que há entre um urubu e um corvo, seu filhote das águas? Mas isso não importa, já que ainda segue minhas ordens”.

— “Jurei lealdade a Izumi Nee-san, não a você”.

— “ ‘Nee-san’, você diz. Ah, parece que você de fato gostou de brincar de casinha com meus irmãos inúteis e aquela fraca filha de Deméter que você insiste em proteger. Mas isso está acabado agora”.

— “O que quer dizer?”

Ela ergueu o queixo.

— “Tanto poder... Você é um desperdício, garoto. Me serviria tão bem se não fossem esses seus ideais... Mas vou dar um jeito de tirá-los do caminho”.

— “O que quer que esteja planejando, Himeko, pode desistir. Eu jamais a seguiria”.

Himeko não pareceu abalada. Ela estendeu a mão.

— “Dê-me a adaga”. – Hiro traduzia.

Ian tirou a arma do paletó e a passou para ela, que, após inspecionar a lâmina por um segundo, sorriu. Himeko com rapidez se aproximou de Ian e, por um momento, pensei que o atacaria, mas ela aproximou os lábios de seu ouvido.

— Irmãozinho? – ouvi sua voz soar em meu comunicador, em inglês – Que tal se você parasse de bisbilhotar agora? Preciso ter uma conversa íntima com Ian.

Ela tirou o comunicador da orelha de Ian e, jogando-o no chão, esmagou-o com seu salto. Quando ela voltou a encarar o garoto, suas palavras não mais me alcançavam, a música ainda mais alta agora.

— May-chan. – Hiro ofegou.

Coloquei a mão no ouvido, tentando entender o que estava se passando.

— Hiro. – sussurrei – Hiro, o que está acontecendo?

Ele levou alguns segundos para responder, o que me deu tempo para escutar o som seco de sua arma disparando com o silenciador.

— Eles são muitos. – respondeu – Estou cercado. Vi Matt e Tori saírem da mansão, mas eles também foram encurralados, e perdi seus sinais. Izumi Nee-san e Kess também sumiram da minha tela antes que meu computador fosse destruído.

— Aguente firme! – falei, com o coração acelerado, o que soou mais como uma prece – Quanto são?

— Há seis visíveis para mim momento. Eu posso segurá-los por um tempo. Mas, May-chan, as chances não estão ao meu favor. Você e Ian precisam sair daí logo. Eu tenho certeza de que...

O áudio falhou, obrigando-me a levar a mão à boca para impedir um grito involuntário.

— Nee-sama apareceu... – a voz dele voltou, mas desapareceu novamente – É muita coincidência... Pressa, não vou aguentar...

Seu raciocínio cortado foi o suficiente para me fazer entender a mensagem. Ele estava certo: Himeko havia aparecido e, ao mesmo tempo, perdemos contato com Izumi, Kess, Charlotte e Matt, recebendo também a notícia de que havia eidolons no prédio. Tudo isso somado às suspeitas que tínhamos sobre ela, e ainda ao seu comportamento com Ian, apenas deixavam Himeko em uma única posição: a de inimiga.

Voltei meus olhos para o corredor novamente, com dificuldade para ver as expressões dela e de Ian, mas podia facilmente ler sua linguagem corporal com suas silhuetas tão bem desenhadas contra a janela grande, que dava para o jardim, na parede oposta à porta. Himeko cruzava os braços, e mantinha a perna bem à mostra pelo vestido, de vez em quando andando alguns centímetros para mais perto de Ian. “Ataque”. Ian recuava, os punhos fechados com força ao lado do corpo às vezes fazendo um mínimo movimento involuntário que só quem já o viu sacar a espada saberia interpretar. Ele estava ardendo em fúria, mas ainda assim se segurava. “Defesa” pensei, minha mente correndo “Ele está cedendo-lhe terreno, se deixando encurralar”.

Senti uma gota de suor correr por meu rosto.

“O que eu faço, o que eu faço?” minha mão esfregava a coruja em minha pulseira “Se ao menos eu soubesse o que estão falando... Droga!”

— Hiro. – tentei – Ainda está aí? Hiro?

O rádio apenas chiava em resposta.

— Ah, deuses! – deixei escapar, preocupada.

“Primeiro, calma” ordenei a mim mesma.

Respirei fundo, diminuindo o ritmo cardíaco, desfiz o nó em minha garganta e joguei para longe todas as preocupações inúteis sobre as quais eu nada podia fazer no momento. Fechando os olhos, sussurrei:

— Lady Atena... Não. Mãe, empreste-me sua força.

Eu mal terminei a prece, e o barulho grave de uma colisão me fez abrir os olhos alarmada. Ian e Himeko cruzavam armas: a adaga amaldiçoada nas mãos dela, e a espada embainhada nas dele. Pela posição em que se encontravam, Ian fora claramente aquele a atacar primeiro. Sua expressão era furiosa, seus olhos injetados de raiva.

“Ele partiu para cima dela” pensei. Mas ainda não era o momento para eu entrar em cena, senti. “Deixar que eu seja o elemento surpresa...” meditei “Tenho que atacar pelas costas, Ian...” desejei que o pensamento o alcançasse “conduza a batalha, para que eu possa acabar com isso rapidamente...”

Arregalei os olhos, de repente me dando conta de algo: se eu fosse capaz de derrubar Himeko, mesmo em um confronto curto, eu teria o direito de ativar o Past Dream e ver seu passado, o que seria definitivo para a nossa investigação.

“Faça ela se virar se costas...” repeti.

Himeko deu um chute na barriga de Ian, enterrando seu salto ali antes que ele se afastasse. O garoto nem pareceu se incomodar, atacando novamente logo em seguida. Agora, talvez fosse por estar tão escuro, ou talvez meus olhos tenham me pregado uma peça, mas eu mal fui capaz de registrar os movimentos de Ian. Quando dei por mim, Himeko já era obrigada a se defender de uma série de golpes de espada, chutes e socos velozes. Ele a fez se abaixar para evitar um arco horizontal que a teria degolado se a lâmina estivesse descoberta, e então usou o pé para tirar seu equilíbrio, mas ela apoiou as mãos no chão, ergueu as pernas e girou, obrigando Ian a erguer o braço livre para defender o rosto.

Ele agarrou o pé dela, mas sua mão pareceu escorregar e ela pôde se levantar antes mesmo que ele se recuperasse da repentina falta de resistência. Himeko girou na mão a adaga e avançou com um arco horizontal, mas mudando para um vertical assim que a defesa de Ian foi preparada. Eu o vi se esquivar para a direita, apenas para encontrar o chute poderoso de Himeko, que o mandou de encontro com a janela. Ele apertou o cabo da espada e se posicionou para receber o golpe dela, novamente aparando a adaga em um impasse de forças. Mas, com a vantagem de estar mais acima, Himeko podia imprimir mais força e começou a aproximar a lâmina do pescoço do garoto.

“Agora!” pensei, chegando à conclusão que deveria entrar em ação no momento, enquanto a mulher permanecia de costas para a porta, mas a próxima ação de Ian me parou. Ele olhou pela janela, e então seu olhar ficou pasmo.

— Lotty! – exclamou.

Segurei o impulso de arquejar. Então ela estava no jardim, como Hiro havia dito. Pela expressão de Ian, no entanto, não parecia estar em segurança. O garoto voltou o rosto para Himeko novamente, com um olhar que fez um arrepio subir por minha espinha. Naquele mesmo instante, eu soube: ele estava perdendo o controle de sua fúria.

Saquei Prostátida, mas esse movimento foi lento em comparação ao que acontecia no corredor. Ian encontrou forças para afastar Himeko, e ela recuou, em seguida movendo a adaga em um X para desviar dois golpes verticais que Ian desferiu em uma velocidade insana. Ele ergueu a espada novamente, mas então girou, enganando-a, e atingiu sua perna descoberta. Com a lâmina coberta, no entanto, nenhum corte foi feito, mas isso não parecia interessá-lo. Ele voou para cima dela mais uma vez, sua força e velocidade pareciam ter crescido três vezes mais.

Mas as coisas não estavam boas. Qualquer um que visse aquela luta saberia que Ian estava descontrolado, apesar da brutalidade de suas habilidades, toda a técnica e estratégia sumiram. Seus movimentos denunciavam a si mesmos, e ele imprimia muita energia desnecessária.

“Ela mexeu com a cabeça dele” concluí, com a urgência tomando conta de mim “preciso entrar em cena logo!”

O sapato de Himeko atingiu o rosto de Ian, jogando-o ao chão, desnorteado. Ela rapidamente desceu a faca em direção ao seu abdômen. Apesar de ter rolado para o lado, seu movimento ainda foi lento, e vi a lâmina rasgar sua carne. Ele colocou a mão sobre o ferimento, arrastando-se para mais longe, mas Himeko começou a se aproximar, mais uma vez preparando um ataque.

Um segundo.

Naquele segundo o mundo parou. Eu me vi saindo do esconderijo e correndo em direção aos dois. Vi o olhar de Ian lentamente se desviar para mim, com uma expressão preocupada. Vi Himeko erguer a adaga mais uma vez.

Eu posicionei Prostátida entre ela e o corpo de Ian no último momento. E, quando o rosto da mulher registrou uma expressão surpresa, o tempo voltou a correr normalmente. Da posição em que estava, com a perna esquerda à frente e as duas mãos segurando o cabo de Prostátida, recolhi a espada rapidamente e girei, atingindo as costas de Himeko com a perna direita. Ela caiu ao lado de Ian, e eu não lhe dei tempo de se recuperar, já caindo com o cotovelo entre seus ombros, atingindo seus pulmões.

Himeko arquejou, mas, mesmo caída como estava, sua mão direita alcançou meu cabelo, e puxou minha cabeça para baixo. Senti o impacto da nuca contra o chão, mas não me permiti demorar, rolando para o lado e ficando de pé ao mesmo tempo que ela. Ian também se levantou, e postou-se ao meu lado. Ele ainda tinha no rosto uma expressão de quem não havia voltado a si.

“Ele vai fazer mais besteira” o pensamento me acompanhou enquanto eu partia para cima de Himeko mais uma vez, fintando um golpe com o joelho, mas usando a espada para atingir seu ombro. Ela previu o movimento no último instante e inclinou-se para trás, fazendo a lâmina passar direto, e em seguida aparando a espada de Ian com a adaga. De costas para mim, ela impulsionou a perna para trás, atingindo meu punho, ao mesmo tempo em que girava a adaga para fazer Ian perder o aperto no cabo de sua arma.

Trinquei os dentes, aguentando a dor no pulso esquerdo, que começou a latejar, mas sem recuar. Eu sabia que aquele era um momento crucial. E então, pela segunda vez em pouco tempo, tudo ficou em câmera lenta. Meus olhos registraram a adaga perfurando Ian mais uma vez, e a postura desajeitada de Himeko devido ao último golpe. Eu soube que, se eu cortasse sua panturrilha direita mesmo que apenas superficialmente, ela perderia de vez o equilíbrio, cambaleando para trás. Um chute com o calcanhar em sua barriga a impediria de se recuperar, e ativaria o reflexo de colocar a mão livre sobre a área atingida. A mão que segurava a adaga ficaria vulnerável por um mero segundo, e eu então a agarraria em posição de quebra, obrigando-a a soltar a arma. Uma vez que ela estivesse desarmada...

Meus olhos arderam, Prostátida pulsou e todo meu corpo foi percorrido por adrenalina. Corri até Himeko e fiz um arco baixo e horizontal com minha lâmina, abrindo um corte na perna dela, que gritou e recuou alguns passos, um pouco mais para a esquerda do que eu havia previsto. “Correção de trajetória” minha mente processou, sabendo que o chute não mais a alcançaria. Usei o cabo de Prostátida, golpeando seu abdômen com toda a minha força, e ela cuspiu sangue, levando a mão esquerda sobre o local atingido. A direita, no entanto, também não seguiu minha previsão, e eu não poderia segurá-la na posição certa. “Correção de posição”. Girei e atingi a lâmina da adaga com força, abalando seu aperto no cabo. Repeti o golpe rapidamente, e então finalmente ela deixou cair a arma, ao mesmo tempo que firmava os pés, recolhendo a mão direita para a barriga contundida.

Ian se esforçava para se levantar alguns passos à minha direita, e a janela estava à minha esquerda. Lancei um olhar ao jardim, e vi as lâminas de Charlotte e Matt dançarem pela grama, atingindo inimigos que os cercavam. Plantas enormes cresciam e rastejavam ao redor deles, como se lutassem junto. Se você prestasse atenção, no entanto, veria que ambos estavam cansados e feridos, e que o número de eidolons devia passar de doze. Eles não tinham chance. “Então foi por isso...” pensei, voltando-me para Himeko novamente. Ela tinha sangue escorrendo pela perna direita e pelo canto da boca, mas seus olhos me fitavam com um ódio claro, e pude sentir sua sede de sangue.

— Garota... – sua voz soou – Você acaba de chamar minha atenção. E isso não foi uma boa ideia.

Ela fez um movimento com a mão direita, e eu soube que ela sacaria a katana, imediatamente correndo para alcança-la. Minha espada cortou o ar quando ela se desviou e ergueu sua lâmina para as minhas costas, mas eu girei e aparei o golpe, colocando Prostátida na horizontal, usando a força do ombro, e sendo forçada a dobrar um joelho para aguentar o impacto. Meus músculos queimaram com o esforço de suportar a força de Himeko.

“Droga... Como saio daqui?!” pensei, sabendo que logo começaria a ceder.

Ian se levantou, mas permaneceu parado, encarando a mulher que nem se dera conta de sua recuperação.

— Himeko. – chamou com uma voz que transbordava ira, atraindo sua atenção. Ela desviou o olhar para ele – Saia de perto dela.

Senti Prostátida pulsar mais uma vez, o brilho intenso, como se a lâmina clamasse pela luta, ao mesmo tempo que a pressão exercida sobre ela diminuía.

— Ora... – Himeko sorriu – Será ela...? – Seu olhar voltou-se para mim novamente – Então você deve ser a garota. Hum, que sortuda eu sou. Nem terei o trabalho de procurar.

Quando ela voltou a aplicar força sobre Prostátida, apoiei-me sobre o joelho e usei a outra perna para tentar tirar seu equilíbrio. Ela cambaleou para frente, a katana deslizando pela minha lâmina, e eu caí para trás, dolorosamente deitando sobre meu calcanhar. Ian avançou, seu corpo se transformando enquanto corria, e ele atingiu o corpo de Himeko com uma força avassaladora, prendendo-a então contra a parede, segurando-a pelo pescoço. A mulher brandiu sua espada, desajeitadamente atingido o lado de Ian, que a soltou e recuou. Enquanto ela caía no chão, tossindo para recuperar o fôlego, ele estendeu a mão, e o ar começou a condensar em sua palma. Em alguns segundos, gelo começou a aparecer, e logo uma lâmina curva de gelo havia se formado, como uma espada. Ele fez o mesmo na outra mão, e então avançou novamente.

Himeko rolou para longe dele, mas esse movimento a colocou mais perto de mim. Ergui meu corpo, agarrando com força o punho de Prostátida, e fiz um arco horizontal à altura de seu pescoço, mas ela levantou sua lâmina para desviar a trajetória do golpe. Ian surgiu por trás dela, as duas lâminas prontas para serem fincadas em suas costas ao fim do salto, o que ela evitou fazendo mais um rolamento que a fez parar exatamente onde a adaga havia caído antes. Ian pousou ao meu lado, e ergueu o olhar para ela. Apesar de sua pele, olhos e cabelos estarem transparentes como água, eu podia ver sua raiva ali.

Himeko se levantou, pegou a adaga e se virou para nós. Apertei o punho de minha espada, mais uma vez sentindo-a pulsar.

— Ian... – chamei, querendo combinar com ele algum movimento, mas a voz dela me interrompeu:

— Vocês estão me dando mais trabalho do que eu gostaria, confesso. – disse, então começou a andar de costas, em direção às sombras do corredor escuro e misturando-se a elas – Vou deixar que cuidem disso para mim, então.

Minha pele arrepiou assim que suas palavras cessaram. O ar ficou mais frio, um ar gélido percorreu minha nuca. Eu imediatamente soube o que isso significava.

Com a respiração alarmada, girei Prostátida, colocando sua lâmina para trás, e atravessei o corpo atrás de mim, em seguida cortando-o diagonalmente.

O que se seguiu foi uma sucessão incrivelmente rápida de acontecimentos. Primeiro, uma luz muito forte iluminou todo o ambiente, e eu senti uma onda de força percorrer todo o meu braço direito, partindo de Prostátida. “O laço!” a certeza em atingiu como um caminhão. Segundo, a luz nos permitiu enxergar todo o corredor, que estava repleto demônios. Terceiro, essa multidão partiu para cima de nós.

— Novata! – Ian gritou – O feitiço, faça agora!

Ele colocou seu corpo diante do meu, atingindo quem tentasse se aproximar.

Concentrei-me no corpo atrás de mim, e comecei a recitar:

Maldito aquele que com sua sede de sangue e vingança profanou a terra que os deuses governam, malditos os que ousaram se levantar contra os filhos da Grécia. Que agora a justiça seja feita: serás escravo desta lâmina até o fim de seus dias, e ela se alimentará da sua força e a usará para tornar forte os teus inimigos”.

Senti o frio se instalar em meu coração à medida que o espírito era absorvido pela lâmina, todo o meu corpo ficar pesado por alguns instantes, ouvi gritos de ódio em minha cabeça, as foças do hospedeiro se juntarem às minhas para libertar-se, o desejo desesperador do eidolon de ficar... até que terminei as palavras e o portal se fechou, deixando-me com a respiração ofegante.

Firmei meus pés ao chão, sentindo-me mais cansada, mas ao mesmo tempo mais forte, e girei minha espada na mão. Ian chutou um corpo para longe de si e recuou até estar ao meu lado. Dos dois lados do corredor, dezenas de olhos dourados nos encaravam, prontos para nos atacar. Lancei um olhar para a janela mais uma vez, checando a posição de Matt e Charlotte. A garota estava lenta e desarmada, apesar de suas plantas ainda lutarem, e Matthew a protegia com apenas sua espada. Eles precisavam de ajuda logo, mas Ian e eu agora também estávamos encurralados, e não sabíamos nada sobre os outros.

Colei minhas costas às do meu parceiro, segurando minha espada diante de mim.

— Ian. – chamei.

— Hm?

— Ainda pretende não me deixar morrer?

Eu o senti assentir.

— Ótimo, porque eu também não vou te deixar morrer.

— Não preciso de sua ajuda.

— Não foi o que pareceu agora a pouco.

— Usurai, novata.

Sorri.

— Vamos acabar com eles.

Ele soltou as lâminas de gelo e pegou sua própria espada, desta vez tirando-a da bainha.

— Hai.

Nós então avançamos contra a horda de demônios.

 

 

— Ian! – gritei, ao vê-lo submerso por corpos possuídos, mas incapaz de me mover.

A lâmina em meu pescoço cortou minha pele, fazendo sangue escorrer. O demônio agarrava meu cabelo, forçando-me a erguer o pescoço, e posicionava a perna em minhas costas, mantendo-me contra o chão. Antes de cair, de alguma forma eu havia sido capaz de alcançar minha pulseira no chão, que havia caído durante a luta, e devolvê-la ao meu pulso. A alguns metros à frente, Ian correra ao meu socorro, mas seu corpo exausto não mais podia resistir à força de tantos inimigos, e ele fora jogado ao chão. Lá fora, Matthew e Charlotte estavam derrotados.

Fechei os olhos para impedir as lágrimas diante da dor, e senti o desespero tomar conta da minha mente, sem mais nenhuma saída. Deixei cair toda a resistência que ainda sobrava.

— Vocês lutaram bem. – a voz de Himeko soou juntamente as notas que ainda soavam vindas do salão (o único indício que sobrava de que a festa continuava a despeito da guerra acontecendo na mansão, o que me servia de consolo) – Mas chegou a hora de desistir...

Ela apareceu diante de mim e se agachou, segurando meu queixo. Seus olhos escuros examinaram meu rosto, e seu sorriso sanguinário brotou em seus lábios. Sem dizer mais nada, ficou de pé e olhou para seus subordinados.

— Tragam-nos.

Eu então ouvi as últimas notas de Dance Macabre, enquanto era arrastada pelo corredor escuro, tendo caído nas mãos dos meus inimigos.

 


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Notas finais do capítulo

Opaaaa
#The treta has been planted!
*Bom, primeiramente, eis Himeko, Tokyo No Karasu, o corvo de Tóquio. Ela é irmã de Izumi e Hiro (deste, só por parte de mãe), e agora assumiu a liderança da família Asada. Coisa boa isso não deve ser.
*O que acharam do capítulo? Eu confesso para vocês que dessa vez sofri para escrever a luta, e no final nem fiquei tão satisfeita, mas acontece que infelizmente não terei tempo para trabalhar melhor nele. Já falo sobre isso. Erros, opiniões, críticas, expectativas, encorajamentos? Deixa seu comment aí me contando tudo, que super ajuda!
*Sobre o meu tempo no momento, tentarei ser breve: essa semana tá bem corrida. Eu tenho algumas aulas extras, uma ida ao médico, umas coisas importantes para estudar para a prova mais importante do ano, e o meu aniversário de 18 anos na quinta (sim, sou velha assim). Apesar de o próximo capítulo já estar meio que escrito (eu o escrevi há bastante tempo porque ele é importante), ainda tenho muito o que revisar e corrigir. Além disso, minha prova é em João Pessoa, e eu viajo na sexta. Não sei se vou ter internet por lá para postar, então vou marcar para postar na semana que vem, por via das dúvidas. Mas fiquem sabendo que posso acabar tendo um tempo antes de postar mais rápido.
*Enfim, ainda não decidi o nome do próximo capítulo, mas talvez eu poste um extra antes também (ou pelo menos eu gostaria, mas apenas se o tempo permitir).
*Bom, é isso (escrevi quase um segundo capítulo aqui, mas okay). Novamente, para as ARMYs de plantão, deem uma olhada na minha fic de BTS lá no meu perfil ^^ Obrigada a todos os fantasminhas presentes e até maaais ♥