À Espada Pelo Sangue escrita por LahChase


Capítulo 41
Capítulo 33 - Medindo Forças


Notas iniciais do capítulo

Oie!
Por pouco passei da data marcada ^^' hehehe
Enfim, eis o capítulo prometido :3
Agradecimentos a Leta Le Fay, Minoran, Ary e Phoenix De Martell pelos comentários nos últimos capítulos ♥
Vejo vocês no final ^^



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Ainda estávamos a duas horas de Boston quando nos deparamos com aquilo.

Charlotte insistiu com Izumi para que abríssemos as janelas. Ela disse que queria sentir o vento, e foi apoiada pelos gêmeos. Quando a líder cedeu, ela abriu sua janela e literalmente sentou-se nela, colocando metade do corpo para fora, abriu os braços e gritou, os cabelos voando ao redor de seu rosto.

— Ei... Isso não é perigoso...? – perguntei, mas Kess e Matt também estavam colocando suas cabeças para fora da janela.

— Nós enfrentamos campos de batalha e você está preocupada que coloquemos a cabeça pra fora? – Kess riu, divertindo-se com o vento no rosto.

Acabei dando de ombros, percebendo que ele tinha razão. Além disso, se Matthew ou Ian não disseram nada, não devia ter problema mesmo. Eu tinha acabado de completar o pensamento quando Izumi girou o volante com rapidez, desviando de alguma coisa na estrada. Charlotte e os gêmeos se agarraram com mais firmeza e gritaram. Kess caiu sentado em seu banco.

— O que foi isso?! – Matt voltou para dentro, sobressaltado.

— Alguma coisa surgiu do nada na estrada. – Izumi respondeu, sem diminuir a velocidade – Tori-chan, consegue ver o que era?

Vi Charlotte virar-se para ver o que havia entrado em nosso caminho. Ela arregalou os olhos e colocou a cabeça para dentro.

— É uma Mantícora! – gritou – Izumi-chan, seguimos ou derrotamos?

A líder lançou um olhar calmo para o retrovisor, como sempre passando a impressão de que nada a podia abalar.

— Se o deixarmos vivo outros correrão perigo. – ponderou – Tori-chan, se nós a deixarmos aqui, você será capaz de matá-lo e ainda nos alcançar?

Carlotte sorriu, como se ter que lutar agora fosse justamente o que ela queria.

— Com certeza!

Os olhos de Izumi encontraram os de Ian pelo espelho retrovisor, e o garoto continuou inexpressivo, apesar de claramente insatisfeito, e não disse nada.

— Nii-sama. – Charlotte disse, já montando sua foice – Vejo você mais tarde.

Ela beijou a face dele e colocou o corpo para fora pela janela novamente.

— Ela vai... – comecei.

A garota subiu no teto da van e, três segundos depois, saltou para o asfalto como se não fosse nada.

— Saate... – Hiro disse, despreocupado – Encontro vocês lá.

Ele içou seu corpo pela janela e também saltou do veículo em movimento.

Observei, pelo vidro de trás do carro, os dois partirem para cima do monstro, enquanto ficavam cada vez menores à medida que nos distanciávamos.

— Matt-kun. – a voz de Izumi me arrancou do meu estado pasmo – Dois ataques em tão pouco tempo... Não pode ser coincidência, pode?

Metthew levou a mão ao queixo.

— De fato, é pouco provável. Mas apenas o fato de estarmos todos juntos é o suficiente para atrair qualquer monstro nas redondezas. E também não é comum que os demônios se misturem ou trabalhem em conjunto com outros monstros, não é?

— Você tem razão, mas ultimamente as coisas não estão seguindo o padrão comum. – ela replicou, pensativa – Hoje de manhã também... Algo sobre aquele ataque me incomodou. E agora isso...

Ian e eu trocamos um olhar rápido. Não havíamos comentado mais nada sobre o Preço que Daímonas cobrara, mas eu ainda tinha muitas perguntas sobre isso. Afinal, como exatamente aqueles demônios nos encontraram? Mesmo preso à Página, Daímonas tinha o poder de influenciar o mundo do lado de fora, disso eu estava certa. Mas que tipo de magia era empregada para isso? Ele havia se comunicado com aqueles monstros, revelando nossa localização?

Não, mais importante do que isso era prestar atenção em Izumi e Matthew. Como eu imaginara, não podia abusar dos serviços do Livro, ainda mais com o risco que era pagar um preço por uma pergunta. O que pagamos naquela manhã poderia ter nos custado a vida. E agora colocava em risco o segredo. Eu não podia ter aqueles dois desconfiando de mim.

“Daímonas deve ter algum problema para comparar isso a um beijo com o cabeça de camarão...” pensei, lembrando do que ele me respondera quando perguntei sobre as regras do Livro. Reconsiderei assim que imaginei a cena... “Não, talvez ele tenha sido bem preciso, na verdade”.

Mais uma vez o movimento brusco do carro nos fez perder o equilíbrio. Nós freamos de repente.

— O que foi agora?! – Matt gritou.

Izumi lutava contra o volante, enquanto a van recusava-se a se mover.

— Eu não sei! – respondeu – É como se tivéssemos atolado em lama!

— No meio da estrada? – Kess questionou.

Ian e a líder trocaram um olhar urgente, como se dando conta de algo.

— May-chan, chame seu pégasus. – ela instruiu – Você e Ian-kun precisam seguir pelo ar até o ponto de encontro com Akashi, entendeu?

— O-o que? – comecei – Mas e quanto a vocês...?

— Faça logo o que ela diz, novata! – Ian disparou.

Assustada, levei os dedos aos lábios e assoviei alto.

— Ela estará aqui logo. – falei – Mas será que podem me explicar de uma vez o que está acontecendo?

— Isso aqui não é um ataque de qualquer monstro. – a líder disse – A própria Terra está nos impedindo de prosseguir.

Arregalei os olhos, compreendendo.

— A própria Terra... Você quer dizer Gaia

Ela assentiu.

— Sigam adiante, vocês dois. – falou para mim e para Ian – Nós vamos fazer o que pudermos aqui e então seguiremos para onde devemos nos encontrar com a outra equipe.

Izumi tirou do bolso da calça um papel dobrado e o entregou a Ian.

— Dê isso a Akashi. – ordenou – Agora, vão.

Como que em sincronia, ouvimos o barulho das asas poderosas de Pandora no ar.

— Izumi Nee-san, quanto a Lotty... – Ian começou.

— Eu sei, vou levá-la pelas sombras. – a líder respondeu, e o garoto se deu por satisfeito.

Eu e Ian subimos no teto da van e pulamos no asfalto, o mais longe possível da área que tragava o veículo. No lugar onde ele estava, o chão parecia amolecido e os pneus começavam a ser engolidos. De certa forma, a cena era um tanto bizarra.

Sentimos o chão tremer.

— Droga. – Ian reclamou ao meu lado – Vamos, precisamos correr.

Nós então montamos em Pandora, e voamos para longe, deixando nossos companheiros para enfrentar a Mãe-Terra.

 

 

Taiga Akashi não se encaixava de maneira alguma no estereótipo da aparência japonesa.

Nós levamos talvez uma hora e meia para chegar à cidade, e mais dez minutos para achar o ponto de encontro.

Era uma praça em frente a um Shopping Center. Após fazer Pandora pousar, nós desmontamos.

— Obrigada, garota. – agradeci, acariciando seu pescoço forte.

Ela relinchou em resposta.

— Ela está preocupada com você. – Ian disse.

Olhei para ele.

— Consegue entender...?

Ele deu de ombros e enfiou as mãos nos bolsos do casaco.

— Somos parentes, afinal. – retrucou.

Virei para Pandora novamente.

— Está tudo bem. – falei – As coisas estão complicadas, mas podemos lidar com isso.

Ela lambeu meu rosto – eu nem reclamava mais, sabia que não adiantava – e balançou a crina. Com uma corrida, ela alçou voo e foi para longe.

Suspirei, e virei para Ian. Ele analisava as redondezas, passando os olhos pelos poucos rostos ao nosso redor.

— O que foi? – perguntei.

— Sente isso?

Fiz o mesmo que ele, passando os olhos pela área. Foi quando me dei conta.

— Estamos sendo observados? – franzi a testa.

— Não demonstre que percebeu. – falou – Não há hostilidade, então devem ser Taiga e Jay.

— Devemos ir até eles? – perguntei.

O garoto olhou para o relógio em seu pulso.

— Não. Taiga virá na hora certa. Estamos quinze minutos adiantados. – respondeu e então me fitou – Está pronta para lutar com Jay? Sabe que não vai ser simples, não é?

Assenti.

— É claro que sei. Mas eu tenho que fazer. Você ouviu o que RR disse.

Ele não respondeu. Eu o observei olhar para o céu por alguns segundos e inspirar o ar profundamente. Seus olhos então me olharam de cima a baixo, antes de ele começar a caminhar para um banco.

— Você não devia vestir shorts tão curtos. – falou.

— É o que? – retruquei, surpresa.

Ele sentou no banco e tirou da mochila uma garrafa de água, ignorando-me. Fiquei com raiva.

— Ei, você não tem nada a ver com o que eu visto. – falei – E eu escolhi esse porque é mais fácil de me mover durante a luta.

Ele continuou a não me dar ouvidos. Ao invés disso, fez um fio de água serpentear para fora da garrafa, brincando de fazer formas com ela.

Revirei os olhos, tendo certeza de que ele só dissera aquilo para me irritar. Sentei ao seu lado, um pouco afastada, e o observei. O cabelo preto caindo sobre os olhos verdes, de certa forma o contraste fazia seus olhos parecerem mais brilhantes. Seu rosto inexpressivo me fazia querer arrancar dele um sorriso, ou uma expressão de raiva, ou um olhar ansioso... Eu estava de fato curiosa.

Uma pessoa que é um livro aberto é fácil de desvendar. Ian me parecia o tipo que é o contrário, e aquilo despertava em mim dois sentimentos conflitantes: eu queria ficar o mais longe possível dele, e ao mesmo tempo queria observá-lo de perto, descobrir mais sobre ele, até o poder prever e entender. Tinha aquela impressão de que ele era um mistério para mim, e ainda não podia decidir se odiava ou me interessava por isso. Parecia-me perigoso estar perto de alguém que eu não podia prever, que eu não conseguia ler tão claramente. Ao mesmo tempo, eu queria desvendar-lhe.

— O que está olhando? – ele perguntou, arrancando-me dos meus pensamentos.

Disfarcei rapidamente:

— De quem é esse ID do exército? – apontei para o colar de metal que pendia em seu pescoço.

Ele me encarou por alguns segundos e então desviou o olhar para a garrafa novamente.

— Era do meu pai. – respondeu.

— Seu pai... – tentei lembrar o nome que RR havia falado – Kai?

Ele assentiu.

— O que aconteceu com ele? – perguntei.

Seu olhar me fuzilou, dizendo claramente que eu estava indo em direção a um assunto proibido, o que apenas me fez querer saber mais.

— Morreu. – falou – Morreu há oito anos, na Austrália.

“Oito anos” pensei “Isso quer dizer que ele perdeu o pai quando tinha nove anos de idade...”

— E ele serviu no exército na Austrália?

— Não, Brasil.

— Por que vocês se mudaram para a Austrália?

Ele não respondeu. Ficou quieto por quase dois minutos, fitando o fio de água flutuante diante de si, e eu comecei a pensar que era melhor deixar esse assunto de lado. O silêncio constrangedor se estendeu por mais algum tempo, e eu já estava pronta para pedir desculpas quando ele começou:

— Escuta, o seu pai e o meu...

A chuva caiu de repente, interrompendo o que quer que ele fosse falar. O vento soprou forte e frio, fazendo-me perguntar como era possível se minutos antes o céu estava claro. Alguns segundos de silêncio se passaram, e eu lamentei a interrupção, percebendo que o garoto se fechara novamente. Ele abriu as mãos diante de si.

— Chuva de verão... – Ian murmurou, fechando os olhos e recebendo tranquilamente a água.

Ele parecia se deliciar, mas eu não sentia o mesmo. Minhas roupas começaram a ficar ensopadas. Foi quando senti o casaco sobre minha cabeça. Ian havia retirado seu casaco, ficando apenas com a camisa.

— Eu disse. – falou – Você não devia vestir shorts tão curtos com o tempo desse jeito.

Eu lhe lancei um olhar ladeado. Então foi por isso...? Pelos deuses, esse garoto... Realmente me irritava.

— Vamos. – disse ele – Vamos procurar algum lugar para nos proteger. É só uma chuva passageira, mas é melhor que você não fique se expondo ao frio...

Ele levantou e caminhou na direção do shopping. Apressei-me para segui-lo. Uma vez sob o teto do lugar, Ian moveu a mão e eu fiquei seca.

— Obrigada. – murmurei, contrariada.

Ficamos de pé, calados, encarando a chuva cair por mais alguns minutos, até que ela foi parando aos poucos.

— O que fazemos agora? – perguntei – Voltamos para a...?

— Onee-chan! – uma voz interrompeu.

Olhamos para frente. Jayden vinha correndo em minha direção, seguido por um garoto ruivo de olhos dourados como os de um gato, que eu supus ser Taiga Akashi. Ele vestia uma calça jeans, camisa azul escuro coberta por uma jaqueta de couro. Em suas mãos, luvas pretas.

— Taiga! – Ian disse, indo em sua direção. Ambos trocaram uma série de cumprimentos alegres em japonês.

— Onee-chan! – Jayden abriu um sorriso.

— Ah, Jayden. – falei, apoiando as mãos nos joelhos para ficar da sua altura – Como vai?

— Onee-chan vai lutar comigo hoje? Dessa vez é de verdade? – ele replicou – Não está mais machucada?

Abri um sorriso e levantei a blusa, mostrando a ele a cicatriz em minhas costelas.

— Eu já estou bem, vê? – respondi, apontando para onde antes estavam meus pontos. Quando eu acordara pela manhã estava me sentindo muito melhor, provavelmente graças ao sono e às plantas medicinais de Charlotte. Eu agora quase não sentia dores, e já não mancava mais.

Jayden pareceu satisfeito com o meu estado.

— Você deve ser May Chie. – Taiga Akashi se dirigiu a mim, e curvou-se – É um prazer conhecê-la.

Correspondi, surpresa com seu tom formal e educado.

— Nós devemos seguir para o local da luta logo. – ele disse – Não é longe.

— Você separou algum lugar específico para isso, Taiga? – Ian perguntou.

— Apenas uma área mais tranquila. – o outro respondeu – Um lugar onde podemos facilmente prestar atenção em quem se aproxima enquanto eles lutam. Eu ainda preferia usar uma das instalações da família, mas...

— Não é mesmo uma boa ideia. – Ian completou.

Taiga assentiu.

— Devemos ir agora? – falou, e então olhou para mim – Será que poderia andar ao meu lado, Chie-san?

— Ahn, claro... – respondi, intrigada.

Ele nos guiou pela calçada, e começamos a caminhar em um passo tranquilo. Precisei me policiar. Era um costume meu andar rápido, e tanto Shayla quanto Kyle reclamavam disso quando costumávamos voltar juntos da escola. Precisei desenvolver o hábito de perceber o ritmo das pessoas para poder ao menos acompanhá-las.

— Izumi me falou bem de você. Parece que tem uma história interessante. – Taiga começou, em um tom simpático.

Foi instantâneo. Sua frase, carregada de uma simpatia clara, despertou em mim a atenção que ele provavelmente buscava. Eu a analisei. “Izumi”, e não “Asada-san” ou “Asada-sama”. Isso indicava proximidade, com certeza.

Perguntei-me o que a líder teria falado sobre mim. Se eram tão íntimos, ela talvez lhe tivesse falado sobre a intenção por trás da luta com Jayden. Quanto à minha verdadeira identidade, das duas, uma: ou ela não havia contado, ou ele sabia e não me delataria, a julgar pelo modo que me tratara. Não, havia ainda uma terceira opção. Talvez ele quisesse me testar. 

Matthew me dissera que Taiga era um dos doze generais do Conselho, e que era conhecido por sua inteligência e poder dedutivo: um bom detetive. Sendo assim, de repente pedindo para que eu andasse ao seu lado, comentando tão diretamente uma frase como aquela... Quais eram suas intensões?

Suspirei internamente. Talvez eu estivesse especulando de mais. "Muito bem" decidi "Vamos dançar conforme a música."

— Sério? – respondi, com um pequeno sorriso – E será que devo perguntar o que minha líder falou sobre mim?

— Ela disse que você é uma boa pessoa para se observar.

Ergui uma sobrancelha.

— Ah, isso por acaso quer dizer que sou o tipo que desperta o interesse de um aspirante a detetive?

Ele riu.

— Precisamente.

Minha mão se moveu inconscientemente em direção à minha pulseira.

— Bom, então o que você pode dizer sobre mim agora que pode me observar? - perguntei.

Ele me fitou por alguns segundos, seus olhos me esquadrinhando. Perguntei-me se essa era a expressão que eu fazia quando analisava as pessoas. Se fosse pra pensar nisso, Annabeth, Jake, Drake, Matt... eles haviam feito o mesmo comigo. "Ahr... talvez isso seja mesmo algo de Atena".

— Deixe-me ver... - Taiga começou - Atena, talvez Apolo e Hermes. Desnecessário falar do TDAH e da Dislexia, mas além disso tem manias que não consegue controlar, eu imagino. Agora mesmo não para de mexer em sua pulseira, imagino que sua mão se direcione para outro lugar quando está pensativa. Quem sabe o colar? Atlética, isso é claro, mas a esgrima lhe é recente...

— Muito bom - falei, impressionada - Embora eu não tenha certeza se é realmente incontrolável, já que nunca tentei parar. É apenas uma mania. Mas será que posso perguntar como sabe disso tudo?

Akashi sorriu.

— Seus olhos deixam muito claro sua ligação com Atena. Apolo é um palpite por sua voz melodiosa, os dedos longos por tocar instrumentos como piano ou violão. Hermes talvez esteja mais longe, mas você me parece ser veloz, o que se encaixaria. Suas manias não são difíceis de notar, e, quanto à esgrima: as palmas de suas mãos claramente ainda não estão calejadas o suficiente para pertencerem a uma espadachim experiente. Pelas pequenas marcas em seus punhos, no entanto, poderia dizer que andou socando repetidamente por um bom tempo.

— Eu pratico Karate - expliquei - Impressionante. Pode observar tudo isso depois de três minutos desde o nosso primeiro encontro?

Ele balançou a cabeça.

— Não. Nós observamos vocês desde que entraram na cidade.

Assenti.

— Ah, então realmente eram vocês. - falei - Akashi, sua observação minuciosa soa para mim como um desafio. Será que estou certa em presumir que está querendo me incitar a fazer o mesmo com você?

Ele riu.

— Perspicaz, Chie-san. Uma demonstração de suas habilidades seria bem-vinda.

— Prefiro que me chame de May. - comentei -  E quanto às minhas habilidades, poderia ser que está com a expectativa de que se igualem às suas? Se for assim, devo adverti-lo que não me superestime. Sou uma novata, Akashi.

Ele me fitou por alguns segundos e então voltou a olhar para frente.

— Nesse caso pode me chamar de Taiga. – falou – Sinto que você se subestima, May-chan. Alguém que veio aqui para lutar contra Jay deveria ao menos soar confiante, não acha?

Coloquei as mãos nos bolsos.

— Ah, fazer o que? - suspirei - Parece que não posso mesmo despistá-lo. De fato, recentemente descobri que uma de minhas habilidades secundárias é a leitura de padrões e linguagem corporal. Mas isso quando estou em batalha. Minhas habilidades de leitura corporal fora disso são tão boas quanto as de qualquer pessoa que estudou sobre isso.

— E isso não é bom o bastante? – ele questionou – Ou acha que meu caráter investigativo provém de minhas habilidades herdadas dos deuses? Pelo contrário, eu mesmo as construí e aprimorei. Acho que há mais mérito nisso do que em algo que se tem naturalmente.

Acabei concordando.

— Imagino que esteja certo. – respondi – Pois bem, apesar de não poder afirmar com certeza de que farei uma observação correta, vou aceitar seu desafio.

Ele deu um sorriso satisfeito, e eu o esquadrinhei por alguns segundos.

— Você tem alguma ligação com Atena, eu tenho certeza. Embora não seja obrigatória a presença dos olhos cinzentos em seus descendentes, sua ausência me faz pensar que você deve ter recebido a bênção dela por seu esforço. Seus olhos são interessantes, lembram os de um gato. Se me recordo bem, Matthew me falou que você é conhecido como o Tigre dos Greno. Pergunto-me até onde isso seria uma metáfora. Se fosse para seguir o palpite, diria que você tem ligação com os Argonautas, mas temo especular de mais com apenas sua aparência como base.

Apontei para suas mãos, cobertas por luvas pretas que lembravam as de um mordomo.

— Suponho que sejam suas armas, certo? – continuei – Talvez as lâminas sejam em forma de garras? Isso seria perfeito para que lutasse tanto na forma de humano quanto animal. Mas você também carrega uma Katana, o que me faz imaginar que na verdade é possível formar laço com muitas armas ao mesmo tempo... Não preciso dizer nada sobre seu corpo claramente atlético, certo? E você também é um dos Doze Generais, então com certeza é forte. Seu treinamento também deve ter sido tão intenso quanto os dos outros, nisso não há dúvidas. Sua frase quando iniciou a conversa deixou claro sua proximidade com Izumi. Eu sei bem que é uma questão de intimidade chamar alguém pelo primeiro nome no Japão.

Dei um sorrisinho.

— Vocês com certeza se conhecem bem, não é? Matthew e Charlotte comentaram que Izumi é do tipo que preza pelas tradições: gosta que a chamem de acordo com a etiqueta japonesa. Não exige isso dos estrangeiros, mas mesmo Ian a chama de “Nee-san”. Com um conterrâneo como você, ela não daria essa liberdade se não fossem, no mínimo, amigos. – eu o olhei, vendo o sorriso tímido em seus lábios – Agora, pergunto-me o que exatamente ela te contou sobre mim. Como pensei, está me testando ao me fazer revelar minha habilidade, certo?

Seus olhos emitiram um brilho animado, e ele riu.

— E você ainda ousa não ter confiança em sua capacidade. – falou – Você está certa, May-chan, em praticamente tudo o que disse. De fato, sua mãe me tomou com seu protegido logo que comecei a desenvolver a leitura das pessoas ao meu redor. E você não erra em presumir que descendo dos Argonautas, apesar de eu achar interessante você ter chegado a essa conclusão apenas por meus olhos. Quanto às minhas armas: sim, eu uso três. A Katana é uma tradição de família. Todo Akashi precisa ser mestre da espada japonesa. Já minhas luvas são meu diferencial, adaptadas ao meu poder.

Ele abriu e fechou a mão direita duas vezes. A luva se transformou em garras de Prata Olimpiana que se estendiam por dez centímetros depois das pontas dos dedos.

— Quanto a Izumi... – ele transformou as garras em uma luva comum novamente – Pode-se dizer que somos bons amigos, eu sou seus olhos e ouvidos no Conselho, e ela confia em mim. E, sim, ela me contou sobre sua verdadeira identidade. Eu quis ver com meus próprios olhos a filha de JJ-sama, ver seu potencial. Afinal, gosto de medir forças.

Suspirei.

— Ao que parece, mudar meu nome não foi de muita utilidade até agora.

Ele olhou para frente.

— Por enquanto, May-chan. As coisas podem realmente ficar complicadas de descobrirem quem você realmente é. – ele abaixou seu tom de voz – Lady Atena há algum tempo me falou para ficar atento. Ela disse que uma criança dela mudaria a realidade da família Greno, e eu creio que ela se referia a você.

Eu o olhei.

— Você tem alguma ideia do que eu tenho que fazer? – perguntei.

Ele parou de caminhar.

— Chegamos. – falou, dizendo com o olhar que a conversa acabava por ali – Eu posso não ter certeza do que a espera no futuro, mas de uma coisa eu sei: Jay é certamente o ponto de partida se você quer ver o lado sombrio desta família.

Virei para o garoto, que caminhava alegremente, tagarelando com Ian, e franzi a testa. O que havia de tão importante sobre aquela criança?

— Pronta para enfrentar o Shinigami dos Greno?

Apertei o punho.

— Se alguém me perguntar mais uma vez se estou pronta, vou me encarregar de fazer com que não seja capaz de perguntar mais nada nunca mais.

Taiga esboçou um sorriso.

— Ótimo. Então vamos começar.

 

 


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Notas finais do capítulo

Eu de novo! ^^
Então, o que acharam? Eu sei que tinha gente querendo Taizu ou Izutai (aliás, qual vocês preferem?) nesse capítulo, mas não fiquem frustrados. Ainda veremos esses dois se encontrando logo. Afinal, o que tinha naquele papel que Izumi entregou a Ian? Bom, vocês conheceram um pouco mais do Taiga Akashi nesse capítulo. O que acharam dele? E no que vai dar essa luta entre a May e o Jay?
Críticas, expectativas, teorias, sugestões? Deixa um comment aí me contando tudo. Adoro cada comentário ^^ (sério, pareço uma louca sorrindo enquanto encaro a tela do computador, lendo os comentários de vocês)
Bom, gente, eu sei que prometi postar a imagem da tatuagem dos gêmeos aqui hoje, mas acontece que meu amigo viajou e eu simplesmente não tenho o talento necessário para terminar ele sozinha. O que vocês preferem: esperar até que o desenho fique pronto ou que eu poste a imagem sem graça que fiz no paint?
Bom, ainda não decidi o nome do próximo capítulo, mas devo postar no próximo fim de semana ^^
Beijos e até lá ♥