À Espada Pelo Sangue escrita por LahChase


Capítulo 42
Capítulo 34 - Shinigami


Notas iniciais do capítulo

Hey 0/
Então, aqui estamos com mais um capítulo ^^
Agradecimentos a Leta Le Fay, Ary e Minoran por seus comentários lindos e maravilhosos ♥ (que eu responderei logo, prometo)
Espero que gostem ^^
Bom, sem mais delongas...



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Fiz meus pés correrem rápido sobre o muro baixo, equilibrando-me facilmente apesar da velocidade. Sentia todo o meu corpo ser percorrido por uma energia incontrolável, meus sentidos aguçados, meus batimentos acelerados. Enquanto corria sobre aquele muro, com os cabelos voando e Jayden em meu encalço, o pensamento que cruzou a minha mente foi o de que aquele sentimento era do tipo que se quer guardar para sempre.

As crianças de dentro do orfanato a que o muro pertencia apontavam para mim, impressionadas, e Jayden, acompanhando em solo a minha corrida, tinha um sorriso divertido nos lábios. Com rapidez, ele saltou e agarrou-se a um galho de uma árvore plantada na calçada, usando o impulso para subir no muro e seguindo-me de perto.

— Não vou deixar tão fácil! – falei, pulando para o chão molhado logo em seguida.

Ele não me deu tempo de fazer o que planejava. Rindo alto, pulou em minha direção, girando no ar, já com um chute preparado. Abaixei-me rapidamente, quase perdendo o tempo de reação, e então rolei para longe, desviando de mais um chute veloz.

— Oi? – ele disse, ficando de pé – Onee-chan, disse alguma coisa?

Lancei lhe um sorriso.

— Então é assim, não é? – retruquei.

Avancei com um soco. Ele desviou para o lado e tentou atingir minhas costelas com o cotovelo, mas pude aparar o golpe, rapidamente fazendo um movimento com o pé para desequilibrá-lo e empurrando seu corpo. Ele saltou para trás, dando uma cambalhota no ar. Mal seus pés tocaram o chão, e Jayden já partia para cima de mim novamente, um soco preparado na mão direita.

Sua armadilha me pegou direitinho. Pensando ter antecipado o movimento dele, ergui o braço para defender o golpe, criando uma abertura mínima em minha defesa. Ele chutou com força. Quiquei uma vez no asfalto molhado antes de conseguir colocar a palma da mão no chão e estabilizar minha posição de queda. Meus pés arrastaram antes de se firmarem, e então eu já via Jayden vindo até mim novamente, com um salto.

Rolei por baixo dele, e já me levantei girando a perna em um arco alto. Meu chute atingiu suas costas, e ele foi jogado para frente. Jayden girou os pés e ficou de frente para mim, aparando mais um chute. Ele segurou minha perna e puxou, fazendo-me abrir escala.

— Ah, isso? – sorri ao ver sua expressão convencida de que havia me pegado – Eu fico nessa posição enquanto assisto TV.

Coloquei as palmas das mãos no chão e ergui o resto do meu corpo com rapidez, ficando de cabeça para baixo. Com um impulso, caí de pé longe dele. Nós avançamos novamente. Ele saltou e tentou descer o calcanhar em direção à minha cabeça, mas girei, segurei sua perna e usei sua própria força para jogá-lo de cara no chão. Ele tocou o chão com uma mão, e girou no ar. Suas pernas tomaram impulso na parede atrás de si, e ele rolou no chão antes de subir com um soco direcionado ao meu queixo.

Novamente desviei por muito pouco, girando para o lado. Ao fazer o movimento, bati meu punho fechado em sua nuca, ao mesmo tempo em que meu pé quebrava seu equilíbrio com uma rasteira simples. Ele aparou a queda com ambas as mãos. Preparei-me para descer meu cotovelo em suas costas, mas ele rolou para o lado antes que eu pudesse executar o golpe. Jayden se levantou.

— Nee-chan, parece que você é forte... – seu sorriso ficou um pouquinho macabro, e eu franzi a testa – Muito bem, muito bem. Vamos brincar de verdade agora.

Ele avançou.

“Ah, então agora ele vai vir pra valer” pensei “Eu deveria ter imaginado que estava fácil de mais”.

Dez minutos. Era o tempo que havia se passado desde o início da luta. Taiga e Ian nos observavam desde então, vigiando os arredores para que não houvessem problemas. O ruivo havia avisado que sairia depois de algum tempo, pois tinha assuntos urgentes a tratar, por isso não estava mais ali.

Apesar de estar em um ritmo frenético há tanto tempo, meu corpo não se sentia tão cansado. Minha respiração estava pesada e meu coração batia rápido, mas eu podia sentir a adrenalina percorrendo meus braços e pernas. Meus olhos acompanhavam os movimentos insanamente rápidos de Jayden, e meu corpo respondia aos meus comandos imediatamente, quase como se eu fosse capaz de usar da mesma velocidade que ele.

“Tudo o que preciso fazer é fazê-lo admitir a derrota” pensei, enquanto defendia de seus golpes. Esta fora a regra para decidir o vencedor, instituída por Taiga. Perguntei-me logo se aquilo não tornava tudo difícil de mais, mas sua fala seguinte havia me feito entender melhor o motivo. “Pensem acima de tudo no bem da missão. Se estiverem feridos de mais, a estarão colocando em risco. Saber lutar também é saber parar quando necessário”. Em outras palavras, eu só precisava colocar Jayden em uma posição na qual se ele não concordasse, ficaria machucado de forma a prejudicar a missão. E eu já havia decidido que posição era aquela. Pelo menos no Plano A.

Ambos lutávamos desarmados, mas a verdade era que nada sobre armas havia sido dito. Eu assumira que a luta seria assim por que fora o que eu vira no Poço. Quanto a Jayden, supus que, mesmo que eu sacasse Prostátida, ele ainda me enfrentaria de mãos vazias. A emoção de estar em perigo deixava as coisas mais interessantes para ele. Aquele garoto claramente estava se divertindo com aquilo.

“Não posso criticar” dei de ombros mentalmente “Eu mesma não estou exatamente odiando isso aqui”.

O chute nas costas que levei em seguida me fez reconsiderar meu pensamento. “Droga. Preciso me concentrar”.

Levantei, aparando mais três socos rápidos, e novamente fazendo um movimento com o pé para tirar o equilíbrio de Jayden, mas ele saltou e deu um chute giratório no ar. Desviei, por pouco sendo atingida por mais socos rápidos. Continuei a evitar os golpes, com pouco espaço para atacar. Se ele já estava veloz antes, agora eu já não tinha mais tanta facilidade para acompanhar. Minha mente trabalhava em um ritmo frenético, observando seus movimentos, em busca de padrões, falhas, aberturas. Eu precisava encontrar o momento para executar o golpe que pretendia.

Rápido de mais para que eu pudesse reagir, Jayden prendeu as pernas ao redor da minha cabeça pelas costas, da mesma forma que Hiro fizera com o Ciclope, e me lançou ao chão. Meus joelhos sentiram o impacto com o asfalto ainda molhado da chuva. Rolei para o lado, evitando um soco no estômago e tentei mover as pernas para dar-lhe uma rasteira, mas ele me evitou com um pulo. Apressei-me para ficar de pé, logo em seguida precisando me esquivar de uma sequência veloz de socos e chutes.

Antes que eu pudesse contra-atacar, porém, ele fintou um chute alto, fazendo-me preparar minha defesa, e direcionou um soco ao meu rosto. Minha reação foi rápida, mas não muito prudente: mandei meu punho ao encontro do dele, e ambas as nossas mãos se chocaram.

Trinquei os dentes com a dor.

Certo, tudo bem que aquilo era divertido, mas eu estava levando muito dano. Minhas pernas estavam cheias de arranhões e hematomas, bem como meus braços. Mesmo meu rosto fora atingido. Com certeza Michael ia me matar. Eu realmente precisava fazer logo...

Soquei a barriga de Jayden, e já ergui a perna para um chute em seu rosto, sem esperar que ele se recuperasse. Ele caiu de pé e avançou novamente. Recuei, evitando seus golpes. Senti a poça de água em meus pés, e imediatamente a chutei, distraindo-o com a água nos olhos, e corri para mais perto dele. Como um raio, segurei seu braço, girando-o até suas costas, e batendo com o pé na parte de trás de seu joelho, fazendo-o perder o equilíbrio. Em um segundo, ele estava de joelhos e eu segurava seu braço em posição de quebra.

— Que me diz agora, Jayden? – falei em um tom vitorioso, apesar de estar alerta a qualquer movimento que ele pudesse fazer.

Eu sabia que não era difícil sair daquela posição, mas tinha a esperança de que, se o pressionasse o bastante, pudesse acabar a luta ali. Na verdade era pura sorte que eu tivesse sido capaz de segurá-lo daquela forma.

 – Se você me mexer, eu quebro seu braço. Não acha que é o momento ideal para se...

Foi quando sentimos. Aquele frio detestável, aquela brisa gélida na nuca, o gelo nos ossos... Nós dois paralisamos, sabendo imediatamente o que aquilo significava. Uma risada arrepiante soou, e senti meu coração querer parar.

Ainda sem me mover de minha posição, lancei um olhar para onde Ian e Taiga estavam, mas o segundo não se encontrava em lugar algum.

— Novata! – ouvi a voz de Ian – Demônios!

Desesperada, procurei ao redor por algum corpo possuído.

— Solte-o de uma vez! – Ian falou.

— Mas a luta..! Eu tenho que vencer! – retruquei, um pouco perdida.

Se eu soltasse Jayden naquele momento, todo o esforço que havia feito naquela luta seria desperdiçado. Sairíamos de mãos vazias, mais uma vez fazendo uma viagem inútil por minha causa. Eu não queria aquilo. Não podia fazer minha equipe passar por tantos problemas por minha causa e ainda voltar sem resultados. Todos os outros ficaram para trás, enfrentaram Gaia e agora deviam estar com o restante da equipe de Taiga Akashi, em mais alguma operação perigosa, pela qual não precisariam passar se não viessem a Boston para que eu lutasse contra Jayden. Se eu não vencesse e conseguisse o que quer que precisava conseguir com a vitória, tudo seria em vão.

Apertei o braço do garoto com mais força, apesar de não querer machucá-lo.

— Vamos, Jayden, acabe com isso. – falei, determinada.

Ele virou o rosto e vi seu perfil. Estava sorrindo. Um sorriso de certa forma tanto assustador, quanto divertido.  

— Eu admito a derrota, Onee-chan. – falou – Você é forte!

Fiquei de certa forma surpresa, sem acreditar no quanto fora fácil. Antes mesmo que eu pudesse reagir, Jayden fez um movimento rápido e se desvencilhou do meu aperto como se não fosse nada. Ele estendeu a mão à frente de si.

Venha.— disse, em grego.

Um segundo se passou, e uma arma começou a se materializar diante dele. O cabo longo, a lâmina curva enorme, metade prata, metade aço... Era uma foice ainda maior que a de Charlotte, com apenas uma lâmina, cujo fio parecia ser feito por dois metais diferentes. A altura do garoto passava por pouco da metade da altura da arma, o que fazia parecer impossível que ele a pudesse usar, mas suas mãos agarraram o cabo e a giraram com destreza acima de sua cabeça.

— Onde está..? – eu o ouvi murmurar, enquanto ele se virava para procurar ao redor.

Vi seu rosto assumir uma expressão ansiosa, como se aquela criança estivesse prestes a entrar em um parque de diversões.

— Jay. – Ian veio até nós e Jayden olhou para ele.

— Ian Nii-chan. – disse – Você o viu?

O neto de Poseidon também passou os olhos na área ao redor, alerta, mas balançou a cabeça.

— Vamos sair daqui. – ele falou – Talvez ele ainda não tenha percebido nossa presença.

Jayden pareceu decepcionado, e balançou a cabeça.

— Não, eu não quero! Vocês saem! – disse – Eu vou atrás dele!

Antes que pudéssemos responder qualquer coisa, ele saiu correndo, logo virando à esquina e sumindo da nossa vista.

— Jayden, espera! – gritei, pronta para segui-lo.

Ian agarrou o meu braço.

— Deixe-o. – falou – Já temos o que precisamos, e ele pode cuidar do demônio sozinho. Precisamos voltar para o resto da equipe.

Eu me desvencilhei de seu aperto.

— É uma criança, Ian. Não podemos deixá-lo sozinho contra esses caras.

Dei um passo à frente novamente, mas ele entrou em meu caminho.

— Acredita mesmo que ele é só uma criança? Mesmo depois de ter lutado contra ele?

Sustentei seu olhar, determinada, mas não respondi.

— Há um motivo para ele ser temido. – continuou –  Há um motivo para que nós o chamemos de Jay Kill, o Shinigami. Sabe o que isso significa? Significa “deus da morte”. Esse garoto tem a morte no nome duas vezes.

— Eu não me importo com como o chamam. – retruquei – Aos nove anos de idade, com ou sem apelido de “deus da morte”, todo ser humano é uma criança.

Passei por ele e corri, seguindo o caminho por Jayden havia passado. Ouvi os passos de Ian atrás de mim, e dobrei a esquina. Meus pés pararam e eu congelei assim que vi a cena que se desenrolava ali.

Dois corpos jaziam no chão, ensanguentados, enquanto três pessoas cercavam Jayden, atacando-o. O garoto se movimentava em um ritmo frenético, ao qual os demônios mal podiam reagir, girando sua foice e saltando para atacar suas vítimas. Cada golpe que conseguia atingir um corpo fazia uma ferida profunda, mas eu pude ver, em apenas cinco segundos de observação, que ele parecia estar mirando em pontos não vitais. Não pude dizer se o fazia para poupar os corpos possuídos ou para prolongar um pouco mais sua luta, em favor de sua diversão.

A expressão de Jayden era assustadora. Seu rosto manchado de sangue exibia um sorriso genuinamente divertido e seus olhos brilhavam de um jeito que quase me lembravam os de Daímonas.

Senti meu coração bater mais lentamente, as palmas das minhas mãos ficarem suadas. Eu estava certa. Desde a primeira vez que meus olhos encontraram os dele eu tive a impressão de que algo havia de errado com ele, de que as batalhas e as lutas eram na verdade seu parque de diversões. Agora eu tinha a confirmação. Mesmo a morte, o sangue e a vida faziam parte de sua brincadeira.

— Ian... – minha voz escapou, enquanto minha mão agarrou a barra de seu casaco – Ian, esse garoto...

Não fui capaz de desviar meus olhos do massacre, pasma, enquanto a lâmina da foice dançava e o garoto saltava suavemente entre um movimento e outro. Era uma cena assustadoramente bonita de se assistir. Um contraste entre a forma leve e fluida de Jayden lutar, e a bruta maneira que os seus oponentes eram feridos. Aquela arma, aquela ferocidade, aquele cenário inteiro pareciam fazer jus ao apelido de “deus da morte”

— Ian. – chamei novamente – A lâmina dele... Por que... corta?

Ele virou o rosto.

— É uma lâmina que fere tanto mortais quanto semideuses. – respondeu.

— Por que...? – fitei seu rosto, vendo seus olhos evitarem os meus – Por que ele precisaria de uma coisa dessas?

Ele não respondeu. Antes que eu pudesse insistir, mais duas pessoas surgiram do outro lado da rua, também partindo para cima de Jayden. A criança soltou um riso de deleite ao ver mais duas vítimas diante de si.

Ian agarrou o meu braço.

— Vamos sair daqui. – falou, em um tom de ordem contra o qual eu não consegui resistir.

Em meu estado perplexo, eu me deixei levar, e, antes que me desse conta, estava sentada na garupa de sua moto, abraçando forte sua cintura enquanto ele acelerava. As imagens da luta de Jayden repassavam em minha mente, em um turbilhão, juntamente com toneladas de pensamentos confusos. Como era possível? Como uma criança de nove anos havia chegado naquele ponto, em que fazer outros sangrarem é seu prazer? Que tipo de monstro havia criado aquele menino? No que o haviam transformado? Minha confusão foi aos poucos se transformando em revolta.

Uma criança. Era isso que aquele garoto era. Mas quando os demônios surgiram, eu quase o podia confundir com um deles. Senti meus olhos arderem de raiva. Quem quer que houvesse feito aquilo com Jayden iria pagar caro por isso.

— Ian. – falei, minha voz tremendo.

— Hm?

— Isso está errado. Essa família está errada.

Ele ficou cinco segundos em silêncio antes de finalmente responder:

— Eu sei.

 

 


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Notas finais do capítulo

Eu de novo!
Apresento-vos Jayden Kellin Greno, nove anos de idade, conhecido como Jay Kill, o Shinigami dos Greno. Essa imagem é referente à primeira vez que a May o viu, ou seja, no capítulo 22. Afinal ele se mostrou uma criança um tanto... Difícil de descrever hehe O que há por trás da história dele?
Críticas, opiniões, dicas, expectativas ou sugestões? Deixa um comentário aí me contando tudo ^^ Quando vocês comentam as ideias pipocam na minha mente, sério. ♥
Bom, o que vem por aí é: Capítulo Extra - A História de Mais Alguém: Olhos e Ouvidos. Conseguem adivinhar o que eu vou narrar nesse capítulo? ^^ Devo postar até o próximo fim de semana :3
Vou ficando por aqui
Obrigada pela leitura e até mais ♥ ♥