À Espada Pelo Sangue escrita por LahChase


Capítulo 17
Capítulo 15 - Stomach Tied In Nots


Notas iniciais do capítulo

Oiee!

Então, há algumas coisas que preciso explicar aqui antes que comecem a ler este capítulo:
1 - O nome do cap.: é de um música cuja letra da versão acústica é perfeita pra primeira parte. Quem quiser dar uma olhada, pode procurar. A banda é Sleeping With Sirens. (recomendo usarem o site Letras.mus para verem a tradução. Ah, e tem que ser a acústica, ok?)
2 - Este capítulo se passa logo após o último Capítulo Extra.

Bom, agradeço muuuuito os comentários maravilhosos que Cassie, Minoran, Alhene Malfoy e Leta Le Fay sempre deixam ♥

Vou parar de enrolar
Espero que gostem ^^
Vejo vocês no final ˆㅅˆ



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— Não está muito cedo para você estar de pé? – a voz de Michael me arrebatou de meus pensamentos.

Depois da conversa com Layla, eu havia desabado na areia, com os pensamentos vagando entre todos os problemas que estavam ocorrendo. Estava me segurando para não chorar.

Eu o olhei e ele sorriu de canto.

— Não é muito cedo para você também? – retruquei com uma nota de humor na voz, mas me certifiquei que minha expressão deixasse claro que eu não estava realmente bem-humorada.

Ele se sentou ao meu lado, mesmo que distante.

Por minutos, não dissemos nada, apenas observamos as ondas quebrarem na areia. Lancei alguns olhares a ele, mas não iniciei nenhuma conversa. Desde que toda aquela questão sobre Percy havia começado, eu não tinha mais tempo para me chatear ou resmungar sobre o fim da nossa amizade. Provavelmente, toda essa enxurrada de problemas havia ofuscado minhas briguinhas com ele e Kate. Surpreendi a mim mesma chamando aquilo de briguinhas. Antes eu as tratava quase como rixas.

Abracei os joelhos, tentando me aquecer. Embora o sol já tivesse nascido, o ar ainda estava frio, de modo que a brisa que tocava meus braços era de arrepiar. Logo senti o casaco sobre meus ombros.

Olhei para Michael, mas ele já havia se afastado novamente.

— Kate não vai ficar chateada com isso? – Eu disse, mesmo sem saber ao certo se para provocá-lo, ou só para dizer alguma coisa.

Ele deu um sorriso amargo.

— As coisas ficaram meio estranhas entre nós, não é? – resmungou e eu quase não ouvi. Vendo que eu não tinha certeza do que dissera, ele respondeu: – Ela não está aqui para ver, está? Não vou te deixar com frio por causa dela...

Sua resposta me surpreendeu. Soava como um tipo de desculpas. Talvez ele quisesse se desculpar. Afinal, era tudo culpa dele, né? Ele começara a namorar uma garota ridícula que o fizera se afastar de mim, sempre que discutíamos, ele jamais vinha em meu favor, e nem sequer se importara em me contar o que realmente estava acontecendo a princípio.

Neste momento, minha consciência me chamou atenção ao meu próprio pensamento: “mim, meu, me” ela pareceu ressaltar “será que só existe você nessa história? Não pensa na felicidade dele? Diz que gosta dele, mas não consegue nem mesmo estar feliz por ele?”

Foi como levar mais um soco no estômago – o segundo aquela manhã. Eu de repente percebi que vinha sendo egoísta. Não importava se ele havia se afastado primeiro, ou se não havia me escolhido. Eu estava prestando atenção apenas nos erros dele e ignorando os meus. Shayla tinha razão... Talvez por ter deixado minha raiva quanto aquilo esfriar um pouco, agora eu era capaz de ver que além de ele ter se afastado, eu mesma o empurrei para ainda mais longe.

 A vontade de chorar aumentou ainda mais, ao ver que eu estava exigindo dele algo que eu mesma não tivera. Eu queria que ele ao menos tivesse vindo me contar sobre Kate, que tivesse pensado em mim nessa questão. Mas eu mesma não o havia considerado no meio da minha birra. De repente, toda a minha atitude com relação a eles se tornou sem sentido.

— Desculpe. – sussurrei, o nó em minha garganta se apertando.

Ele desviou os olhos para mim. Aqueles olhos cuja cor eu nunca conseguira identificar e cujo brilho fazia meu coração querer saltitar.

Fechei meus próprios olhos com força para evitar que as lágrimas caíssem. Tentei formular algo decente, mas tudo o que consegui foi sussurrar novamente:

— Desculpa.

Nós tínhamos a culpa dividida naquela história. E eu agora estava muito frágil para tentar manter meu orgulho. Se ele estava ali, era por que ainda havia uma possibilidade de recomeçar, não era? Se havia apenas um pingo de esperança, eu estava disposta a fazer de tudo para recuperá-lo, para ter de volta a sua amizade. Eu de repente percebi que era tudo o que eu mais queria: poder estar com ele novamente.

Eu corria o risco de perder meu pai, minha madrasta, meus irmãos, o Acampamento estava de cabeça pra baixo e minhas certezas estavam abaladas. Shayla, Kyle e Drake eram os únicos com quem eu podia contar no momento. Eu sabia que qualquer um deles faria de tudo para me ajudar, mas me dei conta de que não era com eles que eu queria conversar. Eu queria a voz melodiosa de Michael, seus olhos doces, sua fala calmante. Queria suas palavras sempre perfeitas, seu sorriso enlouquecedor... Não queria passar nem mais um segundo com aquela sensação de que não podia procurá-lo porque estávamos brigados, estava cansada daquilo, cansada de segurar as pontas, cansada de não poder correr para ele e ter uma conversa boba, ou profunda...

Não consegui reprimir um soluço. Obriguei-me a parar e, respirando fundo, comecei:

— Eu fui uma idiota. Enquanto você vinha sendo um amigo maravilhoso, me ajudando em tudo, sendo compreensivo e se esforçando, eu não soube retribuir. Agi de modo infantil, provocando você e a Kate... Exigindo que você tivesse por mim uma consideração que já tinha, mas que eu não soube enxergar, e mais, que eu mesma não tive por você. Eu não soube te apoiar como fez comigo... Não soube ficar feliz por você. Eu fui egoísta, pondo a mim mesma no centro de tudo. – Tomei fôlego em meio às lágrimas – Eu sinto muito, Mike! Eu fui tão idiota!

A essa altura, eu já não me importava se ele entendia ou não, se o que estava falando o certo ou não. Eu estava pondo para fora tudo, não só ao que se referia a ele, mas também a todo o resto: todo o estresse dos últimos dias.

Escondi o rosto entre as mãos e solucei compulsivamente. Michael se aproximou e me abraçou. Enterrei meu rosto em seu pescoço, enquanto ele murmurava algo para mim que eu não entendia. Seu tom de voz soava exatamente igual ao meu.

— Só diz que me perdoa. – Pedi – Por favor, diz que podemos voltar a ser como era antes, que eu posso contar com a sua companhia de novo, que podemos brincar novamente...

Ele segurou meus ombros, olhando meu rosto. Afastando uma mecha de cabelo dos meus olhos, ele disse:

— Não há a menor possibilidade de eu não te perdoar, por qualquer coisa que você tenha feito. – disse – Ter você de volta é o que mais quero agora, May! Eu não quero ficar nem mais um minuto brigado com você.

Eu o olhei, espantada e aliviada ao mesmo tempo. Meu coração saltitou. Ele me queria em sua vida! Mas então... O que havia sido aquilo no dia do ferimento? Afastei o pensamento com força. Não importava, eu não me importava. Eu podia estar com ele novamente! Eu o abracei de novo, agradecida. Um peso pareceu sair dos meus ombros. Fitei seus olhos dourados, invadida por um sentimento de alívio tão grande que jamais pensei ser capaz de sentir.

— Obrigada!

— Hey, - disse ele – somos amigos, lembra? Amigos perdoam uns aos outros, e ficam juntos.

Afastei-me devagar e nós viramos para o mar novamente. Abri mão de esperar que ele se desculpasse da mesma forma. Você pode pensar que sou trouxa por isso, mas não me importava. Meu coração estava saltitando, e não queria estragar aquilo criando uma expectativa de que ele percebesse que também havia errado. Ele perceberia em algum momento, eu tinha certeza, mas eu não tinha tempo para esperar que ele se desse conta disso. Eu estava saindo do Acampamento no dia seguinte. Não ia deixar que nada, nada mesmo, me impedisse de ficar bem com ele naquele momento.

Deitei minha cabeça em seu colo, como costumava fazer antes de toda a confusão começar, sem nem ligar para o fato de que ele agora tinha uma namorada que me odiava. Ao contrário, apenas fiquei ali, recostada, curtindo o sentimento de alívio e leveza que agora me inundava, matando a saudade desses momentos.

Contei a ele sobre o que estava acontecendo na minha família e sobre minha decisão de deixar o Acampamento. Falar sobre isso com ele me deixou ainda mais segura de que estava tomando a decisão certa, mesmo não gostando muito dela. Claro que ele também não gostava da ideia, como eu sabia que todos os meus outros amigos não iam gostar, mas afirmou que também acreditava que era o melhor a fazer.

— Escuta, May... – ele começou depois que terminamos de falar sobre a missão – Eu preciso te dizer uma coisa...

Antes que ele fosse capaz de continuar, ouvimos alguém pigarrear atrás de nós e nos viramos.

Era Kate.

Baixei meus olhos, desconcertada. Meu coração acelerou. Eu não sabia se era raiva ou se apenas nervosismo, mas obriguei-me a me acalmar. “Nada vai me impedir de ficar bem com ele agora” repeti “E se isso incluir ter que aturar Kate com ele, eu vou fazer isso”.

— Eu... Vou deixar vocês sozinhos. – falei.

Antes que eu levantasse, Michael sussurrou para mim num tom que ela não seria capaz de ouvir: “Almoço. Floresta”.  

Sorri internamente. Dessa vez ia ser diferente! Ele estava marcando para me encontrar! “Não vamos nos afastar de novo”! Confirmei com um olhar e corri para longe deles, mas não sem antes ouvir Kate questionar irritada:

— O que você estava fazendo com ela?!

 

Eu voltei para o chalé e encontrei Annabeth se arrumando para sair.

— Aonde vai? – perguntei baixinho para não acordar os outros.

Ela me olhou rapidamente e pude ver uma centelha de esperança em seus olhos. Percebi que devia se tratar de alguma notícia sobre o paradeiro de Percy.

— Tive um sonho. – falou, colocando seu boné de invisibilidade na mochila – Hera me falou para ir ao Grand Canyon. Disse que vou encontrar a solução para o meu problema. Parece que devo procurar um cara com um sapato só.

Ergui uma sobrancelha.

— Achei que não confiasse em Hera. E o Grand Canyon fica do outro lado do país. Como Percy poderia estar lá?  E com um sapato só? Isso não faz o menor sentido.

— Não confio e não faço ideia. Mas é a única coisa que eu tenho. E se for algo concreto, preciso verificar. Vou levar a carruagem dos garotos de Apolo.

— Não acho que eles vão gostar disso.

Ela deu de ombros.

— Pode pedir a Butch do chalé de Íris que me acompanhe?

Eu ri.

— Aquele armário? – Referindo-me ao tamanho dele.

— É, aquele armário. – respondeu, mas sem uma nota de humor – Você sabe que ele é o melhor piloto de pégasus que temos.

Eu dei de ombros.

— Então tá. Quando quer partir?

Ela enfiou um saco de ambrosia na mochila e a fechou.

— Agora.

O trabalho diplomático ficou todo pra mim. Tive que convencer Quíron a liberar a missão, convencer o pessoal de Apolo a emprestar a carruagem, convencer Butch a ir com Annabeth e o mais difícil: convencer Annabeth a esperar os grupos de busca voltarem para que partissem.

No final das contas, os grupos de busca só voltaram ao anoitecer, e Annabeth teve que esperar até o dia seguinte, por ordens de Quíron.

Ainda durante a manhã, conversei com o centauro sobre o que precisaria fazer, e ele caminhou descontente pela grama do campo de treinamento com arco.

— Eu não gosto nada disso. – falou – Não me parece muito bom te deixar sair num momento tão crítico. Ainda mais com tudo o que está acontecendo. Você já deve ter ouvido os boatos.

— Eu sei. – respondi – Mas eu não tenho escolha.

— Você ainda não está preparada. – Ressaltou – Ainda há muito que eu preciso te ensinar sobre os Greno.  

            - Eu sei disso. – falei, séria – Mas infelizmente não há o que fazer quanto a isso... – fiz uma pausa, perguntando-me se deveria acrescentar o restante – Quíron, tem mais.

Ele me fitou.

— Você quer levar a Página. – adivinhou.

Assenti, grave. Ele deu um suspiro.

— Será que preciso lembrá-la do perigo que isso seria?

— Eu sei bem o que tem me tirado o sono à noite. – falei – No entanto, eu tenho certeza de que está na hora de encarar Daímonas novamente, e, pelo que acho que vem pela frente, eu provavelmente vou precisar dele.

— May, a purificação...

— Eu sei. Eu não vou me expor de mais, nem me arriscar. Tenho consciência do cuidado que preciso ter com ele. Tenho consciência de que lidar com ele não vai ser fácil, e de que terei que resistir a ele com força. Mas eu cheguei a uma decisão... – eu o fitei, minha expressão determinada – Eu vou fazer isso. Vou me esforçar para tirar desse garoto essa dor e todo esse sofrimento.

A face de Quíron era indecifrável. Continuei:

— Mas não se preocupe. Se eu sentir que corro um pingo de perigo, ou ver que estou sendo tentada a ceder, fecho a caixa e não abro nunca mais.

Sustentei seu olhar, até que ele soltou um suspiro.

— Você certamente parece com ele... – resmungou para si mesmo e então voltou a me encarar – Vejo que cresceu, May. Muito bem, você terá a caixa.

Abri um sorriso.

— Obrigada, Quíron. – falei.

— Mas você sabe que não pode falar sobre isso com ninguém, certo? Nem mesmo com os outros Greno.

Afirmei com um aceno de cabeça.

— Pode ter certeza.

Hesitei, perguntando-me se deveria questionar o motivo de precisar guardar segredo quanto a isso dos próprios criadores da Página, mas decidi que não queria saber. A história já estava complicada o suficiente até ali. Despedindo-me de Quíron, voltei para o chalé.

 

 

Depois do almoço, fui encontrar Michael na floresta. Eu estava de bom humor. As coisas estavam finalmente se encaixando: Annabeth tinha uma pista de Percy, estava tudo certo para a minha partida, eu ficaria com o Livro e Mike e eu estávamos de bem novamente.

Ele estava sentado de baixo de uma árvore, a cabeça recostada no tronco, os olhos fechados e um violão no colo. Sua expressão era tão tranquila que por um momento pensei que estivesse dormindo, mas então seus dedos começaram a tocar as cordas e ele cantarolou uma música que eu conhecia:

“Nobody’s gonna love you if

You can’t display a way to capture this

Nobody’s gonna hold your hand

And guide you through

No, it’s not for you to understand”

Tive vontade de me esconder para que ele não parasse de cantar, mas não resisti ao impulso e cantei junto:

“Nobody’s gonna feel your pain

When all is done

And it’s time for you to walk away

So when you have today

You should say all that you have to say”

Michael olhou para mim sobressaltado e fechou a boca, continuando a tocar, mas eu não parei de cantar.

“Don’t point the blame when you can’t find nothing

Look to yourself and you might find something

It’s time that we sorted out

All of the things we complain about”

Com um sorriso, ele voltou a cantar, fazendo a segunda voz.

“So listen close to the sound of your soul

Take back a life we lived once before

If it ain’t you, then who?

If ain’t you, then who is gonna love you?”

Esta última nota era aguda de mais para mim, e minha voz falhou de um jeito engraçado. Interrompi a música, rindo feito louca, e ele me acompanhou.

— Desculpa! – falei, em meio ao riso – Acho que não devia ter tentado essa última parte. Nunca consigo alcançar.

Ele faz um gesto com a mão, tentando se acalmar.

Eu nunca havia revelado para alguém que não fosse da família, além de Shayla e Kyle, que cantava. A maioria das pessoas mais próximas sabia que eu era uma amante da música, mas eu só deixava minha voz escapar na frente de outras pessoas quando estava feliz.

Depois que meu pai me contou que era filho de Apolo, meu gosto e talento para música fizeram sentido. Eu era capaz de tocar violão, piano e podia cantar. Não que eu cantasse incrivelmente bem, mas como neta do deus da música...

Por um momento um pensamento me ocorreu: se eu era neta de Apolo, e Mike era filho dele... E se minha mãe era irmã do pai dele... Então ele era meu primo e meu tio? Fiz mentalmente um gesto de “prefiro nem saber” e balancei a cabeça, sentando-me ao lado de Michael.

Ele estava olhando para mim com um sorriso divertido.

— May! Isso foi tão legal! – Exclamou – Não sabia que cantava.

Dei um riso tímido.

— É, acho que herdei um pouquinho do talento do meu pai.

— Um pouquinho? Não se menospreze. – Ele ergueu a sobrancelha.

Sorri.

— Bom, você ouviu a última parte.

— Ah, isso você conserta com um pouco de prática. Mas você tem talento.

Ergui uma sobrancelha.

— Se for assim, e seu disser que também toco violão e piano?

Ele arregalou os olhos.

— Juntando isso ao seu talento com o arco, eu certamente poderia dizer que você é filha de Apolo! – disse, admirado – Como não me contou isso antes?

Fiz um gesto.

— Eu sou meio tímida quanto a isso. – respondi – Fico nervosa quando as pessoas ficam olhando tocar.

Ele me lançou um olhar ladeado, e então um sorriso malicioso surgiu em seus lábios. No segundo seguinte, suas mãos me estendiam o violão.

— Que? Não! Não vou tocar pra você. – cruzei os braços.

Ele fez uma carinha fofa, seus olhos com um brilho ansioso. Meu coração deu uma cambalhota e, antes que eu percebesse, estava segurando o violão no colo e começando um dedilhado.

“Sinceramente...” pensei “Você o está deixando juntar-se ao time das pessoas que conseguem te convencer a fazer qualquer coisa, junto com Kyle e Shayla”.

Segui dedilhando uma melodia qualquer, mas decidi entrar em outro assunto:

— Mas e então? Você e a Kate se acertaram? – perguntei ansiosa o que vinha martelando em minha cabeça desde cedo. Eu não havia mudado meus sentimentos quanto àquela garota, mas estava fazendo um esforço para conviver com o relacionamento deles da melhor forma possível. Se eu complicasse as coisas, era provável que tudo começasse outra vez, então minha preocupação era genuína – Eu detestaria causar problemas entre vocês novamente e...

— Não há mais um “nós”. – Michael me interrompeu e meus dedos congelaram nas cordas do violão.

Demorei dois segundos para entender. E quando o fiz, meu coração ficou tão confuso que levei mais dois segundos antes de ser capaz de dizer alguma coisa. Eles terminaram? Metade de mim quis pular de alegria, a outra metade ficou preocupada. Se há um jeito certo de expressar em palavras como eu me sentia no momento (o que é bem difícil), eu diria que era uma luta entre o pensamento de que eu agora não precisava dividi-lo com aquela garota e a preocupação do que isso estava causando nele. Ele devia estar sofrendo, não? Uma parte de mim me repreendeu por se sentir tão alegre com a notícia, e a outra simplesmente ignorou a repreensão.

— E-espere. – Balbuciei, ainda sem ser capaz de decidir como me sentia quanto aquilo – Quer dizer que romperam? Ah, deuses... É minha culpa, não é? Droga, sinto muito, Mike, eu não deveria ter...

— May...

— Não, é sério. Eu devia ter me tocado que ela não ia gostar...

— May.

— Eu posso falar com ela se quiser! Pedir desculpas e então vocês podem reatar e... – eu sabia que isso era impossível, e também que não tinha a mínima vontade de fazê-lo. Não tinha ideia do motivo de estar falando aquilo, apenas não conseguia pensar direito do jeito que meu coração parecia que ia explodir.

— May!

Eu calei a boca.

— O que estou tentando te dizer é que eu não quero reatar com a Kate. – ele disse – Eu terminei com ela.

— V-você... – um sorriso quase brotou em meus lábios. “Ele terminou com ela!” pensei, mas me controlei – Mas pensei que gostasse dela de verdade.

Ele deu um sorriso amargo e encostou a cabeça no tronco novamente.

— É. Eu também achei, mas... – Ele hesitou – É que eu...

Alguns segundos de silêncio se seguiram, até que Michael suspirou e olhou para as árvores acima de nós. O vento suave balançava as folhas numa dança leve.

— Eu era apaixonado pela Kate desde que a conheci. E nós nos conhecemos há muito tempo. Mas ela mudou muito desde então, e eu fiquei cego a isso. Hoje eu finalmente enxerguei. Acho que a Kate doce e compreensiva que eu conhecia deu lugar a uma garota egocêntrica, fútil e possessiva. – Ele riu amargamente – Eu estava me afastando de todos os meus amigos por causa do ciúme louco dela, e hoje eu me dei conta disso. Não pude suportar quando ela começou a falar mal de você mais cedo. Tentei chamá-la à razão, mas ela não quis me ouvir. Disse que era você ou ela.

“E você me escolheu?” Eu queria perguntar, mas tive medo que a resposta fosse um explícito “sim”. Eu não saberia o que fazer com isso. Ao mesmo tempo, minha face corou com essa possibilidade. Como se lesse meus pensamentos e concordasse com eles, Michael continuou:

— Falei que escolhia a mim mesmo. – Ele fez uma pausa – May, eu sinto muito por não ter enxergado antes que tipo de pessoa Kate era. E sinto por termos que sofrer para que eu abrisse os olhos. Eu fui um completo idiota por não ter insistido em você, por ter ficado cego e covarde nessa situação toda. Como um filho de Apolo, eu deveria ter visto... O que eu queria te dizer mais cedo era que eu também preciso pedir seu perdão. Perdão por ter sido tão...

— Ei, tá tudo bem. – interrompi antes que fosse capaz de pensar – Já está tudo resolvido, não está? Vamos deixar o passado onde ele está.

Ele me deu um sorriso caloroso e suspirou.

— Bem, agora já me sinto mais leve. Eu estou melhor sem ela, e... Você não sabe como me deixa feliz poder estar com você novamente.

Quando ele voltou a olhar para a copa das árvores, pousei uma mão sobre o coração, tentando fazê-lo parar de bater tão forte. Estava tudo perfeito agora. Eu podia estar com Michael, e não teria que aturar vê-lo com Kate. Fechei os olhos e deixei aquela sensação me invadir. O que era aquilo? Abri um sorrisinho. Apoiei o queixo no corpo do violão, de repente me dando conta de algo.

— Mike. – falei e ele me olhou.

— Que foi?

Fitei o chão, tentando me obrigar a falar.

— Era mentira. – disse rapidamente. “Droga, não era isso que eu ia dizer” pensei.

Ele ergueu uma sobrancelha.

— O que?

— Ahn... – hesitei – Aquela história de eu querer trocar de médico. Eu nunca pedi a Will para me ajudar.

Ele olhou para mim sobressaltado.

— Que? E quem vinha te tratando desde então?

Segurei o riso.

— Meu irmão e a flauta de Kyle.

Seu olhar era de ultraje. Eu ri, envergonhada.

— Eu não sei por que disse aquilo... – confessei – Pensei que era o que você queria, e... Bem, eu ouvi Kate reclamando com você.

Eu lhe lancei um olhar rápido antes de resmungar as próximas palavras.

— Acho que fiquei com ciúmes...

Ele arregalou os olhos, mas então ergueu uma sobrancelha e cruzou os braços.

— Com ciúmes fiquei eu quando você disse que queria Will.

— Eu não disse que queria ele! – eu me defendi – Eu disse que se você quisesse eu podia trocar.

— Não é disso que me lembro. – ele rebateu – Tenho certeza de que te ouvi dizer algo tipo “pensei que poderia trocar”.

— Bom, isso é o que você acha ouviu. – falei – Tenho certeza de que não foi o que eu disse.

— E eu tenho certeza de que foi.

Nós estreitamos os olhos, desafiando um ao outro. Os olhos de Michael brilharam no momento em que o sol iluminou seu rosto, e eu congelei.

— Sua vez, espertinha. – ele tinha um sorriso malicioso nos lábios.

— Eu sei, Raios de Sol!

Nós nos encaramos.

Déjà vu! – exclamamos ao mesmo tempo, antes de começarmos a rir feito loucos.

Gargalhamos até que minha barriga começasse a doer. Quando fui obrigada a parar, sem energia, pensei, feliz, que queria ficar assim para sempre. Foi então que um pensamento não tão alegre passou por minha mente e meu sorriso se desmanchou.

— Eu queria ter mais tempo... – murmurei.

O sorriso de Mike morreu e ele recostou a cabeça em seus joelhos, as mãos entrelaçadas à sua frente.

— Você não devia ir sozinha nessa... – ele começou, mas eu cortei.

— Não tenho escolha, Michael.

— Ainda assim. Não estou com um bom pressentimento sobre essa sua viagem, May.

Meu coração acelerou novamente. Automaticamente comecei a contar “Um, dois, três, quatro...”. Eu havia aprendido a não desdenhar dos pressentimentos dos filhos de Apolo, no entanto, uma previsão ruim era a última coisa de que precisava nesse momento. Eu já estava apavorada o suficiente com essa missão.

Fiz uma careta.

— Não começa, não. – Falei.

— Isso é sério. – Michael franziu o cenho – Você deveria esperar por Rachel. Não deveria sair em missão sem uma profecia.

Revirei os olhos, mais em um movimento defensivo que desdenhoso.

— Não é bem uma missão, Mike. Eu vou a uma reunião de família, é tudo. Nem sei o que vai acontecer lá. Não sei se vão mesmo partir à caça dos... Você sabe quem. E se vão, duvido que me escolham. Sou uma novata!

— Essa é exatamente a razão pela qual deveria consultar o Oráculo. Essa incerteza é perigosa.

— E que tipo de certeza uma profecia pode me dar, Michael? – Exclamei – Todo mundo vive dizendo que elas confundem mais do que ajudam.

Ele fez uma cara feia.

— Todo mundo diz isso. Mas ninguém nunca quer sair em uma missão sem uma profecia, não é? Elas são um guia, May. Ajudam a ter uma noção do que fazer. Você realmente deve esperar por Rachel.

— Eu não tenho tempo. – Enfatizei – Caso não tenha entendido, meu pai está morrendo. Não posso me dar o luxo de esperar mais. Annabeth diz que Rachel vai e vem quando bem entende. Que garantia eu tenho de que ela estará vindo logo? Ninguém sabe quando ela vai estar aqui. A reunião já é amanhã, e eu ainda preciso ir em casa, falar com os meus pais. Eu definitivamente não posso ficar aguardando.

Michael suspirou, vencido.

— Só... Pelos deuses, tome cuidado. – murmurou.

Dei um sorriso de canto e segurei sua mão.

— Não se preocupe. Eu estarei de volta logo.

Ele apertou minha mão e sorriu também.

Deuses, ele precisava mesmo parar de ser tão bonito. Soltei sua mão e falei apressada:

— É... hum. Então. Acho que deveríamos ir indo, sabe? Ainda tenho muito o que fazer e...

— É, sim. Tá certo.

Levantamos e andamos pelo caminho de volta para fora da Floresta em silêncio.

Meu coração estava apertado. Apesar de ter desdenhado do mau pressentimento de Michael, era exatamente o mesmo tipo de coisa que se passava comigo. Em uma luta interna, parte de mim dizia que todo semideus se sente assim antes de sair do Acampamento e outra parte gritava que havia sim algo muito ruim por vir.

Olhei para o garoto à minha frente. Não pela primeira vez, uma mistura de sentimentos conflitantes me atingiu. Eu estava crente de que voltaria, mas não tinha como garantir. E se eu nunca mais tivesse a oportunidade de...? Era essa a conclusão a que havia chegado? Eu estava realmente estava...?

— Mike. – chamei e ele se voltou para mim com um olhar curioso, notando o tom estranho em minha voz.

Continuei antes que tivesse chance de pensar direito:

— Escuta, se eu não voltar...

— Ei, nem comece. Você acabou de... – Ele me interrompeu, mas sua voz morreu quando aproximei meu corpo do dele.

— Sério. Se eu não voltar, queria que soubesse... Eu descobri que...

Não continuei. Só cheguei mais perto de seu rosto, nariz com nariz, fitando seus olhos arregalados. Fechei os olhos com força e lentamente encostei meus lábios nos seus. Podia ser muito cedo para aquilo, podia ser muito tarde, mas eu parei de pensar. Se não fosse naquele momento, podia não ser nunca. Recuei devagar, abrindo os olhos, mas antes que pudesse me afastar completamente, Michael apertou minha cintura, trazendo-me para mais perto.

— Não ouse – ele sussurrou em meu ouvido – Não ouse não voltar.

O momento de hesitação que se seguiu foi preenchido por mais um beijo delicado. E de repente não havia mais nada que importasse de verdade.

 

 


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Notas finais do capítulo

Heeey
/ Mayel está de voltaaa / Felizes com isso? Ainda irritados com Michael?
A música que eles cantaram juntos foi a "Roger Rabbit", também do Sleeping With Sirens. Achei que a letra (principalmente do refrão) combina com a situação.

Esse capítulo não teve ação nem muita tensão, mas enfim... O que acharam? Acham que a música que deu o nome ao capítulo combinou? Acham que preciso melhorar alguma coisa? Viram algum erro? Não gostaram ou gostaram muito de algo? Deixa um comentário ˆㅅˆ

Bom, próximo capítulo sai na Terça. (Talvez, se eu tiver tempo, posso postar no sábado. Sinto muito não poder dar uma data certa, mas tá meio complicado mesmo). Logo a May vai estar saindo do Acampamento... Ansiosos? Eu sei que eu estou ˆㅅˆ

Enfim, vou ficando por aqui.
Beijos e até a próxima ˆㅅˆ