À Espada Pelo Sangue escrita por LahChase


Capítulo 13
Capítulo 12 - Escolha


Notas iniciais do capítulo

Oie :3
Então, gente, esse capítulo tinha ficado enorme, então meio que tive que cortá-lo hehe ^^
Agradecimentos a Minoran por seus comentários sempre tão entusiasmados (me faz rir dms), e a Cassie por seus textões (amo muito hahah) ♥
Mas enfim,
vejo vocês no final
Beijos



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Eu não tive descanso nas próximas duas semanas.

Depois de meditar sobre o que meu pai havia dito durante toda aquela noite, decidi que realmente o melhor a fazer era me focar e me preparar. Omitindo tudo o que ele dissera para não contar, falei para meus amigos sobre a situação da minha família, e sobre o que meu pai havia me mandado fazer. Eles não hesitaram em se prontificar para me ajudar, e minha maratona começou.

Eu treinava com a espada e com o arco até meus braços quererem cair. Drake instruía-me com a esgrima, e Quíron nos tiros. Nos Jogos, pedi a Annabeth que me colocasse em posições em que pudesse agir, de forma a expor-me sempre à luta, visando formar os laços com Prostátida. Com isso, ela sempre me mandava vigiar a Bandeira sozinha, fazendo-me a enfrentar às vezes mais de uma pessoa ao mesmo tempo.

Forçava-me para manter o controle em momentos de tensão. Com a ajuda de Kyle e Shay, estava fazendo um progresso significativo. Eles sempre me chamavam a atenção quando eu começava a ficar com raiva, e comecei a trabalhar em como evitar ficar irritada tão fácil. Na verdade, era simples: ignorava até onde pudesse, fazendo pouco caso da situação. Quando não estivesse mais dando certo, eu começava a contagem. Se simplesmente contar até cem não funcionava, eu começava a resolver problemas matemáticos de cabeça, ou mesmo começava a pensar em estratégias para o Caça à Bandeira. Algumas vezes, eu cheguei a sair no meio de uma discussão para anotar as contas ou os dados, de tão imersa em pensamentos que ficava.

No entanto, havia uma situação que não importava o que eu fizesse, era impossível não perder o controle. Por que? Você logo vai entender.

Começou alguns dias depois da ligação do meu pai.

Eu estava imersa em trabalho a fazer, e tinha pouco tempo livre de verdade, então já era de se esperar que Michael e eu não estivéssemos mais nos vendo muito. No entanto, mesmo quando eu arrumava um espacinho para estar com ele, ele começou a dar desculpas para fugir. Fiquei me perguntando se havia feito algo para chateá-lo, mas não conseguia pensar em nada. As nossas pequenas disputas foram ficando cada vez mais raras, e havia dias em que eu mal o via, exceto por minhas regulares visitas à enfermaria, quando ele fazia questão de ser aquele a me tratar, já que vinha querendo entender melhor minha cura.

Eu meio que já previa que isso ia acontecer, já que eu era uma esquisita no meio de todo mundo. Depois de um tempo, rumores começaram a circular no Acampamento. As pessoas murmuravam sobre eu estar amaldiçoada e se afastavam. Claro que, mesmo que eu já esperasse, isso me deixou meio decepcionada. Eu achava que havia encontrado pessoas que finalmente me compreenderiam. Mas como para Mayara Jacobs Greno tudo sempre tem que dar errado, eu tinha que ser uma estranha mesmo no meio de semideuses. E as pessoas naturalmente não se sentem à vontade perto de gente diferente, muito menos de quem está amaldiçoada. Só que eu não esperava esse tipo de comportamento dele, que garantira que nada daquilo aconteceria.

Comecei a entender por que os Greno costumam viver como solitários.

Mais tarde, quando descobri o que fazia Michael se afastar, foi inevitável que eu perdesse o controle quando me deparava com ele em companhia daquela...

Não importa agora. Isso não é algo que eu gosto de lembrar.

Continuei com o treino de montaria com pégasus, e nós fizemos algum progresso com a égua que havia me lambido naquele dia. Traduzindo para mim o que ela falava, Percy contou que seu nome era Pandora, e que ela parecia ter alguma ligação com a minha família, por isso nunca havia consentido de bom grado que semideuses comuns lhe montassem. No entanto, ela não explicava em detalhes qual era exatamente sua ligação com os Greno, e ninguém sabia como ela havia vindo parar no Acampamento. Era mais um mistério acrescentado à lista.

 Passou a ser uma diversão para mim ficar imaginando-a em aventuras com meu pai quando ele era mais jovem. Ao contrário do relacionamento de Percy e Blackjack, Pandora me tratava como se eu fosse seu bicho de estimação, o que era engraçado. Ela brigava comigo se eu fizesse algo errado, e tinha a mania irritante de lamber o meu cabelo, o que era nojento.

Percy me ensinou a ler as expressões corporais dela, e, depois de alguns voos bem-sucedidos, meu nervosismo quando estava nos treinos diminuiu. Mas Pandora ainda era a única que não fazia meu coração bater mais rápido. Mesmo Blackjack, com sua mania de balançar a cauda de repente, fazendo-a bater na gente para provocar, era capaz de me assustar.

Galopar Pandora era incrível. E quando ela alçava voo, então... A sensação de liberdade, o vento em meu rosto, meus cabelos longos voando atrás de mim, era como se por alguns minutos eu fosse capaz de esquecer todos os problemas e apenas aproveitar o momento. Eu fechava os olhos e abria os braços, sentindo o friozinho gostoso na barriga. De repente entendia a crueldade que era privar os pássaros dessa liberdade.

 Link estava começando a aprender a voar. Ele havia se transformado em uma ave muito bela, com a penugem branca e marrom, e olhos negros. Era gracioso e carinhoso também. Muitas vezes eu ia durante a noite até lago para treiná-lo com Jake, fazendo-o planar de um lugar alto a outro mais baixo, ou incentivando-o a alçar voo. Nós lhe ensinamos alguns truques engraçados como dar cambalhotas no chão, e ele havia até adquirido o hábito de me acordar pela manhã, antes que ele mesmo fosse dormir. Embora eu me divertisse ao treiná-lo, sempre me dava um aperto no coração pensar que Link poderia não me escolher e voar para longe. Eu havia me apegado a ele, havia me acostumado a acordar no meio da noite para dar-lhe comida, e até mesmo não me sentia mais tão enojada ao entregar-lhe um rato inteiro para o jantar.

Ele era minha companhia silenciosa quando eu precisava de um consolo sem palavras, e gostava de se exibir com seus truques para me fazer rir. Eu gostava de sentir seu peso em meu ombro, ou de usar a proteção de braço para carregá-lo por aí. Ele tinha cem por cento de comparecimento aos meus momentos de estudo, mesmo que às vezes só ficasse dormindo em cima dos livros, impedindo-me de ler. Eu brincava que tinha momentos que ele parecia gato, e outros em que parecia um cachorro.

Depois de um tempo, ele aprendeu a pegar sua comida com as próprias garras. E foi quando chegou o dia de deixa-lo fazer o primeiro voo longo para a caça. Eu havia passado o dia todo com a ansiedade apertando meu estômago, e quando a noite chegou, não podia segurar o nervosismo. Eu fiz Link subir em meu braço coberto pela peça de couro que impedia que suas longas garras me machucassem, e caminhei para fora do Chalé, acompanhada por Jake e Drake, o primeiro trazendo sua coruja.

A de Jake era uma Coruja-Preta, uma espécie menor que a de Link, de penas com extensão negra e pontinhas brancas. Era fêmea e seu nome era Rose, em homenagem à filha de Atena e cientista renomada Rosalind Franklin. Ela espelhava o perfil sério do dono, apesar de sua aparência fofa. Enquanto Link gostava de fazer truques para nos impressionar e estava sempre tentando brincar com ela, Rose costumava ignorá-lo, não importava o quanto ele a perturbasse. Era exatamente o que Jake fazia sempre que estava imerso em algum trabalho.

— Eu sei que está nervosa – Drake começou – mas se continuar comendo suas unhas dessa forma vai acabar sem nenhuma.

Tirei a mão da boca, dando-me conta do que estava fazendo.

— Acalme-se, May. – Jake disse – Lembre-se de que o humor do dono afeta o animal. Esse é um grande passo para Link, então tente não deixá-lo tenso.

Fiz um esforço para sufocar o nervosismo.

Shayla e Kyle nos encontraram no Lago. O sátiro veio correndo até mim.

— O grande dia chegou! – disse, com uma voz de locutor – Nosso pequeno Link finalmente ultrapassará a barreira entre a infância e a fase adulta: sua primeira caça completamente sozinho! Como está se sentindo, Link?

Ele estendeu o punho fechado para o pássaro, fingindo segurar um microfone. Link deu um pio, e Kyle recolheu o braço.

— Senhoras e senhores, ele parece muito confiante! – declarou – vamos agora consultar sua dona, a filha de Atena, Mayara Jacobs Greno!

— Ei, não cite o último nome. – Reclamei. Se eu já não gostava dele antes, agora que estava associado com maldições e confusão, gostava menos ainda.

Ele fingiu cobrir o microfone com a outra mão.

— Desculpe, cortamos isso na edição.

Rolei os olhos.

Shayla caminhou até nós.

— Como está se sentindo? – perguntou.

Eu lhe lancei um olhar dolorido.

— Como se fosse entrar em trabalho de parto.

— E aqui nós temos a profissional Rose, a corujinha mais séria deste acampamento! Ela já tem dois anos, e é um encanto, apesar dessa carranca! – Kyle continuou sua encenação, fazendo Jake revirar os olhos.

A brincadeira, no entanto, estava mandando para longe o clima tenso, e, quando o momento de liberar Link chegou, eu já havia sido capaz de me acalmar um pouco.

Acariciei sua cabeça com o dedo, e ele fechou os olhos, apreciando o carinho.

— Espero ter feito o suficiente para te fazer querer ficar, Link. – falei – Mas se não o fiz, eu sinto muito, e espero que você encontre um lugar melhor.

Jake se aproximou.

— Não o deixe perceber que está insegura. – disse – Corujas são aves caçadoras, de grande força e inteligência. Elas requerem um mestre à altura, e é por isso que a fazemos escolher entre ir ou ficar. Quando elas escolhem ficar não é por ter recebido carinho ou comida, mas por terem visto em seus donos o potencial como filhos de Atena. Ele vai te julgar pelo que você é, e não pelo que você fez por ele.

Eu assenti. Já sabia daquilo. Jake havia repetido para mim dezenas de vezes, até que estivesse cravado em minha mente. No entanto, era exatamente por aquilo que eu estava ansiosa. Eu não podia ver em mim mesma nada que fizesse Link ficar. Eu não era tão inteligente quanto Annabeth, ou equilibrada como Jake, nem sabia lidar com as pessoas tão bem quanto Drake, e nem mesmo forte como alguns de meus outros irmãos. Recentemente, eu perdia o controle de mim e magoava meus amigos, embora estivesse progredindo. E mais que isso, estava fazendo o papel de boba nessa história da família Greno, sem saber direito o que fazer. Se Link ia me julgar pelo que eu era, aquele era o nosso adeus.

Rezando aos deuses que ele voltasse, eu lhe dei a ordem para que voasse, dando impulso com o braço. Ele bateu suas asas majestosas e alçou seu voo gracioso em direção à floresta. Não tirei os olhos dos céus por muito tempo depois que ele sumiu de vista.

Jake também liberou Rose, que foi em busca de sua própria caça.

— Não se preocupe. – Drake disse, aproximando-se – Link é esperto. Tenho certeza que ele vê o que eu vejo.

Olhei para ele.

— O que você vê?

— Vejo alguém com que se esforça para conquistar o que precisa, e que não desiste com os obstáculos. – respondeu – Não duvide de si mesma, May. Você pode ainda não ter alcançado tudo, mas tem potencial e disposição par tanto. Link vai reconhecer isso.

Suspirei.

— Que os deuses te ouçam.

Meus irmãos voltaram para o Chalé pouco tempo depois. A caça deveria levar algumas horas, mas eu não quis sair dali, então Shay e Kyle ficaram comigo, deitados na grama esperando qualquer vestígio de Link nos céus. Depois de alguns minutos ociosos e ansiosos, Shayla pigarreou e tirou da bolsa um livro pesado.

— Muito bem, mocinha, hora dos estudos. – declarou.

— O que?! – exclamei – Você não pode estar falando sério.

Kyle se sentou.

— Ótima ideia!

Lancei-lhe um olhar dolorido.

— Vocês estão brincando, certo?

Os sorrisos que esboçaram afirmaram que não.

— Não posso estudar tensa desse jeito! – tentei – Não vou poder me concentrar!

Os estudos sobre minha família e tudo que a envolvia eram cansativos. Eu passava horas lendo em Grego Antigo sobre monstros, sobre os principais heróis e a árvore genealógica. Eu também importunava Quíron para que me desse o livro dos Greno, mas ele continuava a achar que eu não estava pronta, então eu tinha que me virar, procurando e catando qualquer história relacionada aos Greno, que, eu sabia, eram muitas, mas na maioria das vezes sua participação era ocultada. Essas pesquisas só me eram poupadas quando Quíron me chamava para suas raras aulas na Casa Grande, onde ele revelava sempre menos do que sabia, e no final, saía com mais perguntas que respostas.

Drake vinha me ajudando e estava sempre lá quando eu precisava. Shayla e Kyle estavam quase tão empenhados quanto eu. E algumas vezes podia até mesmo ser divertido, mas naquele momento...

— O mito da Caixa de Pandora. – Shayla começou, apesar dos meus protestos. Ela abriu o livro na grama – Eu estava lendo esse livro e por acaso achei isso. Todo mundo conhece a história da Caixa de Pandora, mas ninguém dá muita atenção ao que aconteceu com ela depois que os males foram liberados. Mas este livro faz uma referência à sua árvore genealógica. Vejam. – Ela acompanhou a leitura com o dedo – “Pandora gerou vinte filhos, ao longo de seus duzentos anos de vida, nos quais permaneceu jovem e fértil até os cento e vinte e quatro, quando começou a envelhecer.” Aqui, esta parte está borrada, e pula para “...custou a vida de todos os seus filhos homens”. E então pulamos novamente para “...Epitemeu, seu marido amargurado, a repudiou. E a última criança foi abandonada”.

— Todos os seus filhos homens...? – repeti, de repente interessada – Poderia ser que Pandora foi a progenitora dos Greno? Será que foi sobre ela que lançaram a Maldição?

Shay balançou a cabeça.

— Eu me perguntei a mesma coisa.

— Se bem me lembro – Kyle completou – havia algo sobre isso em um dos livros em que pesquisamos. Sobre uma Maldição lançada sobre os filhos de um casal, em nome de vingança pelos erros da mulher.

— Faria sentido se fosse Pandora, já que ela foi responsável por ter liberado os males presos dentro da Caixa. – Falei – Alguém não deve ter ficado muito feliz com isso.

— Muitas pessoas não devem ter ficado felizes. – Shay ajuntou – Mas ir atrás de vingança é algo que apenas alguém perdeu muito com aquilo iria almejar.

— E ao ponto de lançar uma Maldição... – alisei meu cabelo, tirando dele folhas de grama – Magia custa caro. Principalmente algo tão grande a ponto de durar gerações e gerações. A pessoa responsável tinha preparo ou dinheiro para pedir que alguém a lançasse. Ou seja: era uma feiticeira, ou uma pessoa rica.

— Então, nosso perfil é uma pessoa rica ou com profundos conhecimento de magia, que tenha perdido muito com as atitudes de Pandora. – Kyle disse.

— E também era alguém de influência, já que a maioria dos registros sobre isso foi apagada ou danificada. – Ajuntei.

— Mas um rico não é automaticamente alguém de influência?

Neguei com a cabeça.

— Estou falando de influência sobre os registros históricos. – expliquei – Poucos detinham o poder de alterá-los, e os que o faziam, faziam sob a autorização direta dos reis.

— Bom, isso filtra mais nossa pesquisa. – Shayla falou – Se pudermos restringir mais um pouco...

— Maninha! – uma voz interrompeu a fala dela.

Meu coração deu um salto ao reconhece-la. Olhei para trás: Michael caminhava até nós com um livro nas mãos.

— Mike! – Shayla disse – Bem na hora!

— Oi Shay, Kyle. – ele cumprimentou e então me lançou um olhar desconfortável – Oi, May.

— Oi, Michael. – respondi, seca.

Ele abriu a boca para falar algo, mas então a fechou, e virou-se para sua irmã.

— Eu trouxe o que pediu. – falou, estendendo para ela o livro.

— Ah, você achou! – ela abriu seu sorriso radiante e pegou – Parece que estamos chegando a algum lugar aqui. Não quer se juntar a nós?

O filho de Apolo mudou o peso de um pé para o outro, e então se virou discretamente para mim. Eu lhe mandei um olhar desafiador, diante do qual ele recuou.

— Eu... Eu não acho que seria uma boa ideia. – disse, dando meia volta – Mas divirtam-se. Se precisarem de alguma coisa...

— Não vamos atrapalhar o seu sono, não se preocupe. – interrompi.

Ele caminhou de volta para o Chalé 7 sem retrucar. Shayla me fitou com uma expressão repreendedora, ao que eu respondi com um rolar de olhos.

Michael e eu não estávamos no nosso melhor momento um com o outro. E se você está se perguntando se eu fiz algo como no dia do Jogo... Bom, na verdade foi pior. Só que dessa vez a culpa era dele.

Como disse antes, ele vinha me evitando, e eu achava que isso se devia aos rumores que circulavam sobre mim. Mas alguns dias depois, descobri que Michael estava namorando uma garota do chalé de Afrodite que andava com Drew, e que ela me odiava e me achava “oferecida”. E por isso o obrigava a ficar longe de mim.

Pior: ele não havia nem feito questão de me contar, e fiquei sabendo por Shayla. Pelo que ela me dissera, Michael fora apaixonado por essa tal de Kate durante muito tempo, mas ela nunca havia lhe dado muita bola, e só recentemente ele havia arrumado coragem para pedir-lhe em namoro. Kate aceitou, mas deixou bem claro desde o início que não me via com bons olhos.

Quando descobri, decidi que preferia que ele me achasse uma aberração a isso. Briguei com ele e dispensei completamente a sua ajuda. Ele também não fez muito esforço para se reconciliar. Tive a impressão de que ele tinha receio do que a namorada diria se ele o fizesse. Eu não ajudei. Na verdade, fui um tanto infantil e passei a provocar a garota. Nós lutamos pra valer uma ou duas vezes (o que não era justo, já que eu treinava artes marciais e ela não passava de uma mocinha que desistia na primeira unha quebrada), e tivemos outras tantas brigas verbais.

Michael ficava meio sem ação quando essas coisas aconteciam, e eu ficava incapaz de não partir para a ação. Independente de todo o meu esforço, apenas de vê-la meu rosto esquentava, e suas palavras ácidas direcionadas a mim faziam meu sangue ferver.

“Um idiota” eu resmungava sempre que esse tipo de situação ocorria “É isso que ele é pra não perceber que pessoa horrível essa tal de Kate é. É ainda mais idiota por acabar com nossa amizade por esse namoro”.

Eu já havia passado por coisas assim antes, e saído da situação bem machucada. Não esperava que ele fosse fazer o mesmo comigo.

Eu o observei partir, rancorosa. Apesar ter passado a afastá-lo, eu sempre guardava aquela esperança inútil de que ele resistiria às minhas palavras e ficaria independente do que eu dissesse. Mas essa expectativa era sempre frustrada.

— Vocês dois. – Kyle revirou os olhos.

Eu não respondi.

— Vão ficar nessa até você partir em missão, May? – Shayla falou.

— O que eu posso fazer? – rebati – A culpa é dele, que não sabe contrariar na namorada. Se ele vai seguir as vontades dela e se afastar... A vida é dele. Ele faz o que quiser.

— Não venha com essas desculpas. – ela respondeu – Eu sei que você se importa com ele e com a amizade de vocês. Mas se acha que a melhor forma de resolver a situação é ficar provocando a Kate e dando patadas no Michael, realmente não está pensando como uma filha de Atena.

— Não venha me dizer como uma filha de Atena pensaria, Shayla. – falei, emburrada – E não fique supondo as coisas. Estou dizendo que não me importo com o que ele faz e ponto. Nós só nos conhecemos há um mês. Não é como se ele fosse tão especial assim para mim.

Kyle deu um tapa na minha testa.

— Ai! – exclamei – O que pensa que está fazendo?

— Você prometeu – ele disse, sério – Prometeu depois daquele sonho que não ia mais mentir pra nós.

— Eu não estou....

— Está mentindo para si mesma. – interrompeu – Está estampado na sua cara o quanto essa situação é dolorosa para você. Então faça um favor e se olhe no espelho.

Eu lhe lancei um olhar irritado, mas não respondi. Tomei o livro das mão de Shayla.

— Vamos deixar aquele idiota de lado e nos concentrar aqui?

Os dois concordaram a contragosto.

— Se pudermos especificar mais o perfil de quem estamos procurando, facilitaria. – Shayla ponderou.

— Não deve ser difícil. – Kyle respondeu – Naquele momento a humanidade havia começado a se organizar em reinos há pouco tempo, quando o cunhado de Pandora, Prometeu, levou uma centelha de Fogo aos homens. Nós só temos que procurar nos primeiros registros. Se a pessoa era tão importante assim, certamente vamos encontrá-la.

Levei a mão ao queixo.

— Me pergunto se seremos capazes disso. – disse – Quer dizer, tudo que envolve os Greno é sempre encoberto. O suficiente para que poucos no Acampamento saibam sobre sua existência.

— O que nos leva à próxima questão. – Shayla pegou o livro das minhas mãos – Aqui diz que ela deu à luz a vinte crianças, as primeiras a serem geradas no ventre, pois antes não existiam mulheres. Mas neste outro registro, onde podemos ver sua árvore genealógica, há apenas dezenove filhos.

— Sim, lá diz que Epitemeu repudiou Pandora e renegou a última criança. – falei – Sendo assim, o vigésimo filho não foi contado na descendência dele.

— Exatamente. – ela disse – E tem mais: nenhum dos outros dezenove veio a ter filhos. Mesmo as mulheres que deram à luz, mais tarde também perderam seus filhos. Ou seja, a descendência de Pandora foi interrompida.

— Exceto pela vigésima criança. – Kyle completou – Sobre a qual não sabemos se gerou filhos ou não.

— Esse último filho... – falei, pensativa – Ele deve ser o progenitor dos Greno. Mas se ele foi apagado dos registros...

Nas quase duas horas que se seguiram, nós vasculhamos os livros, mas sempre que pensávamos estar chegando a algum lugar, encontrávamos algum empecilho e precisávamos recomeçar.

Depois de tanto tempo, meus olhos começaram a pesar, e nós começamos a diminuir o ritmo, até que estivéssemos os três adormecidos na grama.

Meus sonhos foram preenchidos por palavras em grego e pégasus dançantes... O que não fazia sentido nenhum, graças aos deuses. Um sonho sem noção era melhor que um sonho ruim.

Acordei sentindo algo quente em minha barriga e uma luz em minha cara. A primeira coisa que vi foram os cabelos de Shayla, que usava meu braço como travesseiro. Piscando por causa da claridade, eu me dei conta de que já estava amanhecendo. Respirei fundo, e então senti de novo aquele peso na barriga.

Ergui a cabeça para olhar e dei de cara com uma coruja adormecida em cima de mim.

— Ah, é só você, Link... – murmurei sonolenta.

O pássaro se aninhou ainda mais e eu voltei a encostar a cabeça no chão. Então parei no meio do caminho, de repente me dando conta do que estava acontecendo.

— Espera... Link?! – exclamei, mais alto do que pretendia, estendendo as mãos para pegá-lo.

Shayla levantou num salto, sentando rápido, com os olhos em alerta, e Kyle ficou de pé em um reflexo, estendendo Sekki como se fosse usá-la para bater em alguém. Três segundos depois os dois pareceram se dar conta de que não havia perigo algum e me encararam de mal humor. Então notaram Link em meu colo e seus rostos se iluminaram.

— Ele voltou! – falei para os dois, com lágrimas nos olhos.

Kyle abaixou Sekki e sorriu.

— Ele não poderia ter feito diferente.

 

 


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Notas finais do capítulo

Eu de novo ^^

Então, pela maioria, o shipper oficial da May e o Michael é Mayel ^^ (Embora eu saiba que do jeito que as coisas estão agora... Será que rola alguma coisa? As coisas realmente não podiam ser tão simples, né?)
O que achou do capítulo? Viu algum erro? Preciso melhorar alguma coisa? Deixa aí nos coments ^^
Próximo capítulo sai na quarta
Vejo vocês lá ♥