Segredo Virtual escrita por Alehandro Duarte


Capítulo 35
2º T: Capítulo 10 Radique,Rascunhe, Resgate Minha Mente


Notas iniciais do capítulo

O começo de uma trilogia explosiva.



Este capítulo também está disponível no +Fiction: plusfiction.com/book/680170/chapter/35

 

— O quê?!- Bianca abugalhou os olhos. Ah, não. Sara em perigo real! Não é como se já não estivessem em perigo 24 horas por dia. Dessa vez mais um jogo para correr e se traumatizar. Uma nova madrugada de socorro? Dessa vez Dylan não estabeleceu dia ou hora para terminar a caçada. A dona da casa recebera o mapa direcionado pelo assassino de tantos conhecidos.- Sempre soube que ia precisar disso novamente.- A premonição era tanta que Bianca praticamente carregava aquele pedaço de papel colado ao corpo. Daniel já fora informado da infame notícia, e informava por telefone todos os envolvidos, ou pelo menos de quem tinha contato. Marina apenas desligou, pouco se preocupando com a vida de sua antiga paciente. Oh, nossa, Sara é tão mais importante do que os outros. Todo mundo navegava no mesmo titanic, apenas esperando baterem em um iceberg maior para afundarem de vez. Por que a idiota que começou tudo isso tinha oportunidade de ser salva? O jogo era tão desonesto. Sofia praticamente ignorou tudo, prontíssima para mandar um palavrão, porém, o que adiantaria? Continuariam procurando aquela imbecil do mesmo jeito, e pensando bem, isso não seria tão ruim assim, imagina que maravilha ter o prazer de enterrar Sara? Nossa, realmente estava afim de participar disso agora. Daniel não tinha a menor ideia de como Rebeca descobrira o recadinho que o inimigo deixou, porém ela só disse que iria encontrá-los aonde fossem, como não faziam ideia. E quando a antiga namorada de Dylan questionou se o casal contaria algo para as crianças, de jeito nenhum concordaram que fariam isso, chega de confusão para eles.

 

— A Sara o quê?- Gritou involuntariamente Rose, ouvindo tudo atrás da porta. Lídia abriu-a logo em seguida, lançando um olhar repreendedor na filha, que agora ficaria mais envolvida do que tudo. Miguel ouviu alguns pedaços logo depois, felizmente não conhecia a mãe biológica, então não entendera nada. É lógico que foi perguntar para irmã, que prometeu ficar de bico calado, e...Ficou pelo menos. Para evitar envolvimento precisava criar segredos, mas para protegê-los tinha que revelá-los também. Era confuso guardar tanta coisa com apenas dezessete anos. Não eram mais problemas adolescentes.

 

— Eu vou com vocês.- Bianca queria ser mais útil do que alguém que dá uma folha, estando em um momento tão fragilizada, seria a atitude correta ir atrás disto?

 

— Não, Bi. Chega de jogos pra você.- Argumentou a prima.- Tem acontecido tantas coisas em sua vida...

 

— Tem acontecido coisas na vida de todo mundo.- Não adiantaria discutir, nenhuma das duas cederia, mas Bianca era mais esperta. Se calou depois de outro sermão sobre como deveria permanecer na casa. Sua teoria de que Lídia colocaria o filho para vigiá-la se concretizou, e bem, sair daquele lugar não era um grande problema pra quem teve Dylan e Jason como irmãos companheiros. Todo mundo queria ser o escudo de sua família, mas e o seu próprio escudo, aonde ficava? Será que a proteção em conjunto era o suficiente para confortá-los, guardá-los? Ai, ai, mais um dia de sangue começava em Sanru.

 

 

 

 

 

Flashback on:

 

 

 

 

 

Estavam todos cobertos por sangue. Os hematomas em seus rostos era tão nítidos de perto quanto a distância. Eram mais de dez homens caídos mortos ao redor do menino assustado, abraçando seus joelhos. Uma cena horrível, desumana e cruel. A criminalidade se tornara repudiada à cidade. Os assassinos profissionais se tornaram os únicos que tinham o prazer de espalhar o caos. A policia não fazia nada para detê-los, de forma alguma, estavam pagando pelo seu silêncio. O dinheiro se tornara uma venda nos olhos, onde só se via o que queria ver. Tantas vidas tiradas valiam apenas alguns pedaços de papel? Seriam os homens da lei mais pilantras que os próprios bandidos agora assassinados? Ah, escolhas erradas sempre foram uma proeza humana, sempre acabam falando mais alto na nossa definição. Ás vezes paramos em um cerco, sem nem mesmo lembrarmos a origem para chegarmos ali. Os adolescentes então que os diga. O garoto de quatorze anos amedrontado como uma ovelha perto de um lobo faminto, aprendera o quanto a vida no crime pode te cobrar. Os cinco mascarados meteram o pau naqueles " vagabundos ", como os chamaram ao chegar, também como estaria estampado no jornal do dia seguinte. Um Guy Blood ensanguentado se aproximou dele, segurando um facão molhado de vermelho. Medo, era tudo o que o menino conseguia sentir daquele tão falado homem em sua frente. Iriam matá-lo por se envolver com aqueles assaltantes...Ou por querer se tornar um deles. Era apenas alguém de pouca idade que cometera um erro. Infelizmente não era algo tão fácil de resolver como uma janela quebrada ou alguma coisa sujada. A sujeira era bem maior do que apenas uma mancha de ketchup no sofá:

 

— Deixem o garoto.- Disse uma voz emponderada. Tinha um grave forte, porém ainda tão juvenil. Bem, aquela frase foi a única coisa que fez aquele chorão levantar o rosto marcado por lágrimas e vermelhidão. A única Girl Blood presente se direcionou ao homem encostado na parede ao lado da porta, ela retira sua máscara, revelando um olhar ameaçador para quem decidira desafiá-los.

 

— Não é você que dita as regras, Dylan.- Ellen seria a todo custo mais poderosa do que apenas uma criança que teve sorte. E jamais alguém levantaria a voz para contradizer o seu trabalho tão engenhoso e complicado.

 

— Muito menos você.- Um Guy Blood falou por debaixo da máscara.- Começou agora e já quer se tornar a líder de um Cold Blood? Vai precisar de muito mais do que arrogância banhada em confiança para conseguir esse título.- Ela se calou, ouvindo quem realmente tinha o poder ali. Aquelas palavras estavam guardadas há muito tempo- Afinal, isso só vai acontecer quando você me matar. O que vai demorar bastante, Ellen, pode ter certeza disto.- Eles tinham tantos problemas internos que afetavam na hora de exercer seu trabalho. Estavam ganhando para brincar com vidas, mesmo assim reclamavam de tudo! Não se pode ter um pouco de poder em mãos, que já não se contenta nem com muito.

 

— Ele deve ser apenas um menino que se meteu com as pessoas erradas.- Talvez se Dylan não tivesse conhecido aquele homem que tanto o ensinou, também já estaria naquela mesma situação. Precisava salvar quem julgava ter cometido uma furada. Tinham três anos de diferença, era fácil se assemelhar à fragilidade de um adulto em formação, assim como ele.- Deixe-o viver.

 

— Ah, cala a boca.- Indignou-se Ellen. O líder observou os dois conflitantes, é lógico que perderia ponto com algum e ganharia mais com outro. Mas não estava em um jogo para se preocupar com isso. Dylan passou por diante dos corpos, se inclinando e estendendo a mão para a fragilidade incomum no ambiente.

 

— Como se chama?- Ele abriu sorriso ao falar, queria ser gentil com aquela joia descoberta. O menino tinha um brilho nos olhos, algo que Dylan encontrava em poucas pessoas. As mãos já molhadas, voltam a secar as lágrimas nas bochechas, para então cumprimentar o tão legal senhor que estava disposto a salvar sua vida.

 

— Me chamo Rafael.- Rafael não estava pronto para a tempestade que iria começar. Talvez se o tivesse conhecido de outra maneira, a vida de todos seriam diferentes? Qualquer mínimo detalhe na vida de um assassino, pode alterar algo de seus futuros assassinatos.

 

 

 

 

 

Flashback off:

 

 

 

 

 

— Ok, o que vamos fazer?- Perguntou Rose,em algum lugar longe de sua casa, sentada no banco de trás do carro do pai, atentamente esperando uma orientação dos mais velhos ali presentes.

 

— Eu não faço a menor ideia do que a gente vai fazer.- Franqueou sua mãe, segurando mapa aberto em suas mãos, tentando raciocinar que lugar poderia ser mais útil procurar. Ser quem dita as regras é um porre. Felizmente tinha um marido que já foi um assassino e conhecia muito bem os jogos, se é que isso é ser feliz.- A gente sabe como é estar em perigo, então por quê está sendo tão difícil começar mais um dia de pura diversão para um maníaco?- Ela olhou para Daniel, aconselhando-a com gestos a não falar essas coisas perto da filha. Lídia levou as mãos para os cabelos, esperando alguma dica cair dos céus. Rose engoliu a seco antes de iniciar uma conversa bem intrigante.

 

— Preciso contar uma coisa.- Ir direto ao ponto seria uma boa escolha? Talvez não. Os dois adultos no banco da frente se viraram para ela, rezando para que não fosse mais desgraças.- Eu e Dylan temos...Mantido contato.- Ah, pronto. Agora mesmo que qualquer bolha de esperança foi estourada totalmente com uma estaca de madeira daquelas. Lídia respirou fundo, incrédula da idiotice que acabou de ouvir.

 

— Por quanto tempo?- Daniel tomou a voz, não queria que a esposa resolvesse isso de cabeça quente.

 

— Desde que eu era criança ele vinha me visitar. Por alguns recebi cartões postais...- Eles se sentiam idiotas por nunca terem descoberto isso. Dylan era um espinho encravado mais fundo do que pensavam, e a cada minuto que passava, Sara poderia morrer. Mas e depois de Sara, quem seria sua próxima vítima para fazê-los procurar?- Ele voltou a se comunicar comigo há alguns meses...- Manter os remédios em segredo poderia amenizar as coisas um pouco. Ou em um muito.- Eu não sabia que ele era um psicopata

 

— Não precisamos nem dizer o quão louca você foi, não é?- Rose não precisou ouvir nenhuma palavra de sua mãe, só de vê-la chorando pelo retrovisor, isso já era...Cruel demais. Decepção, ódio, amargura e mais vários sentimentos horríveis preenchendo seu coração que já fora tão doce. O ruim da maternidade é a frustração em não poder proteger os seus filhos do mundo, mesmo se o privarmos dele. Nesses últimas dias estivera sendo destruída e reconstruída várias e várias vezes, com o único intuito de continuar protegendo sangue do seu sangue. Chorar não passava mais com a dor que consumira diariamente, agora precisava se banhar em paz, algo que jamais teria novamente.

 

— Desculpa.- Suas lágrimas também bateram à porta, querendo cair ao ver quem se sacrificara tanto para sustentá-la e protegê-la desabando de uma pilha de confiança, se sentindo inútil e fraca.

 

— Rose, é melhor você ficar em casa com seu irmão, por favor.- Disse ele enquanto consolava sua esposa mais uma vez em seus braços.

 

— Não, pai. Eu sei que eu fiz algo errado, tá? Sinto muito, mas não posso deixar que façam isso sozinhos, eu conheço o Dylan, posso ser útil.- Não houve resposta.- Não quero perder vocês...- Ela se encosta na porta do carro, esperando o que sairia da boca de seu pai para fazê-la sair, porém não foi isso que aconteceu. Uma mão pálida bateu à janela de Daniel, em poucos segundos o vidro já tinha sido totalmente abaixado.

 

— Precisamos começar.- Rebeca, a mulher que normalmente chegava nas horas mais inapropriada, porém sempre um passo à frente de todos. Dessa vez estava elegante, usando um lindo vestido vermelho da cor da capa do uniforme antigo da Girl Blood. Seu cabelo preso em um coque alto e duas mechas caídas uma para cada lado de seu rosto.- Estão prontos para mais uma festa?

 

 

 

 

 

A porta recebia várias batidas, com os gritos que o namorado de Rose dava para se identificar. Cada dia uma briga diferente com aquela menina. Infelizmente nunca era a hora certa para aparecer na casa daquela família. Miguel abriu um pouco da porta, se encostando nela e a segurando por trás enquanto colocava a cabeça para fora:

 

— Não é um bom momento, Leo.- Disse só isso, mais nada. Fechou a porta logo em seguida, que foi brutalmente espancada novamente.

 

— Eu preciso falar com a Rose!- Ele realmente precisava falar com Rose, mas não dar um pedido de desculpas à ela como veio fazer.

 

— Manda mensagem.- Ótima solução, o irmão pensou, encarando o pedaço de madeira que os separava. Bianca ouvia tudo em silêncio de um corredor, carregando uma bolsa marrom, dada de presente por sua falecida noiva. Será que conseguiria escapar dali sem ser pega? Tinha grades em quase todas as janelas praticamente.

 

— Ela não me responde.- Tempo ela até tinha para responder, um assassino em sua vida não parecia afetar muito a sua rotina de vida social.- Tá acontecendo alguma coisa, não tá?- Dedução correta. Essa " alguma coisa ", daria início a algo novo, algo que ninguém daquele bando estava esperando. Miguel pensou em como poderia tapeá-lo. Bem, se nem ele poderia participar da ação em família, por que o namorado de sua irmã iria? Envolver mais pessoas nisso era bom? Não era o que os seus pais estavam querendo evitar?- Miguel, por favor.

 

— Vai embora, é sério, não vou te contar nada.- Disse sentando no sofá, ainda encarando a porta. Bianca deu passos rasos e leves, indo sorrateiramente para uma porta dos fundos, qual coincidentemente estava aberta. Pobre, Daniel, que esquecera de trancá-la hoje de manhã, mas não podemos culpá-lo, foi acordado logo cedo pela notícia que Sara estava no meio de mais um joguinho. Talvez fosse melhor assim, Lídia acertara em não começar à noite. Madruga de Socorro 2.0? Dylan estava perdendo a criatividade. Ou quem sabe, ele nunca teve.

 

— Caraca, Miguel. me conta logo.- Tentaria encher o saco ao máximo. Precisava saber mais sobre essa aventura na qual Rose se meteu.- É sobre os assassinos de novo? O Cold Blood?- As crianças mais novas não pegaram a época do Cold Blood. Os assassinos super famosos por "prorrogar a paz", mas nunca saindo em um noticiário ou jornal local. Eram várias versões daquele grupo espalhados por todo o país, porém nunca foram noticiados exclusivamente em capas de revistas. Eles faziam um ótimo trabalho jogando a culpa na bandidagem local.

 

— Só vá embora, ok? Chega dessas coisas.- Aquilo era apenas da boca pra fora. Até o menino de doze anos queria correr atrás daqueles loucos que o torturam e mataram seus avós. Era idiotice, traumático e sem sentido. Depois de tudo aquilo, encarar a realidade como uma serie de televisão, era a forma para sair daquele caos criado por um desconhecido com um passado enigmático? Todo mundo tem um jeito de pensar diferente em Sanru, mas sempre todos se recuperam fácil demais. Talvez por escolha ou apenas por falta de aventuras que extasiem o corpo. Quem nasce naquela terra é confuso, e quem vai para lá também. O filho de Sara não podia ser diferente da mãe, sempre se metendo em burradas e levando pessoas inocentes junto

 

— Por que não pode sair?- Indagou encostando a cabeça na porta.

 

— Preciso cuidar da minha tia.- Pare de falar, estúpido. O masoquismo era uma característica comum pelo jeito, ninguém conseguia ficar calado sem levar alguém junto que por acaso adorava fazer o mesmo.

 

— Quem? A Bianca?- Miguel esqueceu que o pretendente a cunhado não podia vê-lo acenar a cabeça, porém o silêncio foi uma resposta.- Se poder inventar uma desculpa melhor, talvez eu até vá embora com junto com a sua tia que por acaso está na esquina!- A porta se destrancou magicamente, vomitando um menino com o rosto desesperado.

 

— Caralho.- Tempo para alcançá-la? É claro que tinha, mas seria um lucro bem maior se envolver nisso. Se tudo isso tinha sua vida em jogo, jogaria com sigo próprio para salvar-se. As pessoas não seriam mais os donos de sua sobrevivência. Chega de ser um peso morto.

 

 

 

 

 

Flashback on:

 

 

 

 

 

Dias degastantes chegaram ao mundinho de Dylan. Com os cotovelos apoiados na bancada da antiga cafeteria, consultava um homem da mesma altura sentado no banco ao lado. Pareciam sérios, como os administradores de uma grande empresa em uma reunião de negócios. Dylan esfregou as mãos nos olhos, desviando seus pensamentos para o bebê dentro do útero de seu prima. Logo aquela pecinha casual iria sair. Talvez não tão logo assim, mas toda vez que via Rebeca ou apenas ouvia o nome dela, lembrava imediatamente que teria um filho, a razão pelo seu término. Ele poderia trocá-la por outra facilmente, porém quando o garoto manipulador amava alguém, nunca mais conseguia um desamor forte o suficiente para esquecer. O homem ao lado o tirava do devaneio balançado uma caneta em frente aos seus olhos.Porém aquilo já o tinha deixado farto.. Não farto de benefícios, mas de aborrecimentos. Precisava de um tempo para recuperar a áurea que sempre rodeara-o. Por alguns segundos, Dylan ouviu a proposta ao pé de seu ouvido, claro que já não se importava mais com absolutamente nada que ele falava:

 

— Isso é problema seu.- Disse secamente, encarando como estátua o tão importante conversador.- Resolva-o, ou eu terei que resolver você.- Ser um informante era mais do que passar informações. Tinham problemas na cidade, pessoas que não queriam colaborar com o Cold Blood. Eram grandes sacos de merda arranjando confusão com quem com apenas um minuto os partiram em milhões de pedaços. Cansativo e chato. A vida perdeu a emoção, mas logo, voltaria a ter ela com certeza. Emoção. O rapaz tão juvenil, qual Dylan salvara há algumas poucas semanas, estava agora adentrando na cafeteria, fitou com incerteza para seu salvador másculo e irritado. Dylan tinha seu rosto enfiada entre suas mãos, o homem ao seu lado acabara de sair, Rafael aproximou-se lentamente dele, pensando em como deveria iniciar um diálogo com ele, e se deveria.

 

— Você está bem?- Perguntou, receoso. O loiro virou-se, sem reação alguma para o belo rapaz.

 

— Vai melhorar.- Pronunciou, abrindo um sorriso.- Senta.- Pediu olhando para o banco ao lado. Um pouco tímido, o garoto se sentou, ainda encarando o rosto deprimido ao lado. Seria esse um dia ruim para ele? Um dos funcionários depositou um suporte para dois cafés para viajem de frente para Dylan, e logo em seguida colocando as bebidas dentro dele.

 

— Vai se encontrar com alguém?- Rafael sabia de sua intromissão um pouco perigosa, afinal, mal conhecia aquele figura, porém também nunca ficou sem perguntar algo quando tinha vontade. O mais velho tirou sua carteira do bolso. Quando a abriu, o garoto ficou surpreso internamente, não queria demonstrar isso do lado de fora, então virou o rosto ao ver todo aquele dinheiro nas mãos de alguém envolvido com assassinos. Os dois eram menores de idade, e sabiam muito bem que só tinha dois jeitos de conseguir aquela grana: Fazer parte de uma família rica ou cometer crimes. Infelizmente, nenhum deles tiveram a chance da primeira opção.

 

— Não, são pra mim.- Se referiu o "rico".- Eu sou viciado em café.- Rafael olhou quando o funcionário da cafeteria recebeu uma gorjeta alta de Dylan, aquilo já era rotineiro? Todo mundo sabia algo sobre o homem misterioso que o salvara?- Acho que nos vemos por ai, Rafa.- Disse, já se levantando e indo para a porta carregando as embalagens chiques do estabelecimento. Como ele sabia seu nome? Isso ficou ecoando pelos três segundos que demorou para o mencionador chegar até a porta, e então parar-se, e virar-se. O rosto de Dylan ficou indefinido por belos segundos, quais foram apreciados pelo menino que o encarava nervosamente. Até que um sorriso se formou na face bonita do homem que esperava na porta.- Quer vir comigo? Não acho que vá esfriar até o meu apartamento.- Estava entendendo certo? Era realmente um pedido tão malicioso? Logo, descobriram que o café não esfriara, muito pelo contrário, eles sentiam um calor intenso estando com ele na cômoda ao lado da cama rangendo, e nem com as roupas ao chão conseguiam parar de suar debaixo do acinzentado cobertor de pelos.

 

 

 

 

 

Flashback off:

 

 

 

 

 

Bianca se aconchegou no banco do carro, mesmo estando nervosa com uma agonia que crescia cada vez mais e mais dentro de sua cabeça. Quanto mais tempo perdia, menores eram as chances de conseguir salvar Sara. O seu objetivo agora não era mais destruir seu próprio irmão. Se Dylan caísse, ela cairia junto. Todo mundo precisava se livrar daquela sombra amarga que os rodeava sem nem estar lá, apesar das mortes, tragédias e segredos tenebrosos, Bianca não queria mais ele fora de sua vida. Precisava daquela parte da família mais do que tudo. Ao mesmo tempo que queria agarrar-se à ele, sua mente borbulhava querendo acusá-lo de ter matado sua amada, arruinado todos os planos que tinha em sua vida:

 

— Está se sentindo bem?- Perguntou o uber, a olhando pelo retrovisor. A passageira fez que sim com a cabeça, repousando na janela e tentando diversas vezes entender a confusão emboladamente embolada em sua cabeça. Você matou um homem! Acusava uma parte. Você matou uma mulher! Acusava uma outra. Ela nunca entendeu isso de ter matado uma segunda pessoa, às vezes aquilo era verdade para ela, às vezes parecia ter sido um sonho ruim. Porém algo lá no fundo dizia uma nova sugestão: Você matou mais do que pode lembrar. Eram altos e baixos indo e vindo em seus pensamentos complexos e confusos. Às vezes isso, às vezes aquilo, acusava uma parte, acusava uma outra parte. Matou. Matou. Matou. Virara uma assassina assim como seus irmãos. O objetivo de salvar sua antiga amiga se perdeu no meio dos redemoinhos circulando por ali. Estava tão paranoica que resolveu se concentrar no homem à frente. Talvez se tivesse algo para distrair-se...Ele tinha um cabelo raspado, era magro e branco. O carro dele tinha cheiro de bala de mente, pelo ar-condicionado refrescando as balas logo abaixo. A velocidade com qual dirigia era um pouco mais rápida do que deveria. Bianca não estranhava, essa não era a primeira vez que pegava um motorista mais acelerado. Porém sentia desconforto, como se a qualquer momento fosse bater ou atropelar alguém, assim como sua mente fazia questão de lembrá-la, sem nem perceber que se tratava de uma lembrança, e não um presságio. As árvores florestando fora da estrada, faziam como um enorme cemitério de sanidade, sufocando o pequeno caminho já confuso e acinzentado. E cada vez que olhava para trás caiam mais árvores no seu asfalto, até que sem perceber, uma caiu rápida demais, tampando sua travessia. Agora sua única locomoção eram suas próprias pernas, tremendo em um frio que a queimava, a devastava. De novo recaiu em seus sentimentos. Já não dava mais para esquecer aquelas sensações. A sensação de estar morta, de matar alguém, de sentir toda a dor das outras pessoas, de não sentir absolutamente nada. A definição para tudo aquilo era loucura. Mal conseguia relacioná-las, mas sabia que faziam parte de um mesmo percurso. Tudo aquilo que jogou ao mar, retornava à sua areia.

 

— Estamos perto.- Por fim, contou.- É alguns quilômetros depois da...- Da sua própria sepultura aberta, lá, no meio de tudo o que um dia foi feliz.-...Floresta.- O motorista a olhou de novo pelo retrovisor interno, querendo enxergar a fonte daquele corpo tão sem vida respirando. Ele juntou ar em seu pulmão, e começou a falar.

 

— É um ótimo lugar para repensar o passado, não é?- Com certeza, a natureza não podia ser o melhor espaço para pensar na vida.

 

— É sim.- Ah, como era.- É estranho como a pureza nos remete à tanta sujeira impregnada em nós.- O homem parou de a olhar depois da conversar, foram alguns poucos segundos olhando para a pista totalmente vazia. Aos poucos, a passageira sentiu o carro diminuindo em velocidade, até finalmente ficar imóvel, tão na beirada da floresta. Exatamente como suas motivações estavam agora.

 

— Eu me lembro do que fiz aqui há dez anos atrás.- Bianca o olhou confusa, de repente, uma neblina se aproximava lentamente, literalmente, como se fosse planejada para tal momento. Não eram mais metáforas que a assustavam, era real. Parada no meio do nada com um completo estranho- Eu enterrei um corpo.- Ela engoliu à seco. Não conseguia reagir de outra forma, a não ser tentando desesperadamente abrir à porta do carro, trancada. Não! Gritava sua face, sem som algum, apenas a expressão do terror psicológico. Existem loucos, assassinos, criminosos em todo o lugar, porém a mocinha tão igual a eles, só os via como monstros horrendos e desumanos querendo devorá-la, sem ter a proteção dos dois monstros que conviveu junto na infância. O homem no banco à frente tirou seu cinto, virando inclinado para trás, com um sorriso psicótico de frente para a passageira tão amedrontada. Bianca conseguia ver nítido agora, a face que a fazia temer.- Não se lembra de mim?- Quem era ele? Não dava para pensar, só dava para deixar a água em seus olhos escorrer para borrar seu maquiagem escura.- Realmente não se lembra de que colocou um estilete no meu pescoço?- Não! Não! Não! Não conseguia, não podia, não queria.- Você me fez matar uma mulher! Você destruiu a minha vida! Infernizou a minha mente por anos!- Ela gritou, ensurdecidamente, batendo seu cotovelo contra o vidro do carro e o quebrando ferozmente. Rapidamente pulou para trás, dando chutes contra os estilhaços da janela, deixando a tensão tomar conta de seu corpo e ações. Ela cortou os pulsos enquanto colocava seus braços desesperadamente para fora, forçando os a empurrar seu corpo para sair. Suas roupas resgaram, seus membros se cortaram, o seu rosto gritava e chorava para conseguir sair daquela situação por um buraco que mal sabia se conseguia passar. Após um esforço tremendo, sem nenhuma reação de defesa da ameaçadora memória à frente, conseguiu! Conseguiu sair e correu o mais rápido que podia para o meio daquele labirinto verde e marrom. O motorista entrou seguindo-a na floresta. Ele não era mais um maníaco estranho para ela, era um conhecido, quem o fez traumatizar para uma vida inteira. Bianca não conseguia mais pensar, e isso não era nem um pouco bom quanto deveria estar sendo. De repente, se viu correndo no meio daquele cemitério metafórico, enquanto uma lembrança traumática a perseguia. Era assim que se sentia todos os dias desde que tudo voltou à como era antes. Seu enredo era tão...obscuro.

 

 

 

 

 

Caminhando à sós, Rebeca e Daniel pensavam como uma cabeça só a partir de agora. Precisavam ao máximo pensar como Dylan pensaria, o que não era uma tarefa muito fácil. Tinha uma antiga pousada, uma cafeteria, um terreno aonde um dia foi um casarão usado pela organização, uma floresta e por último, porém não menos importante, uma fábrica abandonada onde Miguel foi torturado. O penhasco estava fora de questão, levando em conta que Lídia e Rose já caminhavam para aquela direção. Os dois tinham uma relação meio esquisita, nunca foram próximos, nunca se odiaram ou se amaram. Apenas...Se aturavam. Cada um admirava o outro por razões diferentes, mas o respeito sempre existiu naquela relação. Terem sido do Cold Blood já os faziam criar um laço de empatia. Sabiam muito bem como era cada sentimento naquele manicômio de assassinos. Mesmo que Daniel nunca tivesse feito um treinamento de verdade, o mínimo que fez já o aterrorizou por toda a sua vida.

 

— Posso te perguntar uma coisa?- Mesmo estando focando naquela missão, o que custaria tentar desconstruir um pouco aquele clima tenso? Rebeca concordou, esperando ter que dar respostas sobre sua agilidade em descobrir as coisas.- Como você se lembra de Dylan antes de tudo isso? Como seu namorado?- O balde de águas passadas derramou cada gota em cima da ex-namorada do sociopata. Ela culpava a si mesma por nunca ter impedido isso de acontecer, tantos momentos para assassiná-lo quando jovens. Porém seria normal matá-lo sem ao menos ver todas as tragédias que ele causou? Não prever o futuro, a reconfortava.

 

— Dylan não era apenas meu namorado, era meu melhor amigo.- Começou, criando uma forte ligação emocional com o passado em sua voz.- Aqueles quais contamos nossos segredos mais profundos.- Seu rosto mostrava o quão em suas lembranças estava, pronta para se trancar naqueles momentos e nunca mais sair.- Aqueles amigos que estão com a gente desde na mágoa da separação dos pais até uma noite inteira dançando.- Daniel nunca soube daquele fato sobre sua vida.- Não devo ser a única pessoa ainda viva que ele cuidou. Ele sabia como nos fazer especiais.- Um silêncio constrangedor se fez, assim que pararam em frente da onde iriam investigar.Vindo no horizonte para o tal prédio abandonado, o par de investigadores não se agradou muito com as pessoas que vieram ajudá-los, principalmente Rebeca, estava detestando demais aquele grupinho vindo lado a lado. Carla, Marina, Sofia e Lícia. Andavam como se estivessem preparadas para lutar, mesmo que isso custasse sujar suas roupas, todas vermelhas:

 

— Não é uma convenção. Por que vieram com roupas combinando?- Indagou sério, Daniel. Visto que deveriam procurar Sara, e não entrarem no joguinho do inimigo.

 

— Dylan preparou especialmente para nós.- Sofia levantou um celular, seguida por todas as outras que fizeram o mesmo, mostrando à eles a foto de seus espelhos manchados de palavras com um batom da mesma cor de suas roupas: " Use vermelho, vai precisar para o sangue ocultar ".- Ele adora poesia.

 

— É. Dá para perceber.- Rebeca olhou seu vestido, precisava tomar cuidado para Dylan não copiar suas roupas.

 

— Que se dane. Vieram aqui porque um sociopata mandou, então ao menos ajudem.- Daniel caminhou depressa, passando por baixo da fita de polícia dizendo para não entrar no lugar, colocada no dia em que o seu filho foi vítima do antigo grupinho agora repaginado.

 

— Se separou da Lídia?- Perguntou Sofia, fazendo o mesmo procedimento, seguindo Rebeca, e sendo seguida pelas outras mulheres - Pensei que o certo para você era...

 

— " Que deveríamos ficar juntos".- Exaltou, deixando Sofia calada.- Não podemos ficar juntos se Dylan atrapalhar. Afinal, se ele nos quiser mortos, mortos nós seremos.- Os passos de Daniel fizeram um ecoo naquele prédio ao entrar nele. Rapidamente ele olhou ao redor, passando para as escadas, querendo deixar a exploração mais aprofundada para quem chegou atrasado no trabalho. De repente, o cheiro de fumaça vindo de cima, se fez presente para todos ainda no primeiro andar. Rebeca recebeu o olhar de seu comparsa no meio de tantos degraus.

 

— Pode ser uma armadilha.- Cogitou, Carla. Porém todos derem as costas, começando uma corrida para descobrir se morreriam queimados ou se veriam alguém morrer. Ao que parece, a fumaça via de mais um andar, o que significava mais escada.

 

— Será que Dylan sabe o quão difícil é correr de salto-alto?- Perguntou Marina para a mãe do delinquente. É óbvio que ele sabia, ele sabe de tudo, porém ele não obrigou ninguém a colocar saltos. Todas as pessoas pararam de correr assim que deram sua primeira pisada no andar da onde via aquele ar acinzentado.

 

— Churrasco?- Daniel olhou para a churrasqueira à todo vapor, brasando carnes e salsichas em espetinhos com abundância.

 

— Ok, agora Dylan inovou demais.- Se pronunciou Lícia, imaginando qualquer coisa menos isso. Desde a chegada da heroína na cidade, há mais de doze anos atrás, houveram muitos animais mortos, mas nenhum tinha sido assado até o momento.- Espero que não seja a Sara.- É lógico, se pudesse iria agora mesmo pegar um e comer.

 

— Ah, sim, tomara que seja sim. Aquela vaca serviria ao menos como refeição.- Sofia jamais deixaria de derramar seu ódio contra Sara. Era algo especialmente dela.

 

— Ei, gente, acho que achei algo.- Disse Carla se abaixando para pegar um pedaço de papel rascunhado, como se fosse um mapa.

 

 

 

 

 

Flashback On:

 

 

 

 

 

O jovem bateu na porta daquele apartamento que já conhecia há algumas semanas. Se sentia como um hospede dele, abria a geladeira sem receio algum do dono reclamar. O morador abriu a porta, batendo o olho naqueles cafés vindo diretamente do único estabelecimento daquela cidade que servia a bebida em embalagens tão bonitas:

 

— Agora entregam em casa?- Disse sorrindo, encarando os lábios do garoto se abrirem para fazer o mesmo. Rafael se inclinou um pouco na ponta dos pés, mirando seu corpo para o peitoral do homem à frente, iniciando um beijo de boas-vindas. Os dois entraram com seus lábios ainda colados, enquanto uma mão fechava a porta sem vê-la. Por fim, o garoto que trazia cafés terminou de beijá-lo, dando passos para trás com um grande sorriso no rosto. Ele começou a andar em direção à uma estante cheia de livros, caixas e um jarro de flores, sem flores.

 

— Ei, Dylan.- Seus dedos cutucavam aquelas caixinhas de jogos, lendo o título de cada uma, intrigado e se perguntando quando foi a última vez que o dono da casa os jogou.- Me conta um segredo.

 

— Por que quer saber um segredo?- Dylan gostava de pessoas impulsivas, por não saber o que elas podiam fazer, perguntar ou esconder. Era tão masoquista querer descobrir o pior em alguém, porém ele nunca admitia isso, nem para si mesmo. Às vezes, aquele menino que salvou, perguntava sobre sua vida ajudando um grupo de assassinos, mas Dylan nunca falava algo concreto, apenas se desfazia de qualquer frase que podia afastá-lo daquele novo romance.

 

— Não sei. Apenas veio à minha mente querer saber um.- O novo e primeiro namorado deixou um bilhete cair de dentro de um livro de investigação criminal, nele dizia: " Fico feliz pela sua casa nova, mesmo tendo deixado claro que prefiro você aqui comigo. Ass: A irmã mais sortuda do mundo ".

 

— Se quiser saber segredos é só olhar para dentro de você, tentar imaginar o que seu monstro interno faria se dominasse sua vida, nem que fosse por um só dia. Talvez sua sinceridade do dia a dia, triplicaria, seu humor se exaltaria, e seus maiores desejos proibidos seriam saciados.- Os jovens ficaram calados por um tempo, até que um balanço de cabeça decidiu quebrar o silêncio.

 

— É. Você é ótimo com as palavras.- Rafael devolveu o pedaço de papel à seu devido lugar.- E enrolar as pessoas também.- Os dois trocaram olhares, só agora o anfitrião percebera aonde seu companheiro havia deixado o café, beijar realmente atrapalhava sua percepção.

 

— Quer jogar esse ai?- Perguntou, vendo a curiosidade do garoto ao espiar por dentro do jogo de tabuleiro.

 

— Se for um segredo que vai desencadear monstros internos que vão matar e torturar amigos meus...Acho que não.- Ele pegou a caixa e a depositou em cima da mesinha de centro da sala de estar.- Ok, nunca joguei " Portas Vazias ".

 

— É até simples e chato. Talvez ache besta, mas só a guardo por questões sentimentais.- Dylan sentou-se no sofá oposto ao de seu convidado surpresa, abrindo junto a parte superior que escondia aquela lembrança de seu passado.

 

— Que jogo chato!- Reclamava a pequena criança de seis anos, no fundo da caixinha de recordações de Dylan. Aquela memória nunca lhe foi recorrente, porém agora, foi a hora de usá-la, enquanto explicava ao seu namorado sobre o jogo. Sofia o estava ensinando aquele seu joguinho tão simples, que uma vez ganhara de aniversário de uma amiga da qual a mãe era dona de uma loja de bonecas, e agora o repassava para seus filhos, mesmo que o do meio seja o mais obcecado por jogos.

 

— Não é chato, Dylan. Você só precisa de um incentivo para jogá-lo.- O jogo se formava em cinco caixinhas com as partes de trás abertas, porém alguém só conseguiria ver se a virasse.- Você só precisa escolher um desses para colocar o boneco.

 

— Isso não tem graça.- Resmungou novamente a criança, brincando com um boneco menor que seu polegar.

 

— Então vamos fazer assim, se eu acertar aonde o boneco está, faço a melhor sobremesa que você provará na sua vida.- O mini Dylan não botou muita confiança, mas ao ver a animação de sua mãe, se animou.

 

— Não vale olhar!- Sofia se levantou do sofá e virou-se de costas com as duas mãos tampando seu rosto. Dylan encarou seriamente para as caixinhas abertas, pensando numa estratégia para ganhar aquele doce.- Pronto.- Sofia olhou para cada caixinha sobre o volume de papelão pintado, elas eram coladas na superfície, enfileiradas na horizontal. Embaixo havia algo parecido com um mapa desenhado, porém, nunca perguntou a sua colega de turma, Jessica, o que era aquilo. A mão de sua mãe pousou sobre a primeira caixa. Um era o numero favorito de seu filho, e não deixaria seu filho decepcionado por não ganhar um jogo.- Você errou. Estava na segunda.- Disse o pequeno, retirando o boneco do lugar exato.

 

— Eu devia ter imaginado que você não é óbvio.

 

— Mas vai fazer a sobremesa assim mesmo.- O mini-dylan se levantou e correu para fora. Sofia nunca entendia a lógica do pequeno cidadão que trouxa ao mundo, independente disso, ele sempre acertava suas ações, porém, ela não. Uma vez o pequeno perguntou: " O que é assassinato, mãe? ". Ele estava crescendo, aprendendo sobre o mundo, ela não queria que a inocente criança descobrisse essas coisas tão rápido, coisas tão..." É uma coisa complicada, Dylan, muito complicada ".

 

— Ok, você tinha razão, isso é muito chato.- Concordou Rafael.- Eu tenho que ir pra casa em menos de uma hora, mesmo, não acho que isso vai demorar muito pra acabar.-

 

— Por que não convida seus pais para vir me conhecer?- Sugeriu de forma sarcástica, esticando seus braços pelo sofá. Rafael o encarou com uma expressão de " sério, mesmo? ". Talvez se seus pais descobrissem desse seu caso com um garoto de quase dezoito anos, não se importariam tanto com a idade dele, mas sim por ser um homem. Bem, não é como se em Sanru houvesse muitas pessoas preconceituosas, muito pelo contrário, aquela era uma cidade quase livre de violência contra pessoas " diferentes ". O Cold Blood não apoiava nenhuma causa LGBTQ+ ou Feminista, porém, não tolerava violência de outras partes, sem serem deles mesmos. Alguém bateu na porta de novo, o dono da casa pareceu um pouco sem vontade de ir atender, mas decidiu ir, nunca se sabe quando vai aparecer alguém na sua porta e te entregar uma passagem para Londres. Enquanto atendia, o celular perto do jogo tedioso, vibrou. Rafael não queria fazer o típico ciumento que checa as mensagens do amado, mas é claro que não aguentou ficar apenas se remoendo de curiosidades. Ao pôr a mão, sentiu alguma outra notificação vibrando, já tinha visto a senha desse celular, porque Dylan tinha provavelmente três. Desbloqueou a tela, baixou a barra de notificações e viu ali um endereço por mensagem, enviado por um homem que não conhecia por nome. Abaixo do enderenço havia a seguinte frase que fez Rafael soltar o celular e o devolver para o seu devido lugar: " Rogério Simans, próxima VT. Aparecerá lá? ". Era o aviso de uma encomenda de assassinato?

 

 

 

 

 

Flashback Off:

 

 

 

 

 

O silêncio entre mãe e filha era presente desde que foi decidido que o pai resolveria seguir carreira solo, mesmo tendo a companhia de uma outra parceira. A caminhada foi doloroso psicologicamente, duas pessoas do mesmo sangue, remoendo recordações, tentando refletir em cima delas o que as levou a chegarem em tal situação. Lídia esperava desesperadamente por um momento da sua vida que não tivesse que lutar para se libertar da dor. Parecia que sempre que construía anos de felicidade, um tsunami de lágrimas vinha para destruir cada resquício daquelas construções. Odiava sentir vontade de compartilhar seus sentimentos, e por mais tentador que fosse, queria se mostrar forte o suficiente para si mesma, mas não, nunca fora forte. Talvez se repetisse isso para si mesma milhares de vezes se tornaria verdade. Daniel uma vez lhe disse que pessoas normais não aguentariam todo o banho de sangue que tiveram que passar, porém Lídia não acreditava nisso. " As pessoas suportam o que têm para suportar ", disse uma vez, com a linha de pensamento que: Milhares de seres humanos podem aguentar qualquer jogo, batalha, guerra, desde que fossem obrigados à aguentá-la. Por mais que afirmasse ser forte, tinha argumentos contrários sobre si mesma. Ela podia rascunhar toda a história de sua vida em sua mente. Ao começar pela morte de sua mãe na infância, um pai bipolar quanto ser presente ou não, o fascínio pela beleza em sua adolescência, suas fotos vazadas para todo uma cidade, uma gravidez gerada de um incesto, o afastamento de sua filha, a morte do pai de sua descendente, a chegada inesperada de uma garota que se envolveria com assassinos, a ida para a prisão com a intensão de proteger aquela garota que só tinha ferrado com a sua vida, o recomeço do sangue, o fim dele com mais sangue, anos tendo a vida que sempre quis e mereceu ter, e agora a volta de um demônio do passado pronto para devorar ela e sua família, querendo apenas...Mais sangue:

 

— Me desculpa.- Pediu Rose, a primeira frase dita em vários minutos de silêncio.

 

— Depois falamos sobre isso.- Respondeu a mãe, que queria entender como alguém podia ser tão burra para manter contato com um assassino, praticamente um fantasma durante anos. Pensava que só Sara era tão estúpida assim.

 

— E se não houver " depois ", mãe?!- Lídia olhou para ela, arregalando os olhos com o tom de voz aumentado.- A gente tá praticamente caçando o caminho pra morrer.- Rose parou para ter a conversa, mas a mais velha continuou trilhando o seu caminho para morrer, estava na metade daquela grande pedra, deixar a primogênita falando sozinha não teria tanta importância na relação delas se tivesse a oportunidade de se tacar dali logo. Rose desistiu de ter aquela conversa, não conseguiria falar com alguém que não queria ouvi-la, por mais que tenha feito isso à vida toda. Não tinha mais tanta caminhada à cima, estavam tão perto do topo do penhasco que só podiam imaginar que surpresa Dylan teria separado para elas. À cada pisada, Lídia sentia as pedrinhas em seu calçado, com medo de por algum momento pisar em algo que não fosse feito do próprio penhasco. Rose cerrou os olhos ao ver algo se movimentar lá em cima, poucos metros de distância dela e sua mãe. Parecia mais como um vulto correndo para se posicionar, Lídia parecia não perceber aquele alguém ou algo praticamente na ponta do penhasco, olhando para baixo. Chegando mais perto, conseguiu ver o que aquele ser usava, era um casaco acinzentado, tão similar ao que o Cold Blood usou uma vez, um pouco mais escuro que o normal, com o mesmo capuz também.- Você tá vendo?- Lídia encarou a filha, para depois virar sua cabeça para a direção do topo. Neste exato momento, as duas conseguiram ver a mesma coisa, aquele vulto misterioso, indo em direção à queda livre. Rose se apressou mais do que a mais velha para correr. Era Sara? Alguém contratado por Dylan? Quem sabe, sequestrado? Tudo o que a ruiva conseguia pensar era que se tivesse a chance de salvar, seja quem seja, salvaria. Não iria deixar Dylan machucar mais pessoas. Tropeçou ao chegar no ápice do penhasco, se arrastando esperançosamente para a beirada, justamente no lugar em que viu alguém se jogar.

 

Rapidamente estendeu a mão, fazendo força para segurar aquele peso de um corpo, que sentia se debater para apoiar o pé em algum canto daquela enorme pedra. Ela não via o rosto de quem fosse, pela cabeça abaixada e o capuz que a tampava, mas conseguia sentir segurando sua mão, como se estivesse puxando-a, lutando para sobreviver à todo custo. Lídia chegou logo depois, ajoelhando-se desesperadamente ao lado da filha, inclinando seus braços para tentar ajudar quem fosse naquela situação, porém, Lídia não via nada, Rose fazia força em si mesma, sozinha.- Me ajuda!- Lágrimas de dor começaram a surgir, descendo por suas bochechas rosadas. Mesmo olhando para baixo, a mãe não conseguia ver nada, nem um resquício de ser humano, nem a pessoa que acabara de ver pulando. Rose começou a deslizar seu corpo mais próximo à beira, quase em risco de queda.

 

— Rose!- Lídia segurou-a pela cintura, tentando puxá-la de volta para uma zona segura.- Não tem ninguém aqui!- O que estava acontecendo? Desde quando sua criança tinha alucinações? O que Dylan estava fazendo com ela? Rose gritou, não aguentava mais segurar aquela pessoa...Alguém inocente...Alguém que pensava precisar salvar.- Rose, me escuta! Não tem nada aqui!- Lídia colocou fortemente suas mãos sobre os ombros da filha, tentando tirá-la de perto da beira, ao mesmo tempo que tentava acordá-la daquela alucinação.- Por favor, confia em mim!- O som de uma máquina fez-se abafado no chão, como se estivesse dentro daquela superfície, parecia com o som de um computador funcionando.- Confie em si mesma!- Rose aos poucos pareceu soltar aquele fruto de sua doença neurológica, olhando por alguns segundos sua mãe, para depois abraçá-la, sentindo a respiração acelerada dela, acalmando-se igual a sua. Logo após o barulho da máquina, um bem mais ameaçador veio a tona, igual como nos filmes que Lídia viu algumas vezes com seu pai, como se uma rachadura estivesse sendo feita naquela superfície dura. Ela nunca tinha ouvido aquilo na vida real, pensava até ser um efeito sonoro Hollywoodiano, bem, até agora. Com sua filha salva nos braços, olhou para trás, se certificando de que mais nenhuma ameaça viria machucá-las. Até que então, Lídia percebeu a verdadeira armadilha em que se metera, Dylan não estava com medo de perder seus cenários mais preciosos. O penhasco se partiria. Lídia se levantou o mais rápido que pôde, trazendo com brutalidade o corpo de sua filha pelo braço. Não daria tempo, mesmo que se esforçassem ao máximo, eram quase dez passos até a fenda que as botava em perigo. Nenhuma das duas em tal situação conseguiria pensar na dor emocional que aquele lugar deixaria ao ser destruído. Tantas mortes, quedas, lágrimas, sangue, amor, amizade, ódio e vingança. Sem aquele penhasco, a praia estranhamente tão pouco habitada, pareceria incompleta. Quando Rose percebeu que sua mãe começara a correr para salvar suas vidas, já era tarde demais para dar sequer um passo, a única solução que Lídia conseguiu encontrar foi pular e tentar se agarrar com toda a sua força na parte que ainda não fora destruída, a força de alguém que passou por assassinos e continuou viva, alguém que viu pessoas que amava serem mortas e continuou lutando, alguém que levou golpes e continuou de pé. Ninguém fora de sua vida privada, acreditaria que aquela mulher tão simples, conseguiria aguentar se segurar com apenas uma mão de uma queda fatal, usando a outra para agarrar sua filha pelo pulso. Rose tentava apoiar seus pés em pequenos buracos na enorme pedra, com o intuito de diminuir o peso que sua mãe teria que aguentar. Nenhuma delas ouviu o estrondo da queda da ponta do enorme pedregulho, só o que podiam ouvir e sentir eram seus corações pulsantes.

 

— Eu não quero morrer, mãe!- Gritou, angustiada naquela situação. Lídia sentiu seu coração quebrar com a dor daquelas palavras, sem conseguir dizer nada. Podia sentir o medo de sua filha entrar por dentro de suas veias. Aquilo doía mais que várias facadas em seu corpo. Não se importaria se seus braços fossem arrancados, caíssem por suportar tanto peso com seus poucos músculos, desde que a sua razão de vida continuasse bem, viva. Mas o que poderia dizer? Que tudo ficaria bem? Era sua filha provando o gosto da morte, e nada ficaria bem, mesmo que superassem aquilo. As duas se apoiavam do jeito que podiam, e não conseguiam pensar em nada para sair dali. Escalar não funcionaria, talvez as derrubaria de vez com a incompetência de Rose. Lídia não tinha mais forças, simplesmente não dava para fazer nada. Estavam perdidas, e com muito pouco tempo. Felizmente para elas, os cabelos presos em rabos de cavalos, acabavam com a mágica cena de ver aqueles fios voando ao vento, numa situação de vida e morte. Dylan com certeza estava decepcionado por não ter aquele belo enquadramento que tanto imaginara assistir. As duas tinham decidido que lutar de cabelo solto era um risco enorme. O que realmente não fazia sentido era escolherem seguir algumas regras e jogarem outras no lixo.- Mãe, eu amo você.- Sem dar mais tempo para se emocionar, uma sombra se aproximou da nova beirada do penhasco, nem um pouco gloriosa como a antiga. Lídia conseguiu ver o rosto de quem estendera a mão ao seu lado para que Rose a agarra-se. Ela pensou que não conseguiria fazer aquilo, mas se não fizesse, morreria do mesmo jeito. Aquele homem que apareceu no dia da reunião, trazido pela autêntica e bem acomodada, Rebeca, fazia força para segurar o corpo da adolescente, livrando a outra mão de Lídia para conseguir se segurar sem nenhum peso amais. Ele podia ser um desconhecido estressado naquele dia, mas estava salvando suas vidas e isso já era o suficiente para aceitar a ajuda. Após Rose voltar sã e salva para a pedra, foi a vez de Lídia receber o auxílio de Rafael. As duas enfim poderiam se abraçar de novo, mas dessa vez, tinha alguém para as olhar.

 

— Temos que ir.- Ele virou as costas e começou a descer, ignorando a destruição deixada para trás. Ainda tinha um vilão para derrotar, e explicaçar não era a sua melhor qualidade.

 

— Eu preciso te contar uma coisa.- Já não dava mais para amenizar os segredos, Rose precisava contar tudo antes que fosse tarde.- O Dylan, ele tava me dando remédios. Eu não sei pra quê, mas acho que sou louca...- Lídia não emitiu reação, à essa altura do campeonato, só o que conseguia fazer era olhar para o céu e enfim aceitar que sim, ela era muito forte.

 

 

 

 

 

Flashback on:

 

 

 

 

 

O que ele tinha acabado de fazer? Meu Deus, Meu Deus...Acabara de salvar uma pessoa, acabou com a encomenda de um assassinato. Era um herói para a humanidade, um vilão para o Cold Blood...Dylan o mataria sem dúvidas. Aquela olhada que ele lhe deu quando o viu saindo do prédio, após dar um jeito de tirar a vítima do próprio apartamento, com certeza era mais ameaçadora que qualquer cena que tivera visto há sua vida inteira. A rua escura o suficiente para sentir medo, apreensão e a sensação de ser vigiado, fazia com que a cada passo, um novo pensamento pessimista e otimista nascesse, repensando milhares de vezes o que daria de explicação para seu namorado. Não, não devia explicação nenhuma à ele, ou talvez devesse todas...Não teria que esperar muito para se decidir, já que Dylan decidiu sair de trás da parede de um beco, dando uma virada triunfal na frente da pessoa que queria estrangular no momento:

 

— Dylan...- Iniciou Rafael, mas claro, não dava para responder nada.

 

— Como você conseguiu ser tão imbecil?- O mais novo ficou perplexo, nunca tinha ouvido seu provavelmente ex-namorado o ofender, mesmo que não tenha sido algo pesado.- Evitar a morte de alguém hoje, não impede eles de o matar amanhã.

 

— Eles ou você? É um assassino como "eles", também?- Dylan só encarou aquela boca que tanto abria e fechava tentando pensar nas palavras certas para dizer.- São pessoas...

 

— Você não pensava nisso quando cometia seus crimes, não é?- O jogou contra a parede, literalmente e metaforicamente. Mesmo que Rafael fosse quase um garoto de quase quinze anos normal agora, se o Cold Blood não tivesse assassinado todos aqueles criminosos, provavelmente estaria por aí, aprendendo como lutar e matar.- Você não é um herói, então para de tentar bancar um. É só um garoto merdinha que acha que pode mudar o mundo salvando pessoas tão horríveis quanto a gente.- Disse em alto e bom som, com a face esbravejando e seu dedo apontado para o rosto do garoto que segurava contra o muro.

 

— Vai se ferrar!- Rafael cuspiu em Dylan, empurrando-o para se soltar e começar a correr, sem olhar para trás ou se importar com o que aconteceria dali pra frente.

 

— Eu te disse, Dylan.- Disse aquele mesmo homem que apoiou o lado da vida na discussão com Ellen, saindo por trás do recém solteiro ali parado.- Eu odeio concordar com a Ellen, mas agora ele atrapalhou o nosso trabalho, a partir disso já não dá pra salvar mais ninguém. O garoto tem a mentalidade radicada de alguém da idade dele, obviamente. Inclusive é novo demais pra se envolver com você.- Dylan queria salvá-lo, ensiná-lo um caminho melhor, mas não tinha como, não sendo ele mesmo.- Sinto muito, mesmo.- É claro que sentia. Em um belo dia, verídico, Rafael acordou tranquilamente em sua cama, sentindo apenas um cabo em sua mão. Aos poucos, abriu os olhos, observando assustado para a faca ensanguentada que segurava. Levantou seu corpo e olhou ao redor, vendo toda a lambança de sangue espalhada pelo seu quarto. Há algumas horas, seu maior problema era o fim de um relacionamento, agora, era a acusação do assassinato dos seus pais caídos desmembrados um de cada lado da sua cama. Ninguém do Cold Blood se atreveu dizer à Dylan para onde Rafael foi levado, mas não estava mais no estado.

 

 

 

 

 

Flashback off:

 

 

 

 

 

— Onde tá a Rebeca?- Questionou Lídia, alguns segundos depois de chegar no local que fora informada pela ligação. Todos estavam ali, juntos, prontos para caçar o inimigo, indo atrás do menor vestígio que encontrassem. É uma pena que pensavam que realmente eram os caçadores, não as pressas.

 

— Ela disse que precisava ir atrás de alguém. Curiosamente depois de receber a mensagem da localização.- Daniel encarou o homem alto, se lembrando daquele trágico dia onde todos estavam reunidos, assim como agora. Lídia deixou o suor de sua testa escorrer pelo seu rosto, enquanto perguntava usando os olhos mirados em Rafael, se esse "alguém" não seria ele.

 

— A Rebeca me mandou seguir vocês.- Respondeu rápido, querendo logo ultrapassar a cerca de tela com quase três metros de altura, informada por Dylan aonde ficava. Daniel arfou, esforçando-se para achar algo lógico nas ações de Rebeca.

 

— Ok, estamos indo pra boca do leão. Alguém aqui tem a sensatez de pensar em algum plano?- Indagou Carla, tentando entender como se meteu nesse jogo. Todos olharam entre si. Precisavam mesmo de um plano para terem certeza que iriam morrer?

 

— Acho que Dylan gosta mais quando usamos o coração, não quando decoramos nossas falas.- Sorriu Marina, passando pelo buraco que fizeram na grade, do lado de trás da ex e majestosa pousada, ousando ser a primeira a ir ao encontro com seja lá o que o grande inimigo estava preparando, sabia que não iria se decepcionar. As mulheres de vermelho a seguiram, impulsando Daniel a também concordar em ir, logo depois que Lídia e Rose passassem. Rafael passou por último, porém sendo o primeiro a perceber e se abaixar para pegar uma daquelas coisas que formavam uma trilha no chão.

 

— São balas.- Daniel pegou a munição, mostrando-a para sua família, onde todos pararam para observar e absorver aquilo.

 

— Quanto alarde. Nunca viram essas coisinhas que matam pessoas?- Marina se mostrou confiante ao continuar caminhando, sem se importar com as balas abaixo dela. Perder a chance de ser foda? Mesmo que fosse forçadamente? Não, não iria perder.- O pirralho tá seguindo a gente.- Lídia se virou imediatamente, querendo empurrar aquele ser de um prédio pra acabar logo com essa maldição em sua vida.

 

— Miguel!- Chamou quase gritando, se irando pelo garoto caído no chão do lado de fora da cerca.

 

— Eu vim ajudar vocês.

 

— Vai tomar no cu.- Soltou Rose, com os braços cruzados igual o da mãe, que a olhou torto. Sofia ignorou a briga de família, olhando para o buraco aberto na parede que estava logo à frente continuando a trilha de balas. Dylan tinha acabado de abrir aquilo ou o tampava com algo? Bem, ela sabia que o filho não daria o trabalho de reunir todo mundo por uma causa em vão, deveria ter um motivo enorme para aquilo. Estava sendo até gentil, ninguém tinha morrido ainda...ainda.

 

 

 

 

 

Seus pés não aguentavam mais, seu corpo estava exausto da sua mente perturbada tomando conta de suas funções motoras. Memórias se misturavam com adrenalina, escorrendo todas as mágoas para o chão da floresta. Seu arfar era o meio para continuar viva, mas não queria mais, nem dava mais. Seus sentimentos se decomponham de dentro para fora. O vento contra seu corpo veloz, soprava para longe cada resquício de sua humanidade. Ela não entendia o que passava. O que é essa sensação tão dolorosa que queima de tão frio? Talvez fosse a ausência de sentimentos, talvez fosse ela tentando passar pelos cacos deles:

 

— Eu vou achar você.- Pôs a mão na boca para não gritar. Aquela voz...pôde ouvi-la por perto. Por que aquele gatilho tinha que persegui-la? Deixá-la abrir mais seu lado sedento pelo obscuro era o que mais temia, e o que veio para acontecer. Correr. Correr. Correr. Parar. Parar. Parar. Só queria que o tempo parasse para que pudesse se esconder de si própria. Sua garganta seca, dava-lhe a impressão de que aquele inferno jamais iria acabar. Estava destinada a sentir dor para sempre. Mais uma lágrima, mais uma mágoa, não tinha jeito nenhum de fugir dela mesma, das loucuras que mal conseguia interpretar. E então, de repente sentiu um calafrio tomar seu corpo por inteiro, ao toque daquela mão puxar seu cabelo. Foi jogada no chão brutalmente, mal conseguindo se defender do homem à frente subindo em cima de seu corpo, com as mãos posicionadas no pescoço da vítima. O rosto dele era doentio, queria ódio, vingança, não parecia nem um pouco sã. Por um momento, Bianca viu que não era tão louca. A reação que ele fazia, enquanto a sufocava era de pura raiva e satisfação, como se estivesse matando uma marca de seu passado.- Morre!- Ela não conseguia se mexer, estava paralisada, aceitando que a morte enfim viria, depois de muito tempo tendo que aguentar e guardar cada sofrimento dentro de si. Se fosse para deixar o mundo, que fosse dando satisfação para alguém que destruiu no passado. Um flash de luz surgiu em sua visão, então percebendo com o término dele, Dylan ali parado no fundo, a olhando durante o estrangulamento, balançando a cabeça como se estivesse decepcionado com a escolha. Agora, inesperadamente sua perspectiva mudou, não sentia mais a ausência de sentimentos ou um que a causasse dor. Poderia continuar sem entender sua loucura, porém, não tinha mais o desejo algum de morrer. Bianca despertou da morte, sentindo a pressão contra seu pescoço como se fosse quebrá-lo. Seus braços começaram a se esticar, desesperados para acharem algo, ela não conseguia virar a cabeça e mal podia mexer as pernas. Lágrimas começaram a sair novamente de seus olhos, descendo até as mãos que violentamente a apertavam para morrer. " Deveria ter trazido uma arma de verdade ", disse Dylan naquele dia do halloween, a fazendo pensar que só venceu aquela luta por piedade. Estaria morta agora se seu irmão não tivesse sido interrompido. Já não dava mais para aguentar aquela dor! Sua mão se firmou em algo duro e grande, golpeando a cabeça do adversário. Bianca conseguiu empurrá-lo para o lado, fazendo-o soltar seu pescoço, para então começar uma serie de golpes com a pedra.

 

— Morra! Morra! Morra! Morra!- Gritava desesperada, não se importando com o tremendo inferno avermelhado que doía demais em seu pescoço. Só conseguia bater e bater aquela pedra na cabeça dele, até estourar e o sangue ir parar pela sua roupa;- Morra! Morra! Morra! Morra!- As lágrimas já nem saiam mais, como se ainda tivesse o que sair. Bianca soltou a pedra, se levantou cautelosamente, se afastando alguns passos do corpo. A floresta ficou silenciosa, até que um zumbido começou em seu ouvido, trazendo-a de volta para aquela realidade. Suas pernas tremeram, e então ajoelhando-se, olhou em volta, liberando novamente aquela fonte de água do seu rosto. Estava coberta de sangue, perto de um cadáver, ajoelhada. O que tinha acabado de fazer? De novo? Seus olhos fecharam e seu corpo enfim repousou, dando à ela um descanso mental. Como se estivesse...paralisada.

 

 

 

 

 

Estava escuro por onde passavam, usavam a lanterna de seus celulares para iluminar todo o trajeto. Era um túnel. O subterrâneo de uma pousada parecia ser um bom lugar para conectar partes de uma cidade inteira. Aquele lugar até um pouco largo para algo tão secreto, não parecia nem um pouco sujo, pelo contrário, dava para sentir um cheiro de desinfetante. Mais à frente, todos viam uma iluminação ao virar o corredor, tanto no teto quanto nas partes mais baixas da parede. Lídia puxou seus filhos para mais perto, caminhando lentamente em direção à luz. Marina continuava à frente de todos, desafiando qualquer armadilha que Dylan pudesse ter escondido por ali. Rafael segurava discretamente sua arma, não dando nenhuma brecha para que seu inimigo tivesse a chance de tentar algo contra ele:

 

— Olhem que fofo, Dylan comprou um túnel pra cada um de nós.- Disse Marina se virando para a turma, já chegando na virada do corredor. Encontraram dez novos túneis enfileirados. Ao lado de cada um, um capuz preto pendurado em um gancho, e logo em cima das passagens, o nome de quem deveria por lá passar, individualmente, escritos com uma letra linda em giz. O túnel para Rebeca seria o único vago, dando em conta que ela não havia voltado ainda.

 

— Eu não vou me separar dos meus filhos.- Enquanto todos iam pegando a tal roupa, Lídia e sua família pensavam em como prosseguir com aquela regra imposta. Sofia se aproximou deles, tocando o braço da sobrinha.

 

— Você mesma já deve ter pensado que ele faz o que quiser, e se quisesse nos matar já teria feito isso. E é verdade, parcialmente.- Iniciou o diálogo, a provável mais velha do grupo.- Sei que suas formas de pensar estão oscilando, mas se continuarmos com medo há cada vez que tivermos que nos afastar de quem amamos, ele vai dar um jeito de realmente nos separar pra sempre. Não deixe que seu primo afete mais seu psicológico do que já afetou.- Lídia demorou alguns segundos para aceitar que sua guarda como mãe não poderia fazer a ronda dessa vez. Daniel a beijou na testa, levando as crianças para seus lugares.

 

— Vai ficar tudo bem, ok?- Disse o pai, tentando acalmá-las.- Só sigam em frente. Aconteça o que for, nós sempre vamos nos reencontrar.- Daniel abraçou os dois fortemente, porém apenas Rose sentiu ele colocando algo em seus bolsos. Com todos aos seus postos, Sofia era a única que olhava torto para aquelas passagens, não sentia medo ou tensão, apenas tinha curiosidade. Todos se entreolharam, já vestidos, esperando o sinal de alguém para entrar.

 

— Bem...- Marina tomou à frente, já caminhando para dentro do seu designado túnel.- E lá vamos nós.- Todos adentraram na escuridão novamente, Lídia não tinha mais o celular para iluminar seu caminho, já que o tinha dado para seu filho. Estava com medo por eles, mas tinha que segurar aquela barra. O capuz era confortável, ao menos a esquentava, o ar parecia mais frio indo em direção aonde o novo túnel levava, com suas paredes ficando mais apertadas à cada avanço que dava. De repente, ouviu passos vindo por trás dela, e antes mesmo que pudesse se virar, uma mão já tampava sua boca, enquanto o braço de alguém a segurava contra o próprio corpo. 

 

 

Dylan via tudo do seu esconderijo, eram várias telas de computadores, monitorando várias partes da pousada. Seus sobreviventes tinham acabado de entrar nos lugares escolhidos especialmente para eles. Tinha um que levava exatamente num corredor que dava logo aonde se escondia. Ele levantou-se de sua cadeira, deixando algo de sua mesa extremamente cheia e bagunçada cair no chão. Retirou uma arma de sua cintura, e se encostou atrás da parede que revelava a sala em que se era presente. Sabia quem estava se aproximando, teve um laço forte com essa pessoa há algum tempo. Infelizmente a vida o transformou em um inimigo, mas se nada disso tivesse acontecido...Talvez, só talvez, teria várias famílias para passar a tarde de domingo, ou visitar em datas festivas. Família era tudo que Dylan queria quando criança, construir um lar, fortalecer os laços de sangue e afetivos. Ter um animal de estimação, gato ou cachorro. Provavelmente buscou isso nas pessoas em que se relacionou, alguém para moldar um futuro cheio de amor. Infelizmente, ninguém podia trazer esse lado sensível de Dylan de volta. Estava sufocado por muita morte, ambição e um pouco de rigidez. Como se abria a mente de um sociopata? Um genocida que queria matar todo mundo? O líder de um grupo de assassinos? Alguém envolvido com uma organização que controla diversos setores do mundo? Um humano? Enfim ouviu os passos chegando cada vez mais perto, chegara a hora de matar mais um, e quando ouviu a batida certa, se virou:

— Adeus, Lídia.- E atirou. A vítima continuou parada, com o capuz tampando seu rosto. Pelo físico e a altura, o assassino já tinha percebido seu erro, inclusive o tiro que pegou erradamente no peito. Sempre calculou a medida das coisas, e adora ser surpreendido, porém quando ainda assim tinha o controle da situação. Com a própria mão, a mulher baleada tirou seu capuz, para então cair de vez no chão.- Mãe!- Ele correu para tampar seu sangramento, algum Guy Blood inclusive tinha acabado de chegar, mas não dava para salvar. Sofia apenas levantou a mão e acariciou a bochecha de seu filho, enquanto via lágrimas descerem do rosto dele para o seu corpo. Continuava sendo uma criança assustada, cometendo erros, e talvez, apenas talvez, tivesse precisado bem mais da sua mãe. 

 

 

Lídia foi a última a chegar no fim do túnel. Sofia praticamente a obrigara a trocar de lugar com ela. E ao ver sua família, agora em um lugar totalmente claro, reunida, correu para abraçá-la. Nenhum deles tinha se ferindo ou sumido. Todos pareciam estar ali, centralizados no cômodo, intrigados com a cortina que cobria algo do outro lado da sala, provavelmente a surpresa de Dylan Bem, pareciam estar todos ali:
— Aonde tá a Sofia?- Indagou a sobrinha, porém ninguém soube responder.- Ela pediu pra eu trocar de lugar com ela.- Daniel encarou a esposa, tentando entender junto, o que terá acontecido para que aquela mulher quisesse mudar sua túnel com sua sobrinha. 

— Ok, já que estão praticamente todos aqui, não vamos bisbilhotar?- Marina se distanciou do meio das pessoas que a encaravam, caminhando até a cortina preta que instantaneamente começou a subir, antes mesmo que a tocasse, como se estivesse sendo sugada pelo teto. A tensão tomou conta do local. Rose engoliu em seco, segurando aquilo que haviam colocado em seu bolso. Um vidro radicado no chão e em sua paredes, dava a transparência para a vista que Marina já conseguia ver. Uma perna branca com pés que estavam com suas unhas feitas, pintadas de preto e um salto da mesma cor, pareciam até plástico. Miguel foi para trás da mãe, apertando a mão dela, e tentando compreender todo aquele jogo, que não tinha a menor noção de como iniciou. 

— Meu Deus.- já na metade do vidro, Lídia conseguia assim como todo mundo saber quem era. Alguns não a viam há muito tempo, outros já a tinham visto esse ano, um deles nunca a tinha visto. Mas já fazia anos que nunca a tinham visto tão bela.- Sara?- Ela ergueu a cabeça, usava um vestido preto assim como seu cabelo, agora um pouco mais volumoso e longo. Sua pele estava mais branca, e sua arrumação a fazia parecer com uma boneca. Seu corpo se apoiava em uma cadeira, com as pernas e os braços cruzadas, como se estivesse posando para um quadro. Atrás da mancha do passado, tudo o que enxergavam  eram escuridão, assim como o que ela trouxa à eles.

— Sentem-se. Ficaremos aqui por um bom tempo.- Pronunciou calmamente, enquanto os jogadoras se entreolhavam. Sara estava de volta. 

 

 

Raiva. Ódio. Dylan gritava, se exaltava, batendo com seus punhos na parede. Correu até sua mesa e derrubou tudo com seus braços. O sangue da sua mãe estava impregnado no chão aonde era para morrer outra pessoa. Não era a hora de ela partir, não estava pronta para vê-la ir embora pra sempre. Sua família sempre cometia erros, e nunca os consertava. Colocou suas mãos em sua cabeça, passando as por seu cabelo, para então começar a ouvir um choro de bebê, era aquele bebê aonde estava tatuada a tal frase para assustar Carla, deitado em lençóis escuros. Seu olhar irritado mirou no berço preto, o qual se aproximou rapidamente, e tomou a criança em seus braços, a segurando contra seu corpo inquieto. Dylan sorriu para o pequeno humano, acalmando-o. Então ele se lembrou de uma canção, que também o ajudava a se acalmar:

—  Tenha calma, filho do corvo. O partir não é tão admirável, a morte é algo irreparável...

 

 

 

Continua...


Não quer ver anúncios?

Com uma contribuição de R$29,90 você deixa de ver anúncios no Nyah e em seu sucessor, o +Fiction, durante 1 ano!

Seu apoio é fundamental. Torne-se um herói!


Notas finais do capítulo

A origem do mal está prestes a ser revelada.



Hey! Que tal deixar um comentário na história?
Por não receberem novos comentários em suas histórias, muitos autores desanimam e param de postar. Não deixe a história "Segredo Virtual" morrer!
Para comentar e incentivar o autor, cadastre-se ou entre em sua conta.