Resident Evil: A Cidade Maldita escrita por Lerd


Capítulo 21
Capítulo XX – Meu Apocalipse Particular




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- Corre Leona, esses bichos estão correndo atrás da gente! – D. gritou enquanto corria desajeitada. Sua perna doía muito.

Atrás delas vinham alguns Hunter. Eles corriam numa velocidade incrível. As duas estavam correndo por um corredor estreito. Não faziam à mínima idéia de onde ele poderia culminar. Só tinham certeza de uma coisa: se a porta no fim deste estivesse trancada, era o fim.

- Entra! Entra! – Gritou D., empurrando Leona para dentro da porta. Por sorte ela estava aberta. A visão que as garotas tiveram foi no mínimo surpreendente.

 

-

 

- Ky, parece que só há essa porta pra gente entrar. Ou é isso ou voltamos para onde sua mãe está.

- Haha, muito engraçado você. Se essa porta estiver trancada eu abro na marra. – Ky disse em tom de deboche. O garoto pareceu irritado com a resposta do rapaz.

Os dois seguiram para perto da porta a qual Tidus se referia. Nela havia a inscrição: Aracnídeos.

- Legal, aranhas. Por que diabos esses cientistas fazem testes com aranhas?

Tidus colocou a mão na maçaneta e girou. A porta abriu-se com facilidade.

- Essa maldita Rainha Vermelha deve ter deixado todas as portas abertas pra ver nossas mortes acontecerem mais rápido, só pode ser isso.

Os dois seguiram por um estreito corredor. Tão estreito que eles tinham que passar por ele um na frente do outro. Se andassem lado a lado, não conseguiriam. Os garotos foram caminhando com passos lentos até uma pequena porta no fim do corredor. Encostado nela havia um homem, caído. Ele tinha sangue por todo o corpo. Ky começou a examinar o corpo dele a fim de procurar alguma arma ou munição. Tidus fez cara de nojo.

- Cuidado, Ky!

O rapaz mirou sua arma na cabeça do homem e atirou. Bem a tempo. O zumbi estava prestes a mordê-lo. Quase caiu ao tropeçar numa enorme arma caída ao lado do corpo. Como ele não havia percebido isso?

- O que é isso? – Tidus perguntou curioso.

Ky respondeu, enquanto examinava minuciosamente a arma:

- Me parece um lançador de granadas... – O rapaz continuava a examinar a arma. – E pra nossa sorte ele parece estar carregado.

O garotinho sentou no chão frio do corredor. Ele estava cansado de ter de ficar correndo tanto de um lado para a outro.

 

-

 

- O heliporto! Graças a Deus! – D. não conseguia esconder a satisfação que sentia. Ela tinha certeza que estava um passo mais próxima da salvação.

Leona olhava para a ampla sala, pesarosa. Ela sabia que se Ky não chegasse logo, D. não teria chance. Ela não queria ter de matar mais um amigo, de tirar mais uma vida. Era demais pra ela.

- Hei Leona! Olha isso aqui!

D. correu até o centro da enorme sala. Havia um pequeno helicóptero lá.

- Agora só nos resta esperar Ky, Tidus e Vantia chegarem! – Leona gritou para a mulher. Sua voz ecoou por toda a sala.

A outra garota aproximou-se dela e falou baixinho:

- Se eles não chegarem logo eu estou ferrada.

 

-

 

A sala onde os garotos entraram era no mínimo nojenta. Havia teias de aranha por todas as paredes e no chão. Aquela pegajosa linha branca estava espalhada por toda a sala.

- Tenho medo do que pode aparecer, Ky. – Tidus disse.

Não havia nenhuma porta no local, exceto a que eles tinham usado para entrar. Ky examinava as paredes do local cuidadosamente. Elas pareciam ser feitas de pedra mesmo. Não dava para ter certeza. As teias recobriam todo o ambiente. No fundo da sala havia um grande buraco. Tão grande que Ky conseguiria entrar por ele de pé. E foi o que o garoto fez. Seguiu até o fim do corredor e entrou no buraco, colando sua cabeça lá dentro. Levou um tremendo susto quando viu algo se mexendo lá dentro.

- Droga, tem uma aranha aqui! – Ky gritou para Tidus. O garoto assustou-se com a voz do amigo e caiu de costas. Naquele exato momento uma enorme criatura espremeu-se pelo buraco.

- Ky, atrás de você! – O garotinho gritou. Uma enorme aranha havia saído do buraco e estava atrás do rapaz.

Ky não pensou duas vezes. Mirou sua arma para a criatura e... Quando foi atirar recebeu uma feroz investida da aranha, que tentava esmagá-lo com suas enormes patas. Sua arma escorregou pelo chão, indo parar ao lado de Tidus.

- Atira Tidus! Atira! – Ky gritava desesperadamente. A aranha continuava a atacá-lo, na tentativa de lhe esmagar.

O garotinho pegou a pesada arma do chão e levou na altura dos ombros. Mirou na enorme aranha em cima de Ky. Era difícil errar aquele tiro. Atirou. Fez-se uma fumaça enorme e a aranha instantaneamente explodiu. Uma gosma verde espalhou-se por toda a sala.

- Obrigado. – Disse Ky enquanto tentava limpar-se da pegajosa substância.

 

-

 

- Rápido Ky! Rápido! – Leona murmurava consigo mesma. D. estava caída no centro da sala, agonizando. Suava muito. A garotinha tinha a cabeça da outra em seu colo, e tentava, em vão, acalmá-la. D. estava perdendo a consciência. – Precisamos de você, Ky.

 

-

 

Os dois garotos entraram pelo enorme buraco por onde a aranha havia saído. Tidus entregou a arma para Ky, que sorriu.

 

- Ky! – Leona não conseguia parar de gritar e pular de felicidade.

O enorme buraco por onde a aranha havia passado, culminava numa porta, que, por conseguinte dava acesso à outra porta, que acabava por liberar passagem para o heliporto.

- O que aconteceu com ela? – Perguntou Ky, desesperado, ajoelhando-se no chão ao lado de D.

- Ela foi mordida por um tubarão, Ky! Você precisa dar seu sangue a ela! – Gritou Leona.

- Mas eu nem ao menos tenho uma seringa! – O garoto estava visivelmente desesperado.

Leona correu até próxima da porta pela qual havia entrado e abriu sua mochila. Retirou lá de dentro uma seringa. Correu até próxima do rapaz e entregando-a, disse:

- Rápido, ela está morrendo!

- Olá, queridos! Vejo que conseguiram chegar até aqui! Parabéns! – A voz metálica daquela maldita AI lhe surpreendeu. De onde ela vinha afinal?

- Cala a boca, desgraçada! – Gritou Ky. Ele desesperadamente injetava a agulha em seu braço.

- Pra que tanta hostilidade? Sou uma garota de palavra, e se prometi que deixaria vocês irem, vou cumprir minha promessa. – A Rainha Vermelha disse, em tom de deboche. Ela era realmente muito parecida com um humano. Parecia ter emoções... Raiva, ironia... Vantia havia feito um ótimo trabalho.

Ky nada respondeu. Ele estava mais preocupado em salvar a vida de D.

- Bem, devo lhes informar do que Vantia fez. Há alguns minutos ela liberou uma das nossas mais fortes B.O.W.s, e creio que ela logo estará aqui.

- Minha mãe fez o quê? – Ky disse perplexo.

- Ela apenas está promovendo um reencontro. Entre você, Kedar Yoo, e seu pai...

- Titanium – O rapaz murmurou consigo mesmo.

D. estava deitada no chão, enquanto Leona segurava um pano em seu braço, tapando o buraco pelo qual o rapaz havia injetado seu sangue.

- E o que aconteceu a ela? Ela, ela... Onde ela está?

Fez-se um breve silêncio no recinto. A Rainha Vermelha pela primeira vez não havia respondido-o prontamente.

- Ao que tudo indica o status dela é... Morta.

Ky olhou para o rosto de Leona. Não sabia o que fazer, como agir. Para o rapaz, sua vida estava acabada naquele momento. Ele não podia acreditar que sua mãe estava morta... E que a última coisa que ele dissera a ela foi: “Fui”. Pela primeira vez em sua vida sentia o peso da palavra remorso.

- Ky, olha ali! – A voz de Tidus, estridente e fina, ecoou por todo o ambiente. Em parte contribuiu para o pânico que tomou conta de todos ao ver a gigantesca criatura que se aproximava.

Aquele monstro com certeza não era mais humano. Na verdade, nem ao menos havia traços que provassem que aquilo um dia fora uma pessoa normal. No local onde antes havia estado uma cabeça, havia seis ou sete tentáculos, que “floresciam” de algo que lembrava um pescoço humano. Esse por sua vez era coberto de veias, que se espalhavam por todo o desajeitado corpo. Seu tórax era coberto de nervos e músculos, que numa combinação grotesca, se abriam e fecham em um determinado tempo. Lá dentro, em uma área vulnerável, Ky podia ver claramente um coração humano. Seus braços tinham garras compridas e afiadas, enquanto suas pernas eram compridas e deixavam uma gosma horripilante pelo chão.

O rapaz olhou por alguns instantes para o monstro, sem reação. Não sabia o que fazer. Na verdade, nem ele, nem aquelas duas crianças ou a mulher enferma sabiam. Tudo dependia única e exclusivamente da ação dele.

- Eu não vou deixar você machucar meus amigos. Pai...

Ky mirou o lançador de granadas no tórax da criatura. Esperou por alguns instantes seu peitoral abrir-se, enquanto a criatura continuava a deslizar-se lentamente para perto dele. Atirou.

- Faça alguma coisa, Titanium! Você é uma B.O.W., deve eliminá-los! - Gritava a Rainha Vermelha.

O monstro contraiu-se com o tiro, com se sentisse dor. Encolheu seu grotesco corpo por algum tempo, fazendo um barulho apavorante, que fez mexer toda a estrutura do heliporto.

- Ele não vai morrer, Ky, vamos entrar no helicóptero!

O rapaz deu alguns passos para trás, enquanto Titanium se aproximava novamente. Disse:

- Entre, Leona e Tidus, e coloquem a D. aí dentro. Rápido!

Leona obedeceu-o prontamente e com a desajeitada ajuda de Tidus pegou D. no colo. Os dois esforçavam-se ao máximo, usando cada centímetro de seus pequenos corpos para ajudar a mulher. Acomodaram-na confortavelmente na parte de trás do helicóptero e fecharam à porta.

O monstro lançou um de seus tentáculos na direção de Ky, que tentando esquivar-se, acabou tropeçando e deixando cair sua arma.

- Ky, eu pego pra você! – Gritou Leona, saindo do helicóptero.

- Não, fique aí dentro, você vai se...

A frase do rapaz foi interrompida pela aproximação rápida de uma mulher. Esta entrou em sua frente no exato momento em que ele seria atingido por um dos tentáculos de Titanium. O sangue da mulher escorreu por todo seu corpo, indo parar nas calças de Ky, que, perplexo, continuava caído no chão.

- Melissaaaaaaaaaaaaaaaaaaaaaaaaaaaaaaaaaaaaaaaa! – Ky gritou.

A mulher tentava, em vão, gritar algo. Com muito esforço o rapaz entendeu o que ela queria dizer:

- Vão... Embora...

D. sentiu-se fraca. Sentiu toda sua vida esvaindo-se através daquele sangue, que pingava gota por gota. O tentáculo do monstro continuava dentro de seu corpo, e, ao mesmo tempo em que lhe feria, lhe trazia paz. Lembrou-se...

 

O garoto brincava com seu trenzinho sentado no tapete de uma luxuosa sala, quando se assustou com a repentina presença de Melissa. Num súbito jogou o trem no chão, fazendo-o partir-se em milhares de pedacinhos.

- Desculpa Ky!

A moça pegou o pequeno menino no colo, consolando-o. Ele olhou com ternura para ela e disse:

- Não se preocupe, mamãe me compra outro.

Melissa sorriu e começou a fazer cócegas em Ky. Ele ria muito.

 

Tirada de seus devaneios, D. sorria. Ky gritava descontroladamente, enquanto tentava, em vão, dar facadas no tentáculo do monstro.

- Larga ela! Melissaaaaaaaaaaaaaaaaaaaaaaaaaaaaaaaaaaaaa!

A mulher já não sentia mais dor. Dessa vez, apenas a calma. Sentiu que, ironicamente, suas memórias voltavam pouco a pouco...

 

Um alto barulho foi ouvido por Melissa de dentro de seu quarto. A mulher correu para a sala e pôde ver um homem alto e forte, vestido com certa elegância, empunhando uma arma em sua direção:

- Enfim te encontrei, maldita...!

A mulher pôs a mão na boca. Estava chocada.

- Como você pôde... Matar meu irmão?

- Você...

- Cala a boca! Sua vadia desgraçada!

Melissa calou-se. Sabia que aquele homem estava disposto a tudo para vingar seu irmão.

- Você... Vai ter de pagar pelo que fez. Isso não vai ficar assim...

O homem atirou. A bala da arma passou raspando pela nuca da mulher, fazendo-a desmaiar com o susto. O sujeito caminhou lentamente em direção ao corpo de Melissa, convicto de que ela estava morta.

- Isso é o que você merece!

Ele caminhou em direção a um pequeno sofá localizado naquele cubículo que a mulher parecia chamar de sala. Sentou-se. Passou as mãos por seus cabelos, chorando. Ele suava frio. Sentia medo.

- Eu preciso... Livrar-me disso tudo.

O homem caminhou lentamente pelo apartamento de Melissa e abriu a porta de um dos armários da cozinha da mulher. Retirou lá de dentro uma garrafa de álcool. Em poucos minutos conseguiu espalhar o liquido por todo o cômodo.

- Bem Melissa, é isso. A gente se vê no inferno.

O sujeito abriu a porta do apartamento, prestes a sair. O corpo desmaiado da mulher estava bem no centro de um enorme círculo marcado a álcool. O homem olhou por alguns segundos para o corpo da jovem e retirou uma caixa de fósforos do bolso. Acendeu-o e o jogou no chão. A satisfação em seu rosto era aparente.

 

Ky entendeu o que a mulher queria. Largou a faca no chão e seguiu em direção ao helicóptero. Leona e Tidus choravam, gritavam.

- Um dia eu irei retribuir tudo o que você fez por mim...

O rapaz sabia que estava em fim a salvo. Sabia que estava caminhando para longe daquele inferno. Sabia que havia sobrevivido, que ele havia sido forte o suficiente. Ou não?

 

Encostada no ombro de Ky, Leona dormia tranquilamente. Ao seu lado, o pequeno Tidus olhava ao longe. Tinha o olhar incerto, curioso. Parecia temer o que iria acontecer de agora em diante. Como se o pior ainda estivesse por vir. Olhando pela janela, puderam ver o exato momento em que um enorme cogumelo de poeira engoliu Raccoon City.


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