Quatro dias já haviam se passado desde a viagem à Espanha. Os três exorcistas já estavam bem melhores, quase não tinham machucados. Era uma manhã fria de Agosto. Dia quatro, mais precisamente. Era a véspera do aniversário do Bookman. Dentro desses quatro dias, quase a Ordem inteira já tinha percebido a mudança no comportamento do aprendiz do Bookman. Não era mais tão sorridente, brincalhão, bobo, engraçado. Não passava mais o tempo livre com os amigos. Agora, preferia ficar o dia todo pesquisando milhares de coisas, notícias, dizendo que era tudo a mando do “velho panda”. Todos sabiam que não era completamente verdade, mas nada diziam a respeito.

Lenalee e Allen logo sentiram o afastamento do amigo ruivo. Ele nunca tinha sido assim, tão... Tão parecido com o Kanda. Chegava até a assustar eles. Seu sorriso não era mais aquele sorriso radiante, acolhedor, verdadeiro de antes. Agora era sempre um sorrisinho de deboche ou amarelado. Não os tratava mal nem nada. Só não estava mais presente como antes. Só o viam nas refeições, isso é, quando ele não emendava o almoço, ou até mesmo o jantar, com os afazeres de Bookman.

Nesse dia de Agosto, a jovem irmã do Supervisor decidiu ir falar com o amigo ruivo. Encontrou-o na biblioteca, de frente para uma pilha que tinha uns dez livros grossos como listas telefônicas.

– Lavi, eu posso falar com você um pouco?

– Claro, Lena. Senta aí. – Ele ofereceu a cadeira do lado, a qual ela agradeceu e sentou.

– Posso ser sincera com você, Lavi-kun?

– Claro! Por que não? – Ele deu uma risadinha abafada, mas ela não ligou muito.

– Você está pesquisando nos mesmos livros há três dias.

Ele quase derrubou o livro que tinha em mãos. Sentiu uma gota de suor brotar em sua testa. – E-era só isso?

– Não... – O olhar da garota ficou um pouco triste. – Eu acho que entendo o que você está passando.

– Q-quê?!

– Você também já sabe, não é? – O tom de voz da garota diminuiu consideravelmente. – Sobre o Allen e o Kanda.

–... Sei. – O olhar do ruivo ficou sério, mas ainda fitava o rosto da menina.

– Sabe Lavi, eu tinha uma queda pelo Allen... Mas aí ele me contou sobre ele e o Kanda. Eu nem cheguei a dizer o que eu sentia por ele.

– Há quanto tempo foi isso?

– Acho que dois meses. Há quanto tempo você descobriu?

–... Uma semana.

– Você... Você gosta do Kanda, não é Lavi-kun?

O olhar dele virou-se assustado para a menina. Seu rosto rapidamente tomou a coloração vermelha, contudo ela apenas deu um sorriso amigável.

– Quando você não quis salvá-lo da primeira vez, achei que tivessem brigado por algum motivo. E a sua mudança de comportamento repentina foi muito estranha. Não falava mais com a gente, seus amigos, e tentava falar o mínimo possível com o Allen, que era seu melhor amigo! E nem olhava mais para o Kanda, quando você adorava provocar ele o chamando pelo primeiro nome. – Ela parou por alguns segundos. – Pode confiar em mim. Eu não conto pra ninguém.

– Eu sei. – Sua expressão tornou-se um sorriso um pouco nervoso. – Eu confio em você.

A garota sorriu para ele e se levantou. O Bookman levantou-se junto e os dois foram dar uma volta pela organização. Lavi não voltou mais para a biblioteca naquele dia. Ficou rodando com a irmã do supervisor o dia inteiro. Pela primeira vez em sete dias sentia-se feliz. Ele sorria e conversava animadamente com Lenalee, que parecia se divertir muito, também.

Ao fim do dia retornou ao quarto. Despiu-se das roupas e foi tomar um banho quente. A água cristalina tocava-lhe o corpo como se fosse uma massagem, uma terapia. Fazia-o relaxar e esquecer temporariamente os problemas que tinha. Saiu do banho e vestiu uma calça qualquer. Deitou na cama, mas não dormiu de imediato. Estava refletindo; sabia que Lenalee era a amiga em quem mais podia confiar no momento, que não poderia mais ser tão amigo de Allen Walker quanto era antes. Sentiu-se feliz ao conversar com a garota durante o dia. Então, por que agora essa felicidade não estava mais em seu espírito? Por que agora o sentimento que prevalecia era a dor novamente? Por que não conseguia tirar o japonês da sua cabeça e do seu coração, isto é, se ele ainda tinha algum? Concluiu então que aquela felicidade não era muito feliz. Era só uma ilusão. Virou de lado na cama. Depois de um longo tempo, fechou os olhos e adormeceu.

“All this time I was wasting hopping you would come around

I’ve been given out chances every time

And all you do is let me down

And it’s taking me this long baby but I figured out”

You’re Not Sorry – Taylor Swift