Summer escrita por CarolHust


Capítulo 6
O Caso de Lucy Heartfilia. - Previsões de um futuro incerto


Notas iniciais do capítulo

Hello, pessoas!

Não vou nem tentar explicar muito, minhas razões para demora foram: gincana, 2 semanas com seis provas/minitestes/trabalhos, descanso de mente depois disso, a questão política da semana passada. Agora acho que dá para entender, não é? Desculpem-me!
Obrigada a todos que comentaram, e claro que ESPECIALMENTE a IasminFaro (quase caí dura quando vi a recomendação lá, ainda no início da fic). Agora acho que podem dizer que "estou de volta", mas eu nunca posso garantir nada.
Uma coisa que eu gostaria de avisar, por mais desagradável que seja, é que, sim, os capítulos vão demorar mais. Acho que seria muita sacanagem deixar vocês esperando que saiam toda quinzena, considerando que estou administrando três histórias ao mesmo tempo. Verdade seja dita, passei esse capítulo na frente dos outros em consideração a vocês, porque estava muito empolgada em terminar eles. Espero que gostem!

A saga de Lucy começou... KKK. O título, como sempre, é baseado em uma música, e essa acho que vocês a conhecem bem. Rude, da banda MAGIC!. A imagem da capa eu tenho faz anos, e sou simplesmente apaixonada por ela. Natsu está tão lindo... T-T
A artista é foo-tan, como vocês podem ver na marca d'água da imagem.

Ah, um aviso de UTILIDADE PÚBLICA
Para todos que quiserem, o link da playlist dessa temporada (viram, não fiquei fazendo nada ou só parágrafos soltos):

https://www.youtube.com/playlist?list=PLMGF3EwhDe7LRSQy7UFv_L13scuZh2oCp

Vocês descobrirão a quais casais as músicas se referem com o tempo. Outra coisa é: acho um absurdo que quando eu escolho as canções elas são lindas e inovadoras e ninguém conhece, aí quando eu divulgo elas para vocês a Globo já botou em uma novela, toca na rádio de cinco em cinco minutos e se torna modinha. Enfim, desconsiderem isso e pensem que sou eu a original aqui o/.


Boa leitura ;)



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− Então, o que você disse a eles?

− Não é uma questão relacionada a minha resposta, Natsu. Já te disse. Meu pai, ele... Não sei se não se importa ou se acha que existe alguma chance de eu concordar com isso.

− Tudo isso foi uma grande surpresa para você? – ele soava estranhamente irônico.

− Você sabe que não. Já repeti isso milhões de vezes. Só que, depois de tanto tempo sem nos vermos e sem tocarmos no assunto, eu achei que ele já tinha deixado o tema de lado. Especialmente depois que lhe contei que estávamos namorando.

− Também imaginaria que ele iria desistir, mas acho que você e meu palpite atrasado estão errados. – o Dragneel comentou com desgosto, deitado de cabeça para baixo no sofá.

Natsu já tinha mudado de posição inúmeras vezes naquela noite, em especial depois que ficáramos sozinhos. Hiperativo como era, mesmo tentando se manter com a postura revoltada ele escolhera ficar com a cabeça quase encostada no chão, os pés na cabeceira. Eu estava esparramada em uma poltrona a alguns metros de distância, os olhos voltados para a parede de pedra negra.

Já tinha lhe explicado sobre Loke, sobre meu pai, sobre esse tal de “noivado”, mas minhas palavras eram insuficientes quando nem mesmo eu entendia o que ocorrera horas atrás. Não tivera tempo para discutir a questão profundamente, ainda mais quando eu fora mimada o suficiente para abandonar todos falando e fugir da sala de jantar. Se eu ainda tivesse meus dez anos, meu pai provavelmente teria puxado minha orelha, meio brincalhão e meio irritado, perguntando onde estavam minhas boas maneiras. Era quase um costume dele.

Não se tratava exatamente um noivado ou qualquer tipo de real compromisso, se me permitem justificar minhas ações. Jude só fizera soar desse modo para obter o impacto que desejava. Sim, já sabia que era do seu interesse que eu me casasse com algum primo mais velho, em especial Leo Heartfilia. Ajudaria a manter seu império caso meu consorte aceitasse seguir as “nossas origens”. Meu pai o adorava, nós sempre tínhamos nos dado bem, e o ruivo ainda era promissor dentro da empresa.

A escolha definitiva havia sido feita quando Loke, ainda no ensino médio, fora a uma das reuniões da diretoria e acabara por achar a solução para um problema interno muito importante ‒ não lembro o que era, mas meu pai havia passado dias com essa questão martelando sua consciência. Ah, como Jude amou isso. Amou o suficiente para prometer-lhe emprego, o suficiente para pedir-lhe (ou ordenar-lhe, depende de que ponto de vista deseja se interpretar) que mantivesse suas “atividades extracurriculares” com garotas mil longe de sua vista. Seria ruim para a imagem de qualquer filial grande se seu diretor/coordenador fosse visto saindo de boates às quatro da manhã todo fim de semana. Apesar disso, era do conhecimento de toda a família seu gosto exacerbado por noitadas aleatórias.

Pouco antes de ser transferida para Fairy Tail, meu pai já tinha tangenciado o assunto, em uma tentativa nada promissora de ser discreto e influenciador. Eu vetara a proposta quase que imediatamente, mas sabia que as coisas nunca eram fáceis quando se tratava daquele homem. Meu pai era meu pai, mas ele nunca deixava de ser o Jude Heartfilia, homem influente que sempre conseguia o que desejava.

Eu simplesmente não via Loke daquele jeito, e sim mais como uma figura de um irmão, amigo, parceiro. Depois que conhecera Natsu então... Não havia a menor possibilidade. Da parte do garoto eu não tinha certeza, o modo como ficava calado sugeria que não se incomodava com tudo aquilo, mas tinha quase certeza que Loke não nutria sentimentos por mim. Se o fizesse, pareceria um pouco mais magoado com as rejeições que já recebera ou não sairia com tantas garotas – Áries era uma fonte confiável de informações e ela quase sempre presenciava algum fragmento dos seus relacionamentos relâmpago. Se bem que ele poderia ver tudo como um grande jogo, não sei. Também não entendia seu comportamento: ele nunca havia sido tão presunçoso ou brincado com os sentimentos dos outros como mais cedo. Sendo assim, não tive a menor piedade ao soltar alguns palavrões bem feios antes de sair do cômodo onde comíamos. Depois provavelmente conversaríamos, no entanto, por hora ele merecia o meu desprezo.

‒ Você está magoado? ‒ suspirei enquanto tamborilava o resto das minhas unhas roídas no estofado da poltrona.

Preferi não olhar para trás quando ouvi o som de sua movimentação. Em algum lugar da minha subconsciência, eu sabia que a minha pergunta e o tom tristonho dela poderiam ser classificados como um “jogo sujo”. Agi sem pensar, não desejava que Natsu se sentisse culpado por demonstrar raiva.

‒ Acho que um pouco. Chateado, na verdade. ‒ ele respondeu, ao mesmo tempo que surgia na minha frente e se agachava. Sorri. A honestidade dele não mudava de acordo com situações. ‒ Sei que não pretende nada disso, mas é mais ou menos o mesmo que aconteceu com Gray agora. Porra, vocês não podiam ter falado alguma coisa? ‒ ele parou de falar por um momento, percebendo que tinha elevado um pouco o volume da voz. ‒ Não, desculpa. O que eu quero dizer é que...

‒ Que se estamos juntos, não há razão para escondermos essas coisas, e que isso só te faz ficar menos confiante? Você está certo, não precisa pedir desculpas.

‒ É, mais ou menos. Como você sabe que eu ia dizer isso? ‒ ele franziu o cenho, curioso.

 ‒ Eu leio bastante ‒ dei de ombros. ‒ Algumas reações humanas são meio previsíveis.

‒ Você é estranha, Lucy.

Que bom que sou, pensei quando vi a faísca de travessura ressurgir em seus olhos. Estávamos longe de “bem”, mas tudo começa aos poucos, não é mesmo? Antes que ele pudesse retornar com o questionamento do que deveríamos fazer para resolver aquela situação, coisa que vinha evitando pensar nas últimas horas, o aproximei pelos combros e abracei-o, afundando meu rosto na área da sua clavícula.

‒ Eu vou resolver isso.

Ele esperou um pouco, pousou as mãos sobre meus ombros, cuidadosamente, e me afastou. Claramente seu sorriso ainda não era verdadeiro por completo. Levantou-se, me estendeu um de seus braços e conduziu-me ao andar de cima.

‒ Acho que vou ficar bem ocupado tentando fazer seu pai gostar de mim. Acha que ele prefere ternos ou... Como foi que Gray tinha dito... Ah! Ternos ou fraques? ‒ tentou rir da nossa desgraça.

‒ Acho que nenhum dos dois são necessários, mas ternos são melhores com certeza. ‒ entrei na brincadeira.

Ali, naquele corredor, eu poderia ter protestado afirmando que isso de meu pai não gostar dele não era bem verdade, que tudo não passava de imaturidade de Jude e que logo eles estariam se dando bem. Surpreendi a mim mesma ao perceber que as palavras travaram na minha garganta. Achei melhor ficar calada do que animá-lo com previsões supersticiosas.

                                                                                              ...

No dia seguinte, fomos à praia outra vez.

Freed ficou na areia com Meredy, Laxus e Mirajane se aventuraram em um passeio de barco, Chelia e Lyon fugiram para alguma atividade a dois e eu empurrei Natsu para as ondas, em direção à Gray e Juvia. Esse casal se dava tão bem que era estranho, não parecia que tinham brigado há menos de doze horas. Talvez fosse uma compensação pela dificuldade que passaram até ficarem juntos, e eu estava sendo agora de certo modo punida pela “declaração estilo filme adolescente” que recebera. O universo poderia estar apenas buscando um equilíbrio. Bem, se o universo tivesse me dado a escolha, preferia ter sofrido antes a ter que enfrentar meu pai.

Tinha prometido a mim mesma que esperaria até a tarde para ir atrás dele em busca de respostas, mas a impaciência dificultava essa espera. Não o vira antes de sair da casa, o que não era bom: caso isso tivesse ocorrido, poderia ter descartado parte do meu ódio por meio de um simples olhar mortal em sua direção. Isso não iria afetá-lo, mas ajudava.

‒ A senhorita ainda quer alguma coisa? ‒ Virgo perguntou, posta em pé ao meu lado, eu estando sentada na cadeira de praia.

Desviei o olhar das ondas por alguns segundos, apenas o tempo necessário para rapidamente olhar seu rosto e sorrir de canto. Dessa vez, passei a observar algumas crianças que corriam atrás de um cachorro, todos perseguindo uma mesma bola de borracha vermelha.

‒ Não, obrigada... Na verdade, quero algo sim: gostaria que se sentasse ao meu lado, se não fosse pedir muito.

‒ M-mas Hime... ‒ ela gaguejou, nervosa. Quando assumira o trabalho na minha casa, não fora difícil descobrir que havia sido rigidamente treinada para sempre ser formal e distante dos seus contratadores exatamente por esse tipo de reação.

‒ Por favor ‒ pedi.

Demorou um pouco, mas ela desistiu de resistir. Deixou em cima da mesa de plástico a bandeja que segurava e se sentou, alisando a saia cheia e com babados de renda que em nada combinava com o clima e local em que estávamos. Tinha dispensado boa parte dos adereços de seu uniforme para nos acompanhar, mas ainda assim me perguntava como ela suportava tamanho calor.

‒ Meu pai... O senhor meu pai te enviou para ficar me observando? ‒ passei a utilizar a linguagem que só proferia quando era Lucy Heartfilia, não mais Lucy da Fairy Tail ou Lucy qualquer coisa. Isso acontecia majoritariamente quando passava as férias apenas em família ou era convocada para algum evento.

‒ O Sr.Heartfilia esperava que minha presença dificultasse qualquer tipo de... Contato entre você e o Senhor Natsu.

‒ E o que ele busca por meio disso?

‒ Acredito que eu não esteja em posição para responder tal pergunta, Hime. Ele não gostaria que eu falasse, e se me permite... ‒ assenti, indicando que deveria prosseguir. ‒ Acho que isso deveria ser conversado entre vocês.

Virgo voltou a se levantar, então, suavemente tentando se afastar. Já bastava para ela, que não suportava ser “infiel” ao seu chefe. Segurei-a pelo braço, no entanto, como que pedindo para que ficasse, e ela assim o fez, após paralisar em uma mesma posição. Às vezes, eu acabava tendo que me aproveitar da sua obediência programada.

‒ Não, eu entendo. Também não tentei expressar que estava insatisfeita com a sua presença quando indaguei a razão de estar aqui. Foi algo incomum o ocorrido, e, quando coisas diferentes acontecem, geralmente é porque meu pai está envolvido. ‒ bufei em descontentamento. Ela estava certa, e envolve-la naquilo só lhe causaria problemas.

Eu estava prestes a libertá-la, dizer para passear, comprar algo para beber ou simplesmente voltar para a mansão quando ouvi um fio de sua voz murmurando uma sentença que tive que me esforçar para entender.

‒ Ele... O Senhor Heartfilia já não tinha gostado muito do seu namorado, Hime. Ele não pretende deixar qualquer deslize passar direto. ‒ disse e então olhou de canto para o rosado, que vinha correndo em nossa direção, saltando para que a água salvada escorresse de uma vez. Os cabelos estavam espetados, chumaços apontando para todas as direções possíveis.

Respirei fundo. Já imaginava aquilo. Não queria de modo algum passar qualquer tipo de responsabilidade para Natsu, mas Jude iria rechaçá-lo e encontrar razões múltiplas para terminarmos a cada vez que ele demonstrasse uma conduta “errônea”. O “Senhor Heartfilia” não tinha a menor vergonha de ser tão óbvio, e pior de tudo era ainda me forçar a duvidar se Jude seria mesmo capaz disso ‒ além do mais, o que seria isso? O que ele poderia tentar fazer para me convencer? Agradeci a Virgo, apenas mais um dos pares de olhos observadores do meu pai, que logo voltou ao seu posto e ofereceu uma toalha a Natsu.

Natsu perguntou sobre o que conversávamos, porém pedi que não se preocupasse. Desconversei, seria uma pena desanimá-lo quando tinha um sorriso tão bonito. Além disso, enquanto não estivéssemos na frente de meu pai, poderíamos ser nós mesmos. Fomos atrás de uma barraca de cocos, apostamos corridas, ele me carregou e me jogou na água. Ainda éramos nós dois, alegres independente das circunstâncias, e meu Jude teria que engolir aquilo.

                                                                                              ...

Dizem que quando se tem tudo, passa-se a valorizar aquilo que é difícil de ser alcançado. Para alguém com extrema competência em qualquer aspecto, qual seria a graça de não se sentir desafiado? Existia lógica no raciocínio, confesso. Se não existissem os empecilhos que dificultam uma vitória, qual seria a graça dos esportes e competições?

Não poderia dizer se era isso ou não o que motivava meu pai a ter agido ardilosamente, principalmente quando passara um dia inteiro condenando-o antes que pudéssemos trocar palavras. Ele tinha uma razão, um plano e um propósito, no entanto. Foi determinada a descobrir qual era esse motivo que entrei no seu escritório, depois de deixar todos os meus amigos na mesa de jantar ao afirmar que ia ao banheiro.

Jude estava sentado, lendo um livro antigo e de capa dura revestida de couro. Nem sempre usava os óculos de leitura ‒ era um comum forçar os olhos e dispensar o objeto ‒, mas naquela ocasião eles estavam caídos sobre a ponta do seu nariz. Assim que percebeu minha presença, fez sinal para que eu esperasse um pouco. Estava tão envolvido que não poderia deixar de terminar o parágrafo. Eu sabia como era esse sentimento. Esperei um, dois minutos. Ele fechou o livro, colocou-o sobre a mesinha de madeira próxima.

‒ E então? ‒ ele questionou-me.

‒ Você sabe do que eu vim falar.

‒ Claro que eu sei, filha. É bem do seu feitio ficar chateada por causa daquela besteira.

Franzi o cenho. Não estava irritada, ao menos não mais do que no nível comum que sempre alcançava quando estava na sua presença e ele queria me provocar.

‒ Besteira?

‒ Modo de dizer. Não deixou de ter relação com a verdade, no entanto. ‒ encarei-o até que dissesse algo a mais. ‒ Ok, talvez eu tenha me excedido, desculpe-me.

‒ Que bom que sabe. ‒ revirei os olhos, ao que ele respondeu com um olhar repreendedor. Ri de leve, um pouco irônica. ‒ Tá, não vou revirar os olhos para você. Mas porque fez aquilo? Já tínhamos conversado sobre esse assunto.

Ele se aproximou, ficando logo atrás de mim. Me analisou, tentou se aproximar, gesto que foi impedido por mim. Insatisfeito, foi a vez de Jude demonstrar decepção.

‒ O fato de eu ter sugerido o assunto e você fugido dele não significa que ele foi encerrado e menos ainda de que eu me convenci de algo.  ‒ afirmou com dureza. ‒ Aquilo não foi uma proposta, Lucy, foi um encaminhamento. Você precisa se casar com alguém na área se quiser manter tudo o que eu construí para a família. Uma vez me disse que não queria trabalhar na área, eu aceitei. Mas se você não vai se tornar a presidente, então precisamos de alguém que vá.

‒ E se eu não ligar para isso de manter a empresa e dinheiro na linhagem? Você tem milhões de empregados de confiança, imagine o bem que estaria fazendo ao que escolhesse para ser seu sucessor. Loke está incluso nisso também. Eu vou trabalhar pelo meu dinheiro, e tudo vai ficar bem.

Não. ‒ ele foi incisivo. ‒ Eu alcancei isso, quero passar para você. E, além do mais, não aceito aquele garoto.

Eu tentara não colocar Natsu no meio da conversa pelo simples fato de que sabia que isso só causaria maior polêmica. Talvez se eu alegasse que desejava me casar por amor, ele arranjasse facilmente uma lista de mil pretendentes para que eu escolhesse. “Certamente haveria de existir um pelo qual eu demonstrasse interesse.”. Loke era apenas a primeira opção, mas com um estalar de dedos ele poderia ser descartado. Porém o amor não funcionava bem assim. Até tentava entender meu pai, mas não conseguia. Romance não era o forte do dele, e, no entanto, ao que parecia eu não tinha a escolha de tentar convencê-lo apenas por um dos outros vieses da minha insatisfação.

‒ Eu não vou terminar com ele, se é isso que quer saber.

‒ Você não precisa. ‒ ele declarou.

‒ Como assim? Claro que não preciso, mas então você está sugerindo o que? Que Natsu assuma tudo ou que eu seja uma esposa infiel?

‒ Nenhum dos dois. Óbvio que o menino não tem vocação para economia, e já não te disse que não aprovo ele? ‒ Jude estava impaciente. ‒ Não vou te impedir de continuar com esse namorico por enquanto, tolerarei isso. Algum dia vocês irão terminar mesmo, não existe nem porque discutir. Depois disso, você se casa.

Senti a raiva me inundando. O discurso era tão insensível, por mais que ele possivelmente pudesse não notar, que estava perdendo as estribeiras. Eu sabia, por mais que fosse um tema bastante desagradável, que era verdade que relacionamentos bons também terminavam. Mas seria errado dizer que eu não esperava que isso acontecesse tão cedo (ou em qualquer momento) entre eu e o Dragneel?

Jude era meu pai, sim. Eu tinha que mostrar respeito, sim. Mas também podia ter minhas explosões.

‒ Realmente, você está certo. ‒ me afastei em passos lentos, caminhando até a posta pesada e a abrindo. Estava pronta para sair. ‒ Não há porque ter discussão. Mas sabe a razão? Se eu me preocupasse com a empresa, se eu me preocupasse com sua aprovação, eu hesitaria. Isso não vai acontecer, porque eu não estou dando a mínima para nenhuma das duas.

Bati a porta com força ao sair. Se meu discurso não o atingisse, o barulho poderia fazê-lo.

Os segundos correram. Esfreguei as mãos na face enquanto deslizava pela parede até o chão do corredor, respirando rapidamente. Se me sentia mal? Estava péssima. Discussões eram muito desgastantes, e por mais que ele agisse cruelmente eu não queria magoar meu pai. Não me arrependia, mas me martirizava.

Foi o som de palmas e de passos que denunciou a presença de parte da razão dos meus problemas. Ele não estava arrumado como na outra noite, dessa vez vestido apenas com uma regata cinza e bermuda caqui. Sorria descaradamente, de um modo que quase me fez querer pular em cima dele e enchê-lo de tapas.

‒ Foi um bom show o seu ali dentro.

‒ Quer o que, ridículo? ‒ abri espaço para que se sentasse ao meu lado. Ele rejeitou a oferta, preferindo ficar onde se encontrava.

‒ Achei que depois da nossa última conversa, anos atrás, você ainda estaria meio estranha comigo, assim como quando chegamos aqui. Até ontem ainda não me olhava nos olhos, me evitava como se tivesse vergonha de não querer conversar comigo e ter receio de que eu fosse te forçar a algo. Ah, isso para não me esquecer das ligações endereçadas estritamente a Áries, que eu ouvia toda santa semana. ‒ ele listava meus erros um a um, contando-os com os dedos.

‒ Estou com raiva demais para ter qualquer tipo de constrangimento. Tente amanhã, talvez eu desvie o olhar e me esconda atrás de uma pilastra.

Ele riu mostrando os dentes, sinal de que realmente se divertira com a minha declaração de ódio. Eu não costumava ser assim, ser grossa com qualquer um, mas era algo que a presença dele me permitia. Leo não era o que tinha demonstrado para os meus colegas. Bem, isso se ainda fosse o mesmo homem do qual me lembrava. Ele tinha que ser, não podia concordar com aquilo.

‒ Por que fez o que fez? ‒ perguntei, sinceramente curiosa.

Foi sua vez de murchar e desviar o olhar. Limpou a garganta antes de falar, o olhar tristonho sendo substituído pelo novamente sério.

‒ Não vou jogar a culpa para ninguém, Lucy, se é isso que você busca. Não fui obrigado a nada. Eu só falei a verdade. Não sei se foi como você queria que eu tivesse dito, mas principalmente seu namorado tinha que saber logo disso.

‒ Que verdade, Loke? Até parece que nós estamos ou algum dia vamos estar em qualquer tipo de relacionamento. Nós nunca nem tivemos qualquer tipo de interesse um no outro, e você não me forçaria a um casamento sem amor.

Antes de prosseguir, ele me ergueu do chão com um puxão de braço.

‒ Venha cá, Lucy. Precisamos conversar em um local... Mais reservado. ‒ com os olhos, indicou a porta logo ao meu lado.

Entendi a mensagem, ainda que achasse difícil meu pai ter considerado nos escutar por detrás da estrutura de madeira. Assim, caminhamos juntos até pátio dos fundos da casa, uma mistura de jardim com espaço da piscina. O chão era revestido de pedra portuguesa azul e creme, e várias orquídeas se espalhavam pelo espaço, lado a lado de bonsais.

‒ Sabe... Você não está considerando todas as possibilidades. E... E se eu disser que nesse último ano desenvolvi sentimentos por você? Que pedi para seu pai que insistisse?

Ele pegou uma de minhas mãos, colocando-as entre as suas. Seu toque era delicado, e deixei-a lá por alguns momentos, ponderando a pergunta. Não tive nenhuma mudança de espírito, mesmo após observar sua suposta expressão apaixonada. Recolhi meu braço, entranhando aquilo.

‒ Você está mentindo. ‒ recuei. ‒ Não sei a razão, mas está. Esperava que fosse me ajudar a convencer meu pai, apesar daquela atuação ridícula ontem.

‒ Não estou mentindo, estou tentando te ajudar.

‒ E como aceitar me casar com você iria me ajudar?

É como eu havia dito, tomada pelo ódio, para meu pai: eu não iria ceder. Nas tramas, em geral as garotas teriam medo da reação dos pais pela possibilidade de rejeição ou sei lá mais o que, e então poderiam agir de acordo com esse receio. Eu, por outro lado, via a situação de outro modo.

Odiaria que Jude se afastasse, que tivesse raiva de mim, mas me odiaria ainda mais se rejeitasse aqueles que amava para satisfazer um desejo seu. Ficaria devastada se meu pai me renegasse, verdade, e esperava que houvesse outra opção, mas estava claro para mim que quem estava errado era ele, não eu. Em meio a esse conflito, entre bater de frente ou não, eu escolheria o correto e depois lidaria com ele, com as consequências. Além disso, verdadeiramente não existia muito que ele pudesse fazer para separar Natsu de mim além de nos ameaçar. Em mim, ao menos, palavras não surtiriam o efeito almejado.

‒ Talvez você não veja isso, mas sou melhor do que os outros caras que meu tio considera. Não estou atrás do seu dinheiro e realmente me importo com você. ‒ ele ergueu as sobrancelhas, como que mostrando que grande partido era.

‒ Não serve só me ajudar? E, além do mais, que vantagem você teria com esse casamento? Se fosse por esse motivo nobre que está dizendo aí, era só achar outro homem de bom caráter que topasse um casamento arranjado e tudo estaria resolvido. Com certeza você conhece alguns... ‒ ele abriu a boca para responder. ‒ E não venha dizer que é porque me ama!

Loke então ficou calado. Acho que nem ele conseguia encontrar uma resposta adequada para minha pergunta, não sem demonstrar alguma parcela da sua falsidade. Girou no próprio eixo, foi até a sacada do pátio e retornou. Ainda não tinha recuperado a segurança de mais cedo, mas já tinha elaborado algum tipo de discurso.

Foi com rapidez que ele enlaçou minha cintura e me trouxe para perto, quase como se eu fosse uma boneca de pano. Ele também estava nervoso ‒ algo inédito quando se tratava de garotas ‒, então o movimento não foi dos mais gentis. Estava tão chocada que, por mais que milhões de possibilidades se formassem na minha mente (dele estar louco, dele tentar me agarrar, de ser tudo apenas uma falsa impressão minha), não me movia. Deixei que seu indicador erguesse meu queixo até que eu olhasse diretamente em seus olhos amendoados, arregalados. Eu estava com um pouco de medo.

Ele deve ter sentido meu tremor, já que diminuiu o aperto de seus braços e me deixou respirar antes de continuar. Tive que espalmar minhas mãos sobre seu peito para forçar a abertura de mais espaço, ao que ele cedeu com hesitação e dificuldade. Talvez um pouco perdido, procurou outro modo de expressar o que desejava, não mais escondendo suas verdadeiras emoções. Ele estava muito estranho.

‒ Só não vou te beijar porque te respeito, Lucy. ‒ ele alcançou uma de minhas bochechas, fazendo carinho por ali com o polegar. ‒ Mas pense bem: seria tão ruim ficar comigo? Você deveria começar a considerar essa possibilidade.

Ele se inclinou, eu tentei recuar, ele me segurou no lugar e me deu um beijo rápido na testa. Virou-se, marchou para longe, mas não antes que eu pudesse ver a expressão em sua face.


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Notas finais do capítulo

(Eu vou começar a responder os reviews de um jeito diferente, então, se quiserem, mandem perguntas! Basicamente vai ser um áudio em que eu respondo a todos vocês, mas só mostrando para entender.)
O que acharam? Comentem!



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