Summer escrita por CarolHust


Capítulo 5
O Caso de Juvia Lockser. - Na calada da noite


Notas iniciais do capítulo

Heiiii o/

Esse capítulo estava pronto desde a semana passada, mas eu queria postá-lo junto com um de Socialmente (A)normal (o que não vai acontecer, porque não deu tempo) -_-'. Infelizmente, minhas aulas estão de volta,o que significa que só tenho mais umas três semanas antes de começar a não ter mais sábados por contas das provas. Até lá, porém, vou viver em uma ilusão feliz. Inclusive, uma das coisas que eu queria avisar ter relação com isso: com as aulas, além dos três projetos de histórias em que estou trabalhando, talvez o ritmo aqui diminua um pouco. Me desculpem, mas é algo que não posso evitar.
Obrigada a todos que comentaram no capítulo passado, vou terminar de respondê-los logo. Ah, importante! Sempre me esqueço disso, mas é só para dizer que podem me contar as reações de vocês em alguns momentos específicos. Rio muito das quedas de escadas, gritos ou tropeços.
O bug do capítulo passado foi corrigido! Não sei o que aconteceu, mas acho que vocês perceberam que os parágrafos estavam com os adentramentos estranhos. Eu tentei corrigir várias vezes, mas só agora tentei de um modo que deu certo.
(Na terceira vez que tentei, eu tinha até conseguido, mas aí a internet caiu e minha conta desconectou. Parece que é obra do destino para me irritar, porque essa situação acontece de dois em dois capítulos quase, e é SEMPRE no Nyah!. Aí acabo jogando tudo pro alto, porque, sinceramente, eu ia ter um treco se continuasse tentando depois de cair duas vezes seguidas).

Boa leitura ;)



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Era só qualquer um olhar para Natsu que saberia o quão ruim em ficar irritado ele era. O rosado era acostumado a brincar, fazer palhaçadas, rir e receber sorrisos de volta. Ninguém tentava chateá-lo visto que era difícil fazê-lo, com sua alta tolerância, e também porque era quase instintivo se apegar a ele. Era gentil demais. Mas até os gentis tinham seus limites.

A linha profunda de tensão no meio da sua têmpora só deixava mais claro o quanto ele se esforçava para manter o mal humor. Por não ter experiência em conservar a revolta por muito tempo, já que as discussões em que se metia eram sempre bobas, de vez em quando ele se esquecia da pose que resolvera adotar e olhava Lucy de esguelha no outro lado da sala, na expectativa de que ela não notasse. Logo depois, parecia se confundir ao procurar a razão para se preocupar com ela – uma vez que tinha um enorme motivo para estar odiando-a naquele momento −, balançava a cabeça como se para afastar as ideias e voltava ao seu confinamento. Lucy também estava com uma expressão estranha e os nervos à flor da pele. Os dedos estavam enfiados entre os fios claros, já embaraçados de tanto serem revirados por aquelas mãos inquietas.

E eu já não estava aguentando mais. Estávamos confinados naquele cômodo há mais de uma hora, cada um isolado em um dos quatro cantos da sala. Nenhuma tentativa de interação vingara, conquanto nossos amigos haviam nos colocado ali exatamente para resolvermos nossos problemas internos. Era óbvio que eles também desejavam fazer parte do momento, mas estavam conscientes de que essa não era a prioridade.

A sala de estar tinha sido o primeiro lugar avistado quando todos nos apressamos atrás de Lucy (como uma horda de seguidores que não iriam enfrentar Jude), que saíra de perto da massa de jantar marchando de volta ao andar superior e puxando Natsu ­– tudo isso após observar o sorriso satisfeito de seu pai ao ver o seu namorado ficar vermelho de revolta e humilhação. Ainda que nossas questões fossem distintas, eles acharam melhor que toda a raiva (a minha, a de Gray, a de Natsu e a dela) fosse abandonada de uma vez ali. O problema era que, mesmo depois de tantos olhares cruzados e suspiros, nenhuma palavra havia sido dita. Tinha consciência de que já devia estar evidente o meu desespero, minha raiva e culpa, porém esconder isso só causaria mais alvoroço depois. Tinha que parecer minimamente culpada – mesmo que não precisasse fingir para isso −, ao menos para amolecer aquela figura de aço a dois metros de distância.

Gray, é claro, não tivera a mesma reação que Natsu: o mais alto não tinha o menor problema em me encarar como se desejasse que eu me desintegrasse naquele momento. Não me importaria se isso acontecesse, no entanto. Pelo menos estaria livre do que estivesse por vir. Eles eram diferentes, eu sei... Mas esperava que o moreno ainda estivesse disposto a me ouvir antes que proferisse qualquer acusação. Não queria brigar. Não por causa de Bora ou qualquer coisa do meu passado, e achava que Lucy também não estava muito a fim de discutir sobre Loki (ou Leo, o que fosse).

Só que ficava mais difícil tomar a iniciativa quando aquela atmosfera estranha dominava o ambiente. Nos primeiros quinze minutos após o pensamento me ocorrer, usei-o como justificativa para não agir. Depois disso, sabia que estaria sendo ridícula se continuasse parada.

Relembrei das cenas de mais cedo: o susto, o sorriso de Bora, as piadinhas infames, o modo como meu corpo chocou-se com certa violência contra o de Gray quando ele quase me arrancou do meio daquela multidão, a felicidade um pouco sádica ao ver Bora curvar-se em uma tentativa de proteger sua barriga dolorida pelo soco e arfar, seus chamamentos insistentes enquanto eu ia embora. Não esperava o encontrar novamente, mas por precaução achei que deveria me precaver e explicar o que realmente ocorrera antes que mais mal-entendidos pudessem surgir. Se Bora soltasse alguma informação inesperada, seria complicado.

Comecei pelo básico, aquilo que sabia que deveria fazer e que sabia que o moreno desejava ouvir: minhas desculpas. Não via como um gesto de “rebaixamento” – algo que ferisse meu suposto orgulho − eu admitir que estava errada em parte. Eu poderia sim ter contado sobre Bora, mas não achara necessário nem atrativo. Era um infortúnio que considerara desnecessário, assim como Gray que não ficara comentando sobre as garotas “x”, “y” e quem sabe mais com quem ele já poderia ter ficado.

Ok, até chegar a essa conclusão eu levara certo tempo, tivera que acalmar um pouco meus nervos e relembrar-me de que, apesar de tudo, o Fullbuster era justo.  Esperava que ele soubesse que eu não lhe contara sobre aquilo não por falta de confiança ou qualquer outra coisa negativa, tal qual minha história com Bora ter sido muito importante para mim ou ainda ser.

Eu fui lenta ao me aproximar dele, tentei ser silenciosa e olhava o chão enquanto sabia que estava sendo observada por todos ali. Em busca de apoio, me voltei para Lucy por um momento, e ela apenas confirmou com um aceno de cabeça: eu deveria começar, ela iria me ajudar e logo acompanhar. Gray me encarou nos olhos assim que notou meus passos tímidos em sua direção, com uma severidade que pedia por palavras. Parei na sua frente, respirei fundo.

− Gray-sama, não é o que pareceu... Tipo, é e não é, acho que deu para notar que ele é meio sem noção e... Sinto muito— tentei não vacilar, mas foi quase impossível. Poderia começar de tantos modos que acabei me confundindo. Soltei o ar de vez. – Mas é que eu nunca nem imaginei que algo assim pudesse ocorrer.

Ele revirou-se em seu lugar, inquieto. Estalou a língua, me analisou antes de tomar qualquer decisão. Não queria ouvir uma rebordosa, mas sabia que era uma possibilidade. Já esperava por ela, na verdade.

− Você não poderia ter me dito algo sobre isso antes? O mandado calar a boca mais cedo, sei lá? Ter saído correndo? – ele gesticulava com força. Não foi uma surpresa para mim ouvir um tom levemente acusatório, mas além disso ele ainda estava confuso, e, pior, disfarçadamente meio triste. – Não sei se dava para evitar aquilo, mas poxa, Juvia. Não dá para eu dizer que está exatamente tudo bem.

− Eu não queria lembrar dele, err... Não foi uma história muito agradável.

− O que aconteceu, Juvia? Vocês realmente...? – Lucy, sentindo-se para baixo por Natsu ainda não a encarar de frente, perguntou. Limpou a garganta. – Vocês realmente namoraram?

Neguei com a cabeça. O que o azulado dissera não era uma total mentira, mas havia exagero ali.

− Então como é que ele chegou cheio de toques para cima de você? Alguma coisa aconteceu. – Gray fez uma cara estranha enquanto demonstrava sua irritação. Deveria estar se lembrando da atitude de total conforto que Bora tivera ao meu redor.

− Não é como se nada tivesse ocorrido, mas não namoramos sério. Bora foi, como posso dizer, − hesitei antes de continuar. Aquilo era ruim, mas eu devia explicações. É, tinha que falar tudo. – o primeiro garoto a mostrar interesse em mim de verdade, mesmo depois de me conhecer e conversar comigo. Ele lançava umas indiretas quase sempre, e acho que eu fiquei meio encantada, já que até então só tinha Gajeel. Eles nunca se gostaram, mas Gajeel o engolia pelo meu bem – ressaltei. Na época eu não ouvia muito às reclamações do roqueiro. – Aí eu acabei me deixando levar. Só que foi bem rápido, questão de um mês ou dois, e tudo sendo levado sem muito compromisso. Quando as coisas ficaram sérias e problemáticas, logo antes de eu sair da Phantom, Bora já estava longe e não deu notícias.

Essa era uma versão resumida dos fatos, mas não precisava me estender. Era humilhante falar daquilo, porque sabia que ficara cega desde que ele pegara na minha mão pela primeira vez, ou me disse o quão bela eu estava. Bora era mais velho, bonitinho, engraçado e estava disposto a passar tempo comigo. Não, ele não fingia ou tentava me pregar uma peça, mas não combinávamos e não posso dizer que eu algum momento eu tivesse estado verdadeiramente apaixonada. Eu estava em transe com a ideia de ter alguém que olhasse para mim, não necessariamente com a ideia de ter Bora. E, depois de um tempo, isso inevitavelmente foi ficando claro: não tínhamos nada a ver um com o outro. Por isso não queria me lembrar: foi um tempo nebuloso e cheio de mágoas.

− Mas o que Gajeel quis dizer com “tudo o que ele já te disse”? – pela primeira vez, Natsu falou algo. Quase nos assustamos pela sonoridade estranha da sua voz, mas ao menos ele tentava. Sua pergunta, no entanto, foi o que também me fez ficar um pouco mais desconfortável.

− Acho... Acho que ele se referiu ao modo como tudo terminou — minha voz embargou no fim da frase, por mais que eu tentasse evitar aquele tom fino estranho. Coloquei um sorriso na face, então, para me esquecer a fazer com que eles nem percebessem que era ruim lembrar daquilo. – Bora esperava mais de mim. Ele achava que eu ia rebater quando proferiam alguma ofensa, ia me revoltar como ele fazia quando tentavam ser muito petulantes perto dele. Só que eu não era assim. – dei de ombros, derrotada. – Ele ficou decepcionado e disse o que achava da minha atitude. Depois, sumiu.

Me sentei no sofá ao lado de Gray, cansada. Nem tinha pensado se ele ainda estaria irritado comigo, não considerando esperar sua permissão, mas quase me assustei com o fato dele ter, com um dos braços e com certa rudeza, envolvido meus ombros e me puxado para perto. Estava com a cabeça em seu peito, ele alisando meu cabelo, de modo que se eu me concentrasse podia ouvir as batidas do seu coração.

O moreno ainda estava com ciúmes, eu sabia, mas pereceu preferir esquecer isso por um momento para me ajudar a me recompor. Tinha que agradecê-lo por tal: deveria ser horrível ter que consolar-me a respeito das minhas memórias com outra pessoa.

Eram em momentos assim que eu percebia o quanto tinha valido a pena tudo o que eu fizera para chegar até ali. Eram em situações daquele tipo que Gray demonstrava suas melhores qualidades. Ainda que fosse contraditória sua expressão com o que ele fazia, sabia que era o seu máximo no momento. Aconcheguei-me naquele espaço limitado.

− Isso não significa que está desculpada. – ele resmungou, e eu apenas aspirei um pouco mais daquele odor de maresia que ele emitia.

Assim que me viu calma, infelizmente, ele me libertou. Poderia ser apenas porque não estávamos sozinhos, mas imaginava que havia algo a mais se passando pela sua mente. Foi então que notei que Lucy já estava de pé, já mais próxima ao rosado, e nos olhou brevemente.

− Será que teria como...? – ele pediu, tentando ser sutil.

Nós assentimos e nos prontificamos a sair. Para nós, as coisas não estavam tão “perfeitas” assim, mas eles definitivamente estavam pior. Sendo conhecidos como o casal da calmaria e da falta de brigas, a primeira tempestade a surgir poderia ser também a mais devastadora.

Assim que tentamos abrir a porta, notamos que não mais estava trancada. No corredor, porém, ouvimos o som da corrida apressada dos que provavelmente estiveram escutando tudo o que dissemos por detrás das portas ou na beira das escadas. Não me importei: ao menos, assim, não precisaria ficar repetindo a informação.

Gray me acompanhou até a frente do meu quarto. É meio ridículo eu considerar isso algo importante quando o dele se localizava a cerca de três portas de distância, mas ele tinha algo a dizer, e só isso já revelava que seu humor estava melhorando:

− Eu ainda preciso de um tempo para engolir tudo isso. – ele soltou, até um pouco aliviado.

− Eu entendo. – declarei, aproveitando que não havia ninguém ali para tentar capturar suas mãos. Ele aceitou meu pedido silencioso, mas não as apertou de volta.

− Não é como se eu achasse que você não poderia ter se envolvido com ninguém além de mim, mas... Fiquei um pouco surpreso. Além de não dizer nada, você sempre pareceu tão...

Inexperiente?— indaguei com uma expressão um pouco engraçada. Sabia o que ele queria dizer. – Inocente? Não acho que as coisas que aconteceram entre eu e Bora tenham valido tanto como uma primeira tentativa, então eu acabei por considerá-las “descartáveis”. Ou algo assim. Não pareceu ter sido de verdade.

− Mas foi de verdade— ele me advertiu, firme. Eu baixei o olhar novamente. Gray deu alguns passos para trás, afastando suas mãos e colocando-as nos seus bolsos. – Desculpe. Não queria fazer isso piorar. Estou com muita coisa na cabeça e não consigo parar de imaginar situações idiotas com você e ele. Estou com algumas vontades meio loucas também.

Não pude conter um curvar de lábios leve. Ele mesmo admitia que o que pensava era besteira, mas mesmo assim continuaria a fazê-lo. Talvez fosse melhor deixá-lo sozinho, eu também precisava de um tempo. Me aproximei para tentar abraçá-lo, mas recuei quando ele reagiu impulsivamente se afastando.

− Boa noite, então.

Tentei, depois de um suspiro, me voltar para meu quarto e me despedir daquela noite, mas ele me impediu. Sua mãe pousava levemente sobre o meu pulso, mas isso fora o suficiente para que eu parasse. Achava que já tinha terminado, mas não. De todo modo, ficaria com ele o tempo que desejasse.

Com um som interrogativo, me voltei novamente em sua direção.

− Posso perguntar algo? – ele estava sério, apesar das orelhas um pouco avermelhadas. Elas sempre me confundiam, já que eram as únicas partes do corpo dele que Gray normalmente não conseguia controlar para mascarar sua vergonha.

− ...Sim. Acho.

Até onde... Melhor, esse garoto já fez muito mais do que ele fez hoje com você?

− Gray-sama! – enrubesci involuntariamente.

Que tipo de pergunta era aquela?!

Gray não estava de brincadeira, no entanto. Com o olhar firme, ele esperava minha resposta como se aquilo fosse uma questão de orgulho.

− Você sabe que eu sou assim. – ele me afrontou.

− Assim como?

 − Ciumento. – ele não teve um pingo de vergonha.

Revirei os olhos. Sim, situação engraçada se eu me relembrar, mas ao vivenciá-la tudo o que consegui fazer foi tentar desenvolver o poder de controlar qualquer gagueira e parar de suar de nervosismo. Era estranho falar com Gray sobre aquilo.

− Nós nos beijamos cerca de duas vezes. – fui sincera. – Uma logo no início, outra depois de uma competição dele. Mas foi só, e eu também não gostava muito. Não me sentia confortável.

Ergui as mãos para colocá-las em seus ombros, como se tentasse dizer “com você é diferente”, enquanto alisava sua pele exposta. Não sei se a mensagem foi transmitida, mas ele até esboçou o prelúdio de um sorriso.

Que bom − ele relaxou, com uma expressão até um pouco petulante. – Te conhecer mais eu sei que conheço, mas... Você sabe. Não gostaria que vocês tivessem se envolvido muito.

− ... Como assim? — tentei evitar, mas fiquei um pouco revoltada pelo final da sua fala. De receptiva, eu passara para agressiva. Ele notou isso assim que eu falei, e pareceu tomar consciência da sua mancada.

− Não! Quis dizer que... Bem, não acho que teria sido legal com um cara como ele. – ele tentou explicar que não se tratava de um orgulho masculino besta, franzindo a testa. Gray sabia que eu achava ridículas as “disputas masculinas” em que eles mediam sua virilidade ou valor baseados no quão longe foram com a garota, e já havíamos discutido bastante sobre o assunto. – E eu não gostar disso não tem a ver com “meus instintos de macho alfa”. É assim que você chama, não é? De qualquer jeito, eu posso simplesmente preferir que ele não existisse. Ele é um idiota e não gostei de ver ele perto de você.

− Você nem o conhece! – eu ri um pouco. – E tudo bem, desculpa. De novo.

− Tudo bem. Mas saiba que não pretendo conhecê-lo − continuou. − Também não espere que eu o deixe ficar a sós com você se nos virmos outra vez. – ele ditou suas “limitações”, já estando melhor humorado. Não eram nada absurdo, então concordei. Não desejava reencontrar Bora, para começo de conversa.

Me demorei antes de fazer qualquer gesto. Os sorrisos morreram, o silencio perpetuou. Eu ainda ficava um pouco nervosa quando olhávamos um para o outro sem dizer nada, porém muito menos do que alguns meses anteriormente. Ficávamos envolvidos por o clima sugestivo e eu não tinha certeza se deveria ficar quieta ou agir. Era notável que qualquer movimento poderia estragar o momento.

Não havia uma razão efetiva, mas eu não queria terminar a noite daquele modo, pensando em Bora. Sentia como se fazer isso apenas fosse me atormentar noite afora, como se eu fosse virar a noite me lembrando dele. Queria esquecer daquilo, era passado. Além do mais, não fazia nem quinze minutos que eu fora relembrada do porque eu estava tão feliz.

Ainda bem, foi Gray que tomou a atitude de levar a mão direita até minha bochecha, afastando uma mecha de cabelo. Ele fixava o olhar perdido ali. Seguiu a linha do meu maxilar, e então levantou meu queixo com a ponta dos dedos, forçando-me a mirá-lo. Suspirei de leve. Se ele estava fazendo aquilo, imaginei que seria porque já havia relevado o ocorrido. Foi com essa conclusão que, com passos um pouco vacilantes, eu me aproximei dele. Um arrepio percorreu minhas costas em antecipação.

Imediatamente após o primeiro toque sua outra mão seguiu até a base da minha coluna, onde me tocava com uma sutileza segura. O beijo, lento, foi algo processual e se tornou mais intenso à medida dos segundos. Era carinhoso e ao mesmo tempo quente. Ergui meus braços até poder tocar seu cabelo, e foi quando o fiz que ele desceu sua boca para o meu pescoço. Ele me beijava ali não pela primeira vez, os lábios deslizando sobre a pele de um modo exigente e insistente.

Gray investia em cima de mim. Quanto notei, uma de suas mãos estava espalmada sobre minha coxa enquanto a outra deslizava por algum lugar das minhas costas, logo abaixo da blusa folgada. Ela se movia vagarosamente, as pontas dos dedos dele causando uma sensação agradável.

Abri os olhos. Estava quase me encostando à porta e nem havia notado. Apenas seguindo o ritmo dele, eu também o abraçava e correspondia a suas carícias até segundos atrás, perdida no momento. E foi então que me ocorreu: o que estávamos fazendo ali? Na verdade, o que me assustou não foram os atos em si – estava muito bem até então −, mas a consciência de que eles ocorriam.

Percebendo que eu estava em choque e que tinha paralisado, Gray afastou nossos lábios e elevou a face até o nível da minha, esperando uma explicação. Devagar, também afrouxou o aperto do seu abraço.

− Juvia? – ele indagou. – Está tudo bem?

Sua feição confusa, combinada com os lábios avermelhados meio inchados e os cabelos desarrumados me permitiam uma visão para lá de agradável. Sabia que não devia estar muito diferente daquilo, no entanto. Só pelo fato de sua mão ainda se manter por debaixo das minhas roupas, eu corei absurdamente. Ainda não estava acostumada com tudo aquilo.

Deve ter sido minha demora para murmurar qualquer coisa, mas o Fullbuster acabou por sair do seu topor momentâneo e a me encarar com um sorriso de canto encantador, mas também um pouco preocupado.

− Ai, eu não acredito que seu primeiro beijo foi com um cara como aquele... – ele começou a lamentar-se.

Acabei por gargalhar. Podia esperar qualquer coisa depois daquilo, mas não ciúmes novamente. O Fullbuster até estava se divertindo com a própria insegurança, mas sabia que ali havia um pouco de verdade.

− Não consigo pensar como...

Não deixei que ele terminasse de falar. Fossem quais fossem as consequências daquilo, não existiam dúvidas de que estava funcionando para nos distrair de outros problemas, e não queria voltar a preocupá-lo ou me preocupar. Por isso, agarrei-o pela gola da camisa e o puxei em minha direção com tanta força que ele foi obrigado a se apoiar no batente da porta para não cair. Antes de novamente me deixar levar, relembrei-me de que aquilo não significava que iria acontecer bem ali, naquele momento.

Gray riu em meio ao encontro de lábios, enquanto eu me atrevia a tentar tocá-lo mais um pouco também. Em um momento em que ambos abrimos os olhos, consegui ver seriedade, afeto e um pouco de malícia nos dele. Voltei a fechar os meus: não havia nada de errado no que estávamos fazendo.

Travamos imediatamente ao escutarmos o som de vozes vindo escada à cima. Lucy? Natsu? Ou pior: Jude? Eu não sabia, mas me desvencilhei do moreno em uma velocidade incrível. Ah, verdade. Estávamos no meio do corredor.

− Vá! – proferi o mandamento com uma raiva direcionada a ninguém específico.

− Para onde?! – ele também estava com os olhos arregalados, tomado pela adrenalina. Tentou então abrir a porta do meu quarto.

Não, idiota! O que acha que está fazendo? Vai que Mira está aí dentro?! Além do mais, Natsu vai te procurar... – ele continuava parado. – Vai para o seu quarto!

Finalmente ele entendeu a mensagem. Correu até sua porta, sem se despedir, mas então parou repentinamente. Se não fosse por aquele que logo ali chegariam, eu teria lhe insultado.

O que foi agora? — sussurrei.

Ele virou-se com um sorriso travesso na boca e avançou até mim, dando-me um selinho demorado antes de finalmente se esconder atrás da porta do seu quarto. Murmurou um “boa noite” e fecho-a sem fazer barulho. Esse tempo, infelizmente, foi suficiente para que Natsu e Lucy aparecessem no início do corredor, já em silêncio.

Me apressei, tomada pelo susto, em também entrar no meu cômodo. Torci para que eles não tivessem ouvido nada enquanto me apoiava na parede, e, com um dos pulsos sobre o coração, o sentia bater feito louco. Se não fosse pelos dois, teria ficado rindo no meio do corredor por séculos. Olhei em volta: Mirajane não estava ali, então provavelmente deveria estar com Laxus. Isso me deu até certa felicidade, já que não teria que inventar desculpas para a razão de eu estar tão alterada.

Me joguei na cama, rolando sem procurar uma posição específica. Parei apenas ao notar a lua cheia que brilhava lá fora. Apesar da noite escura, a luz emitida iluminava um pouco o quarto.

Eu esperava que Natsu tivesse conseguido as respostas que queria, sinceramente. Não entendera nem metade do que se passara quando o primo/noivo e pai de Lucy tentaram explicar tudo, por isso ainda esperava pelas suas palavras, mas tinha certeza que ela não faria nada para magoá-lo. De todo modo, mesmo essa preocupação não conseguiu apagar meu sorriso. A adrenalina de quase ser pega era agradável demais, e eu tinha descoberto no que estávamos fazendo um método bastante eficaz para me desestressar sempre que necessário.

Dormi como uma pedra naquela noite, tendo a certeza de que nem sempre tudo ocorreria como eu desejava. Ainda assim, me sentia mais do que preparada para enfrentar as adversidades.


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Notas finais do capítulo

Gi-hi ;)
Comentários?
Bem, depois desse capítulo já pretendo iniciar algumas shortfics, incluindo (obviamente) a Nalu. Sei que devem estar curiosos sobre a explicação de Lucy, mas já irão saber mais sobre isso.
A respeito do que Juvia falou, sobre como Bora foi o primeiro cara a mostrar interesse nela e tudo mais... Isso é uma porcaria, sério. Já via acontecer com muita gente e já aconteceu comigo, apesar de em nenhum dos casos ter se tornado algo "real" como aconteceu entre eles. Enfim, mas o que ocupa minha mente agora, assim como provavelmente a de vocês, é o desenvolvimento do casal principal (he-he, escrever esse capítulo foi meio constrangedor, mas muito legal).

Beijos e até o próximo (*3*)



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