Coraline e o Estranho Mundo de Jack escrita por Odette Swan


Capítulo 3
Capítulo 2 - Ágata (REVISADO)


Notas iniciais do capítulo

Olá! Agora a fic tem um trailer:
https://www.youtube.com/watch?v=zwILscByACc&ab_channel=OdetteSwan

Boa leitura!



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Coraline não dormira bem aquela noite, não teve pesadelos dessa vez mas continuava tensa. A ansiedade que sentia não se devia ao fato de seu aniversário ser no dia seguinte, mas pelo fato de que alguma coisa a estava incomodando. As palavras das senhoritas Spink e Forcible, talvez? Ela não tinha certeza.

A garota se levantou, fez sua higiene matinal, calçou os chinelos azuis e desceu as escadas. Quando passou pela sala de visitas, instintivamente, olhou para dentro dela e se deparou com um espelho que nunca estivera ali antes. Ela se aproximou do objeto e se encarou nele, estava preso na parede, ele ia desde o rodapé da parede até um pouco acima de sua cabeça. A moldura era feita de uma madeira escura e ornamentada com espirais deformados, o vidro estava tão límpido que poderia refletir a alma de quem se olhasse nele. O que intrigou a menina foi o fato de que ele estava sobre o lugar onde ficava a pequena porta.

— Mãe! - Sem resposta - Mãe!

— O que foi Coraline? - Sua voz ecoou impaciente da cozinha.

— O que esse espelho está fazendo aqui?

— Eu comprei de uma senhora no centro da cidade!

O espelho era semelhante ao que ficava no final de um dos corredores da casa, o mesmo onde viu seus pais presos quando a Bela Dama os capturou. Coraline não disse mais nada, continuou encarando seu reflexo até que um arrepio inexplicável percorreu seu corpo, ela achou melhor sair dali e ir tomar seu café da manhã.

[...]

— Parabéns pra você…

As várias vozes cantavam a famosa música comemorativa para Coraline, ela sorria e olhava para todos, passando por cada rosto cuidadosamente. Estavam na sala de visitas. O bolo fora pensado para que combinasse com Coraline em todos os detalhes; era redondo e baixo, a cobertura era azul com decorações de flores brancas e pequenas estrelas prateadas. Duas velas, também prateadas, exibiam um enorme número 14. Quando a música acabou, os convidados se dispersaram pela sala, enquanto consumiam os salgados e doces encomendados pela mãe de Coraline. Os convidados optaram por deixar os presentes em cima de uma mesa para que a menina os abrisse mais tarde, porém alguns amigos faziam questão de vê-la abrir os presentes no mesmo momento.

— O que é isso senhorita Spink?

Coraline segurava um objeto artesanal, aro redondo feito de salgueiro com vários fios atrelados, em seu centro formava uma espécie de teia com desenhos disformes, havia uma pedrinha azul no meio e, nos fios que estavam pendurados, havia algumas circunferências menores com penas e contas coloridas.

— É um filtro dos sonhos, querida.

Coraline segurava o objeto próximo ao rosto e o observava com curiosidade.

— Pra que serve?

— Separa os sonhos das energias ruins.

— E traz boa sorte e sabedoria. - Completou a senhorita Forcible.

— Pendure em algum lugar sobre sua cama, querida. - Sugeriu April. - Miriam onde está o seu presente?

— Bem aqui. - Ela entregou uma pequena caixa redonda feita de madeira, com um laço rosa em cima.

Quando Coraline abriu se deparou com uma pulseira prateada com pingentes em formato de libélula, imediatamente ela a colocou no pulso.

— Obrigada senhoritas Spink e Focible. - Coraline abraçou as duas senhoras.

— Ah, Caroline. Está ficando velha, não? - Comentou animadamente o senhor B.

O senhor B, alto e esguio, chamava atenção no meio dos convidados, tanto por seu porte físico quanto por sua reputação, contudo sua humildade e ingenuidade não permitiam que determinados incômodos fossem notados por ele.

— Pois é.

— Isto é para você. - Ele entregou a ela uma sacola de veludo colorido. - Os camundongos me ajudaram a escolher. - Disse abaixando-se até ela com uma mão cobrindo o rosto para que as outras pessoas não ouvissem seu comentário.

Ela abriu a sacola e de dentro dela tirou uma boneca russa.

— Que linda.

— Essa matrioska é muito especial, pertenceu a minha mama que ganhou da minha babushka.

A boneca tinha o formato sinuoso e arredondado, típico de uma boneca russa, a pintura da roupa era vermelha com detalhes dourados e o rosto com feições tão delicadas que estimulavam o receio de tocá-lo.

— E o senhor quer que eu fique com ela? - Perguntou com um tom incrédulo de entusiasmo.

— Certamente.

— Obrigada senhor B. - Agradeceu sorrindo.

Os pais de Coraline disseram que dariam o presente deles mais tarde, a garota guardou os presentes em seu quarto e voltou para a sala.

— Parabéns, Coraline.

A voz de Wybie se fez presente às costas de Coraline enquanto uma mão travessa bagunçava seus cabelos.

— Obrigada, “Wybobãoborne”. - Falou dando um soco de leve no ombro do garoto. Os dois riram.

— Então, quer pegar um pouco de ar?

— Tá bom.

Coraline e Wybie saíram para a varanda deixando os outros convidados para trás. Ambos se sentaram na escadaria.

— Fico feliz por você ter vindo. - Comentou Coraline.

— Essa festa não teria graça sem uma lesma gigante.

— Não na mesa da cozinha.

— Eu não tive culpa. – Disse coçando a nuca. – Ela escorregou da minha pinça e pulou pela janela.

Coraline deu outro soco no ombro de Wybie.

— Ei! – Exclamou colocando a mão sobre o local. – Por que fez isso.

— Porque você é um idiota.

Ambos riram.

— Wybie - Ela exitou por um instante. - Você me acha esquisita?

— Acho.

— Ei!

O garoto riu.

— Ser esquisito é legal. Olha só pra mim.

Wybie colocou os indicadores nos cantos da boca, puxando-os, e fez uma careta deixando os olhos vesgos.

— Para! - Coraline gargalhava.

— Mas por que a pergunta? - Ele desmanchou a careta.

— Sei lá... às vezes eu me sinto estranha. - Com os cotovelos sobre as pernas, apoiou o queixo nas mãos. - Acho que ainda estou deslocada.

— Acho que isso é bobagem.

— Pra você é fácil falar, todo mundo é seu amigo.

Nesse momento o gato preto apareceu na base do corrimão da escada e ficou encarando os dois.

— É besteira pensar nisso. Você é ótima com as pessoas, o colégio é um saco. Existem vários jeitos de se fazer amigos e você tem vários.

— Você pode ter razão. - Ela sorriu.

Wybie segurou uma das mãos de Coraline.

— Você é a pessoa estranha mais incrível que já conheci.

Coraline sorriu e levou seus olhos às mãos entrelaçadas, Wybie soltou-a rapidamente e colocou a mão na nuca com uma expressão de nervosismo e ansiedade.

— Ah, isso aqui é pra você.

Wybie tirou do bolso um colar feito com um cordão amarronzado, nele estava pendurada uma pedra azul.

— Obrigada. - Coraline rapidamente o colocou no pescoço.

— Eu li que a ágata significa coragem, longevidade, amor, cura, proteção e jardinagem.

— Jardinagem?

— É o que estava escrito. - Ele deu de ombros. - Acho que combina com você. - Completou encarando o nada.

— Eu adorei. - Sorriu.

Os dois se encararam por alguns segundos até o pai de Coraline aparecer na porta.

— Coraline, as senhoritas Spink e Forcible querem se despedir de você.

Coraline e Wybie se levantaram, ele colocou as mãos nos bolsos e ela encarou o pai, que notou a presença do garoto.

— Oh, espero não estar interrompendo nada.

Coraline arregalou os olhos.

— Pai! - O repreendeu.

— O que foi? - Ela apenas bufou e entrou em casa, Wybie a acompanhou.

As senhoritas Spink e Forcible se despediram de Coraline e desceram para seu apartamento, o senhor B. foi em seguida. Coraline acompanhou Wybie e a avó dele até a porta.

— Tchau Coraline.

— Tchau senhora Lovat, foi um prazer revê-la.

A avó de Wybie foi descendo as escadas vagarosamente enquanto o garoto se despedia de Coraline.

— Bom… - Ele coçou a nuca. - Até mais Coraline. - Dizendo isso, ele deu um rápido beijo na bochecha da menina e apressou o passo para acompanhar sua avó.

Coraline ficou quase sem fala por alguns segundos e só consegui murmurar um “tchau” que ela nem tinha certeza se fora ouvido. A garota trancou a porta e foi para a sala sem comentar nada com os pais. Àquela altura o gato já havia desaparecido como de costume.

— Coraline. - Chamou a mãe. - Esse é o meu presente.

Coraline abriu a caixa retangular embrulhada em papel de seda, dentro havia um casaco de veludo azul.

— Era esse que você queria?

— Uhum. Obrigada.

— E esse é o meu.

Na pequena caixa cinza que ganhara do pai havia um cartão escrito “Para minha pequena exploradora”, ela abriu a caixa e dentro havia uma lupa, um binóculo, uma bússola e um caderno com estampa de flores.

— Pra que o caderno?

— Pra você anotar todas as suas descobertas.

— Obrigada.

Coraline abraçou os pais logo antes de soltar um longo bocejo.

— Estou ficando com sono, acho que já vou dormir.

— Eu te coloco na cama.

— Pai, eu já sou bem grandinha pra pegar no sono sozinha.

— Mas…

— Charlie, acho que ela já pode dormir sozinha sem ter medo do bicho-papão. - Argumentou a mãe enquanto Coraline subia.

— Acho que são vocês que deveriam se preocupar com o monstro debaixo da escada, ele gosta de cobras e aranhas! - Gritou Coraline do último degrau.

Coraline guardou seus presentes, colocou a matrioska na mesinha de cabeceira e fez o que senhorita Spink sugeriu com o filtro dos sonhos, o colocou na cabeceira da cama. O colar de Wybie permaneceu em seu pescoço. Ela se cobriu e dormiu rapidamente.

“Coraline andava pela floresta, algumas formas negras e pequenas surgiram ao seu redor e começaram a cantar com suas vozes sussurrantes, logo desapareceram. Ela sabia que já vira aquelas formas antes e aquilo não lhe causava receio.

Conforme ela andava, a floresta ficou cada vez mais clara, até que um feixe de luz a cegou por alguns instantes. O cenário era um tanto psicodélico, formas se mexiam vagarosamente a sua volta, formando espirais. Ela viu alguns seres se aproximarem, pareciam dourados, eram três, estavam flutuando, quando chegaram bem perto Coraline logo os reconheceu.

— É bom ver vocês de novo. - Disse aos pequenos anjos.

— Também é bom vê-la senhorita. - Respondeu o garotinho.

— Por que estão aqui?

— Precisamos avisar algo muito importante. - Respondeu a menininha de tranças.

As vozes dos anjos eram serenas e ecoavam levemente, quase de forma imperceptível, pelo espaço.

Os três anjos ficaram sérios.

— Você corre grande perigo. O poço não é mais um lugar seguro para a chave.

— O quê? Por quê?

— A Bela Dama é forte e encontrará um jeito de ir até você. - Respondeu o menino.

— Você tem que tirar a chave do poço menina. - Alertou a garotinha de cabelos e vestido longos.

— Mas como?

— Sei que você dará um jeito. - Disse a menina de tranças. - Como você já sabe, só existe uma chave, mas isso não impede que a Bela Dama se fortaleça em seu mundo.

— Quando eu conheci a Bela Dama, ouvi ela dizer que a chave havia sido feita em um lugar muito especial, você pode tentar mandá-la de volta. - Explicou a garotinha de cabelos longos.

— Como? E onde fica esse lugar?

— A senhorita é uma boa exploradora, vai achar. - Disse o menino.

As imagens começaram a rodopiar e apenas ouvia-se as vozes ecoarem conforme elas sumiam.

— Pegue a chave.

— Ache o lugar mágico.

— Derrote a Bela Dama.”


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Notas finais do capítulo

*Mama = Mãezinha
*Babushka = Avó

Até o próximo capítulo o/

Bjs no heart.



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