Ainda Vou Domar Esse Animal escrita por Costa


Capítulo 47
Capítulo 47


Notas iniciais do capítulo

E aí, pessoal? Tudo bem com vocês?
Mais um capítulo. Espero que gostem. :)



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O resto da semana foi um pouco estressante para mim. O Ricardo deve achar que gravidez é doença. No conceito dele, eu só posso ficar sentada, o dia todo, no máximo, lendo. Ele não me deixa levantar nem um dedo! Do jeito que é meio paranoico, eu não sei como ele ainda não parou de fazer amor comigo. Até a pobre da Titília está entrando na dança. Ele está empenhado em ensiná-la a não pular mais em mim.

Ele também tem seus lados bons. Eu acho que nunca vou me cansar dele beijar a minha barriga sempre que eu acordo e dar bom dia para mim e para o bebê que ainda nem formou direito. Ele pode ser um bronco na frente de todos, mas, entre quatro paredes, ele é o mais doce dos animais. Ele só precisava de alguém para doma-lo.

 Hoje ele passou a minha frente e fez o almoço. Está se tornando um hábito para ele, mas não reclamo de tudo. Eu odeio admitir, mas ele é melhor cozinheiro que eu e, se continuar desse jeito, até o fim da minha gravidez eu estarei uma bola.

—Ele não te deixou fazer nada de novo, não é? –O Moacir perguntou, com um sorriso, ao se sentar ao meu lado, no banco da varanda. E, novidade, ele não me quer mais sentada nas escadas, tanto que comprou um banco.

—Não. Eu não estou doente, Moacir. Gravidez não é doença, mas ele deve achar que é.

—Ele só está preocupado com vocês.

—Mas eu vou enlouquecer se ele me deixar parada assim. Eu nunca fui uma mulher de ficar quieta, pelo contrário. Eu sempre ficava de castigo na escola por não parar quieta. Eu cresci, mas isso não mudou muito.

—Eu sei disso.

—Será que você consegue fazer o Ricardo entender?

—Dificilmente.

—Ele era assim quando era casado com a sua primeira esposa?

—Era. Ela também ficava louca com ele. A Márcia foi uma mulher calma, tranquila, mas o Ricardo fazia a proeza de deixar ela com raiva. Eu iria estranhar se ele agisse diferente com você. Acostume-se, isso é normal para ele.

—Mas não é para mim.

—Eu nunca disse que seria fácil você se apaixonar por ele.

Eu fiquei conversando um pouco mais com o Moacir até que vi uma figura bastante conhecida vindo caminhando pela estradinha de terra batida. Puta que pariu! O que minha mãe está fazendo aqui?

—Mãe, o que faz aqui? –Perguntei, surpresa, indo de encontro a ela e a abraçando.

—Se Maomé não vai à montanha, a montanha vai a Maomé. Você não aparece tem quase duas semanas e resolvi aparecer já que o seu pai saiu com os amigos dele. Você o conhece, ele vai ficar fora a tarde toda e eu não queria ficar em casa sozinha. Agora, a verdade, o que aconteceu? –Ela perguntou.

—Não aconteceu nada, mãe. Apenas tivemos alguns im...

Ela cortou minha fala e puxou minha mão onde descansava o anel do noivado. É, isso vai ser uma conversa longa.

—Sofia Fernanda, quando isso aconteceu? –Perguntou, apontando para o anel.

—Mãe!

—E quando vocês pensavam em contar para a gente? Isso é oficial?

—Claro que é oficial. O Ricardo me pediu em casamento na semana passada.

—Por isso vocês não apareceram?

—Não foi por isso.

—Por que então?

—Eu não estava muito bem. Passei mal e depois o Ricardo também não estava bem.

—Você passa mal e não avisa a sua mãe? O que você tinha?

—Nada para se preocupar.

—Sofia...

—Tá, eu estava com meu estômago ruim, mas isso já está mais controlado agora.

—Espero que sim. Trouxe um pouco daquele bolo que você tanto gosta. –Ela falou me entregando um pote com os pedaços de bolo.

Aquilo me encheu os olhos, mas, assim que eu abri o pote meu estômago reclamou. Não que eu fosse vomitar, mas ele protestou de qualquer forma recusando o bolo e eu fiz uma careta que não passou despercebida pela minha mãe.

—Imagino também que vocês vão querer se casar o mais rápido possível, não é? –Ela perguntou.

—Ainda não falamos disso mãe, mas creio que sim. Ainda está recente e temos muito para discutir.

—Só acho bom vocês casarem antes de sua barriga apontar. Seu pai não vai ficar nada feliz com isso e acho até que, dessa vez, ele pode cumprir a promessa de capar seu noivo.

Eu gelei e devo ter perdido minha cor. Como ela sabe?

—Oi?! –Perguntei, me fazendo de boba.

—Quanto tempo?

É, ela não vai ser enganada e não vai ter sentido eu continuar o jogo. Só quero entender como.

—Como a senhora sabe?

—Eu era igual a você quando engravidei. Também fazia essas caretas para as comidas que eu adorava e você engordou um pouco. Quase não dá para perceber, mas sua barriga, que antes não existia, já está começando a querer tomar forma.

—5 semanas e meia.

—Então é verdade?

—A senhora não estava certa disso?

—Suspeitava, mas eu já errei antes.

—Mãe!

—Eu vou ser avó, de novo.

Ela me abraçou e eu chorei como manteiga derretida. Eu nunca fui muito emotiva assim. Devem ser os malditos hormônios. Estávamos abraçadas, ainda, quando o Ricardo chegou correndo e fazendo um estardalhaço por eu estar chorando. Até a Titília, que estava com ele, foi afetada e começou a latir. Minha mãe me soltou e caminhou para ele dando um pescotapa nele antes de puxá-lo para um abraço e o parabenizar pelo filho que eu vou ter.  Ela trocou mais umas palavras com o Animal, mas não cheguei a ouvir.

—Vocês estão encrencados, sabem disso, não é? –Minha mãe perguntou enquanto arrastava o Ricardo até mim. O Moacir, da varanda, assistia a tudo enquanto tentava segurar o riso. O desgraçado está se divertindo com a desgraça alheia!

—Sabemos. A senhora não vai contar para o papai, não é?

—Devia, mas não vou, não agora. Apesar de vocês terem sido apressadinhos, eu ainda quero ter mais netos além desse que você está esperando e isso não acontecerá se o teu pai capar o teu futuro marido. Eu devia capá-lo, mas estou feliz demais com a noticia para isso.

—Obrigada, mãe.

—Não me agradeça ainda. Eu não vou contar, mas vocês terão que falar. Sua barriga não vai ficar lisinha para sempre.

—Eu sei.

—Se pretendem que ele não fale muito, se casem rápido e digam depois. Ele não vai fazer nada se estiverem amarrados pelo matrimonio. Ele pode reclamar, mas não creio que passará disso.

—Eu pretendo casar com a sua filha o mais rápido possível, dona Júlia.

—Assim espero. Agora, chega de falar sobre isso. Quero conhecer o lugar que minha filha mora.

—Tudo o que a senhora quiser, mãe.

Eu o Ricardo tomamos minha mãe para conhecer a fazenda. Fizemos questão de apresentar até os animais para ela. O Cuzco, aquele bodinho sem vergonha, ganhou o coração da coroa. Ele ficou seguindo ela para tudo que é lado. A Titília é que não gostou muito, ficou um pouco enciumada. A tarde foi agradável.  Minha mãe engatou em uma conversa animada com o Moacir, uma conversa que, admito, não gostei muito já que o “bonitinho” deu para falar como eu e o Ricardo não desgrudamos um do outro. Ela só me olhou feio, mas o que eu posso fazer? Agora a merda já está feita e a barriga enxertada. Eu já não corro mais o risco de engravidar e acho melhor aproveitar enquanto ainda estou na forma para isso.

—É um lindo lugar, filha. Tanto a casa quanto o terreno. –Minha mãe comentou enquanto acariciava a Titília que estava ao seu lado no sofá com a cabeça sobre as pernas dela.

—É bonito mesmo. Há um riacho e um lago na mata. Chega a ser mais bonito ainda, mas é uma caminhada um pouco cansativa até chegar lá.

—Deve ser bonito, mas o mais importante é que daqui a alguns anos você vai poder fazer essa caminhada com o seu futuro marido e os seus filhos. Acho bacana você criar as crianças num espaço como esse.

—Criança, mãe. Não coloque o carro na frente dos bois.

—Criança, sei... Do jeito que o Moacir falou que vocês ficam, me impressiona você ter engravidado só agora. Se esse fogo continuar, vocês irão formar um time de futebol, isso sim.

—Mãe, por favor!

—É a verdade. Agradeça que sou eu quem descobriu isso. Se seu pai ou o seu irmão desconfiar que você já está igual kinder ovo, com surpresa dentro, eles matam o Ricardo e depois te enforcam.

—Será que eles iriam receber a notícia mal assim?

—No começo sim, mas depois se acostumariam. Você os conhece. Isso só iria aturar até a criança nascer. Não lembra como foi com o seu irmão e a Patrícia?

—Claro que lembro. Meu pai não gostava muito da Patrícia e gostou menos ainda quando ela engravidou, mas caiu de amores por ela e pelo Fabinho assim que ele nasceu.

—Com o Ricardo não vai ser diferente, mas não deixe que eles saibam disso.

—Não vou.

Ela ficou um pouco em silencio e olhou ao redor antes de falar e admitir aquilo que eu sei que ela não queria:

—Ele é um bom homem. Você sabe, não é?

—Sei.

—Eu fico feliz que finalmente você arrumou um bom homem. Sem ofensas, Sofia, mas você sempre teve um dedo podre para namorados. –Quanta sinceridade!

—Mãe, eu sei que não tinha muito bom gosto, mas precisa jogar na minha cara?

—Preciso. É bom comparar as opções e, de longe, o Ricardo é o melhor, apesar de ser um pouco velho e de segunda mão.

—Agora a senhora está falando igual ao papai.

—Não é muito animador ter um genro quase da minha idade.

—A senhora é 12 anos mais velha que ele.

—Não é muita diferença e você é 16 anos mais nova.

—Também não é muita diferença.

—Mais do que a minha diferença.

—Será que podemos esquecer essa coisa da idade?  Eu o amo e ele me ama, é isso que deve importar.

—Eu sei, mas é um pouco estranho isso, mas eu me acostumo, com o tempo.

—Obrigada.

—Mas eu me acostumaria mais se vocês já fossem casados. Eu vou poder ajudar com os preparativos, não é?

—Isso é chantagem, sabe disso, não sabe, mãe?

—Prefiro pensar como um incentivo para melhorar minha impressão dele.

O Ricardo entrou na sala e se sentou em sua cadeira. Eu saí do sofá e fui me sentar no colo dele. Minha mãe me olhou com cara de poucos amigos e o Animal ficou mais vermelho que um pimentão.

—Vocês nem colocaram o primeiro filho para fora e já estão treinando para fazer outro? Não façam isso na frente do Wagner, ele enfarta. –Ela advertiu.

—Nem morto, dona Júlia. Não quero ser capado. –Ele brincou.

—Imagino que não. Para isso não acontecer, acho melhor vocês prepararem o casamento de uma vez.

A partir desse ponto a conversa seguiu em quando nos casaremos. O Ricardo sugeriu no próximo mês e eu quase tive um treco quando minha mãe concordou. Alô? Eu estou aqui! Eu protestei um pouco e acabamos num acordo para daqui a um mês e meio. Eles tinham um ponto válido: Eu estou grávida e não posso esperar demais. Marcamos um almoço aqui para a próxima semana para dar a notícia. O João fez a gentileza de levar minha mãe para casa no final da tarde.

Não posso falar que estou muito animada para esse almoço. Vai ser um pouco estranho ter meus pais, meu irmão, minha cunhada, meus sobrinhos, o Ricardo, o Moacir, o João e Titília num mesmo ambiente. Queria que minha família fosse menos complicada. Pela cara do Ricardo eu também não posso dizer que ele esteja muito animado. Isso vai ser interessante, se é que posso chamar assustador de interessante.

Continua.


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Notas finais do capítulo

Agradeço por lerem. Se desejarem, deixem vossa opinião. :)
Até mais e um forte abraço, pessoal!



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