Ainda Vou Domar Esse Animal escrita por Costa


Capítulo 48
Capítulo 48


Notas iniciais do capítulo

Fala pessoal. Tudo bem com vocês?
Mais um capítulo. O almoço em família com um pouco de confusão.
Espero que gostem.



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Não era uma boa coisa a pressão de que minha família viria nos ver e que teríamos que dar a notícia do casamento. Eu e o Ricardo tentamos não pensar sobre isso para o resto da semana, mas a pedra estava nos nossos sapatos para incomodar. Não conseguimos nosso objetivo.

O almoço é amanhã e nós não tínhamos a mínima ideia do que fazer. Não seria muito legal um macarrão para um almoço de noivado. Lasanha é melhorzinho, mas o idiota do meu irmão não gosta muito disso. O Ricardo sugeriu risoto de frango, mas minha mãe não é muito fã de frango desde que viu minha avó degolar uma galinha. Resultado: Decidimos caprichar para a sobremesa com um bom bolo e sorvetes e fazer um churrasco para o almoço. Churrasco é uma zona segura e toda minha família é meio carnívora. Vai dar certo. Espero.

Eu saí com o Ricardo e compramos tudo o que precisávamos no mercado e algumas coisinhas a mais, só para garantir. Assim que chegamos em casa, estranhamos ao ver uma rural antiga, azul e branca, parada no local que a nossa caminhonete fica. Estranho.

—Conhece? –Perguntei assim que saímos do carro.

—Nunca vi.

—Será que aconteceu alguma coisa? Você não é muito de receber visitas.

—Eu sei. Isso é um pouco anormal.

Paramos de tentar adivinhar e criar teorias, pegamos as bolsas no carro (tá, o Ricardo pegou, ele não tem me deixado carregar peso) e entramos. Quase fui derrubada por uma Mariana louca vindo pular no meu pescoço e gritando no meu ouvido. Acho que já sabemos de quem a rural é.

—Tia Sofi, tia Sofi, tia Sofi! Diz que é verdade que eu terei um priminho ou uma priminha. –Ela pediu, pulando como um cachorro que fica feliz ao ver o dono.

—Você terá.

Ela gritou e saiu para abraçar o Ricardo, que ainda estava cheio de bolsas. Por pouco os dois não acabam no chão. O Moacir recolheu as compras antes que a Titília atacasse as carnes num momento de distração.

—O que você está fazendo aqui, Mariana? E que carro é aquele lá fora? –O Ricardo perguntou com falsa irritação.

—Achei que estaria feliz em me ver, tio. Olha que eu vou ficar magoada.

—Mariana, estou falando sério!

—Eu vim para morar com vocês.

O Ricardo travou e eu travei. Essa garota fez merda.

—Como?! –O Ricardo perguntou.

—Se vocês me deixarem. Também não quero incomodar.

—Você sabe bem que essa casa é tão sua quanto minha. Só quero entender os motivos. O que aconteceu? E os seus estudos?

—Eu consegui transferência para cá. Não aguento mais aquilo lá, tio.

—Alguém te fez alguma coisa? Se alguém te fez alguma coisa basta falar que eu...

—Ninguém me fez nada. –Ela o cortou.

—E então?

—Minha mãe e aquele palerma que ela chama de marido se mudaram para a mesma rua que a minha. Eu estou enlouquecendo já. Eu não aguento mais aqueles dois falando mal do meu pai e do senhor. Ela pode sim ser minha mãe e eu gosto muito dela, mas não posso permitir que ela fale mal das pessoas que mais amo nessa vida. Você, meu pai e a tia Márcia foram mais mães para mim do que ela.

—Ah, tampinha, vem cá. –O Ricardo falou, a puxando para um abraço. –Você pode ficar o tempo que quiser, só não quero que se prejudique por isso. Eu me preocupo por seus estudos e seu pai também.

—Não irá me prejudicar, tio. Até prefiro ficar perto de vocês agora que vocês serão pais.

A partir desse ponto a conversa seguiu mais calma. A louca da Mariana veio dirigindo desde o Rio Grande do Sul até aqui. O Ricardo não ficou muito feliz com isso e, admito, eu também não. Ela não sabe que é perigoso sair assim sozinha parando só para dormir e comer?

Depois de alguma conversa com o Animal, ela me arrastou e nos sentamos no banco da varanda para fofocar um pouco. É claro que ela iria querer saber os detalhes sobre isso tudo e claro que ela iria notar os chupões que o Ricardo deixou no meu pescoço. Ele não para com essa mania.

—Sabe, aquela vez que brinquei sobre você ter deixado um chupão no pescoço dele eu me enganei. Foi ao contrário, tia Sofi. –Ela falou, rindo.

—Você não conhece o seu tio. Não sabe como eu tenho gastado maquiagem para cobrir isso toda vez que tenho que almoçar com minha família. Por falar neles, amanhã eles virão aqui para um churrasco. Todos eles.

—Então eu cheguei na hora certa?

—Chegou.

O Ricardo saiu para se juntar a nós e a Mariana o ficou olhando com um sorriso bobo na cara. Que foi agora?

—Tio. –Ela praticamente gritou, se levantando e girando ao redor dele.

—Enlouqueceu, Mariana? –Ele perguntou, assustado. Até eu estou assustada.

—O senhor está de bermuda e camisa e sandálias. –Ela falou, admirada. Então é isso.

—Estou. E?

—E que não via o senhor assim desde que eu tinha uns 10 anos. Não sabe como é bom ver o meu velho tio debaixo dessa fachada. Eu sabia que o senhor iria voltar a ser como antes com a tia Sofi. Obrigada por isso, Sofia.

Ela me abraçou e puxou o Ricardo para um abraço coletivo. Foi meio estranho, mas bom. A mariana é uma boa pessoa.

***

O dia não poderia ser mais assustador. Minha família chegou pouco depois do meio dia. Meu pai resmungou um pouco sobre não ter sido o primeiro a saber no meu noivado, mas parecia feliz em ver o anel na minha mão. A churrasqueira já estava sendo acessa pelo João. O Ricardo tomou o tempo para mostrar a propriedade para meu pai e meu irmão. A Patrícia ficou com a minha mãe e a Camila na varanda. O Fabinho, como o bom puxa sacos que é, seguiu empoleirado no ombro do Ricardo. Eu admito que gostei de ver a cara de ciúmes do meu irmão pelo meu sobrinho preferir o “tio Rick”.

—Como você está, filha? –Minha mãe perguntou, num sussurro.

—Um pouco cansada e estressada, mas isso é normal do meu estado, não é?

—Totalmente. Isso porque você ainda não chegou na fase da raiva e dos desejos.

—Tem essa fase?

—Tem bem piores que essa, acredite. Aproveite que você ainda está na fase boa, filha.

Eu estava começando a ficar assustada agora e queria perguntar mais, mas o meu pai se aproximou e tivemos que calar a boca.

—O que achou da casa, papai? –Perguntei.

—É grande, bonita. Um espaço bom. Só não gostei muito desse tanto de bicho.

—Claro que não, pai. O senhor é alérgico a pelos, esqueceu?

—Não e esse cão não para de nos seguir e seu sobrinho está encantado com esse bicho. Falta pouco subir nas costas dele e o montar como um cavalo.

—Cachorra, pai. A Titília é uma cachorra. Fêmea e ela gosta muito do Fabinho.

—Que seja, dá no mesmo, tem pelos e eu não gosto.

—Fala, família! –O Fábio apareceu, não sei de onde, e me usou como um apoio, como ele sempre fazia quando éramos mais jovens, mas minha mãe logo deu um tapa em seu braço e o tirou do meu ombro. Dá-lhe mamãe!

—Não se apoie em sua irmã, vai jogá-la no chão. –Ela reclamou.

—Ih, mãe, eu sempre fiz isso com a chatinha aqui. –Ele reclamou.

—Fazia, Fábio. Nada mais de apoiar em sua irmã, você está pesado demais. Se comporte no noivado dela.

—Quanto melindre só porque ela vai casar! –Ele saiu resmungando.

—Obrigada, mãe. –Agradeci.

—Por nada. Não deixe seu irmão com essas brincadeiras brutas com você. Eu vou lá ver se estão precisando de alguma coisa.

Ela se afastou e ficamos só eu e o meu pai. Ele estava com um olhar meio estranho para mim, mas não falou nada e também se afastou para ir fofocar com o Moacir. A Patrícia que se aproximou.

—Onde está a Camila? –Perguntei.

—Com o seu noivo. Eu já perdi o Fabinho para ele e, se continuar assim, a Camila também será perdida.

—Ele gosta de crianças e, ao que parece, as crianças gostam dele.

—Até demais, né? E vocês, quando terão seus próprios filhos?

Eu a olhei meio desconfiada. Ela estava de fofoca com a Mariana, mas não acho que a Mariana tenha contado. Também não posso falar para ela se não ela conta para o Fábio e o Fábio para o meu pai e o Ricardo será capado.

—Quando acontecer. –Respondi.

—E isso será?

—Não sei, Patrícia. Ainda não pensamos muito nisso. –Menti.

—Querem aproveitar o casamento primeiro, não é? Sem as crianças por perto.

—Pode ser, não sei.

—O que você não sabe? –O meu pai perguntou, se aproximando.

—Quando ela terá filhos. –A Patrícia respondeu e eu vi o velho ficar mais branco que uma folha de papel.

—Sofia Fernanda, você não está grávida, está? –Ele perguntou, irritado. A Patrícia, depois da merda feita, saiu de fininho. Valeu, cunhada.

—Não, papai.

—Tem certeza? Você está agindo muito estranho e tenho certeza que sua mãe está me escondendo algo.

—Tenho, papai.

Ele me olhou, meio desconfiado, antes de falar.

—Vocês estão me escondendo algo e eu vou descobrir. –Ele saiu bufando e eu soltei minha respiração. Esse churrasco não vai acabar nem.

***

O almoço, em si, foi relativamente bem, tirando a carranca do meu pai. Montamos uma mesa ao lar livre e todos se sentaram juntos. O João não queria, mas a Mariana o arrastou para que se juntasse a nós. Meu pai fez questão de ficar de frente para mim e para o Ricardo e não tirava o olho de nós. O Fabinho estava distraído com a Mariana e o João. O Fábio, como bom carnívoro que é, engatou na comida e esqueceu do mundo. A Patrícia estava de conversa com a minha mãe e o Moacir ficou na churrasqueira.

—Podemos dar uma caminhada, Ricardo? –O meu pai perguntou, após o almoço.

—Claro, senhor. –O Ricardo respondeu.

—Eu vou com vocês. –Falei.

—Não senhora, a senhora pode ficar aí. Tenho uns assuntos para falar com o seu futuro marido sem você ouvindo e se intrometendo.

O meu pai arrastou o Ricardo para longe e eu tinha o leve pressentimento que isso não acabaria bem. Minhas suspeitas se concretizaram quando eu ouvi meu pai gritar. Puta que pariu! Eu corri até onde eles estavam e o resto do pessoal me seguiu. Só a Mariana e o João ficaram para segurar as crianças.

—VOCÊ FEZ O QUÊ! –Meu pai gritou com o Ricardo.

—Eu vou assumir senhor, eu juro. –O Ricardo falou, baixo.

—Antes do casamento? Eu não sei se mato você ou a Sofia! Olha que perguntei para ela e ela negou!

—Pai? –O chamei.

—Não está grávida, não é Sofia?  -O meu pai perguntou.

Eu olhei para o Ricardo e ele abaixou os olhos. Ele estava com um lado do rosto um pouco vermelho. Não duvido nada o meu pai o ter acertado. Como isso foi acontecer?

—Não foi planejado, mas sim, estou e estamos felizes com isso. –Falei.

Minha mãe tentou fingir surpresa a minha cunhada ria como uma boba que descobriu o segredo que já desconfiava e o meu irmão ficou sem expressão.

—Pra quando é o casamento? –Meu pai perguntou.

—Pensamos para o próximo mês, senhor. –O Ricardo falou.

—Próximo mês? O senhor a pediu só por causa do filho ou esse pedido foi antes? –Meu pai perguntou para o Ricardo.

—Eu pretendia pedir ela antes disso tudo, mas a gravidez veio primeiro.

O meu pai se afastou dele e veio até mim.

—Você pretende realmente se casar com isso, Sofia?

—“Isso”, papai, é o homem que eu amo e sim, eu pretendo.

—Não é só pelo bebê? Se for, eu e sua mãe podemos mantê-la.

—Nunca foi pelo bebê. Agora ele pode ser uma questão para somar, mas nunca foi por ele em primeiro lugar.

—Que escolha eu tenho? Não estou feliz com isso, mas, já que fizeram a merda, sejam homem e mulher para assumir. –Ele resmungou, apontando para a gente. –Devia ter capado esse senhor quando tive a chance...

—Vai deixar isso assim, pai? –O Fábio perguntou inconformado e minha mãe deu um pescotapa nele e, antes que ele pudesse esfregar o pescoço, a Patrícia deu outro.

—Não adianta mais chorar pelo leite derramado, filho, mas o que podemos fazer é vigiar esses dois para que eles andem na linha daqui pra frente. –Meu pai falou, antes de se afastar.

A Patrícia veio me parabenizar e o meu irmão me olhou meio torto antes de falar um “parabéns” entre os dentes. O meu pai não falou mais comigo nesse dia. Ele está um pouco magoado e sei que, de certa forma, ele tem suas razões. Na mente dele ele me criou para ser uma mãe só depois do casamento. Ele não entende que os tempos são outros. No final das contas, o que isso importa? Eu não vou me casar de qualquer forma? Quem eu estou querendo enganar? O coroa vai ficar um tempo de mal comigo. Foi assim com o Fábio. Comigo, tenho quase certeza, será um pouquinho pior porque sou mulher e porque eu neguei quando ele perguntou sobre a gravidez. Só espero que ele melhore quando a criança nascer. Eu não quero afastar meu filho ou filha dos avós. Minha mãe, antes de saírem, me disse que ele vai ceder e que só está chateado agora. Ela o conhece melhor que eu e prefiro, preciso acreditar nela.

—Desculpa, amor. Seu pai acabou me pegando na mentira. –O Ricardo sussurrou, ao se sentar ao meu lado, na varanda, e me puxar para seus braços.

—Você não teve culpa. O coroa é esperto.

—Acho que devíamos ter combinado uma mentira, mas ficamos tão ocupados que acabamos esquecendo.

—Uma hora ele iria descobrir. Minha barriga não vai ficar assim para sempre.

—Mas não tinha que ser agora. Acho que acabei ferrando com tudo.

—Você não ferrou com nada. Ele vai se acalmar. Também foi assim com o meu irmão. Ele ficou quase um mês sem falar com ele quando descobriu que a Patrícia estava grávida.

—Então só nos resta esperar.

—Vamos esperar. Só espero que ele não demore muito para fazer as pazes. Quero meu pai presente no meu casamento.

—Mesmo ele tendo me acertado, também quero meu sogro lá.

—Ele te acertou?! –Com a confusão até esqueci do rosto vermelho do Ricardo.

—Apenas um soco. Nada de mais. Eu mereci.

—Ricardo!

—Não foi nada, Sofia. Ele acabou ficando surpreso e sua primeira reação foi fechar o punho e me acertar. Só pegou de raspão. Eu fui mais rápido. Não vá brigar com seu pai por isso, por favor.

Eu sei que deveria reclamar com o meu pai e pedir para ele deixar de viver como se estivesse no século passado, mas acho melhor ficar mais quieta dessa vez. Se quero que as coisas se acertem, eu terei que ser a primeira a dar o braço a torcer.

Continua.


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Notas finais do capítulo

Se desejarem, comentem, opinem ou critiquem.
Espero que tenham gostado.
Obrigada por lerem.
Um forte abraço e até mais! :)



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