Ainda Vou Domar Esse Animal escrita por Costa


Capítulo 46
Capítulo 46


Notas iniciais do capítulo

Fala pessoal! Tudo bem com vocês?
E então, felizes com a notícia do bebê? Espero que sim. Mais uma feliz notícia para vocês. Espero que gostem do capítulo. :)



Este capítulo também está disponível no +Fiction: plusfiction.com/book/664666/chapter/46

Eu não sabia o que pensar. Eu estou grávida. Eu tenho um filho, um filho que eu jurei, uma vez, para o Ricardo que não carregaria. Há dias ele tem me evitado. Ele não dorme mais em casa. Se enfiou na cabana e não veio mais aqui. Eu queria muito ir até ele, mas o Moacir me impediu. Meus pais também estranharam nós não aparecermos para o almoço semanal e me ligaram. Inventei uma desculpa esfarrapada. Sei que não colou muito, mas eles não discutiram. Ainda não posso confessar o que aconteceu.

Eu sinto falta dele. Imensa falta dele. Das nossas conversas, beijos, brincadeiras. Sinto falta até de o ver mancando para o banheiro, de madrugada. A cama ficou vazia sem ele. O Moacir foi quem me acompanhou para meus exames. Eu estou bem, o bebê está se desenvolvendo bem também. Eu não sei mais o que pensar. Eu só tenho chorado por esses dias.

—Ele está bem, Sofia. Eu fui até a cabana e o vi hoje. –O João falou, se sentando ao meu lado na escada da varanda.

—Acho que ele nunca vai me perdoar, João. Ele não queria mais filhos.

—Ele vai sim. Aquele homem te ama. Só não ver quem não quer. Ontem ele veia aqui, de madrugada, e ficou olhando vários minutos para a sua janela antes de ir embora. Acho que ele só está tomando coragem para aceitar tudo.

—Ele não vai.

—Mesmo que ele não perdoe, você tem a mim e ao Moacir. Nós te apoiaremos, você e esse pequeno ou pequena que carrega aí. Tio João vai cuidar muito bem de vocês.

Eu comecei a chorar mais e o João me abraçou. Se eu continuar desse jeito, vou melecar a camisa dele e do Moacir cada vez que eles me consolarem.

Eu fiquei um tempo aproveitando o momento e me acalmando até que o João me cutucou e apontou para longe onde o Ricardo estava parado. Ele parecia horrível. Ainda estava usando a mesma roupa de mais de uma semana atrás. Estava barbado e parecia até meio sujo e mais magro. Ele também não tem se cuidado. Eu levantei para ir até ele, mas ele se enfiou na mata de novo.

—Isso não pode continuar, João. –Falei.

—Eu também não gosto de ver o patrão assim, mas ele não está deixando ninguém se aproximar, Sofia.

—Eu vou atrás dele.

—Não, você não vai.

—Como que não vou?!

—Sofia, pense, você está grávida. Não é inteligente ficar por aí andando sozinha. Além disso, eu nunca me perdoaria se algo te acontecesse.

—Então venha comigo.

—Eu não posso. O patrão não quer ver ninguém. 

—João, me ajude.

—Eu queria, mas não posso. O próprio Moacir me pediu para não deixar você ir atrás do Ricardo. Quando ele estiver pronto, ele voltará.

—Mas e se algo acontecer? Você viu como ele está? Ele emagreceu. –Eu gritei antes de começar a chorar e o João me abraçar.

—Ele está bem, Sofia.

—Não, ele não está bem. E se ele se entregar de novo? Eu não vi, mas sei que não foi bonito, João. Ele quase morreu, ele deixou de comer depois do acidente.

—Eu tenho levado comida para ele. Ele não me atende, mas eu deixo na porta da cabana e tem sumido. Ele pode não estar se alimentando direito, mas ele tem comido. Dê-lhe mais uma semana, Sofia. Se ele não vier até você, eu juro que te levo até ele. Mesmo que isso me custe o emprego.

—Uma semana. Nem um dia a mais, nem um dia a menos.

***

Eu estava no quinto dia e ele não apareceu. Eu não sei mais o que pensar. Já era madrugada e eu estava deitada, no quarto dele. Desde o dia que ele saiu eu fiquei aqui. Me lembra ele, tem o cheiro dele. Acho que sou um pouco masoquista e gosto de me torturar.

Rolei na cama, olhei para o relógio e já eram quase 3 da manhã. Eu não tenho dormido bem. Até mesmo a Titília tem andado agitada. Ela também sente falta dele. Ela dormia, antes, praticamente a noite toda e agora deu para acordar latindo. Hoje vai ser um desses dias. Ela se levantou e está cheirando a porta fechada.

—Títilia, vem dormir. Eu te levei ao banheiro não tem muito tempo.

Ela não me obedeceu e continuou ciscando para sair. Desisti e levantei. Talvez uma caminhada me faça bem. Assim que abri a porta ela correu direto para o que era o meu quarto. Eu congelei quando vi quem estava sentado no chão, encostado na cama e banhado em lágrimas.

—Ricardo.

Eu corri e me ajoelhei de frente para ele. Ele estava horrível, sujo, fedido e com as roupas gastas, mas isso não me importou e o abracei mesmo assim.

—Me perdoe por ser um idiota, Sofia. –Ele falou, com mais lágrimas e me abraçando mais forte.

—Está tudo bem, tudo bem. Só não se afaste de novo.

—Eu estou com medo. E se eu não conseguir te proteger e proteger esse bebê? Eu não sou um bom pai, eu não fui um bom pai para meus outros filhos. Eu não consegui os proteger.

—Foi um acidente. Você é um bom pai. –Falei, não segurando minhas próprias lágrimas.

—Como você pode saber?

—Eu já te vi com os meus sobrinhos. Se você tratar seus filhos com metade da dedicação que trata aqueles pestinhas, você será um bom pai.

—Você não está mentindo? –Ele perguntou, de forma quase infantil.

—Claro que não. Você é um bom pai, Ricardo. Você será um bom pai para o nosso filho.

—Nosso filho... Você ainda me quer depois de tudo?

—Eu te amo, idiota. Te amo tanto que me assusta.

—Eu também te amo, Sofia. Eu prometo tentar proteger você e o nosso bebê. Nem que eu tenha que morrer para isso.

—Bata na sua boca! Você ainda vai viver muito para nós.

Ele esticou o braço e puxou um quadro que estava em cima da cama. Era o quadro que trabalhamos.

—Você terminou? –Eu perguntei ao ver minha imagem, quase idêntica no quadro.

—Terminei. Era a única coisa que podia fazer para não enlouquecer esses dias. Você gostou?

Eu o abracei mais apertado e o beijei.

—Eu amei, mas esse quadro é para você. Eu te fiz pintar para você. –Sussurrei.

—Posso pendurar na sala? –Ele brincou.

—Só se você quiser que todos me vejam nua.

—Acho melhor queimá-lo então.

—Você não se atreveria.

—Eu sou ciumento e sou o único que posso te ver sem roupas.

—Pendure cabana. É somente nós que vamos lá mesmo.

—Vou pendurar.

Eu coloquei o quadro na cama e me levantei, o arrastando comigo, mas ele parou e me olhou interrogativamente.

—Vamos para o nosso quarto. –Falei.

—Tenho mais uma coisa para você. Queria esperar a construção da estufa e fazer isso lá, entre as flores, mas, dada as circunstâncias, eu não vejo motivos para esperar.

Ele caiu de joelhos e abraçou minha cintura beijando minha barriga antes de puxar uma caixinha de veludo do bolso. Puta que pariu, ele não vai fazer isso agora!

—Eu sei que não sou a melhor das pessoas e estou longe de te merecer, mas você daria a chance de ser minha mulher e me fazer um homem melhor para você e o nosso filho? –Ele perguntou, com o anel estendido em uma mão e a outra em minha barriga.

Eu já estava soluçando de lágrimas e ele não estava muito atrás de mim. Caí de joelhos e o puxei para um beijo desajeitado que terminou com ele deitado no chão e eu em cima.

—Isso é um sim? –Ele perguntou.

—Se fosse um não eu não estaria te beijando, idiota.

—Acho que é verdade.

Ele começou a me beijar, novamente.

—Vocês poderiam, ao menos, trancar a porta e serem mais silenciosos? Há pessoas querendo dormir nessa casa. Vem, Titília, você não quer ver essas coisas. –O Moacir falou, da porta.

Eu comecei a rir junto com o Ricardo.

—Nós não chegaríamos a tanto, Moacir. –Falei.

—Não, imagina... E eu não conheço vocês? Tá bom, hein? Ficaram dias sem se tocar e não fariam nada...

—Possivelmente, mas você, como sempre, meu amigo, atrapalhou. –O Ricardo falou, antes de se levantar e me puxar com ele.

—Eu vou me casar, Moacir! –Falei.

—Você fez o pedido? Finalmente, hein? Mas precisava ser na madrugada?

—Você já sabia?

—Eu ajudei o seu idiota a escolher o anel. O pobre homem estava tão assustado no dia que achei que fosse enfartar. Só ficava com dúvidas se você aceitaria.

Eu me virei para o Ricardo e ele estava com a uma expressão envergonhada. Como ele pode achar que eu não iria aceitar?

—Você realmente achou que eu não fosse aceitar? –Eu perguntei.

—Achou sim. Ele só ficava falando: “Ai, a Sofia não vai aceitar, Moacir”. “Se ela não aceitar, eu não sei o que farei. Não sei viver sem ela” -O Moacir respondeu por ele, fazendo seu melhor para imitá-lo.

—Quantas vezes preciso falar que te amo, idiota?

—Acho que a cada cinco minutos. Eu não sou o melhor partido e sei que você conseguiria coisa melhor que eu, Sofia.

—Poderia até conseguir, mas já tenho tudo o que quero.

Eu o puxei para um beijo enquanto o Moacir arrastava a Titília para fora.

—Vamos, garota, antes que fiquemos traumatizados com esses dois.

Assim que o Moacir saiu, o arrastei para o nosso quarto e o fiz tomar um bom banho e trocar de roupa enquanto eu preparava alguns sanduíches para a gente. Eu o amo, mas nem por isso sou obrigada a aguentar o cheirinho de suor que ele está. E eu também gosto de vê-lo limpinho.

Eu estava terminando distraída na cozinha, esperando por ele, quando ele me abraçou por trás e colocou as mãos delicadamente sobre a minha barriga.

—Me desculpe por tudo, Coelhinha. Eu estava com medo. Ainda estou com medo. Eu tenho medo de que alguma coisa aconteça com o nosso bebê e eu não possa fazer nada. –Ele sussurrou.

—Nada vai acontecer, amor. Você está bem que eu estou grávida?

—Eu não vou mentir que isso me assusta muito e que tenho meus traumas, mas eu pretendo assumir o meu papel como pai da melhor maneira que eu puder. –Ele falou, se abaixando, levantando minha camisa e colocando um beijo na minha barriga.

—Eu sei que vai.

Nós comemos e ele me contou que se afastou por medo. Que esses duas reviveu toda a dor que passou quando perdeu os seus filhos. Quando ele caiu na real e viu que a minha gravidez não foi culpa nem minha e nem dele, ele tinha medo de que eu o rejeitasse. Levou até agora para ele tomar coragem para voltar e me pedir em casamento.

Essa noite dormimos juntos depois de fazermos amor demoradamente. Como o Moacir me falou, uma vez, ele me adorou como se eu fosse uma espécie de deusa e eu perdi a conta de quantos beijos e carícias ele distribuiu sobre minha barriga. Ele dormiu com uma mão protetora sobre minha barriga. Eu não sei como ele ainda duvida que será um bom pai. Eu posso duvidar que serei uma boa mãe, sempre fui meio louca, mas o que eu não souber, ele saberá e isso é motivo mais que suficiente para que eu o ame.

Continua.


Não quer ver anúncios?

Com uma contribuição de R$29,90 você deixa de ver anúncios no Nyah e em seu sucessor, o +Fiction, durante 1 ano!

Seu apoio é fundamental. Torne-se um herói!


Notas finais do capítulo

Apesar de ter a história praticamente já estruturada, ainda não tenho o nome para o bebê. Portando, se quiserem deixar sugestões, seria grata. :)
Espero que tenham gostado. Todas as opiniões são bem vindas.
Obrigada por lerem.
Um forte abraço e até mais!