O loiro desculpou-se, e após beber o seu chá retirou-se, pagando o chá dos dois. Sentira que o mundo deixara de estar nas suas costas, que a chuva que se fazia sentir no momento levava com ela todas as mágoas das quais se lembrava. As gotas caíam pesadamente no seu rosto pálido imitando as lágrimas que durante um ano caíram, um ano que a sua memória não hesitava a recordar. Não dera conta que ela o seguira até sentir a sua pele suave no pulso, parecia ter aceite o seu pedido de desculpas, e pediu-lhe que a acompanha-se até à livraria, onde se despediram. Perguntara-lhe se gostaria de comparecer às reuniões de leitura e debate na livraria que se realizavam às sextas-feiras, não obtendo uma resposta definitiva. Tudo dependia do trabalho e de Astoria. Despediu-se, voltando para casa. No caminho cruzou-se com Harry Potter, que dirigia-se na direcção oposta. Cumprimentaram-se cordialmente.

A porta da livraria batia, fazendo com que Hermione se assustasse, era Harry. A sua presença na livraria era quase constante, procurando essencialmente livros que abordassem a temática de Defesa contra as Artes Negras, tentando adquirir conhecimentos que o ajudassem na sua carreira como chefe do Departamento dos Aurores, no Ministério.

Harry era o habitual confidente de Hermione, sempre fora desde a sua adolescência. Era compreensivo, mesmo assim não pode deixar de ficar preocupado ao ver Malfoy sair do local onde estava a sua amiga. Perguntara-lhe o que estivera o loiro a fazer na livraria, visto nunca nenhum dos dois ter convivido relativamente bem, mas a resposta não lhe agradara muito. Hermione tinha dito que visto Malfoy ser um ser humano, tinha todo o direito de entrar na livraria, e que ao contrário do que ele pensava, Draco era uma pessoa bastante culta.

-Sabes que se caso o Ron souber... - foi interrompido por Hermione

-HARRY! O Ron não tem nada, mas simplesmente nada … tu já sabes como nós temos andado, não quero arranjar mais uma desculpa para discutirmos

Se Ron soubesse, as discussões entre os dois apenas iriam aumentar. Ele nunca iria perdoar-lhe uma amizade com o Malfoy, por muito que este tivesse mudado. Era um Malfoy e isso nunca iria mudar, não para Ron. O ódio que lhes nutria era transmitido de geração em geração, sem atenuantes. Hermione tentava tudo para faze-lo mudar de ideias, mas isso apenas complicava a situação entre os dois, agora apenas estavam juntos por causa dos filhos, que passavam os dias aos cuidados de Senhora Weasley quando não estavam na escola. Outra agravante fora a mudança de emprego de Hermione, que saiu do ministério para dedicar-se á livraria.

- Eu sei, não tenciono contar-lhe

Odiava ver os amigos discutir, sempre odiou, desde os tempos em Hogwarts. Continuaram então a conversar, sendo apenas interrompidos por pessoas que se perdiam na rede de pó de floo, provocavam uma grande confusão.