Capítulo 27 - Início

Segunda, as aulas tinham acabado de recomeçar, meu primeiro dia de aula depois das férias de meio de ano.

- Alice! - Sarah gritou do portão do colégio.

- Oi Sarah.

- Já soube da novidade?

- Qual novidade?

- Tem um novo professor aqui no colégio.

- Jura?

- É, ele vai substituir o professor de música que se aposentou.

- Bem, na minha vida não muda muito.

- Disseram que ele é lindo!

- Que bom...

Eu não tinha muita vontade de pensar em alguma outra pessoa além de Yura, ele era o meu veneno favorito...

- Oi Lili-chan! - Yura disse do portão, todo vestido de branco com renda.

- Que lindo! - Sarah disse abobada como sempre.

- Oi Yura. - eu respondi sorrindo.

- Já soube do professor novo? - Sarah perguntou a Yura.

- O de música?

- Isso.

- Soube sim.

Como ele descobre essas coisas...?

Enquanto conversávamos um rapaz de cabelos e olhos negros passou ao meu lado, ele tinha um perfume muito agradável, Yura parou e ficou observando-o entrar com um olhar muito sério, até que ele entrasse e a porta se fechasse.

- Stephan... - ele disse pra ele mesmo.

- Hum? - Sarah perguntou.

- Hum...? Ah, nada, estou pensando alto.

- Ah sim.

Eu não entendi exatamente, mas ele não parecia gostar muito daquele rapaz, e eu me pergunto por que...

O dia se passou, Yura estava aéreo, não prestou atenção em absolutamente nada, e, quando o dia chegou ao fim:

- Alice, preciso falar com você.

- Ah, sim claro.

- Sabe o professor novo de música?

- Não o vi ainda, mas sim, fale.

- Eu o conheço.

- Conhece?

- Conheço. Seu nome é Stephan, Stephan Kortia Lestrade. Ele era meu professor de piano.

- Professor...

- Por experiência própria eu posso dizer que ele não presta, então fique longe dele.

- Certo, vou tentar evitá-lo.

- Por favor, eu odiaria saber que ele fez alguma coisa a você.

- O que ele faria?

- Stephan é extremamente falso, ele é muito melhor do que eu na arte de mascarar sua personalidade.

- Melhor... que você.

- Fique longe dele, eu tenho certeza, ele tentará fazer alguma coisa com você pra me atingir.

- Yura...

Os olhos de Yura se estreitaram e ele olhou na direção da voz.

- Stephan...

- Faz tempo, sete anos eu diria.

- Seu...

- Enfim, até logo...

As mãos de Yura estavam fechadas com tanta força que eu temia que ele se machucasse com as próprias unhas.

Já depois da aula, fomos a casa de Yura.

- Aquele maldito! Eu o desprezo! - ele disse fincando uma faca do faqueiro de prata na mesa de mogno da cozinha.

- Não acredito que você está tendo um ataque de pití Yura.

- Aquele imbecil!

Aquilo estava ficando ridículo, muito ridículo, Yura estava parecendo uma criança.

- Yura você está destruindo a imagem que eu tenho de você...

- Eu não estou feliz. - ele disse sentado no sofá e cruzando os braços.

- Oh céus... Pare de parecer uma criança contrariada Yura, o que você pretende fazer? Prender a respiração até ficar azul?

- Eu não gosto dele. - ele disse com cara de criança mimada quando tem que ir ao médico.

- Pare com isso Yura, você tem dezenove anos.

- E daí? Não gosto dele!

Eu caminhei através da sala, abracei Yura e silenciei aquelas reclamações irritantes beijando-o, ele parou de reclamar e me abraçou.

- Deus Yura! Por que você detesta tanto ele?

Yura começou a contar, ele era professor de piano dele, e ele era manipulador com Yura, e por isso, entre eles existia uma terrível tensão entre semelhantes...

- É isso?!

- É...

- AH!...- eu disse enfiando o rosto nas mãos.

Yura estava abraçado aos joelhos, enquanto eu surtava com ele.

- Pelo amor de Deus! Do jeito que você falou, parecia que ele tinha matado alguém!

- Mas...

- Calado!

Yura se encolheu e continuou me ouvindo.

- Você com certeza é o garoto mais egoísta, mesquinho, mentiroso, mimado do mundo todo!

- Mas...

- Quieto!

- Hun...

- Pare de ser imbecil! e SUPERA ISSO!

 Yura já parecia uma criança que acabara de levar bronca da mãe, eu me sentei ao lado dele no sofá e disse:

- Não se preocupe, eu entendo que não goste de "dividir".

Yura não disse nada, só envolveu seus braços ao meu redor num abraço.

- Seja um bom gatinho e fique calmo... - eu disse beijando seu rosto.

Senti Yura corar delicadamente, ao que parece ele não está acostumado com esse tratamento...

- Promete ser bonzinho?

- Prometo...

- Muito bem, então... Acho que já vou pra casa.

Yura segurou na ponta da minha blusa e disse ainda abraçado aos joelhos:

- Não me deixe aqui...

Eu sorri pra ele e o abracei.

- Você é muito carente as vezes, sabia?

- E você é muito má...

- Teria outra forma de isso dar certo?

Ele sorriu com um olhar alegre, mas um sorriso calmo, enroscou os braços ao redor do meu pescoço, e gemeu baixinho, acho que de sono.

- Nessas horas você realmente se parece com um gato.

- Então me faça cafuné até eu dormir.

Eu ri baixinho e disse:

- Sim, sim.

Naquela noite começou a chover, uma chuva fria e pesada, que lavou as ruas e deixou o ar frio, e que fez com que Yura se enroscasse em mim, ele odeia frio.