Capítulo 26 - Encontro

Os dias se passaram, comigo dando os últimos retoques na arrumação da casa, com Yura resolvendo seus problemas com as insistentes ligações de Estela, e com Sarah voltando de viagem.

Nós marcamos de nos encontrarmos em um café muito simpático e agradável, eu e Sarah chegamos mais cedo, e ficamos conversando sobre as férias, eu, adaptava os fatos de Aspen à minha casa, e Sarah perguntava insistentemente sobre meu "novo namorado".

Até que Yura entrou porta a dentro com uma típica aparência de estrangeiro, uma camisa preta de manga comprida, uma calça jeans cinza, com um cinto preto que caía pro lado direito, e uma gargantilha de veludo preta também, que tinha um losango prateado no meio, e pra completar um de seus brincos prateados que combinava com a gargantilha.

- Oi. - ele disse sorrindo pra mim e Sarah.

Yura costuma chamar atenção, mas não esse tipo de atenção, todas as mulheres do café já o observavam, e ele caminhava como se nada estivesse acontecendo, de fato pra ele, talvez não estivesse mesmo.

Ele atravessou o café parou ao meu lado, virou meu rosto e me beijou em frente a TODAS as pessoas do café que olhavam, ele sempre gostou de uma platéia.

- Oi. - ele disse se virando pra Sarah que estava chocada.

- Oi...

Yura sorriu amigavelmente e se sentou, perguntando:

- Estou atrasado?

- Não, chegamos mais cedo mesmo.

- Ah sim.

- Então... - Sarah começou. - Você é o novo namorado da Alice?

- Acho que se pode chamar assim. - ele respondeu quase como pra ele mesmo.

De repente Cristine e Castel abriram violentamente a porta do café e gritaram em altos brados.

- Eu sabia!

- Quando Cristine disse que você tinha ido embora, eu sabia que você tinha vindo visitar Alice e o novo namorado dela! - Castel berrou botando o dedo na cara de Sarah.

Do nada Cristine, Castel e Sarah estavam num bate-boca ferrenho no meio do café, e eu, estava parada, chocada, olhando o barraco.

- Ei! - Yura gritou.

Todas elas pararam e ouviram ele dizer, revoltado.

- Escuta, se for pra fazer barraco, façam lá fora! Está me dando dor-de-cabeça! Ou então calem a boca e sentem! Inferno!

Elas estavam chocadas com a atitude drástica de Yura, ninguém esperava uma reação dessas, aliás, nem elas, nem ninguém que assistia o barraco dentro do café. Sarah, Cristine e Castel se sentaram novamente muito sem-graça por serem repreendidas por ele, pensando na primeira impressão que tinham passado.

- Melhorou. - ele completou. - Preciso de açúcar... - ele disse apoiando a cabeça nas mãos.

- Então... - eu disse mudando de assunto. - Como foram as férias de vocês?

- Bem... - elas comentaram ainda sem-graça. - E você?

- Foi legal.

Yura me olhou de canto de olho, com uma expressão que dizia algo como "quer que eu de os detalhes?"

- E vocês passaram as férias juntos? - Castel perguntou.

- Grande parte sim.

- Como vocês se conheceram?

- No parque. - respondi de imediato.

Yura sorria me observando responder ao interrogatório com respostas criativas.

- Ah, Alice. - Sarah disse num estalo. - Vamos chamar Yura pra ir até em casa? Faz tempo que não vejo ele.

- Sim claro.

- Devo ficar com ciúmes? - o próprio perguntou.

- Não... - eu respondi.

- Devíamos apresentar você a Yura.

- Não quero conhecer nenhuma das companias masculinas de Alice, detestaria todas elas.

- Por quê?

- Sou muito possessivo. - ele disse espreguiçando na cadeira.

- Ah...

O talento dele pra improvisar mentiras vindas do nada era excelente. No fim da tarde Yura foi embora e eu e as meninas ficamos no café conversando.

- Ele é lindo! - Sarah comentou.

- Também acho! - Cristine e Castel disseram em uníssono.

- Mas e ai? Vamos ao que interessa, ele é bom de cama?

Eu engasguei com o chá de morango, Sarah, Cristine e Castel esperavam a resposta ansiosamente.

- Que raio de pergunta é essa?! - perguntei revoltada.

- Uma pergunta de amigas curiosas. - Castel respondeu.

- Bem...- seria interessante ter alguém pra falar nesse assunto. - É.

- Eu sabia! Alguém com aqueles olhos não seria diferente. - Cristine disse convicta.

- Verdade! E que olhos lindos! - Castel concordou.

Se eu contasse isso pra Yura depois, ele riria TANTO...

A conversa rendeu por mais algum tempo, depois eu fui pra casa, quando cheguei Yura me ligou.

- Como foi?

- Estavam discutindo como você é sexy.

Yura começou a rir no telefone.

- Que bom, chegaram a uma conclusão?

- Não.

- Que pena, gostaria de saber.

- Vai flertar com as minha amigas, é?

- Não, não tem nada de muito interessante nelas.

- Que maldade!

- O que quer que eu faça? Prefere que flerte com elas?

- Não foi isso que eu disse.

- Então o que você disse?

- Que foi grosseria sua chamá-las de desinteressantes.

- Eu tenho meus gostos.

- Essa discussão não vai acabar em nada, não seria melhor parar aqui?

- Eu concordo.

Terminei minha conversa, e saí, decidi que seria bom passear depois de todo esse tempo, e para tanto, fui a minha loja favorita de acessórios em geral.

Assim que entrei decidi que queria um novo pingente de celular, e fui, como toda boa mulher, procurar algo que me chamasse a atenção. Enquanto procurava me deparei com algo estranhamente temático, um gato, dourado com duas pedrinhas azuis nos olhos, estranho, porém tudo o que pude pensar foi...

-Yura...

Isso tirou toda minha concentração naquele objetivo, era um gato, de olhos azuis, seria como uma piada interna, já que nós nos reuniríamos na casa de Castel, pra tomar chá no jardim, isso seria interessante, porém ai resta a duvida: comprar ou não comprar?

- Dane-se.

Comprei o gatinho, e coloquei-o numa caixinha preta, estampada de diversos gatinhos menores, todos brancos, depois voltei pra casa, coloquei a caixinha sobre a mesa, e fiquei olhando... e olhando...e olhando... Enfim.

No dia seguinte Castel me disse que havia ligado pra Yura e convidado-o pra tomar chá, ele adora chá, então...

- Você virá também, né Alice? - Castel perguntou depois de tagarelar incessantemente no telefone.

- Vou sim Castel.

Fazia tempo que não conversávamos, e, no café não havíamos colocado toda a conversa e novidades em dia, Sarah ainda tinha que me contar sobre a viagem a casa de praia, e Castel sobre estar pensando em fazer uma tatuagem. Por isso, naquela tarde terminaríamos as fofocas.

Quando chegou a tarde, eu me arrumei com um vestido de verão, que não usava a eras por ter me enfurnado num chalé no meio da neve. Usar roupas leves me enchia com uma satisfação veranesca... Que expressão ridícula...

- Olá Alice! - Yura disse acenando da mesa do jardim.

- Ele chegou pouco antes de você, Cristine e Sarah chegaram bem antes.

- Lindo, estou atrasada.

- É.

Quando me sentei, Castel serviu o chá e começamos a conversar, me sentia uma dama da alta sociedade. Yura estava imutavelmente concentrado no interior de sua xícara.

- Ei Alice, e seu namorado novo? Tem algum plano pro dia dos namorados?

Yura parou a xícara no ar e me esperou responder.

- Não...

- Ah! Você precisa falar com ele! Quando se tem um namorado sexy daqueles, você não pode desperdiçar feriados!

Ele estava se controlando pra não rir, sorveu um pouco do chá virou-se pra mim e disse:

- Arrumou um namorado novo Lili-chan?

- É...

- E como é que ele é? - ele perguntou com um sorriso animado e infantil.

- Nossa! - Cristine começou. - Ele é muito lindo! Muito adulto, tem olhos lindos e cabelos claros...

- Isso! - Castel começou. - Além de muito sexy e educado, e discreto.

Yura ouvia cada uma das colocações com um olhar de atenção, mostrando-se sem-graça" enquanto se descreviam os dotes estéticos usando palavras como "sexy", mas só pra manter as aparências. E eu, estava lá observando minha amigas posando de tietes na frente do próprio tópico do assunto.

Ao termino do chá, eu me ofereci pra levar Yura pra casa, já ia escurecer.

- Mas não vai atrapalhar? - ele perguntou com um olhar preocupado.

- Não, sua casa fica no caminho.

- Então está bem. - ele completou sorrindo. - Tchauzinho! - acenou ele pra Sarah, Castel e Cristine.

- Tchauzinho Yura! - elas responderam.

No caminho Yura ficou com aquele olhar de "pessoas exageradas".

- Ai... - eu disse me lembrando da cena ridícula que elas deram na frente de Yura.

- Você também acha tudo aquilo Alice? - ele disse me olhando nos olhos.

- Não me pergunte essas coisas Yura... - eu respondi enterrando me rosto na mão esquerda.

- Quanto aos planos pro dia dos namorados... - ele disse pegando na minha mãe direita.

Eu gelei, quero dizer COMPLETAMENTE! Ele sorriu maliciosamente, e disse:

- Você não pensou que eu ia deixar passar, achou?

- Não mas...

- Mas?

Eu fiquei em silêncio por um minuto, até que ele disse num sobressalto:

- Ah é!

- O que?

- Toma. - ele disse estendendo uma caixinha branca estampada de flores.

- O que é isso?

- Abra.

Eu abri a pequena caixinha que continha um lindo pingente de borboleta, preta e prata, que reluzia na luz.

- Que lindo!

- Eu disse que ia te dar uma borboleta. - ele disse sorrindo infantilmente.

Agora ele tinha um gato e eu uma borboleta, o mais divertido é que era uma piada interna, nenhuma das pessoas com quem encontrássemos saberia, e assim tudo continuaria como antes...distinto, discreto e distante...