Oh, Calamity! escrita por Leh Linhares


Capítulo 15
Capítulo Catorze


Notas iniciais do capítulo

Oi, meus amores. Dessa vez não demorei como o prometido.
Espero que gostem, amei demais escrever esse capítulo.



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Pov. Clarke Griffin

Dormimos por poucas horas essa noite, ou melhor, Bellamy dorme. Estar de volta a Nação do Gelo consegue ser ainda mais estranho do que eu pensava. Me vejo sentindo falta daquele chalé de madeira fechado há tempo demais, com um cheiro de mofo sutil, dos barulhos da floresta que podia ouvir lá de dentro. Aqui é diferente demais e me pergunto como pude viver tanto tempo me martirizando num ambiente tão parecido com Mount Weather. Cada parede e corredor são idênticos ao que percorri alguns anos atrás e de repente eu entendo por que continuei a ter tantos pesadelos durante os anos. Em Jaha eles simplesmente não aconteciam, não sei se pela presença dos meus entes queridos ou se só por não estar aqui.

Passo grande parte da noite observando Bellamy que dorme tranqüilo. Seu sono é tão constante que sinto que posso adormecer só o admirando. Me assusto quando sua respiração calma acelera e o moreno começa a gritar ainda de olhos fechados. Não preciso prestar atenção nos seus gritos para saber do que se trata. Tive os mesmo pesadelos vezes demais, cenas do que fiz e dos seus resultados. Levanto hesitante e me deito do seu lado.

— Está tudo bem, Bel! É só um pesadelo… só um pesadelo. - O abraço sem medo, talvez ele me afaste, mas não posso simplesmente ficar parada. Faço o que eu queria que tivessem feito comigo todos esses anos. Vejo Nathan despertar, porém ele não diz nada, esteve comigo todo esse tempo já sabe do que se trata. Nunca pude evitar os pesadelos e imagino que seja assim com Bel também.

Blake não diz nada e seu silêncio me faz refletir sobre a imensidão de coisas que escutei nessa semana. Em como ele ficar com Raven não foi uma escolha, em como ele só precisava de alguém para ouvi-lo e repará-lo e em como eu poderia ter sido essa pessoa se não fosse tão teimosa e covarde. A única coisa que deveria me acalmar é saber que o perdi para alguém muito melhor que eu. Insisto em repetir mentalmente que Raven é boa para ele e que eu devo estar feliz, porém não é eficaz. Cada vez que fecho os olhos tenho vontade de voltar ao passado e mudar tudo.

Não percebo, mas cochilo pelas poucas horas que seguem. Desperto mais tarde com o alarme e as luzes se acendendo.

— Bom dia, Bel! - Encaro Bellamy com um sorriso tímido. Torcendo para que nossa proximidade não o incomode.

— Bom dia, Princess!- Ouvir esse apelido odioso é um conforto imenso. Talvez tudo esteja finalmente se acertando. Há muito tempo ele não me chama assim, e por mais que Finn tenha começado com esse apelido,ele sempre vai pertencer a Bellamy.

— Bom dia, pombinhos! - Diz Nathan, me lembrando onde estou afinal e tudo o que preciso fazer. Não é certo ficar tão distraída com coisas tão banais.

— Nós não… - Respondo.

— Que seja! O treino não vai esperar por vocês. Se apressem. - Entro no banheiro com pressa, enquanto Nathan mostra a Bellamy onde ele pode encontrar uma peça de roupa. Saio em cinco minutos com os cabelos presos em um rabo de cavalo e uma calça e blusa regata preta.

— Eu já te disse como você fica espetacular nesse traje?- Fala Nathan e me faz rir. Ele já disse isso tantas vezes.

— Hoje não.

— Clarke, você está espetacular nessa roupa!- Sorrio mais uma vez para ele. Posso não confiar na Nação do Gelo, porém nele confio. Bellamy parece incomodado e isso me agrada. Me dá esperança que talvez ainda tenhamos uma chance. Pensamento que eu logo corto com meu mais novo mantra:

“Você estragou tudo. Não espere que ele te perdoe. Ele pertence à Raven agora. Não a você.”

Sento na cama e aguardo que ele termine de se arrumar para comermos. Para em seguida treinarmos. Nathan não nos espera. Evito o máximo que posso pensar no moreno, focando cada segundo existente no que nós dois precisamos fazer para descobrir os podres da Nação do Gelo.

Desde que parti para Jaha tenho um plano. Um pouco amador ainda, mas que junto com Bellamy sei que posso aprimorar. Sempre funcionamos melhor juntos. Fiz uma grande “amizade” com o único zelador que tem acesso a uma sala protegida demais, para não ter nada de importante. Consegui convencê-lo a me deixar entrar o chantageando, coisa que não me orgulho, mas que repetiria.

Brent não é honesto e contar com a confiança dele seria tolo, o investiguei por meses antes de fazer a proposta, ele gasta o tempo que deveria estar trabalhando jogando e bebendo e permite frequentemente que pessoas não autorizadas acessem o local desde que não reste nenhuma prova do desleixo dele. O zelador não vê problemas em quebrar as regras quando uma boa quantia está em jogo. Basta que eu finja possuir gravações desses atos para o zelador concordar em me ajudar. O problema maior sempre foi me livrar das câmeras, mesmo investigando por meses a fio não encontrei nada que pudesse chantagear alguns dos Chefes da Segurança e invadir o sistema de segurança deles está acima das minhas capacidades. Não demorei a perceber que sozinha não podia completar o plano. Precisava de ajuda e fui buscá-la...

— O que foi Princess? Impressionada?- Demoro alguns segundos para elaborar uma resposta. Bellamy está só de toalha, pingando por todo o quarto, com um sorriso tão metido no rosto que seria o suficiente para me irritar se eu não estivesse tão distraída com todo o resto.

— Não… Eu… - Gaguejo sem saber ao certo o que eu deveria responder. O moreno ri um pouco e se veste. Me ignorando enquanto eu me recomponho.

— Você deveria disfarçar melhor. Imagina se seu namorado estivesse aqui. - Bellamy não parece irritado, mas chega a ser engraçado ele tentar saber sobre mim desse jeito.

— Desculpa… Ahn… Que namorado? Você não pensou que o Nathan fosse…?- Questiono quase gargalhando, já fiquei com Nathan algumas vezes, contudo nada sério a esse ponto. A Nação do Gelo evita esse tipo de relacionamento, ainda mais em tempos de guerra, é uma distração que pode descontar numa Nação.

— Ele mesmo.

— Nathan é um amigo.

— Talvez devesse ser mais. Você merece ser feliz, Clarke.

— Eu sou feliz, Bellamy. - Eu digo, porém nem eu mesma tenho certeza disso. O que é ser feliz afinal?

— É mesmo? Eu me pergunto sobre seus anos aqui o tempo todo. Esse lugar é tão parecido com Mount Weather. Por que se martirizar tanto? Teria sido mais fácil se você tivesse ficado conosco.

— Eu sei agora. Acho que eu só precisava viver a culpa... - Fico em silêncio por alguns segundos e vamos até o refeitório. Temos poucos minutos até o início do treinamento. Comemos em silêncio, quero contar meu plano e mais que tudo quero que ele concorde em botá-lo em prática, porém aqui não é lugar. Cada movimento nosso é observado.

O treinamento começa sem atrasos, como tudo nesse lugar, nosso primeiro ato é explicar como funciona nosso estilo de luta. Primeiro aprimoramos seu físico, em seguida sua técnica, aprendermos a ser estrategistas numa luta e depois a parte mais importante aprendemos a resistir a dor. São quatro passos aparentemente simples que podem levar tempo para serem unidos com perfeição. O físico, por exemplo, não tem como ser condicionado como esperado em apenas cinco dias, nenhum dos fatores na verdade.

A saída é fazer um treinamento simultâneo. Eu e Nathan somos responsáveis por desafiar cada uma dessas habilidades de Bellamy através de situações hipotéticas e lutas bem reais.

No início o moreno tem dificuldade em nos atingir com a força necessária, o receio de nos ferir é um problema que alguns golpes nossos são capazes de resolver. Procuramos ensinar a ele como usar da raiva e sentimentos negativos como uma força adicional. Além das técnicas de luta corpo a corpo variadas, um pouco de taekwondo, judô e outras lutas milenares que juntas podem se tornar fatais. Bellamy tem certa dificuldade em aprendê-las, como já era esperado, nenhum de nós dos Sky tem o melhor condicionamento físico. Nunca houve muito espaço na Arka para a prática de esportes. Isso sem contar com o nosso constante usa de armas de fogo.

— Quando vamos pegar nas armas? Não vejo necessidade de tanto foco em lutas de corpo. - Bellamy parece impaciente. Somos muito semelhantes afinal. Essa foi à primeira coisa que disse quando comecei a treinar com a Nação do Gelo.

— Se você ficar sem munição. Se alguém te atacar por traz, se você estiver desarmado. Na guerra existe uma imensidão de possibilidades. Você deve estar sempre preparado. - Passamos o restante do dia treinando essa parte, buscando exceder os limites de Bellamy e ensinar estratégias para desarmar alguém através da luta, defesa e ataque. Mais rápido do que eu espero, ele aprende e passa usar seus truques conosco. Sorrio satisfeita, estou certa desde o início sobre ele. Perdemos um dia inteiro, porém vai valer à pena. Eu perdi meses e hoje sou muito mais preparada para defender não só a mim, mas todos com quem me importo.

— Cansado?

— Um pouco. Nada que algumas horas de sono não resolvam.

Precisamos conversar. — Digo num cochicho baixo.

— Sobre, Princess?- Seu olhar sarcástico me irrita, ele sabe do que se trata.

— Você sabe sobre o quê. -Sussurro, buscando com rapidez se há mais alguém na nossa volta: não há.

— Só dizer quando e onde. - Nosso dormitório é inviável já que Nathan já se direcionou para lá. Não há muitos lugares que eu confie nesse labirinto, minha escolha de ser ao livre pode parecer suspeita, contudo tendo uma dúvida razoável posso levá-lo e com armas que possuo posso impedir que qualquer próximo a nós se aproxime, porém pra isso preciso de uma autorização de Audrey.

— Coma seu jantar e me encontre daqui à uma hora na porta do refeitório.

Percorro todo o caminho de ontem, sabendo que há grandes chances de não ser recebida. O guarda me impede de entrar, mas meus gritos são altos o suficiente para retirar a líder de sua sala. Falo tantas mentiras que até me assusto, digo que Bellamy precisa melhorar sua pontaria e que um dia apenas de treinamento de tiro é insuficiente, que ele precisa praticar todos os dias em um ambiente mais real. Não enfrentaremos guerra no subsolo de Richmond, sim em ruínas e florestas e que o mínimo para bem condicioná-lo é exercitá-lo num espaço semelhante.

A morena chega me perguntar como nunca comentei isso antes, porém desconverso. Audrey acena mais entediada que qualquer outra coisa. Assina uma liberação para eu e Bellamy praticarmos tiro nas ruínas da cidade desde que voltemos antes do toque de recolher às 22h. Sugiro que ela mesma ou Nathan nos acompanhe para adquirir sua confiança. Para minha sorte Audrey diz não ser possível. Nathan precisa resolver algumas pendências com seu irmão falcão e ela tem seus próprios compromissos.

Corro até o refeitório, Bellamy já me espera impaciente.

— Já era a hora, Princess.

— Desculpe, precisei de mais tempo do que imaginava. Temos de correr. Não temos muito tempo.

— Essa parece ser a única coisa que fazemos por aqui. - Busco nossas armas na hoploteca, local onde essas são armazenadas, mais próxima. E sigo para uma casa vitoriana em ruínas distante o suficiente do Capitólio. Já está escurecendo, entrego uma das armas na mão dele e explico o que pretendo fazer. Não há ninguém a nossa volta, o que agradeço demais a Deus, mesmo não sabendo se ele realmente existe.

— Eu tenho um plano. - A cada frase atiro e ele repeti em sequência tornando impossível ouvir nossa conversa sem se tornar surdo no processo.

— Estou ouvindo.

— Existe uma sala a oeste, protegida demais para guardar apenas papéis sem importância como Audrey uma vez me disse. A sala é tão protegida quanto qualquer uma das salas de armas e ainda menos pessoas podem ter acesso a ela. Isso me leva a crer que tem algo de muito importante ali e que talvez possamos encontrar o que procuramos lá.

— Estou ouvindo. Como pretende invadir a sala?- Mais um tiro. Confiro novamente não há ninguém na nossa volta.

— Chantageei o zelador que limpa a sala regularmente.

— E?

— E eu consigo entrar desde que alguém controle o sistema de controle.

— Você não espera que eu…

— Preciso que você se vista como um dos Chefes de Segurança tome o lugar de um deles e destrua qualquer prova que eu estive lá.

— Não é uma boa ideia. Como pretende que eu consiga um uniforme?

— Você sabe como.

— Não sei não. Clarke, estou aqui há um dia. Todo lugar que passo, todos me encaram, acho difícil que alguém acredite que eu sou um deles.

— Posso conseguir um dos uniformes no depósito desde que você possa destruir esse vídeo também. E criar uma distração para os guardas e chefes de segurança.

— Agora sim você fala bem, mas mesmo assim é muito arriscado.

— É o único jeito. Nosso povo está em risco.

— Quando pretende colocá-lo em prática?- Atiro novamente só verificando se há mais alguém nos escutando.

— Amanhã.

— Precisamos esperar o resto do nosso povo estar de volta.

— Lá fora eles têm mais chance de fugir. Caso o nosso plano falhe.

— O que você acha que vai impedi-los de entrar? Se formos pegos eles não saberão até ser tarde demais.

— Você pode ter razão.

— Eu não posso. Tenho razão. Com Raven e Monty somos mais fortes. Já cogitou que pode haver um computador, que as informações podem estar nele? Ou que Raven pode nos dar rádios para melhorar nossa comunicação? Monty também pode nos ajudar a invadir o sistema.

— Aparentemente você tem razão. - Era por isso que precisava dele aqui. Uma nova perspectiva é sempre bem-vinda.

— E o que você pretende usar para chamar atenção?Algumas das bombas de Raven?

— A minha primeira ideia foi causar uma explosão ou incêndio, mas se tivermos a ajuda do Monty e invadirmos o sistema podemos desencadear todos os alarmes. Vai gerar pânico, eles vão achar que estão sendo atacados e…

— Consequentemente vão se dividir. Nem mesmo o Chefe de Segurança vai se preocupar em manter seu posto… - É como se eu e moreno completássemos pensamentos. Essa é a melhor ideia que já tivemos.

— No horário de recolher. É o momento em que eles estão mais desatentos. Se criarmos uma confusão boa o suficiente, ninguém vai sequer pensar em onde estávamos.

— Como faremos isso sem ferir ninguém? Pessoas se machucam nesses momentos- É um questionamento importante, é claro, não queremos mais mortes nas nossas costas. Nosso povo já perdeu integrantes demais e matar pessoas da Nação do Gelo também não está na minha lista de pretensões.

— Existe um sistema para protegê-los disso. Todos serão levados para abrigos próprios até perceberem que tudo não passa de uma falha do sistema.

— Não sei se é uma boa ideia. Não posso ser responsável por algo assim de novo. Você sabe que não existem garantias de sair tudo como planejado. E se alguém se machucar tentando fugir?- Fala Bellamy aflito.

— A Nação do Gelo está preparada para uma situação como essa. E nosso povo também vivenciou coisas como essa na Arca várias vezes.

— Mesmo assim. Tudo pode acontecer.

— Eu sei Bel, mas que escolhas nós temos afinal? Podemos sentar e esperar que nosso povo seja aniquilado ou podemos descobrir do que tudo isso se trata e tomar controle da situação. Não quero arriscar a vida de ninguém, eu desci aquela alavanca com você e ainda não me recuperei totalmente, porém não sei como fazer isso de outra maneira. Somos líderes, se não fizermos agora sabe se lá o que vamos enfrentar no futuro. É um mal necessário. Mas se você tem alguma outra maneira. Por favor, me diga. - Digo isso enquanto seguro sua mão. Não quero me responsabilizar por ainda mais erros, contudo não há muito mais que possamos fazer. Se eu pudesse mudar nossos primeiros dias na Terra, não teria tentado ser a líder com tanto esforço, muito pelo contrário me afastaria o máximo e o convenceria a fazer o mesmo.

— Você quem sabe. Vou te apoiar em qualquer decisão.


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Notas finais do capítulo

Vamos lá quero falar algumas coisas.
A fanfic ainda não terminou, mas já quero agradecer as pessoas que estão acompanhando. Sei que preciso me esforçar mais quanto a fanfic e estou buscando ter mais foco e dedicação por respeito a vocês e ao meu próprio trabalho.
Mas uma coisa que vem me incomodando é a quantidade de reviews, sei que grande parte desse declínio vem da minha constante ausência e de uma insegurança minha que foi passada na minha escrita, mas através das visualizações posso ver que ainda existem pessoas acompanhando.
E pra vocês que leem isso quero pedir uma coisa, não é bronca, não levem a mau, mas eu perco horas fazendo a fanfic e eu sei que não é perfeita.
Sei que existem uma porção de fanfics melhores que a minha, eu mesma já elaborei trabalhos melhores, mas também sei por diversas razões que a minha fanfic não é tão ruim assim para ser abandonada.
O que eu quero pedir é que vocês comentem. Não é chantagem, não vou deixar de postar, porquê respeito acima de tudo meu trabalho e aqueles que comentam, mesmo se for apenas uma pessoa. Mas vocês não sabem o quanto esses reviews significam pra mim, eu faço a fanfic porque quero compartilhar com o mundo um pouco das minhas loucuras. E falar pra parede é horrível, se você lê: comenta.
Não custa. Uma vez li uma frase que é absolutamente verdade se você tem cinco minutos para ler um capítulo, tem um para enviar um simples gostei.
Eu não me importo se forem críticas, sendo elas construtivas são muito bem recebidas. Essa fanfic é um treino, uso ela para melhorar minha escrita.
Dito isso desejo um Ótimo Ano Novo para todos vocês e nós vemos daqui a pouco.