Meu paizinho Naraku escrita por Okaasan


Capítulo 3
Uma longa madrugada


Notas iniciais do capítulo

Naraku sente em si os efeitos do feitiço. O que farão Kanna e Kagura?
Capítulo escrito às pressas. Perdoem eventuais erros...

Boa leitura! :-)



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Uma Longa Madrugada

Kagura e Kanna chegaram ao castelo sem dificuldades. A pequena estranhou que sua companheira não descera consigo.

— Kagura?

— Até mais! Vou dar uma volta, não tem nada para fazer aí! — respondeu ela, já subindo pelo ar em sua pena voadora.

— Vai espiar Sesshoumaru de novo — murmurou Kanna, de si para si. Foi até seu quarto e se sentou no chão, como de costume, e fechou os olhos. Sendo uma criatura sem alma, Kanna não costumava dormir: simplesmente mantinha sua mente livre de quaisquer pensamentos. Isso era equivalente a uma boa noite de sono.

Enquanto isso, a Mestra dos ventos voava pelos céus, contemplando a lua e lembrando de uma coisa que Kanna lhe dissera acerca do ritual mágico que presenciaram:

— Sabe, Kagura, Ishiteimei me disse que este foi o mais complicado desejo que ele realizou. Como nosso mestre Naraku é resultado de uma fusão de centenas de youkais, não se sabe qual será a intensidade do instinto paterno que ele receberá. Pode ser que ele apenas diminua a sua rudeza ao tratar conosco, como também ele pode se tornar extremamente possessivo e superprotetor.

Kagura meneou a cabeça, descrente.

— Você quer dizer que ele pode lidar conosco como se gostasse de nós? Ah, Kanna! — riu. — Você é tão inocente...

A pequena Kanna apenas olhara para ela por uns instantes e murmurou:

— Ele me trouxe o akita. Vai transformar Naraku também.

A menção ao cãozinho fez com que Kagura se sentisse muito desconfortável. Calou-se e assim permaneceu até deixar a criança em segurança no castelo do hanyou. Agora, sozinha, procurava não ficar lembrando disso e imaginava se teria a sorte de encontrar Sesshoumaru mais uma vez e poder admirá-lo incógnita.

***

Em dado momento daquela madrugada, cada célula do organismo de Naraku se revolvia, como se todos os youkais que o compunham resolvessem se agitar. O hanyou suava em bicas, agoniado, como se estivesse tendo um pesadelo. Enfim, acordou aos gritos e se sentou rapidamente, levando logo uma das mãos à cabeça, que doía. Sentia-se estranho após ter dormido por quatro horas seguidas, pois seu costume era de dormir apenas uma e somente uma vez a cada três dias. Um ser como ele, rodeado de inimigos, não podia se dar ao luxo de dormir mais do que isso — pelo menos, não até que a Joia de Quatro Almas se completasse.

— Maldição — resmungou —, eu não sentia dor de cabeça há cinquenta anos...

Então, Naraku respirou fundo e passou a mão pelos cabelos, notando que estavam trançados. Logo lembrou de Kanna e ficou incomodado. Levantou-se do futon e resolveu ir até o quarto de suas crias, imaginando se elas estariam bem, mas estacou no meio do corredor, confuso.

— Ora, quem se importa com aquelas inúteis? E por que eu, Naraku, me importaria? — disse ele, contudo sua dor de cabeça aumentou e sentiu náuseas. Era como se fosse extremamente necessário checar o bem estar de Kagura e Kanna. Rapidamente entrou porta adentro e a pequena albina abriu os olhos, surpresa. O hanyou se sentara à sua frente, irrequieto.

— Naraku...? O que...? — Naraku parecia travar uma batalha contra si mesmo. Kanna aguardou olhando para seu mestre que retorcia as mãos.

— Eu... Eu... Você... Está bem? — perguntou exaltado.

— Como?

— ME RESPONDA! VOCÊ ESTÁ BEM? — urrou o homem, ensandecido, batendo as mãos no assoalho.

Kanna, apesar da apatia de sempre, ficou muito intrigada com toda aquela preocupação do seu mestre. De repente, um pensamento caiu sobre si — era o resultado do ritual! Olhando mais atentamente para Naraku, ela percebeu que sua expressão era um misto de raiva, nervosismo e confusão; era nítido que nem ele estava se reconhecendo. Por sua vez, Naraku já não sentia a cabeça doer, mas estava furioso consigo mesmo. Para ele, aquele tipo de contato com uma cria demonstrava fraqueza de sua parte, logo ele que se considerava um youkai tão poderoso, odiado e temido. Ergueu-se do chão com um salto, se afastando de Kanna.

— Que loucura — resmungou, azedíssimo — Eu me recuso a me importar com... — a fala foi cortada por uma pressão violenta em sua cabeça e uma terrível vontade de vomitar. — Mas que diabos!

O homem deu uns passos para trás, desorientado pela dor de cabeça e com uma mão sobre a boca. Olhava aflito para a pequena albina, que já não tinha tanta certeza acerca do sucesso do feitiço. O youkai pedra não lhe disse que o feitiço tinha tais efeitos colaterais.

— Naraku, está tudo bem? — inquiriu Kanna, se aproximando com a intenção de tocar-lhe o braço. Naraku tentou se afastar, pois odiava contato físico, mas quando a mãozinha da menina tocou sua pele, ele sentiu uma intensa vontade de abraçá-la crescendo dentro de si.

Ainda lutando desesperado contra aquela onda de ternura, o hanyou deu um salto para trás e seus tentáculos foram em direção a Kanna, na intenção de jogá-la longe. Contudo, o tiro saiu pela culatra e ele foi vencido por aquela nova emoção assim que os tentáculos encostaram nela. Kanna foi puxada contra seu corpo e abraçada fortemente. A respiração de seu mestre estava descompassada e o abraço era sufocante, mas a menina preferiu não interferir e deixou que ele experimentasse mais daquela sensação inédita. Seu rosto permanecia impassível, mas sua mente estava a mil. Se eu tivesse uma alma, estaria feliz agora; como eu queria que Kagura estivesse aqui!, pensava ela.

Após longos cinco minutos, os tentáculos de Naraku soltaram Kanna delicadamente no chão. Os dois se encararam no mais absoluto silêncio, até que ele pôs a mão no ombro da pequena, ainda parecendo confuso. Todavia, a costumeira expressão cruel não estava mais lá; era muito semelhante à face amigável do jovem Kagewaki antes de ser possuído pelo hanyou.

— Eu a machuquei, Kanna?

— Não.

— Vamos, não precisa mentir. Eu a apertei com meus tentáculos, é óbvio que deve ter doído.

— Eu não minto, Naraku — retrucou ela, erguendo os braços como que para comprovar o que dizia. — Não estou sentindo nada. Mas e você, como está?

Naraku fez um muxoxo.

— Sinto como se tivesse o dever intransferível de cuidar bem de você e de Kagura — afirmou, insatisfeito. — Como se nós fôssemos uma... — hesitou.

— Família? — completou Kanna.

O rosto dele se crispou:

— Família? Que absurdo! Eu, Naraku, não preciso de família! No entanto, eu não consigo parar de sentir essa coisa no coração... — e, mais uma vez, abraçou Kanna, agora apenas com os braços. Ela, depois de alguns instantes de indecisão, resolveu retribuir o abraço, desajeitadamente. Subitamente, Naraku interrompeu o abraço.

— Onde está Kagura?

— Saiu... — respondeu a menina, intrigada com a pergunta. Afinal, era comum Kagura dar suas escapadas noturnas e o hanyou sabia disso.

— Para onde ela foi? — inquiriu ele, alterado.

— Eu não sei, ela nunca diz.

Então, Naraku rapidamente se afastou de Kanna, totalmente furioso, criando uma barreira ao seu redor. Já ia saindo pela janela mesmo, quando a menina interveio:

— Naraku, para onde você vai?

— Onde mais, Kanna? Vou buscá-la! E você, fique aqui esperando!

Kanna permaneceu olhando seu mestre pela janela até que desaparecesse nos céus e pensando com seus botões:

— Parece que essa noite vai ser longa...

***

Num lugar bem distante dali, a Mestra dos ventos flutuava distraída em sua pena voadora. Já estava desistindo de encontrar Sesshoumaru, quando ouviu uma voz muito conhecida gritando a plenos pulmões:

— KAGURA!

“Que inferno”, resmungou ela. Criou um redemoinho a partir do seu youki intentando fugir, mas Naraku foi mais veloz e um de seus tentáculos enlaçou o corpo da youkai, sem, contudo, apertar demais. Ela foi puxada para dentro da barreira e forçada a encarar o hanyou, que estava furibundo e ainda confuso.

— O que quer, Naraku? — perguntou ela, altiva.

— O que você pensa que estava fazendo, saindo do castelo sem minha proteção? — bufou.

Kagura arqueou uma sobrancelha. Que tipo de pergunta era aquela?

— Ora, Naraku, meu mestre, não se lembra de ter me mandado ir até o vilarejo de InuYasha para matar o cachorro de Kanna? — retrucou, sarcástica.

A resposta teve um efeito inesperado em Naraku. Imediatamente ele arregalou os olhos, parecendo chocado com o que ouvira. Contudo, se recompôs em seguida:

— Sim, eu mandei! Mas era para você voltar para o castelo, sua irresponsável! Eu dormi demais, não pude ordenar aos saimyousho para te acompanhar!

— Todo este espetáculo porque eu saí e você não viu? Tem medo que eu fuja, meu mestre?

— Sua estúpida! Temo por sua segurança!

— Que loucura é essa agora? Eu sou Kagura, a Mestra dos ventos! Ninguém, além de você, me derrotaria!

— Cale a boca, idiota! Você estava desprotegida e tão distraída que só me notou quando chamei o seu nome! Qualquer youkai poderia tê-la atacado! E, se isso acontecesse, eu... — hesitou. — Jamais me perdoaria! Como também não me perdoo por ter feito aquilo à minha Kanna!

Kagura arregalou os olhos. Finalmente o tentáculo a soltou, mas o olhar de Naraku sobre si era tão aterrador que ela continuou se sentindo presa e, também, sem fala. Finalmente, o hanyou tomou o caminho de volta para o castelo e, dentro da barreira, fez-se um silêncio sepulcral.

Kanna, sua idiota... Se, antes, tínhamos um tirano cínico nos controlando, agora temos um maldito ‘paizinho protetor’, e tudo por culpa sua!”, pensava Kagura, furiosa. De repente, ouviu seu mestre lhe falar em voz baixa:

— Presumo que você tenha escondido aquele cachorro.

— Nada lhe escapa, não é? — suspirou ela, cansada.

— Diferente de Kanna, você não é de me obedecer cegamente. E, excepcionalmente, hoje estou satisfeito por isso — disse o hanyou, parecendo ansioso mais uma vez e, agora, resmungando baixinho consigo mesmo. As palavras soaram ininteligíveis.

— Como assim, Naraku? O que está dizendo? — perguntou Kagura, muito confusa.

— Oh, nada. Esqueça — fez Naraku, impaciente, acenando com a mão.

Novamente, silêncio dentro da barreira.

— Kagura?

— O que é?

— Onde está o cachorro? Vou buscá-lo para Kanna.

O queixo de Kagura caiu. Naraku, sem dar muita importância, olhou demoradamente para ela, de alto a baixo, e falou:

— Creio que devo providenciar um quimono novo para você também.


Continua...


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Notas finais do capítulo

Espero que tenham gostado!
Obrigada, leitores, até o próximo capítulo. ;-)

~TheOkaasan



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