Meu paizinho Naraku escrita por Okaasan


Capítulo 2
Será possível, Kanna?


Notas iniciais do capítulo

Aproveitei que o capítulo já estava pronto e resolvi postá-lo logo, mas as atualizações serão semanais. :-)
Aceito sugestões para o roteiro e críticas!

Boa leitura!



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Capítulo I - Será possível, Kanna?

— Que negócio é esse, Kanna? — indagou Kagura, boquiaberta, vendo Kanna entrar no quarto das duas com o cachorrinho junto ao peito e o espelho debaixo do braço.

— Isto é um cachorro, Kagura.

— Eu sei que é um cachorro, sua idiota! — esbravejou ela, irritada com a resposta ingênua da menina. — Quero saber por que você trouxe esse bicho para cá, sabendo que Naraku odeia animais, principalmente cachorros! Você ficou louca?

Kanna piscou, inocentemente, e respondeu com sua voz despida de emoção:

— Ele é macio e tem pelos brilhantes. E, veja, ele gosta de estar comigo — de fato, o animalzinho estava totalmente à vontade no colo dela e, no momento, olhava curioso para Kagura.

— Mais essa agora! Kanna! Nós não temos o direito de trazer um animal para dentro do castelo de Naraku! Ele pode destruir esse cachorro em segundos e te destruir também!

Kanna se sentou no chão, tranqüilamente, olhando para sua companheira como se não entendesse a gravidade dos fatos.

— Veja, Kagura — disse ela, pondo o cãozinho no chão e estalando os dedos no ar. O animal prontamente se ergueu nas patas traseiras. — Ele fica de pé. E, se eu fizer esse som que Rin, a criança humana de Sesshoumaru faz — ela fez um biquinho e começou a assoprar insistentemente, até conseguir assobiar —, ele responde dizendo “au”.

— Au, au! — confirmou o filhote.

A Mestra dos Ventos se enervou ainda mais com aquela justificativa infantil e irresponsável. Kanna, sendo um ser sem alma, não sentia medo ou receio de nada, e isso complicava consideravelmente a situação. Já ela, Kagura, tinha muito amor à própria vida e não gostava de correr riscos desnecessários — mas também detestava ver seu odioso mestre espezinhando a pequena companheira.

— Isso não importa, menina! Se desfaça desse bicho! Se Naraku descobrir que...

— Se eu descobrir o que, Kagura?

Ah, não! Pensou Kagura, sentindo um calafrio. Naraku tinha chegado à porta, parecendo surpreso e aborrecido. Logo seus olhos encontraram Kanna e o akita, que se sentiu acuado e latiu mais uma vez.

— Naraku! — exclamou Kagura, se pondo rapidamente entre eles e fazendo uma reverência — Eu estava justamente dizendo a ela que deveria se desfazer do animal...

— Silêncio... Kagura. — interrompeu ele, austero. A youkai se apavorou. O hanyou olhou para o cão, que estava no colo da pequena, e estreitou os olhos.

— Naraku, me deixe ficar com... — ia perguntando Kanna. O homem simplesmente fechou a carranca e respondeu com rispidez:

— Kanna, hoje é o seu dia de pentear meus cabelos. E você, Kagura, se desfaça desse lixo.

— EU? Mas por que EU? — protestou ela. A criança se levantou inexpressiva, porém cabisbaixa, e levou o akita até Kagura.

— Porque eu quero — replicou ele, com seu tom de voz mais letal — Kanna, a partir de agora, estará ocupada cuidando de mim. Agora, suma daqui com essa coisa. Ou melhor... — deu um pequeno sorriso diabólico — Por que não o leva até o vilarejo de Kaede e o mata perante Kagome? Ela adora esses bichos, vai apreciar o espetáculo...

— Como... Como você pode fazer isso com ela? — revidou a youkai, trêmula de ódio.

— Fazendo! — e, virando-se para Kanna, abriu os braços, perguntando com um falso tom piedoso: — Você ficou triste, pequena Kanna?

— Não — respondeu ela. Realmente ela não estava triste, apesar de entender que aquela atitude do hanyou era má, afinal, não havia a mínima necessidade de matar o animal.

— Ouviu, querida Kagura? Ela não liga. Agora, pare de bancar a protetora dela e me obedeça! Venha, Kanna! — ordenou ele; a pequena, imediatamente, o seguiu para fora do cômodo, olhando para o akita uma última vez com seu olhar vazio.

Kagura suspirou, derrotada e com o coração em pedaços. A vida era injusta com elas, muito injusta, e aquele Naraku era um desgraçado. Mas aquilo não ficaria assim! Ela não se daria por vencida facilmente.

***

Kagome olhou para o reloginho de pulso: estava atrasada. Marcara para ir ao poço às seis da tarde e já eram quase oito horas. Perdera um tempo enorme anotando os pedidos de seus amigos, entre um "Senta" e outro, e confortando Shippou, que estava um tanto carente naquele dia e choramingava o tempo inteiro, não querendo se afastar dela.

O grupo se aproximava do poço quando foi surpreendido por um vendaval peculiar e a silhueta da Mestra dos Ventos se mostrou à sua frente.

— Já não era sem tempo, Kagome Higurashi.

Todos se alvoroçaram e se prepararam para o confronto, quando ela falou com arrogância:

— Fiquem quietos, idiotas! Eu só vim porque Naraku me mandou matar esta coisinha — e ergueu o cachorrinho à vista deles — perante Kagome, alegando que ela gostaria de ver tal espetáculo.

— Kagura, sua maldita! — gritou o hanyou, já com a Tessaiga em punho. A colegial, vendo o akita nas mãos de Kagura, ficou desesperada.

— Não faça isso, por favor! É só um cachorro, Kagura!

A youkai fez menção de atirar o filhote no poço.

— NÃO! — gritaram todos.

— Quer salvar a vida deste animal, Kagome? — disse ela, altiva. — Pare de enrolar e leve-o com você para sua era, é simples.

— Que conversa é essa? Não dê ouvidos, Kagome, deve ser uma armadilha! — exclamou Sango.

— Calada, exterminadora! — bradou Kagura.

Miroku tirava a luva da mão direita. A cria de Naraku simplesmente estendeu o cachorro para a frente do corpo:

— Vai me sugar com a Kazaana, monge? Assim você vai matar o cachorro junto.

— Diga logo o que está tramando, Kagura! — gritou ele, frustrado.

— E agora? Não podemos deixar o pobrezinho morrer — choramingou Kagome.

— Mas pode ser uma armadilha! — alertava Sango, brandindo o Hiraikotsu.

— Mas, Sango, olhe! Ela até agora não tentou ferir o cachorro — apontou Shippou.

— É uma armadilha! Ela está a serviço de Naraku, vai nos atacar quando estivermos despercebidos! — bradou InuYasha.

A balbúrdia continuava, até que a youkai se impacientou e gritou:

— Vocês não se decidem! Ande, Kagome, sua idiota, pegue o cachorro de Kanna e desapareça com ele daq- — ela ainda tentou parar de falar a tempo, mas era tarde. Kagome, InuYasha, Shippou, Miroku e Sango arregalaram os olhos. O cãozinho era de Kanna?

— Você pretende matar o cachorro da sua irmã? — indagou o kitsune, chocado.

— E eu disse isso, seu retardado?

— É tão maligna que não tem pena da própria irmã, Shippou! — esbravejou InuYasha, furioso.

— Falou o indivíduo que amputou o braço do próprio irmão... — zombou ela.

— Maldita! Isso não é da sua conta! Vou acabar com você! Kaze no...

— InuYasha, espera! — gritou Kagome. — Kagura, você quer que, na verdade, eu proteja esse filhote, levando-o para minha era?

— Ufa, até que enfim entendeu... — suspirou Kagura, cansada.

— Qual o seu objetivo, Kagura? — inquiriu Miroku, desconfiado. — Não é de seu feitio fazer boas ações.

— Seus estúpidos! — gritou ela, exasperada. — Só não quero que aquele maldito mate esse bicho idiota, eu jamais me perdoaria! Pelos deuses! Vocês são todos uns idiotas! Não imaginam o quanto me dói ver aquela criança sendo tratada como, como... — calou-se, tentando esconder os olhos marejados e com raiva de si mesma por ter se deixado levar pelas emoções justo diante de seus inimigos.

O grupo ficou calado, vendo Kagura com a cabeça baixa, parecendo miserável, olhando para o akita, que agora lambia o seu dedo. Kagome, diante daquilo, correu para pegar o animal:

— Então, Kanna queria este cachorro, mas Naraku não permitiu... É isso, Kagura?

— Já disse que é — retrucou ela, azeda. — E não fique aí me olhando com essa cara de compaixão, humana infeliz, pegue logo esse bicho e suma com ele. Muito provavelmente, aquele maldito já sabe que não o matei e irá me castigar. Mas, sendo por Kanna, tudo bem.

— Mas, Kagura... — ia dizendo a colegial, que ficara muito sensibilizada e já pegara o cãozinho, mas foi interrompida.

— Já falei demais! — aparteou Kagura, que pegava sua pena voadora e rapidamente subia para o céu, não sem antes olhar diretamente nos olhos de Kagome, dizendo implicitamente que aquilo deveria ser mantido em sigilo.

O grupo viu a serva de Naraku desaparecer no céu e se entreolhou, confuso. Logo cercaram Kagome e lhe tomaram o cão, que passou de mão em mão sem se incomodar. Depois de alguns “que gracinha” e “oh, como é fofo”, InuYasha se sentiu enciumado.

— Não tem cheiro de youkai, então é só um pulguento mesmo — resmungou o hanyou. — Não sei o que vocês viram nele.

— E não tem nenhum tipo de youki... — disse Miroku, pensativo. Shippou já falava para ficarem com ele para brincar, mas Sango não deixou:

— É certo que parece um cachorro comum, mas vocês viram: Naraku quer matá-lo e Kagura o trouxe aqui para protegê-lo. Melhor não demorar, Kagome, leve-o logo.

E, ainda conversando agitados pelo recente acontecimento, eles se despediram de Kagome, que saltou para dentro do poço com o cãozinho.

— Souta vai gostar de ter um amiguinho novo!

***

Ao contrário do que Kagura pensava, naquele instante ela não estava sendo vigiada. A dona do espelho terminava de pentear a volumosa cabeleira ondulada de Naraku, que estava sentado na posição de lótus, em seu futon. De pé, ela deslizava um pente de dentes largos cuidadosamente pelos fios negros, pensando se Kagura já havia dado cabo do seu bichinho e no plano do youkai pedra. O silêncio reinava no cômodo, até que seu mestre lhe perguntou, com voz arrastada:

— Kanna, falta muito?

— Não — disse ela, inexpressiva.

Devido ao extremo cuidado da criança com aqueles cabelos, o deslizar do pente mais parecia um afago e, logo, Naraku se sentia em paz e sonolento. Ela era a única criatura que o fazia ficar à vontade durante aquela tarefa (diferente de Kagura que, "sem querer", lhe arrancara um tufo de cabelos da última vez que fora ordenada a penteá-lo). Lentamente, se deitou de lado no futon e resmungou, sem olhar para a menina:

— Continue.

Então, Kanna (que já sentia as pernas doloridas) se ajoelhou atrás de seu mestre e continuou a pentear as madeixas mecanicamente. Em alguns minutos, o hanyou havia adormecido. Ela esticou o pescoço para vê-lo; Naraku estava totalmente relaxado, o rosto sereno, sem aquela costumeira expressão maligna que lhe era habitual. Era apenas um jovem homem que dormia, nada parecido com o demônio cruel que era.

— Que sorte a minha. Poderei sair rapidamente, sem que ele note, e voltar para protegê-lo de algum inimigo... — murmurou a pequena, enquanto puxava cuidadosamente um único fio de cabelo dele, com raiz, e o enfiava num bolsinho de suas vestes, junto com um fio branco, que era dela. Voltando para a posição anterior, habilmente prendeu-lhe os cabelos numa trança meio frouxa. Terminada a cansativa tarefa, levantou-se satisfeita.

— Falta bem pouco agora... Um fio do cabelo de Kagura — disse ela, cobrindo as pernas de Naraku com um manto e saindo silenciosamente do cômodo.

Chegando em seu quarto, Kanna olhou pela janela e chamou sua companheira telepaticamente. Em instantes, uma irritada Kagura chegava ao castelo.

— O que você quer dessa vez, Kanna? — indagou, ríspida.

— Fiz Naraku dormir. Quero que me leve a um lugar.

— E por que eu faria isso?

Kanna sussurrou:

— Vou fazer algo de bom por nós três.

***

No caminho para a floresta, Kanna conseguiu, com muita dificuldade, convencer sua companheira a cooperar com a magia do youkai pedra. Ainda não eram dez horas da noite, quando elas chegaram até o local onde Ishiteimei repousava. O youkai pedra cumprimentou alegremente Kanna, assustando a outra.

— Ui, o feiticeiro é esta coisa? — disse ela, com um gritinho.

— “Coisa”, não, senhorita! Eu sou o youkai pedra, Ishiteimei, às suas ordens — e, voltando o olhar para Kanna, perguntou: — Trouxe o que lhe pedi?

— Sim — murmurou a pequena, tirando do bolso os dois fios de cabelo. E virou-se para Kagura: — Preciso de um fio de cabelo seu, com raiz.

— O mais comprido possível — completou Ishiteimei.

— Para quê? — volveu a outra, desconfiada.

— Não dispomos de muito tempo, Kagura, apenas me dê, por favor.

— Mas...

— Por favor, Kagura — disse Kanna. Sua companheira acabou cedendo e tirou, a contragosto, um fio de sua franja.

— É muito pequeno! Assim ele não vai ter tanto zelo por você como terá por ela! — queixou-se o youkai.

— Ah, qual é? Vai ser esse mesmo! — azedou ela. — Você sabe, Kanna, que o que eu queria para aquele desgraçado era...

— Não diga isso — interrompeu-lhe a menina. — Você já se alimentou com todo aquele azevinho que deixei aqui, Ishiteimei?

— Claro... E lembre-se, criança, eu só conseguirei manter o feitiço por três dias, que é o máximo que meu youki permite, se você me trouxer azevinho de três em três horas. A bem da verdade, não sei se vai dar muito certo, já que esta senhorita não quer o mesmo que você. Por que não a deixa fora do feitiço?

— Por mim, tudo bem — resmungou Kagura. — Eu não quero um traste daquele como pai! Kanna, esqueça de mim! Faça isso sozinha!

— Não — retrucou Kanna. — Kagura, eu quero que você participe comigo. Se der certo — cochichou no ouvido da outra —, é a oportunidade que você tem de ganhar um quimono novo dado pelo Naraku.

As duas se encararam. Definitivamente, Kanna pensava como uma criança, ponderou Kagura. Um breve silêncio se fez, até que a Mestra dos Ventos concordou, aborrecida. Faria aquilo por Kanna, que parecia acreditar firmemente que um “pai Naraku” seria algo bom para ambas.

— Que seja, que seja! E agora, tem algo que devamos fazer para acabar logo com isso?

— Me deem os fios de cabelo. Eu vou absorvê-los e, enquanto isso, me mandem seu youki. Não vai demorar, apesar de ser um pouco complexo para mim.

As crias de Naraku fizeram o que lhes foi pedido: um youki de cor violeta se misturou à aura verde de Ishiteimei e ambas sentiram muito calor, a ponto de suarem. A voz do youkai se fez ouvir mais uma vez:

— Agora, olhem para cima e declarem o seu desejo em voz alta, e eu pronunciarei as palavras sagradas! Logo em seguida, se afastem de mim, porque o brilho será muito intenso e poderá cegá-las!

Kagura arqueou uma sobrancelha.

— Como é para falar?

— “Chichi-ue Naraku-sama” — respondeu o youkai pedra. Ela fez uma careta. Kanna murmurou um “Sim” apático.

Então, à uma, Kanna e Kagura exclamaram, olhando para o céu estrelado:

— Chichi-ue Naraku-sama!

Seigan fuyo! — exclamou o youkai pedra, começando a brilhar fortemente. Sua cor ficou incandescente e logo o ambiente estava quentíssimo. Kagura, assustada, sacou sua pena voadora e subiu nela, arrastando Kanna consigo.

— Que loucura! — exclamou ela. A criança, atrás de si, suspirava aliviada por saírem do calor mágico. — Como saberemos se isso vai funcionar, Kanna?

Kanna, com sua expressão vazia, fez um gesto com as mãozinhas indicando que não sabia. Contudo, tudo correra bem; elas não se demoraram por lá. Com certeza, Naraku ainda estaria dormindo. A pequena estava convicta de que algo diferente iria acontecer nos próximos três dias.

— Tudo vai dar certo — disse ela, indiferente, mas já pensando nas diversas coisas que pediria ao seu mestre. Uma delas seria reaver o akita.


Continua...


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Notas finais do capítulo

Pois é, galera, o ritual foi feito!
Originalmente, a Kanna não conversa quase nada, né? Mas nesta fic, não tem jeito. Ela vai falar um bocado, não tanto quanto Kagura, que também vai se surpreender...
Não reparem meu roomaji direto do Google Translator! Ou vocês queriam que o nome da frase mágica fosse "abracadabra"? kkkkk XD

Agradeço a #MissNeko e a #Lukkan pelos comentários no prólogo.

Até a próxima semana!
~TheOkaasan



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