Vigilantes do Anoitecer escrita por Lady Angellique


Capítulo 19
Capítulo 18




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Eu deixei minha cabeça cair na janela do trem, enquanto o mesmo viajava rapidamente, atravessando a grande Metrópole para depois seguir o seu caminho até a pequena cidade onde eu ia passar meus próximos anos treinando.

Sim, eu aceitei a proposta da Sra. Serenity, ou melhor, de Serenity, pois a mesma havia dito que não gostava da palavra “senhora", principalmente quando essa palavra antes de seu nome, que isso a fazia se sentir velha, embora ela não fosse tão velha assim, pelo menos eu acho que não. Palavras dela não minhas, porque eu duvido seriamente que aquela mulher tenha uma idade entre trinta e quarenta anos, que dirá menor que isso, mesmo ela sendo conservada, os seus olhos já demonstram experiência suficiente para uma vida toda, e agora ela parecia estar pronta para passar isso adiante.

Eu havia considerado todos os prós e contras a proposta que ela havia me feito, e mesmo depois disso eu ainda fiquei em dúvida, então resolvi pedir a opinião para uma pessoa em particular, que eu sei que posso contar sempre com ele e que sempre irá me dizer a verdade, com meu irmão, Elric.

Ele ficou surpreso quando lhe contei da proposta que eu havia recebido, depois ele ficou super animado, mas quando viu que eu estava hesitante em aceitar, ele assumiu o papel de irmão mais velho e me aconselhou o que seria melhor, mas os conselhos não deram em nada porque ele simplesmente disse que era pra eu seguir os meus instintos e escolher aquilo que vai ser melhor pra mim, e depois ele disse mais uma vez que vai estar sempre do meu lado seja qual for a minha decisão, mas que era para eu pensar bem, porque o raio não caí duas vezes no mesmo lugar.

Acho que você já consegue ver qual seria a escolha dele não é?

No fim, eu acabei decidindo por vir com ela, realmente é uma oportunidade única ser treinada por uma Sentinela, e eu não vou desperdiçar uma oportunidade assim, e talvez seja melhor eu me afastar um pouco daqui, esse lugar me trás lembranças boas e ruins dele, porque embora todos digam ao contrário, ele morreu para me salvar e se eu fosse mais forte ele não precisaria ter feito esse sacrifício. E eu vou me tornar forte o suficiente para mostrar que o sacrifício dele não foi em vão.

Minha mente começou a divagar, enquanto eu observava a paisagem que mudava a minha frente. Serenity havia saído da nossa cabine particular para fazer um telefonema, então eu aproveitei para relaxar e esquecer um pouco das coisas.

Lentamente a paisagem foi mudando drasticamente, enquanto a área urbana sumia e a área rural surgia, vários tipos de árvores podiam ser vistas até aonde as minhas vistas alcançavam, ao longe, alguns animais podiam ser vistos andando, rastejando, voando, correndo ou qualquer outra coisa que um animal pode fazer. Embora, por ser um lugar perto da Grande Cidade dos Sonhos, muitos animais se afastam dali, com medo dos humanos ou qualquer outro ser que possa fazer mal para eles, e por isso em sua maioria, os animais que vemos são de espécies que já se acostumaram conosco ou foram domesticados pelos mesmos.

Pensando nisso, eu olhei para Seth, que estava sentado no parapeito da janela com as patinhas no vidro, olhando atentamente lá fora. Ele nunca havia viajado assim, pra falar a verdade, ele nunca havia viajado acordado, porque quando nós fomos para a Capital de avião, ele foi dormindo, porque o controle de animais achou que ele viajaria melhor e mais tranquilo se ele estivesse dormindo, então eles lhe deram um remédio pra dormir, ao qual ele só acordou pouco antes de pousarmos. Eu sorri para o meu pequeno amigo e acariciei as suas costas, sentindo a textura dos seus pelos macios. Serenity havia dito que o lugar pra onde íamos, tinha muita vegetação em volta, e ela disse que seria bom para Seth que eu deixasse o mesmo explorar. De início eu fiquei meio relutante, mas ela me disse que pelo fato dele ter crescido comigo, ele me considera uma mãe, e que mais cedo ou mais tarde ele iria voltar pra mim, então eu acho que seria melhor mesmo eu deixar ele se divertir, pois, todos nós temos um espírito dentro da gente, que anseia por ser livre, para explorar o mundo e fazer o que quisermos. E eu tenho certeza que Seth deve sentir saudades da floresta, o seu habitat natural, e o melhor que eu vou fazer agora é soltar um pouco as amarras dele e torcer para que ele volte pra mim depois.

O trem seguiu viagem, saindo da pequena ilha que formava a Capital, ou a Cidade dos Sonhos como você preferir chamar, em direção a Westland depois de percorrer um pedaço em que não havia nada mais que árvores e alguns animais, ele entrou numa espécie de ponte que era feita somente para trens, que atravessava o mar até o próximo continente. Existiam outros meios de transporte que não fosse os trens, mas por um motivo que Serenity não quis revelar nós estamos indo de trem, ao qual a viagem dura cerca de sete horas, ainda é rápido, pelo fato que o trem que estamos viajando ser um dos mais rápidos de todo o planeta e se fossemos viajar em um normal seria bem mais longa a viagem. Mas mesmo assim, a viagem seria muito longa e cansativa.

Eu acabei cochilando, enquanto observava o vasto mar que se estendia de todos os lados da ponte, e a vigem pareceu ser mais curta do que eu imaginava, tanto que quando eu senti meu ombro ser sacolejado e alguém chamando o meu nome, eu reclamei e comecei a resmungar – porque eu não tinha ideia de quanto tempo eu tinha dormido – antes de abrir os meus olhos e ver que era Serenity que me chamava.

Ela riu.

—Você dormiu praticamente a viagem inteira.

—Hãã, desculpe? – pedi, sem saber o certo o que dizer.

—Não precisa pedir desculpas, você devia estar muito cansada, esses dias foram muito difíceis – ela me tranquilizou com um sorriso doce – Eu só a acordei porque falta mais ou menos uma hora até chegarmos à estação e depois nós vamos pegar um carro até a minha casa, e eu queria saber se você não gostaria de comer alguma coisa. Já vai ser tarde quando chegarmos.

—É, eu to com um pouco de fome – eu me levantei e me espreguicei, sentindo os meus músculos reclamarem por eu ter ficado tanto tempo em uma posição – Você quer que eu traga alguma coisa?

—Não precisa, querida, eu já comi, e seu amiguinho também – ela gesticulou para Seth que havia se enroscado no canto do banco e agora estava dormindo – Eu trouxe comida pra ele mais cedo.

Sorri agradecendo e depois saí da cabine indo em direção ao vagão restaurante para buscar algo para comer. Enquanto eu andava pelos corredores do trem, eu olhava a paisagem lá fora, bem não é bem uma paisagem em si porque eu só vejo água, água pra todos os lados e ocasionalmente um pássaro que decidiu se aventurar em alto-mar. Ainda bem que eu dormi, se eu ficasse olhando durante tanto tempo para o alto-mar assim eu iria acabar ficando muito enjoada e as consequências não seriam nada bonitas.

O vagão-refeitório não estava tão cheio assim, e como a fila estava pequena foi rápido pegar algo para comer e achar uma mesa para que eu pudesse aproveitar minha refeição em paz, e por sorte eu achei uma vazia no canto e sentei lá rapidamente antes que alguém sentasse no meu lugar.

Comecei a comer silenciosamente, colocando os meus fones de ouvido e relaxando com músicas clássicas que eram comuns na Terra, hoje elas são consideradas fora de modas e antigas demais, hoje em dias as pessoas só escutam músicas eletrônicas que é o gênero musical do momento, eu curto, mas nem tanto. Prefiro as minhas clássicas que são bastante relaxantes.

As águas do oceano daqui são muito lindas e da certo conforto somente de ficar olhando pra elas, e me trouxe uma paz que eu estava precisando no momento, embora depois de certo tempo olhando para o mar eu tenha começado a ficar enjoada.

Eu acabei ficando distraída escutando Bach e terminando de comer um sanduiche – que estava muito gostoso por sinal – e de beber o meu suco de laranja natural, quando alguém se sentou no banco da frente da minha mesa e me deu um largo sorriso mostrando todos os dentes. Ele era o tipo de cara que fica o tempo todo em uma academia e toma anabolizantes somente pra ganhar músculos e botar medo em outros homens ou tentar atrair algum tipo de mulher que goste disso. Mas ter músculos não quer dizer que você é forte, e tamanho também não é documento e se alguém apostar uma grana comigo eu derrubo esse cara em dois tempos. Duvida? Paga pra ver!

Ele é enorme, literalmente enorme, tanto na altura – que deve ter cerca de dois metros – quanto nos músculos. Ele é cheio de tatuagens, todos os lugares que estão visíveis tem algum tipo de tatuagem, desde uma tribal no braço até um pequeno peixinho na clavícula – serio isso? Além de ter um pierceng na sobrancelha direita e outro no seu lábio, isso porque eu não falei da quantidade de “joias” que ele estava usando, como diversos anéis, brincos e um colar enorme. Qual era aquela gíria usada muito na Terra há centenas de anos atrás? Que era usada por jovens da periferia... Ah sim! Ostentação. Esse cara esbanjava isso e parecia querer demonstrar que tinha grana, talvez ele pensasse que isso atrai garotas. Bom, querido, não o meu tipo e garota.

O encarei e levantei uma sobrancelha.

—Precisa de alguma coisa, senhor? – questionei vendo ele me encarar com um sorriso os lábios e não dizer nada.

—O que uma garota bonita como você faz sozinha aqui? – ele perguntou ignorando a minha pergunta deliberadamente.

Serio isso produção? Ele esta me paquerando? Não me leve a mal, não estou julgando ele pela aparência... Talvez eu esteja sim, mas a questão é: nunca confie em um cara cheio de músculos que toma anabolizantes, e começa a te paquerar do nada, sendo que você nunca viu ele na vida. Principalmente quando você esta sozinha e um ser desses chega pra perto de você.

—Hãã, acho que isso é meio obvio, não? – perguntei com um pequeno sorriso – Estou fazendo o que todo ser humano faz, estou comendo e respirando.

O seu sorriso sumiu do rosto e ele me olhou um pouco confuso, ele piscou algumas vezes me encarando. É, parece que todos os anabolizantes fizeram o cérebro dele diminuir.

—O que...? Você sabe quem eu sou, garota?! – ele perguntou com raiva, parecendo estar se controlando para não gritar.

—Não. E você sabe quem eu sou?

—Claro que não!

—Exatamente. Estamos quites.

Eu juro que eu estava me controlando para não rir da cara que aquele desconhecido fez, totalmente surpreso, como se ninguém nunca tivesse o enfrentado desse jeito. Tadinho, ele não me conhece.

Me levantei antes que ele pudesse falar alguma outra coisa e saí do vagão-refeitório, pelo menos alguma coisa tinha que acontecer para alegrar meu dia.

***

A viagem acabou sendo mais rápida do que eu pensei. Depois que o trem chegou à cidade, Serenity alugou um carro para podermos ir direto para a cidade dela que ficava a mais uma hora de viagem da capital de Westland até a cidade Lúpus, foi bem tranquilo e até mesmo divertido, porque Serenity se mostrou ser uma mulher bastante divertida que sabia contar histórias de um jeito que te prende do início ao fim.

Nós chegamos a uma pequena vila e logo na entrada da cidade tinha uma placa com os dizeres: “Bem Vindos a Lúpus!”. Como toda vila essa era pequena, mas ao mesmo tempo não pequena demais, eu pude ver que a cidade possuía de tudo um pouco, lojas e mercados o suficiente para aquela pequena população sobreviver sem ter que recorrer a uma ida a capital de Westland. Nós ainda percorremos cerca de quinze a vinte minutos até que chegamos a uma porteira e Serenity colocou a sua mão no leitor de digitais para abri-la, quando os portões se abriram e depois que entramos, ela se virou pra mim e disse:

—Bem vinda a sua nova casa.

Sorri, não sabendo direito o que responder, somente observei o lugar, observado em volta. É um sitio bem pequeno, de acordo com Serenity, deve ter mais ou menos de dez a quinze hectares, ela disse que não se lembra. A sua propriedade é passada de geração a geração por cerca de dez gerações, ou seja, esse lugar existe há muito tempo e me admira ser um sitio apenas para uso próprio, porque de acordo com Serenity ela não tinha tempo e nem paciência para cuidar de seu sitio, então ela vendeu quase todos os animais menos alguns os cavalos – porque ela ama cavalos – e algumas galinhas, duas vacas e um boi, porque de acordo com ela, ela vai gastar menos se tiver suas próprias galinhas em casa que botam ovos que ela pode usar pra fazer um monte de coisas, além de poder comer as galinhas depois, e o mesmo se aplica as vacas, que produzem leite e carne. Ela disse que se precisar, ela compra mais, mas agora ela sobrevive apenas com o seu salário de Sentinela. Já da pra ter uma noção de quanto um Sentinela ganha não é mesmo?

—É muito bonito aqui – comentei enquanto ela estacionava em frente a sua casa que tinha dois andares.

—É mesmo, não é? – ela sorriu pra mim saindo do carro, quando eu saí também ela me disse: - Você vai ver que essa casa é muito mais simples do que você esta acostumada. É claro que temos tecnologia, mas somente o essencial, a maioria dos moveis são de madeira invés de metal, é muito mais bonito assim.

Realmente, deve ser mais bonito e mais rústico. Hoje em dia é muito difícil encontrar moveis de madeira, porque pra fazê-los, precisa ser cortado algumas árvores e aos poucos iriam matar as que têm no nosso planeta e no final iria acabar acontecendo igual a Terra e as árvores iriam acabar de pouco em pouco, e ninguém quer passar por isso novamente e todas as medidas possíveis que podem ser tomadas para evitar uma futura destruição de Andrômeda são realizadas, até mesmo aquelas que todos acham impossíveis, não custa nada tentar não é?

Eu me lembro do meu professor de história da quarta serie explicando como que a Terra começou a caminhar para a destruição: “foi a partir do momento que eles começaram a caminhar para a evolução” ele disse. Quando eles “descobriram” a America o mundo todo começou a caminhar rapidamente em direção ao progresso, aos poucos as tecnologias foram ficando mais avançadas e junto à ambição do homem também foi aumentando. Cada ser vivo na Terra queria cada vez mais e mais e nunca estava satisfeito com o que já tinha. Eles só se preocupavam em ganhar seu próprio dinheiro da maneira mais fácil possível e às vezes essa maneira era a que levava a destruição das florestas e das águas e da poluição dos ares e de tudo mais que podia ser poluído, ou pisando uns nos outros sem se importarem com quem ou o que saí prejudicado nessa história, desde que eles tenham o seu amado dinheiro no bolso. O ser humano é egoísta e só aprende depois de cometer o erro várias vezes, às vezes, nem depois disso. Está ai o resultado: um planeta morto, milhares de vidas perdidas e quase que todas as espécies que habitavam na Terra se extinguiram, assim como o seu lar que não teve nenhuma salvação.

Acho que ainda restam muitas das características dos antigos humanos com os humanos de Andrômeda, ambos são muito ambiciosos, embora os de Andrômeda saibam quando é a hora de parar sem prejudicar ninguém e nada que no futuro possa causar algum tipo de problema. Mas como eu disse, eu somente acho, não tenho certeza de nada e espero muito estar certa e que nada do tipo aconteça conosco. Não estou nem um pouquinho a fim de morrer por causa dos mesmos erros e burrices que já foram cometidos no passado.

—Vamos, vamos entrar, Tori – Serenity me chamou – Deixe as malas aí, depois nós voltamos e as buscamos, agora vou te mostrar a casa.

Fiz como ela mandou e deixei as alas no carro e entrei com Seth no meu ombro, parando na porta, surpresa, observando o local. Pelo lado de fora a casa parecia ser uma casa normal de dois andares típica de uma fazenda, branca com as janelas de madeira e as telhas numa cor meio desbotada por causa do tempo, mas quando entramos e logo nos deparamos com a sala que continha uma enorme televisão além de ter alguns aparelhos de jogos espalhados pela mesma. Havia dois sofás de um marrom claro e uma mesinha de centro, as janelas continham uma persiana de tom bege, era tudo um equilíbrio perfeito entre a modernidade e os clássicos. Perfeito.

Serenity me mostrou toda a casa, e assim como a sala tudo era muito bonito. O equilíbrio entre o moderno e os clássicos moveis de madeira deixavam a casa muito aconchegante e nada parecia exagerado demais. A casa possuía uma sala, cozinha, um banheiro no andar de baixo, uma mini biblioteca – nota-se que eu amei essa parte – e no andar de cima possuía três quartos, aos quais, um era de Serenity e esse era suíte e um era da filha dela, Skye. Ela somente me indicou a porta do qual seria o meu quarto – a ultima porta do corredor em frente ao da Skye – e eu decidi ir pegar as minhas malas e trazê-las pra cima antes de ir “explorar” o meu quarto completamente.

Quando eu desci as escadas para pegar as minhas malas, Seth desceu do meu ombro e correu em direção uma árvore que tinha do lado da casa, escalando ela e sumindo das minhas vistas, eu estava pronta pra ir atrás dele e chama-lo, mas Serenity apareceu na porta da casa e me chamou.

—Não se preocupe com ele, Tori. Deixe ele se divertir um pouco, quando ele quiser ele volta – ela disse tranquilamente, descendo as escadas da entrada da casa e tirando todas as nossas malas do porta-malas do carro. Quando eu abri minha boca para retrucar ela continuou – Eu não sei se você percebeu, mas toda a propriedade é cercada por muros muito altos, e depois que os muros acabam ainda tem um feitiço de proteção que eu criei que contorna toda a propriedade formando uma espécie de cúpula. Ou seja, nada entra e nada saí. Seu amiguinho vai ficar bem, porque todos os animais que vivem aqui dentro fui eu quem os coloquei e nenhum deles vai machucar Seth.

Isso me tranquilizou e eu somente assenti, olhando mais uma vez para a árvore que Seth havia escalado antes de pegar as minhas malas e entrar na casa novamente. Serenity tinha razão, não há com o que me preocupar porque a casa é toda protegida e não pode entrar nada que possa machuca-lo e ele também não pode sair da propriedade, o que fica mais fácil se eu quiser encontra-lo e me deixa mais tranquila também pelo fato de que ele não vai se aventurar muito longe daqui. Vou deixar ele se divertir um pouco, ele nunca esteve no meio de tantas árvores assim, nem mesmo na Ordem, porque lá não tem tantas árvores com que ele podia brincar e algumas delas são frutíferas, então ele vai ter o que comer, quando ele sentir saudades ele volta. Eu espero.

Serenity subiu as escadas com as suas malas e foi em direção ao seu quarto, eu também fiz o mesmo, estou morta de curiosidade pra ver como é o meu novo quarto, ele ficava no final do corredor e era a porta do lado direito, o do lado esquerdo era o de Skye, a filha de Serenity que eu não vi ainda. Ao abrir a porta me deparei com um quarto bem grande, ele tinha um tom de creme nas paredes, duas janelas no lado oposto a porta e uma cama de casal no meio e mais duas janelas no lado esquerdo. No lado esquerdo da porta que era a de entrada do quarto havia outra porta, ao qual eu me dirigi depois de deixar minhas malas dentro do quarto, curiosa para ver o que era. Quando eu abri a porta se revelou em um enorme banheiro todo em preto e branco muito bonito e havia outra porta do lado oposto do meu o que eu desconfiei que era uma porta que levava ao quarto de Skye. Ótimo, vou ter que dividir o banheiro com uma garota da minha idade que eu nunca vi na vida. Voltei para o meu e vi outra porta do lado direito do quarto e quando eu abri eu vi que era um closet, ao lado dessa porta tinha uma escrivaninha e do outro lado do quarto. O que mais me chamou a atenção no quarto foi que em baixo das janelas do lado esquerdo do quarto haviam um tipo de bancada, ou melhor dizendo, um tipo de sofá embutido na janela, que era cheio de almofadas, um lugar ótimo pra sentar e poder relaxar lendo um bom livro, mal posso esperar para ter um tempo livre ou um dia chuvoso pra poder sentar ali e ler ou somente ficar olhando pela janela.

—Tori? – Serenity me chamou e eu apareci na porta – Aí esta você! Será que poderia me fazer um favor?

—Claro. O que é?

—Procure Skye pra mim. Ela deve estar no celeiro azul.

Assenti e desci as escadas indo atrás de Skye, embora eu não a conhecesse e nem soubesse onde fica o celeiro azul. Parei em frente da casa e olhei em volta e logo achei um celeiro quase que totalmente atrás da casa, mas ele não era azul, ele era vermelho. Será que Serenity havia passado tanto tempo fora e havia confundido as cores? É uma possibilidade.

Caminhei em direção ao celeiro vermelho indo procurar Skye, mas quando eu contornei a casa e tive uma ampla visão da parte de trás do terreno eu avistei outro celeiro, um pouco maior que o vermelho e esse definitivamente era azul, parece que Serenity não esta ficando caduca afinal, mas qual é a razão para se ter dois celeiros se ela não tem uma grande criação de animais?

Caminhei até lá tranquilamente, aproveitando o sol da tarde com os meus cabelos voando levemente ao vento, observando algumas das folhas das árvores que caiam levemente devido ao ouço vento que tinha. Mal percebi quando cheguei ao celeiro, à porta estava meio encostada e eu comecei a ouvir um barulho meio abafado e esquisito vindo de dentro do celeiro. Empurrei a grande porta com cuidado pra não fazer barulho – porque eu queria ver quem estava fazendo esse barulho – e por sorte ela deslizou facilmente para o lado.

Isso não é um celeiro.

Eu estava literalmente de queixo caído com o que tinha ali, definitivamente esse lugar não é um celeiro, um celeiro normalmente é usado para o deposito de produtos agrícolas ou até mesmo de alguns animais, mas esse lugar não é um celeiro, está mais para um galpão. Um galpão de treinamento.

O lugar era enorme e estava dividido de forma harmoniosa entre um enorme tatame e diversos aparelhos de musculação, como se aqui fosse uma das salas da Ordem, em que eles juntaram tudo em um só. Incrível. A única coisa que aparentemente não tem aqui é a Pista de Corrida da Morte, mas não é uma coisa que eu vá reclamar porque estou sentindo falta, me sinto até agradecida de não ter uma coisa daquelas aqui, parece que não vai ser tão ruim assim treinar aqui.

Eu estava observando o local, totalmente admirada, como um lugar desse tamanho pode ter tanta coisa? Porque por mais que ele parecesse grande por fora, quando você entra e tem todos esses aparelhos, você fica totalmente surpresa por caber tanta coisa.

De repente, eu senti alguma coisa se cravando em cima da minha cabeça e ouvi o barulho dessa coisa se fincando na porta atrás de mim que eu havia fechado, lentamente eu levantei minha cabeça e vi uma adaga cravada na madeira acima da minha cabeça e se tivesse sido um pouquinho mais em baixo teria cortado um pedaço do meu cabelo e provavelmente me deixado careca! Não que eu fosse vaidosa assim pra me preocupar somente com o meu cabelo, mas nenhuma garota gostaria de ter o seu cabelo arrancado de você de uma hora pra outra, principalmente logo em cima onde é visível pra tudo e todos.

Levei meu olhar na direção em que a adaga havia vindo e encontrei uma garota, provavelmente da minha idade, com cabelos loiros escuros na altura da cintura e frios olhos negros que me lançavam um olhar fulminante e em cada uma de suas mãos havia uma adaga, ao qual a da mão direita ela girava entre os dedos como se estivesse me enviando um alerta de que ela pode lançar aquela adaga em mim há qualquer momento.

—Quem é você e como conseguiu entrar nessa propriedade? – ela indagou chegando mais perto.

—Sou Victoria Moore, mas pode me chamar de Tori. Você deve ser Skye, filha da Serenity, ela me pediu para vir aqui chamar você – ela pareceu surpresa com a minha resposta e logo abaixou as adagas.

—Não sabia que chegariam hoje – ela parecia completamente surpresa com isso, como se o fato de não saber de algo a incomodasse.

—Estou vendo – passei uma das minhas mãos na minha cabeça como se pra conferir se eu ainda tinha cabelo, ela seguiu o meu olhar e deu um pequeno sorriso.

—Você me assustou, por isso joguei a adaga, eu não estava esperando ver ninguém por aqui pelos próximos dias – ela parou de falar um momento e seus olhos me pareceram meio vagos, depois ela tentou se explicar – Mamãe me ensinou a nunca atacar sem motivo, e você só estava parada observando então cogitei a hipótese de que você não era perigosa, por isso não a ataquei de cara.

—Você costuma atacar todos os seus visitantes? Bom saber, assim não trago ninguém aqui.

—Meus visitantes costumam avisar quando vêm então não precisão tacar nenhuma adaga neles – ela respondeu mal-humorada de repente – Além do mais, a adaga foi somente um aviso e para chamar a sua atenção, porque se eu soubesse que você estava se quer cogitando a hipótese de me atacar eu teria mirado essa adaga no seu coração e não acima da cabeça, ou eu podia simplesmente te derrotar e arrancar de você o porque de ter vindo até aqui, mas como mamãe me avisou que iria trazer alguém... – ela deixou a frase inacabada no ar, para que eu entendesse do jeito que eu quisesse.

E eu entendi do jeito que eu quis como assim ela diz que pode me derrotar facilmente? Ela nunca me viu, muito menos lutando, ela não sabe como eu luto e nem quais são as minhas estratégias e não tem como ela firmar que ira me derrotar facilmente. Tá certo que ela é filha de uma Sentinela e que deve ter sido treinada a sua vida toda, mas mesmo assim, isso não é motivo para se achar.

—Como você...?

—Como eu sei? – ela me interrompeu – Você é muito fácil de entender, principalmente o seu jeito de lutar. Eu posso ver, mesmo sem nunca ter lutado com você, que você só age por impulso e pelo calor do momento. Você não pensa antes de agir e não calcula qual pode ser as consequências dos seus atos. Me diz: alguma vez aconteceu algo que não estavam no seus “planos” – ela fez aspas com os dedos, depois de colocar as adagas na mesa que estava ao seu lado, junto com outras adagas.

O nome dele me veio à mente, mas eu não deixei transparecer nenhuma emoção e tentei não dar nenhum sinal com a minha expressão, mas ela inclinou a cabeça levemente e deu um pequeno sorriso.

—Seu silencio já me diz tudo.

Ela andou calmamente na minha direção e parou ao meu lado colocando uma de suas mãos sobre o meu ombro. Antes de sair pela porta para provavelmente ir atrás de sua mãe, ela sorriu pra mim e inclinou a cabeça de lado levemente dizendo:

—Nós vamos ser grandes amigas.


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