Vigilantes do Anoitecer escrita por Lady Angellique


Capítulo 18
Capítulo 17


Notas iniciais do capítulo

Eu sou tão avoada que nem havia percebido que postei duas vezes o cap 15, então eu já corrigi e coloquei o 16 e agora estou postando esse que infelizmente é um pouco triste, por isso não me matem e desfrutem do cap ^^

Espero que gostem e desculpem os erros! Boa leitura ^^



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A escuridão nessa hora é tão acolhedora, que me deu uma vontade imensa de continuar com os olhos fechados e voltar a dormir, mas um barulho irritante não estava colaborando comigo, o barulho ritmado de vários passos ecoando no quarto estava me dando nos nervos e futuramente uma dor de cabeça, e por mais que eu não quisesse eu tive que mexer para indicar que eu estava acordada para ver se os barulhos ritmados dos passos paravam, e não é que deu certo? Por um momento o quarto todo ficou em silêncio e eu podia jurar que eu estava sozinha no quarto, mas aí os passos recomeçaram e dessa vez vinham na minha direção, e eles pararam quando já estavam bem perto de mim. Eu senti que alguém estava pairando sobre mim, esperando que eu acordasse, e por mais que eu quisesse deixar Morfeu me levar novamente, eu lutei para abrir meus olhos.

Um par de olhos idênticos aos meus me encaravam preocupados, o dourado do seu olho estava um pouco mais escuro do que o natural e eu sabia que eles só escureciam quando seu dono estava preocupado ou muito agitado demais, e nesse momento eu acho que a primeira opção é a mais viável agora.

—Oi – eu o cumprimentei com a voz baixa e rouca, minha garganta doeu, eu estava com Sede e meu irmão percebeu isso e logo pegou um copo d’água que estava ao lado da cama, ele me ajudou a sentar e depois me deu o copo ao qual eu sorvi rapidamente o estendendo pra ele de novo, que pegou a jarra de água que também estava ao lado da cama e tornou a encher o copo.

Satisfeita e com uma garganta agradecida lhe entreguei o copo novamente e dei um pequeno sorriso em agradecimento, embora eu não tivesse nenhuma vontade de fazer isso agora.

Elric se sentou na cama ao meu lado e pegou a minha mão a apertando, ele inclinou a cabeça para o lado – um hábito que ambos temos sempre que estamos curiosos ou avaliando pessoas e/ou situações, é uma coisa comum entre a gente e eu tenho certeza que ele quase não percebe tanto quanto eu quando o faço – seus olhos me transmitiam uma força que eu estava precisando muito agora.

—Você está bem? – ele pergunta em uma voz baixa, como se estivesse tentando amansar um animal assustado, mas eu pude notar uma real preocupação ali. Como sempre, meu irmão está sendo super protetor e acho que ele deve star se martirizando por não estar lá comigo e me protegendo, mas eu não sou uma criança e posso muito bem me proteger sozinha... bom, pelo menos eu achava que sim,agora, já não tenho tanta certeza assim.

—Tem como alguém ficar bem numa situação dessas? – indaguei meus lábios se levantando em um sorriso triste e involuntário.

Ele suspirou e pegou a minha mão que estava próxima à dele a apertando e segurando entre as suas duas mãos que pareciam gigantes perto da sua.

—Tem razão – ele olhou em volta, não sabendo o que falar e eu acabei o imitando, notando pela primeira vez que eu estava no meu quarto e com um dos meus pijamas.

—Quem me trocou? – perguntei curiosa.

—Ally e Serenity te deram um banho e trocaram a sua roupa depois que você foi trazida da enfermaria.

—Enfermaria...? Quanto tempo eu fiquei desacordada?

—Um dia todo, pra falara verdade, agora são seis horas da manhã. Eu estava começando a ficar preocupado porque você estava demorando tempo demais para acordar e... – ele respirou fundo e parou de falar rápido, ele estava nervoso e as raras vezes que ele demonstrava isso ele começava a falar rápido demais e a atropelar algumas palavras, parece que é mais uma coisa que temos em comum – Os curandeiros disseram que tinha apenas um pouco de veneno em seu sistema, ao que parece ele causa paralisia, mas Anthony falou que quando chegou você já estava com a maioria daqueles cortes, e que em alguns deles que o veneno deveria ter entrado, mas ele disseque você continuou lutando o tempo todo, como se nunca estivesse com o veneno paralisante.

Olho para o meu corpo, surpresa com o que ele disse, o examinando e vendo apenas umas finas linhas nos braços e um maior na minha coxa direita, resto parecia que ia sumir com o tempo. Eu me lembro vagamente de sentir uma coisa estranha quando aquela “amazona” me cortou na perna com as suas garras, deve ter sido isso nessa hora, mas em momento algum eu senti uma fraqueza que eu imagino que seria a paralisia, para falar a verdade naquela hora tudo o que eu sentia era muita adrenalina correndo no meu sistema, e uma vontade assassina de matar alguém ou algo e descontar toda a minha raiva, infelizmente não foi o suficiente, e agora essa raiva se transformou em culpa e tristeza, muita tristeza. Mantive meu olhar para as minhas mãos, e por isso Elric não viu meus olhos se inundarem e lágrimas começarem a escorrer pelo meu rosto e continuou falando.

—Eu fiquei tão preocupado quando Anthony me mandou uma mensagem me mandando voltar para a Ordem e disse que era urgente. E quando eu cheguei aqui você estava desacordada e com vários curandeiros a sua volta a curando, foi um processo muito longo e cada vez que passava mais cinco minutos meu coração se apertava mais – ele me abraçou e enterrou seu rosto no meu pescoço, sua voz saindo abafada – Eu tive tanto medo de te perder. Nunca mais me assuste desse jeito.

Eu me surpreendi quando senti suas lágrimas escorrendo pelo meu pescoço. Eu não posso simplesmente desistir das coisas, do mundo e da vida, existem pessoas que se preocupam comigo e se um dia eu desistir eu vou quebrar a promessa que fiz a Dylan e provavelmente meu irmão vai me buscar no inferno se eu abandona–lo só para me mandar de volta pra lá depois por que eu o assustei. Levei minhas mãos as suas costas e respondi ao seu abraço e ficamos ali, juntos, sem que nenhuma palavra precisasse ser dita, porque nós dois sabíamos o que o outro estava sentindo e o que queria falar, pode–se chamar isso de ligação de irmãos e a nossa agora estava muito forte.

Elric se afastou de mim e virou o rosto para o lado, acho que ele não queria que eu o visse chorando, embora eu já tenha sentido isso e as lágrimas no meu pescoço eram prova disso, mas se ele quer fazer assim, por mim tanto faz, meu irmão costuma ser muito machista às vezes e pra ele homem não deve chorar. Ridículo, eu sei, mas não sou eu que vou falar algo pra ele, pelo menos não agora eu só vou esperar a hora e o lugar certo.

—Por que você não vai tomar um banho e tentar relaxar um pouco? – ele sugeriu se levantando e caminhando em direção à porta– Eu vou buscar algo pra você comer. Precisa de alguma outra coisa? – balancei a cabeça em negativa ele assentiu e me olhou durante certo tempo até sair pela porta a fechando delicadamente.

Suspirei e me deixei cair na cama de novo, olhando para o teto sem pensar em nada realmente, somente esperando que uma resposta caia do céu e me diga o que fazer agora, porque eu realmente não sei.

Meio a contragosto, me levantei devagar, sentido meu corpo protestar e pequenas fincadas de dor surgirem em alguns pontos do meu corpo, ignorei isso e segui em direção ao meu banheiro fechando a porta atrás de mim. O meu reflexo me encarava através do enorme espelho que tinha no banheiro, e eu percebi o quão péssima eu estava e o motivo da preocupação nos olhos de Elric, de certa forma uma parte eu podia explicar, afinal eu estava dormindo por um dia inteiro de acordo com o meu irmão, e isso explicava as enormes olheiras que se formavam em baixo dos meus olhos e o meu cabelo que estava muito bagunçado e provavelmente embolado, o que iria dar um bom trabalho para pentear depois, mas eu com certeza não podia justificar os hematomas espelhados pelo meu corpo e os cortes que estavam quase que totalmente curados. Não posso dizer que é uma visão bonita e com certeza não é acolhedora e se meu irmão não estivesse tão preocupado comigo, eu diria que ele iria fazer piadas sobre a minha aparência e seria uma coisa que ele nunca deixaria esquecer isso, mas agora, tudo o que eu quero é esquecer ou pelo menos tentar.

Me despi e entrei debaixo do chuveiro que jogava uma água quente nas minhas costas, deixando ela me ajudar a relaxar um pouco os meus músculos que estavam tensos e doloridos e com a água descendo pelo o meu rosto eu quase não havia percebido que eu tinha começado a chorar, até que eu escutei os meus próprios soluços.

E eu achando que era forte. Ri, com a ironia da vida, porque no momento eu não sou forte em nenhuma célula do meu corpo, nem mentalmente e muito menos fisicamente.

Eu não sou de ferro e mesmo que eu quisesse, eu não conseguiria lutar contra as lágrimas que estavam brigando pra sair e me deixar mostrar um pouco do que eu estava sentindo, mesmo que sejam só para as paredes do meu banheiro.

E eu estava enganada, pensando que eu poderia aguentar passar isso de cabeça erguida, em derramar uma única lágrima, mas as coisas nem sempre são como nós queremos, e a vida costuma ser cruel com aqueles que só vêm bondade nela e acham que o mal não existe. Grande engano.

A morte dele foi como se eu mesma tivesse morrido, como se eles tivessem me dado uma apunhalada no coração e arrancado ele fora. Eu não posso acreditar que ele se foi... que entrou na minha frente para me proteger. Por quê? Por que ele tinha que entrar na minha frente? Eu ainda não consigo compreender isso, e provavelmente nunca vou compreender.

Levantei o rosto deixando a água cair nele e depois de alguns segundos comecei a me lavar e a lavar o meu cabelo. É quase que cômico perder alguém e se sentir assim, porque você espera e vai ficar esperando alguém aparecer com Dylan ao seu lado dizendo que foi brincadeira e que ela havia caído igual uma idiota, ela queria ser essa idiota e não iria reclamar em hipótese alguma se essa fosse à verdadeira realidade, mas não é e eu perdi Dylan e ele nunca mais vai voltar. É estranha essa sensação no peito, a de perder alguém. Perder. Palavra estranha e agora essa não é a melhor hora para usa–la, porque perder algo implica em achar,  e eu não posso achar Dylan, não é esse tipo de perda.  Como alguém pode ir embora de uma hora pra outra e não estar aqui nunca mais?

Suspirei novamente quando percebi que já havia ficado tempo demais e que as pontas dos meus dedos estavam começando a ficar que nem ameixas e o banheiro estava repleto de vapor, então eu me sequei e me enrolei no meu roupão, parando em frente a minha pia e meu armário pegando uma escova e creme para pentear começando a tentar desembaraçar o meu cabelo, minha cabeça ficando totalmente vazia sem nenhum outro tipo de pensamento, melhor assim pelo menos por agora. Quando e consegui ter um resultado satisfatório eu fui em direção ao closet por meio a porta que interligava o banheiro e o closet, escolhendo uma blusa de mangas compridas e preta, além de uma calça jeans cinza e sapatilhas pretas, pela primeira vez usar preto nunca foi tão certo. Antigamente, quando os humanos ainda habitavam a Terra, as pessoas quando estavam de luto e iam a funerais usando preto, era uma cor simbólica que representa a morte, a perda e o luto, e nesse momento eu entendi porque os Guardiões usam pretos dos pés a cabeça sempre, porque nós sempre temos o risco de perder alguém em uma batalha, ou em uma missão ou até mesmo em uma simples patrulha – como foi o meu caso – e porque não usar o preto diariamente? Assim se alguém morrer ao seu lado e for conhecido seu, você já está pronto para o funeral e nem precisa passar em casa para se preparar pra isso. Prático e fácil, não é?Chega até a ter uma pitada de humor negro nessas situações, que eu sei que não são raras.

O preto nunca me pareceu tão confortável quanto agora, mostrava o que eu estava sentindo agora, um grande vazio no meu peito.

Saí do closet me dando de cara com três pares de olhos me encarando com curiosidade e preocupação no olhar, os inçarei de volta levantando uma sobrancelha perguntando silenciosamente: o que estavam fazendo aqui?

—Nós viemos ver como você estava, e encontramos seu irmão no meio do caminho com a bandeja de comida e imaginamos que seria pra você e que já estava acordada. – Alex respondeu, se endireitando no meu sofá onde estava sentado.

—Eu estou ótima – respondi indo até a mesa de centro, onde estava uma bandeja com comida e peguei um morango jogando ele dentro da boca e me deliciando com o sabor e por um momento fechando os olhos. Amo morangos, é minha fruta preferida e acho que nenhuma outra tem comparação, principalmente se estiverem com chocolate... humm que pensamento de gente gorda,mas não to nem ai, comer é uma das melhores coisas que existem e a vida é curta demais para ficarmos fazendo regimes e dietas malucas.

—Sério? Mas Tori... – Ally começou a falar, mas eu a interrompi levantando a minha mão e a encarando seriamente.

—Eu disse que eu estou bem. As pessoas nascem, crescem e morrem e nem eu e nem ninguém pode fazer nada quando isso acontece, apenas superar e seguir em frente –  Ally iria contestar mas se calou perante o meu olhar, que eu tinha quase certeza que se fosse fisicamente possível, eu estaria lançando raios a lazer por eles – Eu não vou dizer que superei, porque eu nunca vou de fato supera–lo. Ele foi o meu primeiro amigo de verdade e deixou uma marca permanente em mim e me ensinou coisas que eu nunca vou esquecer. Mas digo uma coisa, a morte dele não vai ser em vão e eu vou torturar e matar quem fez isso com ele.

—E como vai fazer isso, Tori? – meu irmão perguntou, se desencostando da parede e me olhando no fundo dos olhos.

—Eu...

Fui interrompida por uma batida na porta, mas eu e Elric continuamos nos encarando, uma troca silenciosa de olhares e naquele momento eu soube que não importasse o que eu fizesse daqui pra frente, ele iria estar sempre ao meu lado e iria sempre me ajudar. Enquanto Alex se levantava e ia abrir a porta – vendo que eu e Elric não nos mexíamos – eu sorri para o meu irmão, agradecendo, um sorriso triste e feliz ao mesmo tempo – será que pode acontecer uma coisa assim? Não sei, mas eu sei que ele me entendeu e sorriu de volta.

—Tori? – uma voz diferente a dos meus amigos me chamou, me virei e encarei Serenity na porta.

—Sim?

—O Conselho deseja ver você. Eles querem saber o que aconteceu – suspirei, já me encaminhando para a porta, mas meu irmão colocou seu braço na frente.

—Me desculpe, Sra. Simon, mas ela não sai daqui ate comer algo – meu irmão disse sério, e um por um momento eu fiquei surpresa de vê–lo enfrentar Serenity tão facilmente assim, geralmente as pessoas têm medo daqueles olhos negros frios como o gelo. Ela riu e fez um gesto com a mão me indicando a seguir em frente. Olhei novamente para a bandeja com comida e peguei um sanduiche que estava lá e um pote com morangos e saí comendo o primeiro, segurando contra o peito meus amados morangos, e seguindo Serenity de perto.

Meu irmão e os gêmeos ficaram no meu quarto e provavelmente eu iria encontra–los lá mais tarde, isso é se eles não forem me procurar e se o Conselho não me matar antes disso. Serenity me guiou até o ultimo andar e até o final do corredor, quando chegamos ao final dele eu já havia terminado de comer meu sanduiche – que estava delicioso – e comecei a saborear devagar os morangos. Havia dois guardas naquela imensa porta que ia do teto até o chão e acomodava pelo menos metade do corredor, que já era imenso por si só. A porta era decorado com arabescos e parecia ser tão antiga quanto a própria Ordem, e eu ficaria ali parda a admirando se os dois guardas que antes estavam parados feito estatuas não houvessem se mexido ao avistar Serenity e se apreçando para abrir a porta.

Uma mesa comprida e em formato de um circulo se estendia pela sala e apesar da mesa ocupar quase todo o ambiente só havia dez cadeiras dispostas pela mesa, muito longe uma das outras para se quer pensar em tocar no seu “companheiro”. Serenity puxou uma das únicas duas cadeiras que estava desocupada e se sentou e indicou para me sentar ao seu lado e foi o que eu fiz, tentando ignorar os oito pares de olhos que me fitavam com seriedade, só passei a encara–los quando eu já estava sentada e com um morango na mão, brinquei com ele por um momento nas mãos, esperando que qualquer um deles começasse a falar e parassem de admirar a minha beleza, como isso não aconteceu eu sorri de canto e me encostei na cadeira, tentando ficar mais confortável antes de dizer:

—Eu sei que sou linda, mas se ficarem olhando demais minha beleza vai estragar – eu sei que eu sou maluca, e acabei de ser sarcástica com oito anciões que são alguns dos mais poderosos Guardiões da Ordem. É, to ferrada.

—Minha criança, você sabe com quem está falando? – um homem com cabelos grisalhos e com um olhar curioso e uma expressão divertida no rosto me perguntou.

—Claro que sei. Só não sei o que querem comigo – respondi mordendo o morango.

—Minha jovem, você está de frente com o Conselho dos Anciões, nós somos o supremo poder da Ordem e você parece não dar a mínima pra isso  – uma velhinha com os cabelos grisalhos preso em um coque no alto da cabeça e com óculos na ponta do nariz, parecendo bibliotecária me repreendeu. Não gostei dela.

—Desculpa se não estou idolatrando vocês como se deve, mas estou ocupada demais relembrando a morte do meu melhor amigo, que morreu em uma missão que você nos enviaram, sem se importarem que o local tinha um grande potencial para ataques e nem ligarem para o fato de que não estávamos preparados para nos defendermos de tantos monstros – eu respondi calmamente, sem alterar o meu tom de voz, olhando os olhos de todo os Anciões que estavam ali e me olhavam abismados.

 Senti alguém me olhar de forma fulminante e era Serenity, que balançou a cabeça em negativa pra mim, me dizendo pra parar de falar, dei de ombros. Não ligo pra esse bando de idosos que se acham superiores a todos e não parecem estar com nenhum remorso pelo o que tinha acontecido a Dylan. Idiotas. Um dia eles vão pagar por isso e eu pretendo estar na primeira fila quando isso acontecer.

—Victoria, nós não tínhamos ideia de que aquele lugar tinha o potencial para sofrer um ataque – outra mulher tentou me acalmar, embora eu estivesse muito calma, eles ainda não me viram nervosa.

—Tori – corrigi – E vai achando que eu vou acreditar nisso. Eu sei muito bem que houve outros ataques, mas não são todos que estão sabendo disso, e aquele local era um que tinha o potencial para ser atacado porque ficava perto de um dos armazéns da cidade, então não me venha com desculpas ridículas porque eu sei muito bem que seriedade grande vantagem pra vocês se livrarem dos novos Guardiões que ainda estão em treinamento, assim não gastaria nem tempo e nem dinheiro – vi quando todos eles arregalaram os olhos, mesmo que minimamente e me olhavam chocados. Eu mereço palmas porque consegui fazer esse bando de idosos perderem a fala em menos de cinco minutos. Eu sou um gênio.

—Como você sabia disso? – dessa vez eu conhecia a pessoa que perguntou, era Matthew e ele foi meu professor há alguns meses, junto com sua esposa Mary Anne, que também estava presente na sala. Os dois eram os únicos que pareciam se sentir realmente culpados com que havia acontecido, Mary Anne nem mesmo prendia o seu olhar no meu por muito tempo antes de desviar o olhar, talvez, pelo tempo que eles tenham passado conosco tenha ajudado eles a desenvolverem algum sentimento para conosco e agora estava fazendo–os se sentirem culpados.

Recostei–me na cadeira novamente – eu havia ficado na ponta dela, enquanto falava, quase levantando, dando mais intensidade as minhas palavras – sorrindo. Cruzei os braços na frente do meu corpo.

—Não sabia, mas vocês acabaram de confirmar as minhas suspeitas – é tão bom escutar o arfar deles de surpresa. Pra quem são considerados os melhores eles não são tão bons assim.

—Você... – a bibliotecária começou a falar, mas eu a interrompi.

—Deixe–me adivinhar: estou sendo mal educada. Peço desculpas – fiz um teatro me levantando e fazendo uma reverência – Será que os senhores têm algum assunto a ser tratado comigo? Eu estou um pouco ocupada, tenho que ir a certo enterro – doeu dizer aquilo como se não fosse nada e eu tive que lutar com todas as minhas forças para continuar com a mascara que eu havia posto assim que entrei nessa sala. Pra falar a verdade, eu nem sabia se vai haver um enterro, ou mesmo se já teve e eu tenho que sair daqui o mais rápido possível para ver isso.

O semblante de todos se fecharam e pareceram perceber que eu estava brincando com eles, abaixei minha cabeça escondendo o meu rosto com os cabelos e soltando uma risada baixa. Divertido, muito divertido.

—Sente–se, Srta. Moore – obedeci ao comando ríspido de Mary Anne e esperei pacientemente enquanto eles pareciam ter uma discussão silenciosa – Agora, você poderá me dizer o que aconteceu naquela noite?

—Posso – respondi.

—E...? – aquele senhor de antes me incitou a continuar quando eu permaneci em silêncio.

—Me desculpem eu disse que posso mais não vou – respondi com sinceridade, sem jogos dessa vez, pensei comigo mesma. Eles iam começar a retrucar, mas eu continuei a falar com sinceridade – Pra vocês pode ser uma coisa insignificante e apenas um a menos na lista de Guardiões e na folha de pagamento, mas ele era meu melhor amigo e não estou pronta psicologicamente pra contar o motivo da sua morte – coloquei ambas as mãos no rosto quando senti que já não conseguiria segurar as lágrimas. A sala ficou em silêncio e eles pareciam me observar sofrer e ouso dizer que se deleitam com isso também embora nunca vão dizer isso realmente.

—Acho que já é o suficiente – Serenity se pronunciou pela primeira vez desde que entramos naquela sala – Eu disse que era cedo demais, mas nenhum de vocês me ouviu. Tentem sentir o que ela esta sentindo e vocês vão compreender que não podemos continuar com isso hoje – sua voz era severa assim como o seu olhar, e apesar de todos na sala serem aparentemente mais velhos que ela eles se calaram diante as suas palavras e abaixaram os olhos perante o seu olhar. – Tori, querida, pode ir embora. Quando se sentir mais confortável com o assunto pode vir nos procurar, mas por hoje é só isso.

Ela foi tão gentil comigo, diferente dos outros, e nesse momento ela acabou por subir um pouco mais no meu conceito, dei um pequeno sorriso pra ela a agradecendo silenciosamente, e não me importando com os olhares em mim e nem com o meu rosto provavelmente inchado devido ao choro, eu sai pela porta sem olhar pra trás...e esquecendo meu pote de morangos pela metade. Droga.

***

Duas horas depois que eu sai da sala do Conselho dos Anciões, eles reuniram a todos na sala de reuniões – que parecia mais um pequeno auditório – e anunciaram que o adiantamento dos treinos dos novos recrutas foi equivocado e que nós ainda não estávamos prontos para nos formarmos, e por isso ainda íamos passar algum tempo treinando, até que estivéssemos prontos e fosse e seguro nos mandar em missões de campo novamente.

Para os Guardiões que já fazem parte da Ordem e que já passaram pela Cerimônia de iniciação, não é uma coisa que vai afetá–los, mas para nós, os recrutas, os Iniciados, isso vai fazer grande diferença e pode ser que isso nos prejudique no futuro. Alguns ficaram feliz com essa notícia, outros já nem tanto, pra mim não faz diferença nenhuma, pois estou começando a questionar se vou continuar ou não e se esse é o meu destino.

 Fui uma das primeiras a deixar o “auditório”, eu não queria conversar com ninguém em especial agora, só queria ficar sozinha com os meus pensamentos e foi por esse motivo que eu comecei a vagar pelos corredores sem nenhum rumo, até que meu irmão me achou e me levou para comer algo e depois para o enterro de Dylan.

Aparentemente, eles fizeram uma autopsia nele, para saber do que morreu. Tive vontade de gritar que foi por causa de uma maldita flecha e que não precisava de autopsia nenhuma pra saber disso, mas eu me contive e somente assenti quando me contaram.

O enterro dele foi a noite, e como ele era um tremendo de um sortudo, o seu estava estrelado, sem nenhuma nuvem a vista, isso significa que os deuses iriam acolhê-lo na sua nova morada e que a transição desse plano para o outro ira ser tranquila e que Morte, ira cuidar bem dele por toda a eternidade, pelo menos, assim espero

 Como os enterros são normalmente a noite foi tempo suficiente para que os pais dele pudessem estar presentes presentes, assim como a ex dele, que ficava me lançando olhares mortais pra cima de mim durante quase todo o enterro, ao qual eu tive o prazer de ignorar. As estrelas cintilavam calmamente no céu, acolhendo Dylan que agora estaria se juntando a elas e seria uma das milhares estrelas no céu, elas pareciam felizes, como se estivessem caçoando da minha cara por eu estar triste e ela felizes, como se nada mais importasse. Triste.

A Cerimônia foi muito bonita e apenas poucas pessoas compareceram, pode–se dizer que somente as mais intimas dele e alguns Guardiões que na certa fizeram amizade com ele nesse tempo que esteve aqui.

***

Eu me encostei em uma arvores enquanto tentava me misturar as sombras da mesma, tentando não ser vista pelos pais dele, mas foi meio impossível porque parecia que eles estavam me procurando a todo o momento e quando me acharam, no final da Cerimônia e depois do enterro, eles vieram até mim e maior não foi a minha surpresa quando a Sra. Wood chegou me abraçando. Eu estava preparada pra tudo, xingamentos e ofensas, menos ela me abraçando. Fiquei meio atônica, parada igual retardada enquanto ela me abraçava e eu sentia suas lágrimas escorrendo na minha blusa.

—Oh pequena Tori, você cresceu e se tornou uma linda menina – ela disse depois de se afastar e dando espaço para o pai de Dylan também me abraçar. A ex dele estava um pouco mais atrás com os olhos inchados de tanto chorar, mas isso não a impedia de me lançar um olhar mortal.

—Sabe, Dylan nunca esqueceu você – comentou a Sra.Wood – Ele sempre estava falando que ia reencontrar você, que queria ficar perto de você novamente. Quando ele soube que seu irmão escolheu entrar para a Ordem, ele logo soube que você ia fazer isso também, porque querendo ou não você sempre seguia os passos do seu irmão, então ele se empenhou na Academia e nas lutas, para ser um dos melhores e ter a chance de entrar na Ordem somente para ficar ao seu lado.

—Eu... não sei o que dizer.

—Não precisa dizer nada, querida – ela assegurou, vindo até mim e passando uma mão no meu rosto – Você já fez tudo o que podia defendendo o corpo do meu filho, invés de se preocupar em salvar a sua vida.

—Como você... – essa mulher teve a capacidade de me deixar sem fala duas vezes seguidas, em um dia, eu tiro o meu chapéu pra ela.

—Seu irmão me contou o que aconteceu – ela explicou – Bom, querida, você deve ter coisas pra fazer e nós temos que pegar um voo de volta pra casa – ela mexeu na bolsa, e de lá ela me tirou um pedaço de papel e me entregou – Se quiser nos visitar, ou nos ligar – eu olhei pro papel e constatei que era um número de telefone e um endereço – Foi bom poder conversar com você.

Ela me deu um beijo na bochecha e o Sr. Wood a imitou antes de se dirigirem para a saída.

—Sr. e Sra. Wood! – eu os chamei fazendo–os se virar e me encarar – Vocês... não me culpam pela morte do seu filho?

—Claro que não, Tori – o Sr. Wood se pronunciou pela primeira vez, me dando um pequeno sorriso – Afinal, nós temos certeza de que ele morreu protegendo aquilo que ele mais amava.

Eles não me deram tempo para responder e nem se quer processar o que ele havia dito e saíram caminhando, me deixando atônica e provavelmente com a boca aberta de surpresa. A ex dele, ao qual eu não sei o nome e nem quero saber, me encarou cm um olhar mortal novamente e parecia querer dizer algo, mas quando ela abriu a boca pra falar eu a impedi:

—Se quiser soltar o seu veneno, está perdendo o seu tempo, porque nada do que você me disser vai me atingir.

Ela deu um sorrisinho cínico.

—Eu não preciso dizer nada, a sua consciência não vai te deixar esquecer o que fez e que a culpa é sua, e eu já estou satisfeita com isso.

—A inveja é muito não é? Porque ele preferiu a mim do que a você –ela pareceu chocada, talvez com o fato de eu saber que ela era a ex – E você tem razão, vou me culpar pelo resto da minha vida, mas eu vou ter boas memórias dele e vou sempre saber que ele fez isso porque me ama, ele veio até aqui porque queria ficar comigo e não com você e isso pra mim já basta, para continuar em frente por ele. Mas e você? Vai se amargurar o resto da sua vida porque não foi boa o suficiente pra ele e não pode o manter perto de você e continuasse vivo. Acho que não sou a única culpada aqui, não é?

Ela ficou sem fala e ficou vermelha de raiva, ela abriu a boca diversas vezes tentando dar uma resposta a altura, mas como não conseguiu ela saiu batendo os pés e bufando de raiva.

Ponto pra mim.

A sensação de vitória durou pouco, porque eu me lembrei sobre o que eu tinha triunfado e me doeu dizer aquilo, porque era verdade e eu de fato nunca iria esquecer esse dia.

Suspirei e comecei a andar, indo em direção aos jardins e a na estufa onde Seth provavelmente devia estar. Fui atrás do meu pequeno macaquinho que parecia feliz em me ver, e subiu em mim antes que eu pudesse e quer abrir a boca para chama–lo ele já estava se enroscando no meu pescoço. Ri com as cócegas que seu pelo fazia em mim e levei uma mão para acaricia–lo e comecei a andar, procurando um lugar confortável para sentar, achando um debaixo de uma enorme árvore com folhas verdinhas e uma enorme sombra.

O sol já estava quase sumindo no horizonte e a lua dava as boas vindas agora, em breve tudo ficaria escuro, e a escuridão nunca me pareceu tão acolhedora.

Sentada debaixo da árvore, com Seth no meu colo quase dormindo por causa dos meus carinhos, meus pensamentos começaram a divagar cm memórias dele, cada uma delas se tornaram preciosas pra mim, cada sorriso que eu me lembrava me fazia sorrir feliz novamente e eu não queria esquecer isso, porque doía somente de imaginar que eu não veria o sorriso dele mais.

Será que ele realmente me amava como o pai dele disse? Será que ele veio aqui somente pra poder ficar perto de mim? Que somente decidiu lutar pra me proteger? Porque eu sei o quão protetor ele pode ser com quem ele gosta... e são tantas perguntas. Minha cabeça esta tão confusa e a única pessoa que poderia respondê–las, não está mais aqui e não pode falar nada. A vida é cruel e só aprendemos isso do jeito mais difícil.

Ouvi passos, embora eles fossem muito silenciosos e eu só fosse perceber quando ele entrou na minha linha de visão. O encarei, esperando que falasse alguma coisa, mas ele só se sentou ao meu lado e ficou em silencio, observando o nada como eu. O silencio dele foi confortável, e eu sei que ele estava aqui para me confortar, embora eu tivesse quase certeza que ele não sabia como, e eu quase ri disso.

—Obrigada.

Ele se virou pra mim confuso, certamente não sabendo o porquê deu estar lhe agradecendo.

—Por ter me salvado. Acho que se você não tivesse chegado lá a tempo, eu também não estaria aqui – esclareci.

—Eu não fiz quase nada, você soube muito bem se defender sozinha – ele respondeu, com a voz baixa e eu pude notar algum outro sentimento ai, embora eu não posso dizer qual.

Dei de ombros.

—Mas não foi o suficiente.

Anthony continuou em silencio, olhando pro nada e eu agradeci mentalmente por isso, tudo o que eu menos precisava agora era alguém me enchendo de perguntas e o silencio entre nós dois era muito confortável. Ele estava sentado tão perto de mim que eu podia sentir o calor que emanava dele, como se ele tivesse a sua própria fonte de calo, como se fosse um sol, o meu segundo sol particular.

Não sei quanto tempo ficamos sentados ali, mas eu posso dizer que já era muito tarde e eu quase já não podia distinguir os seus contornos. Seth estava sentado no meu colo também olhando o nada conosco, como uma coisa insignificante pode ser tão gostoso de se olhar e de se contemplar?

Anthony suspirou e levantou estendendo a sua mão para me ajudar a levantar, Seth pulou do meu colo quando eu peguei a sua mão e subiu na arvore que nós estávamos encostados ontem.

—Nós temos que voltar seu irmão esta quase tendo um ataque cardíaco agora – ele disse isso tão normalmente que me fez dar uma pequena risada, meu irmão é realmente muito exagerado.

Anthony me puxou pra perto dele e minhas mãos se encostaram–se ao seu peito, eu podia sentir seu coração batendo fortemente e rapidamente, mostrando que ele estava ansioso ou nervoso com algo, o que vai contra assuas feições que estão totalmente calmas e serenas.

—Você vai ficar bem? – ele me perguntou, segurando as minhas mãos em sob o seu peito.

— Vou – respondi tentando passar confiança a ele e a mim mesma.

—Tem certeza? – ele me puxou pra perto, me confortando, sabendo que o que eu dizia era mentira. Encostei minha cabeça em seu peito, lutando com as lágrimas que queriam sair, mesmo que eu não tivesse mais forças para deixar com que caíssem.

— Tenho que acreditar nisso, pra conseguir seguir em frente.

De repente uma luz se criou onde estávamos, olhei em volta surpresa e constatei que eram diversos vagalumes, arfei surpresa, nunca tinha visto tantos assim.

—Que lindo – sussurrei.

—Dizem que quando se vê tantos vagalumes assim, é sinal de boa sorte.

Sorri tristemente e encostei minha cabeça no seu peito.

—Só espero que seja verdade.  

Naquele pequeno momento, eu senti que éramos próximos, que éramos amigos ou algo há mais que isso. Naquele pequeno momento, consegui ficar inteira novamente, e não me deixar despedaçar, não me deixar quebrar. Dele, eu tirei as forças que eu precisava. E dele, consegui encontrar meu pequeno cantinho de felicidade... mesmo que durasse pouco tempo.


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Notas finais do capítulo

E aí? O que acharam? Choraram? Eu chorei quando escrevi e espero ter conseguido pelo menos comover vocês um pouco, me digam nos comentários o que acharam, please, amo saber o que estão sentindo em relação a história :)

Bom, eu não sei se vocês sabem, mas Vigilantes do Anoitecer tem um booktrailer que eu vou deixar nos comentários abaixo, espero que deem uma olhada e depois me digam o que acharam ^^

Link: https://www.youtube.com/watch?v=hp5ZoX4WeT4

Curtam a page no face e fiquem por dentro de novidades, quotes, curiosidades e muito mais!

Link: https://www.facebook.com/vigilantesdoanoitecer/?ref=hl

Bom, meu recado foi dado e eu espero vocês nos comentários, e eu vou tentar postar um cap semana que vem de novo ;)

Até o próximo cap

Bjss da Angel



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