Fogo e Gasolina escrita por Didilicia


Capítulo 4
Cap 4 – ADEUS BROGODÓ




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Dona Cândida entrou na tenda de Capitão Herculano afoita e assustada. Encontrou o filho arrumando suas coisas numa sacola de pano que jogou sobre os ombros e amarrou, prendendo ao corpo. Pegou o punhal e engatou na cintura. Ele parecia apressado e agoniado.

–O que sucedeu meu filho? Pra onde tu vai?

–Minha mãe... – ele chegou mais perto da velha cangaceira e pôs as mãos em seus ombros buscando compreensão – eu preciso ir atrás da duquesa. Não posso deixar que ela seja trancada em uma masmorra lá nas terras dela.

–Mais de novo com isso? Esqueça essa cobra meu filho! Deixa que levem ela lá pra longe, pra terra dela! Pára de trazer ela pro teu caminho...

–Eu não posso...a senhora não entende...? Eu não posso viver longe dela! Aquela bruxa é o meu amor.

A experiente senhora viu nos olhos marejados do filho que ele tinha um sentimento verdadeiro por aquela mulher que ela tanto detestava e recriminava e percebendo que nada poderia fazer para impedir aquele amor de seguir seu rumo, calou-se, sorriu, e segurou a mão do filho beijando-a e dando-lhe a benção.

–Então vá meu filho, vá. E que meu padre “Cíço” lhe proteja nessa viagem.

–Obrigado minha mãe. Não se preocupe visse... Eu sei encontrar o caminho de volta. Bel vai cuidar de tudo aqui. Vai cuidar da senhora também. Fique com deus.

–E você vá com ele.

Mãe e filho se despediram emocionados. O capitão deixou o acampamento montado em seu cavalo com um destino certo.

...

Ele avistou de longe o navio prestes a zarpar. A Corte embarcava, mas nem sinal da duquesa. Chegou mais perto e se escondeu atrás de uma árvore. Seu coração deu um salto quando a viu embarcando, escoltada por dois soldados da Corte, algemada. Teve que se conter para não correr até ela e livrá-la daquilo.

Quis enfrentar todos, mas sabia que sozinho não teria chances. Foi esgueirando-se até conseguir entrar no navio. Escondeu-se. Sabia que teria que permanecer assim até a noite cair, só então poderia procurá-la. Encolheu-se num canto, e esperou. Enquanto o navio partia para uma terra distante ele mantinha os olhos na terra firme que pouco a pouco ia ficando pra trás.

Herculano jamais pensou que um dia deixaria sua terra, o cangaço e o seu povo. Mas estava fazendo isso pelo que ele julgava ser o mais nobre dos motivos: o amor.

A noite demorou a cair. A temperatura baixou e o capitão pôs-se a andar pelas sombras. Passou pelos guardas, que dormiam tranquilo, provavelmente acreditando que não havia motivos para se preocupar com a prisioneira.

Ele passou facilmente por eles e tentou entrar no quarto onde a duquesa estava presa. A porta estava trancada, mas a chave estava visível e muito próximo a um dos vigilantes. Ele não teve dificuldades para pegá-la e entrar no aposento da duquesa.

Úrsula dormia de lado na cama, as mãos embaixo do rosto, fazendo um apoio. Ele agachou-se perto dela e a chamou, tapando a boca dela. A duquesa quase gritou com o susto, não estivesse ele precavido, silenciando sua boca.

Ele tirou a mão e fez sinal para que ela falasse baixo. O sorriso dela foi sua resposta.

– A duquesa não achou que eu ia entregar tu assim... de mão beijada... achou? – ele sorriu.

– Como você entrou aqui?! - ela perguntou animada com a façanha.

– AHH, tenho minhas estratégias.

– E como vamos sair? – ela se sentou na cama e ele sentou ao lado dela. – Herculano, estamos muito longe de Brogodó!

– Uma vez tu disse que a gente podia viajar, viver juntos... – ele segurou a mão dela.

– E você disse que nunca deixaria o cangaço... – ela lembrou.

– Eu sei... mas por causa de tu... – ele abaixou a vista e olhou para a mão dela na sua. Alisou os dedos dela com o polegar e finalmente a encarou nos olhos outra vez - ...por tu eu descobri que faço tudo! Ate deixar a segunda coisa que mais amo nessa vida... porque a primeira é tu.

Ela sorriu e agarrou o capitão segurando firme em seus braços. O beijo apaixonado veio em seguida, mas ele não deixou que ela se aprofundasse nos carinhos.

– Tenha paciência. Na hora certa eu vou te tirar daqui.

Ele levantou fazendo um carinho no rosto da duquesa e deixou o lugar do mesmo jeito que estava antes, com a porta trancada. Ele não queria que desconfiassem da presença dele no navio.

Herculano passou pelos guardas e notou que estava próximo das cabines onde a família Real estava. De relance, ele ouviu a voz do Rei Augusto dando ordens para um de seus assistentes de confiança.

– ...Vamos levar de volta para Seráfia o que é nosso.

– Sim, majestade. Não se preocupe. Está muito bem escondido.

– Ótimo! Certifique-se pessoalmente que continue assim.

O capitão ficou atento àquelas palavras e decidiu no mesmo instante seguir o rastro do rapaz pelos corredores do navio. O que ele descobriu fez seus olhos brilharem.

...

Ursula deitou-se de lado e ficou ouvindo o barulho distante das ondas quebrando na lateral do navio. As suas pálpebras pareciam pesar uma tonelada. Fechou-as.

O sono era uma fuga bem vinda. E então o sonho começou:

[Estava em busca do tesouro junto com Ternurinha e Zóio Furado. Corriam pela mata fechada até seus olhos encontrarem o esconderijo do tão cobiçado tesouro de Seráfia.

O trio carregava o báu quando foram surpreendidos pelo capitão Herculano. A fúria no olhar do capitão era evidente, mas pior que isso era notar sua decepção ao vê-la aliada com aqueles dois.

– Traidora! – Ele dizia.

– Eu te amo... acredita nisso! Acredita em mim!

Mas ele não ouvia seu apelo. Não acreditava mais em seu amor.

Ela viu de relance quando Zoio Furado sacou sua arma e disparou na direção de Herculano e sem pensar ela jogou seu corpo na frente dele sendo atingida pela bala.

Os braços do seu capitão lhe amparam a queda.

– Tu não pode morrer! Tu não pode me deixar!

– Agora você acredita no meu amor? – e ela morreu feliz nos braços do capitão].

A duquesa acordou daquele sonho. Sua respiração era entrecortada e o suor escorria de sua testa. Parecia tão real. Pensou em Herculano... Se algum dia ele acreditaria no amor dela. Talvez a morte fosse a solução. Uma prova de amor eterno.

Ela suspirou enquanto sentava apoiada no travesseiro. Queria afastar as imagens daquele pesadelo. “Agora você acredita no meu amor?” - no entanto as palavras ainda ecoavam em sua mente...

Ela queria que ele acreditasse.

(...)


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