Fogo e Gasolina escrita por Didilicia


Capítulo 5
Cap 5 – PARIS




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Quanto tempo ela ficou alí presa naquele quarto, com raros momentos de ar fresco sob a vigilância acirrada dos guardas da Corte, Ursula não sabe dizer. Foram muitos dias. Mar revolto. Noites frias. E sem notícias do seu capitão...

Certo dia, era final de tarde, um dos guardas a levou para o convés para que pudesse ficar um pouco ao ar livre. Ursula apoiava as mãos na beirada, olhando o mar agitado logo abaixo. Ela respirou fundo, sentiu o ar salgado entrar em suas narinas. Ela sabia que estavam perto de chegar na França e esse pensamento não lhe trazia nenhum alívio. Temia seu destino numa masmorra, relegada ao esquecimento.

“Esquecida por todos, menos por você” – Ela lembrou que Herculano certamente não esqueceria dela e havia prometido lhe tirar daquela prisão. Não imaginava como ele faria isso, mas tinha certeza que ele não falharia.

– Acabou o tempo! – o guarda anunciou, fazendo um gesto para que a Duquesa lhe obedecesse. Ela acatou sem reclamar, mas não sem antes fazer uma cara feia para o guarda.

Foi por um relance apenas que ela o viu. Escondido dos olhares de todos, menos do dela. Um sorriso cansado, de conforto, curvou os cantos da boca da duquesa. Sentiu um súbito sentimento de proteção crescer dentro de si, uma emoção doce e feroz. Ela desviou o olhar para o guarda ao seu lado que lhe agarrava o braço com certa força a fim de conduzi-la pelos corredores do navio de volta a sua “cela”. Quando ela ergueu a cabeça em busca do capitão novamente, descobriu que ele já não estava mais lá.

– Quando chegaremos em Seráfia do Norte? – ela perguntou ao homem quando ele a soltou no pequeno cômodo em que ficaria novamente trancada.

– Em breve. – e deu um sorrisinho sarcástico.

A duquesa jogou-se na cama quando ele fechou a porta. Em breve ela estaria LIVRE.

...

Herculano acordou com a movimentação de pessoas falando e ordens sendo dadas. Ele espiou para ver o que estava acontecendo e percebeu que estavam chegando. As coisas já começavam a ser preparadas para o desembarque em terra firme.

“Onde estou?” – ele não fazia nem ideia em qual terra distante ele estava, ele só sabia que precisava colocar seu plano em pratica.

Sem demoras, o capitão seguiu pelos corredores do navio em direção a cabine onde Ursula estava presa. O guarda esperava junto à porta as ordens para levar a prisioneira à terra. Desembarcariam no Porto de Paris, e em um dia ou dois seguiriam para Seráfia do Norte.

Ele se aproximou em silêncio e antes que o homem pudesse se dar conta da presença de Herculano, atacou-lhe pelas costas, com uma chave de braço no pescoço. Instantaneamente ele caiu desacordado. Ursula esperava aflita andando pelo quarto. "Já era para ele estar aqui", pensava. A duquesa apertava as proprias mãos tentando conter o nervosismo. Pior do que morrer numa masmorra, seria se perder pra sempre do seu capitão.

O barulho da porta sendo aberta fez com que ela se virasse abruptamente.

– Não! - gritou Ursula quando viu o guarda todo fardado fechando a porta atrás de si.

– Fique quieta. Eu vim lhe tirar daqui. - advertiu Herculano quando virou-se para ela.

– Herculano?! É você!? - um sorriso enfeitou o rosto da duquesa ao reconhecer que por baixo daquele disfarce, estava o seu capitão para libertá-la - Sabia que você vinha. Me da um beijo... - ela pediu, agarrando-se ao pescoço dele.

– Não! Depois... Temos que sair daqui. - ele segurava os pulsos da duquesa, forçando-a a se conter - Venha diaba!

O capitão levava a duquesa pelo braço. Cabeça baixa, o chapéu que usava na cabeça encobria o semblante dele. O uniforme fazia o resto do serviço sendo o disfarce perfeito.


– Guarda!? - gritou alguém da Corte - Para onde esta levando a prisioneira?

Ele hesitou sem saber o que responder. Foi Ursula quem cochicou para ele: "diga que ja recebeu a lettre de cachet do Rei". Herculano olhou-a de lado e fez uma cara estranha. Não havia compreendido uma só palavra da duquesa.


– OXI! Recebi o que!? – cochichou.


– Lettre de cachet. A Ordem do Rei.


– Porque tu não disse logo que era essa ordem ai? Não vem falar enrolado comigo não...


Ursula não conseguiu conter um meio sorriso. O capitão aumentou o tom de voz e disse o que ela sugeriu.


–JA RECEBI A ORDEM DO REI!

– Tudo bem! A carruagem já os espera lá fora para conduzir a prisioneira. - O guarda fez uma reverencia e indicou o caminho da saída.

– Vamos! Se apresse! - convocou Herculano, forçando a duquesa a acompanhar os passos dele para longe do navio.

A Paris do Século XIX fervia de acontecimentos. A cidade estava em plena expansão e contava com uma população de 1,5 milhões de habitantes. Era a segunda cidade mais populosa da Europa, e embora não tivesse a mesma quantidade de fábricas como era vistos nos subúrbios e nas cidades vizinhas de Londres, a industrialização na França se tornou massiva. Operários e burgueses não dividiam a mesma vizinhança, no entanto.

Trabalhadores moravam junto às fábricas enquanto os patrões viviam nos subúrbios mais distantes e arborizados. Nestes locais mais pobres, as ruas eram estreitas e formavam labirintos; as casas dos operários eram pequenas e miseráveis, grudadas umas as outras. Os cômodos não tinham janelas. O ar sufocava com gases das chaminés e não havia serviços públicos básicos, como água limpa ou rede de esgoto. Essas cidades industriais eram feias, sujas e tristes e seus rios, imundos.

Mas a Paris que a Duquesa Ursula conhecia era outra. Acostumada ao luxo e ao glamour dos espetáculos de teatro, das casas de ópera e dos finíssimos cabarés. A arte e a moda estavam por toda parte. A "cidade luz" respirava beleza e a vida era uma festa.

...

– Não acredito que conseguimos!!! – Ursula jogou-se nos braços do capitão, envolvendo seu pescoço com as duas mãos, que ainda estavam algemadas. Seus rostos estavam a centímetros um do outro. Seus olhos se encontraram e a duquesa sorriu para ele. – Finalmente! Será que agora você se incomoda em dar o meu beijo?

Ele notou, nas profundezas brilhantes dos olhos dela, a alegria sincera que ela sentia por estar com ele naquela cidade. Levou sua mão direita até os cabelos dela e os enlaçou entre seus dedos. Colocando um pouco mais de força, ele a puxou para si, cobrindo a boca dela com um beijo envolvente e demorado.

– A duquesa vai querer continuar algemada? – ele perguntou quando o beijo parou. Ela ainda tinha os braços em volta dele.

– Talvez. Isso depende do que o capitão pretende fazer comigo...

Ele sorriu.

– Tenho algumas ideias, mas... – ele retirou os braços dela de seu pescoço, pegou em seu bolso as chaves da algema que havia roubado do guarda, e a soltou. - ... por enquanto vamos deixar você livre e guardar isso aqui pra outra ocasião. – ele disse com um belo sorriso no rosto enquanto guardava a algema.

– Como quiser. – ela fez um gesto típico de reverência na Corte, inclinando-se para frente, com os joelhos levemente dobrados.

– Agora eu espero que a duquesa tenha uma boa ideia de como eu e tu vamos nos virar aqui - disse.

– Não se preocupa meu capitão... eu sou uma duquesa. Já pensei nisso. Vamos! Eu conheço um lugar.

(...)


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