Fogo e Gasolina escrita por Didilicia


Capítulo 3
Cap 3 – A FUGA




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Herculano respirou o ar fresco da noite, passou por alguns caras do bando que estavam conversando perto da fogueira, e foi deitar numa rede mais afastada das pessoas.

Bel viu quando ele passou e foi atrás do capitão.

– O quê que houve capitão?

– Nada não Bel...

– É a volta da duquesa, né mermu...? – ele riu.

Herculano estava deitado. Cada perna de um lado da rede, o pé encostando no chão batido de terra. Um braço por baixo da cabeça.

– Não posso deixar que levem ela pra longe de mim.

– O que o capitão vai fazer?

– Ainda não sei, Bel... mas faço o que for preciso.

Bel sorriu e deixou Herculano sozinho com seus pensamentos.

...

Estava escuro e cinzento quando Herculano se levantou, na manhã seguinte. Calçou as botas, abotoou a calça e pegou a camisa que havia deixado no punho da rede. Ele caminhou até a tenda. Todos no acampamento ainda dormiam.

Seu olhar pousou na forma adormecida e no brilho acobreado do cabelo dela. Sentiu uma forte tentação de tê-la outra vez em seus braços. Debruçando-se, o capitão sacudiu-a rudemente pelo ombro.

– Levanta. Tá na hora.

Os cílios dela tremeram, depois se abriram. Herculano se afastou para abotoar a camisa. Ela usava apenas suas roupas de baixo, a lingerie fina e bordada que ele quase rasgara na noite passada. Ursula espreguiçou-se, arqueando as costas como uma gata. O coração dele bateu mais depressa ao ver o contorno empinado dos seios dela. Ele desviou o olhar e começou a enfiar a camisa pra dentro da calça.

– É melhor tu se vestir. – falou, com voz seca.

– O capitão acha? – ela riu, levantando e se exibindo diante dele – pensei que ia querer terminar de rasgar minhas roupas.

O fogo nas veias dele não poderia ser mais ardente. Não poderia haver mais sensualidade na forma como ela falava e se movimentava ao redor dele. Vê-la daquele jeito provocante era mais do que ele podia aguentar. Envolveu a cintura dela com o braço para puxá-la para junto de si e cortar abruptamente o discurso provocador. Antes que pudesse toma-la completamente nos braços, ela já se esticava para alcançar a boca que descia ao encontro da sua.

A ansiedade e o ardor dela fizeram ele apertar ainda mais o abraço esmagando-a contra si. O gesto a fez gemer.

–Hmmm...

– Tu tem que se vestir, não temos muito tempo.

Ela percebeu a seriedade dele e instantaneamente soube que ele planejava algo.

– Para onde vamos?

– Faz o que to mandando.

O capitão deu ordens para os cangaceiros jamais falarem que Ursula esteve no acampamento caso alguém perguntasse. Especialmente se fosse alguém da Corte de Seráfia.

Ele selou um cavalo. A duquesa estava esperando de pé, ao seu lado. Ela nunca se cansava de ver como ele subia na sela. Uma ação suave, um movimento fluido e ágil. Já montado, ele dirigiu um olhar para ela que se adiantou em segurar a mão dele e botar um pé no estribo. Sentou-se atrás dele, grudando o corpo ao dele e cravando suas mãos na camisa.

– Pra onde vamos? – ela perguntou.

– Vou levar tu pro acampamento de uns companheiros meus.

– Mas porque? Eu não quero ir! Quero ficar com você!

Herculano deu duas batidas no lombo do cavalo e o animal pôs-se a correr mata adentro.

– Não Herculano! Eu não quero ir! - ela insistia.

– A duquesa não percebe que não pode ficar comigo?!

– Vai dizer que você não me ama? É isso!?

– Não se trata disso.

– Então...?

– O Rei Augusto não vai deixar a duquesa escapar de todas as artimanhas que tu aprontou. Ele vai vir procurar por tu. E qual é o primeiro lugar que ele vai olhar? - ele deixou a sugestão no ar.

– O seu acampamento... - ela disse, entendendo então qual era o propósito do capitão ao tirá-la de lá.

Partiram com destino certo: o acampamento de São João da Areia. Liderado por Firmino da Silva, era um grupo de cangaceiros que ficava mais ao norte, saindo de Brogodó.

– Por quanto tempo ficarei escondida lá?

– O tempo que for preciso.

O sol já começava a despontar no céu. E era por ele que Herculano se guiava para achar o caminho.

Seu olhar varreu o percurso que tinham percorrido. De repente ele achou ter ouvido vozes à alguma distancia. Ele acelerou o passo.

– por que estamos correndo Herculano?!

– Fica quieta! – ele ordenou, cada vez mais atento. – Tu faz muita pergunta!

Ouviu o silvar de uma bala cortando o caminho antes que pudesse ouvir o eco do disparo na mata fechada. Ele ficou escondido em meio às arvores o quanto pôde. O capitão podia apenas adivinhar a direção da perseguição.

– O que está acontecendo?! Quem está atirando na gente?!

– O maldito cozinheiro deu com a língua nos dentes! Vieram pra pegar a duquesa. – ele desceu do cavalo, arrastando ela consigo logo atrás. – mas eu não vou deixar que eles te levem.

Ele se deu conta que precisavam se esconder ou a Corte cruzaria o caminho deles e os encontrariam em pouco tempo.

– Vamo!! – ele a chamou, indo um pouco na frente para abrir caminho.

O ritmo puxado estava começando a cansá-la. Suas vestes compridas e cheias de pompa também não ajudavam. Ursula tentava acompanhar o passo quando tropeçou e caiu de joelhos.

– AAAII capitão...!

Ele olhou para atrás e a viu caída. Voltou até ela e a agarrou pela cintura, ajudando ela a levantar. A duquesa tentava recuperar o fôlego.

– Não aguento mais...

– Precisamos continuar. – a mão dele ergueu o queixo dela encontrando seus olhos.

Ela tentou dar mais uns passos, mas desistiu, agarrando-se a um tronco de árvore. Sua respiração saía com dificuldade diante de todo o seu esforço.

– Entregue a Ursula, capitão! – a voz do Rei Augusto soou por entre a mata fechada chegando em seus ouvidos alto e claro. – Vocês estão cercados.

A reação dele foi guiada pelo instinto: na mesma hora ele a puxou para trás de si, protegendo-a com seu corpo, tirou a faca da bainha da calça e tentou visualizar algum volante.

– Capitão Herculano, não tente resistir! Se precisar atiramos! – gritou um soldado.

– Herculano, tudo bem... – Úrsula disse baixinho logo atrás dele - ... não temos chance! Eu vou me entregar! Não suportaria se alguma coisa acontecesse com você.

– Não! Não vou deixar! – ele a olhava de frente, segurando seus braços. – seu olhar denunciava seu desespero.

– Capitão! Entregue a duquesa para que ela seja julgada em Seráfia do jeito que tem que ser!

O silêncio se fez entre os dois numa fração de segundos, tempo suficiente para o olhar dela encontrar o dele numa súplica sem palavras. Ela levou a mão até o rosto dele e lhe fez uma carícia. Seu polegar contornou os lábios dele e ela lhe deu um meio sorriso como se quisesse lhe assegurar que estava “tudo bem”.

– Eu estou aqui! Me entrego! – ela gritou, antes que Herculano pudesse lhe impedir.

(...)


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