Amandil - Sombras da Guerra escrita por Elvish Song


Capítulo 24
Conversa com o Rei


Notas iniciais do capítulo

olá! Sim, eu sei que sumi,e podem me julgar por isso... Mas realmente fiquei sem inspiração nessa fic. Mil desculpas por isso! Agora voltei, com um capítulo novinho! Espero que gostem!



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Entrando na casa de pedras que um dia fora parte do castelo de Dale, Amandil subiu as escadas do hall semidestruído e seguiu até a ala onde Thranduil estava alojado, a mais preservada do lugar. Mesmo com toda a destruição, era um lugar impressionante, construído com o engenho dos anões, a arte dos elfos, e todo o gosto por imponência e detalhes dos humanos; um lugar que ela vira em seu auge e, agora, não parecia menos majestoso do que já fora.

Um guarda de cabelos negros e lisos a anunciou, abrindo a porta da ala real; Thranduil já a esperava, usando trajes cinzentos, manto carmesim e trazendo a coroa de prata na cabeça. Seus conselheiros e alguns outros nobres o acompanhavam, levantando-se todos da mesa ao verem a princesa; ela era muito respeitada por todos, mesmo após ter enfrentado o rei tão abertamente – e talvez isso apenas aumentasse a admiração que sentiam.

— Majestade. – Amandil executou uma elegante reverência diante de Thranduil e dos nobres – Alegra-me ver que foi poupado dos ferimentos de batalha.

— Fico igualmente satisfeito em ver que se recuperou dos seus, princesa. – devolveu o rei, beijando a mão da moça com deferência – embora seus últimos feitos me tenham posto não apenas preocupado, mas bastante contrariado. Arriscar a vida de uma princesa élfica, em prol da vida de dois anões, não é o que eu chamaria de sensato.

— Não eram apenas anões, majestade. São meus amigos, e foi com o senhor mesmo que aprendi ser a lealdade o primeiro e mais importante valor de um indivíduo. Sem honra, mergulharíamos num caos de mentiras, traição e crueldade, e traríamos o fim do mundo como ele é. Como eu poderia agir de outro modo, se tive o exemplo de um grande rei?

— Vejo que aproveitou bem minhas lições, não apenas sobre honra, mas sobre diplomacia, também – o rei se voltou para os nobres e soldados no salão – deixem-me a sós com Lady Amandil. – tão logo foi obedecido, seu semblante se tornou menos pesado, porém não menos sério – Creio que lhe devo um pedido de desculpas, e um agradecimento.

— Majestade? – ela não compreendeu as palavras de seu rei; teria ele descoberto o que fizera? Provavelmente... Thranduil não era nenhum tolo.

— Não sou tolo para crer que o providencial desaparecimento da Pedra Arken, a tempo suficiente de eu recuperar a honra e a razão, tenha sido mera coincidência. E sei que você tem tudo a ver com o fato.

Pega em flagrante, a moça seguiu seus princípios e assumiu o que fizera, por mais louco que fosse tal ato:

— Está certo, meu rei. – ela o encarou, sem baixar os olhos – não podia suportar a ideia de meu sogro e mentor tornando-se menos do que sempre foi, perdendo a própria honra e indo contra tudo em que acreditava, devido à perfídia de uma gema maléfica. Não deixaria que o senhor tomasse uma decisão menos do que sábia, por causa do Coração da Montanha... Se decidisse abandonar o campo de batalha, que fosse pelas razões certas, e não por magia maligna.

O rei franziu o cenho, reconhecendo a verdade nas palavras da jovem: ele agira como uma criatura sem honra, como uma criança birrenta, importando-se mais em vingar-se de seus desafetos do que em proteger seu mundo... Não era, certamente, a postura de um rei, e as medidas tomadas pela moça o haviam impedido de prosseguir com tamanha loucura. Nunca poderia lhe agradecer devidamente por tão preciosa decisão.

— Serei eternamente grato por isso. – ele cruzou as mãos às costas, parecendo preocupado com algo mais, o que deixou a moça tensa. Que outras perguntas viriam? – Se tenho o direito, gostaria de lhe fazer outras perguntas.

— Responderei às que puder, meu senhor. – tomara que não tivesse nada a ver com Thorin!

— Amálië disse-me que encontrou você e Tauriel na encosta da Montanha, e ordenou que voltassem para junto dos exércitos... Legolas, porém, a encontrou numa luta contra Bolg, do outro lado da encosta. O que houve?

A raiva subiu à mente da jovem: não se esquecera da vergonhosa traição de Amálië, que não deixara apenas ela própria para morrer, mas abandonara Tauriel, princesa do Reino da Floresta e, na ausência de Thranduil e Legolas, herdeira do trono! Foi com puro ódio que, praticamente transfigurada e com farpas de gelo saltando da voz, a princesa perguntou:

— Onde está aquela traidora?

— Amálië? – perguntou o soberano – detida em sua tenda. Sua história parecia convincente, mas não condizia com a de meu filho. Não a deixaria livre, até apurar os fatos.

— E fez bem em decidi-lo, majestade, pois aquela mulher é a mais vil das criaturas de seu reino! – os olhos azuis se haviam tornado violeta – Ela abandonou a mim e a Tauriel, desarmadas e encurraladas na encosta! Tauriel estava quase morta, e eu estava sem minha espada, quando sua preciosa Guardiã das Fronteiras a pegou do chão e nos virou as costas. Se Legolas não houvesse chegado, eu teria sido obrigada a usar magia para nos tirar de lá e... – ela parou antes de dizer mais do que pretendia, mas Thranduil finalizou:

— E não teria podido salvar os herdeiros de Durin, o que nos mergulharia numa guerra contra os anões. – a voz do rei estava gélida quando a ergueu – Guarda!

— Senhor? – entrou um soldado jovem, cujo rosto fora marcado por um golpe de espada na bochecha direita.

— Traga-me a guardiã Amálië.

Um silêncio tenso e constrangedor se seguiu por longos minutos, antes que a porta se abrisse com violência, dando passagem a dois soldados, que arrastavam uma furiosa guerreira. Ela se debatia e tentava fugir às mãos dos dois elfos, sem sucesso:

— Como ousam?! Eu sou a Guardião das Frotneiras! Larguem-me! – porém, ao ver o monarca ladeado por Amandil, parou de lutar, e pareceu congelar no lugar – majestade... – e sabendo que estava perdida, e que podia esperar o banimento, na melhor das hipóteses, deixou todo o seu ódio estampado na voz – Amandil...

Mesmo fazendo todo o esforço para se conter, a filha de Galadriel não conseguiu impedir-se de, dando um passo à frente, esbofetear a outra. Diante de seu soberano, porém, esta não reagiu. Muda de raiva, a princesa da Floresta Dourada sibilou:

— Como você se atreve a voltar e contar tantas mentiras, depois de trair seu reino? Como se atreve a mentir para Thranduil, depois de ter deixado a filha dele à mercê de Bolg, para morrer? Como ousa deixar à morte sua princesa e capitã?!

Amálië desistiu de tentar enganar a alguém; pálida, percebeu que toda a sua traição fora descoberta, e sabia bem o destino que a aguardava. O fato de Amandil e Tauriel terem sobrevivido, o inoportuno retorno da filha de Galadriel, o modo como todos os seus planos haviam fracassado e, acima de tudo, o olhar gélido de seu rei, fizeram uma raiva inominável aflorar no peito da Guardiã das Fronteiras, que respondeu em tom perigoso:

— Como eu me atrevo? Fiz o que fiz para salvar o reino de sua influência perniciosa. Você manipula a todos para que façam suas vontades, quebra todas as regras sem receber qualquer punição... Levou anões para dentro do reino, libertou-os em segredo, traiu a confiança de nosso rei. E aquela maldita ruiva, que devíamos ter deixado para morrer na floresta, a segue como um cãozinho fiel, apoiando-a em tudo o que faz... O reino estaria melhor sem vocês, que só trazem desgraça e desonra para todos! – Agora que começara a falar, ela iria até o final – E mesmo sabendo de sua perfídia, mesmo sendo você a mais desprezível das criaturas, meu senhor a ama, a idolatra! Ele precisava ser salvo de você, seu verme maligno! – ela se voltou para Thranduil, que se mantinha imóvel e estupefato, o ódio distorcendo suas feições – Eu fiz isso pelo senhor, meu rei! Pelo senhor! Fiz isso por amor, para salvá-lo desta serpente pérfida que o enreda com palavras perniciosas!

— Você fez isso por si mesma, criatura desprezível – a voz de Thranduil parecia capaz de congelar o fogo. A mão grande se fechou na garganta de Amálië, apertando com força – Minha vontade seria de mata-la agora, mas um rei não pode ceder a todas as suas vontades. Uma condenação à morte exige um tribunal, mas você não merece tal atenção.

— Por favor, meu rei! – a voz da loura saiu estrangulada, enquanto ela implorava – eu o amo!

— Seu amor é uma doença. Acha mesmo que foi amor o que a moveu a tentar matar minha filha? Minhas DUAS FILHAS?! Você me serviu bem por muito tempo, mas as trevas penetraram seu coração, e a loucura tomou sua mente. Suas ações foram as mais vis possíveis, indignas de qualquer um que deseje intitular-se elfo. E se sua alma já não é a de um elfo... – o rei soprou sobre o rosto da guerreira, que sufocou e engasgou, enquanto uma luz dourada escapava de sua boca – a partir de agora, você está banida, Amálië. Não posso tirar sua imortalidade, mas todas as suas graças élficas já não lhe pertencem. A floresta lhe será hostil, e todas as feras hão de caçá-la por onde passar. A grama murchará e secará a seus passos, e nada na natureza a acolherá, pois dentre todos os atos pérfidos, você optou por trair seu povo, seu rei, ser desleal a uma companheira de armas. Seja, então, maldita para sempre! E nem pense em retornar ao Reino da Floresta, ou todas as criaturas que lá existem se erguerão para garantir que não dê mais do que um passo dentro de Greenwood.

Amandil arregalou os olhos: nunca imaginara ver Thranduil tão encolerizado; tampouco pensara que ele amaldiçoaria alguém daquele modo! Retirar as bênçãos de um elfo, fazendo-o ser não amado, mas odiado pela natureza? Bem, é certo que um rei tinha tal poder, mas utilizá-lo era... Ela nunca lera sobre alguém que o houvesse feito! E o olhar de Amálië, de pura dor, desespero, desapontamento... Mesmo ressentida da outra, Amandil não pôde deixar de sentir pena dela.

Thranduil largou a garganta da mulher, que tombou de quatro no chão, sem forças, desprovida da agilidade, da vitalidade e da magia que antes tivera, seu coração partido em um milhão de pedaços. Só agora percebia o que realmente fizera, mas era tarde demais para voltar atrás... E não haveria de viver com aquela vergonha! Erguendo olhos que desprendiam raios de ódio, fulminou a elfa morena com o olhar e, num gesto imperceptível, agarrou a própria adaga, erguendo-se num salto rápido para apunhalar a responsável por tudo o que se passara. Mas não era mais tão rápida, e sentiu apenas um frio agudo cruzar-lhe o ventre, ouvindo o grito de surpresa de Amandil.

Levando a mão ao próprio abdome, viu o sangue escorrer por seus dedos. O braço de Thranduil estava ao seu redor, e ele a fitava com um misto de pesar e raiva; sem alterar a expressão, arrancou a espada do corpo da guerreira loura, que tombou no chão, sussurrando:

— “E se a morte me vier, que seja por suas mãos, meu amargo amor...” – tratava-se da citação a um poema antigo, as últimas palavras da moça, antes que fechasse os olhos para sempre.

Amandil olhava, perplexa, do cadáver para Thranduil, que limpou a espada suja de sangue. Reconhecendo a expressão no rosto da nora, ele lhe falou:

— Não foi sua culpa, Amandil. Amálië deixou a Sombra penetrar sua mente, e enlouqueceu. Mas eu nunca permitiria que ela a ferisse. – o soberano abraçou a princesa, beijando-lhe a fronte – você está segura. – e afastando-se, chamou pelos guardas. Disse a verdade: Amálië atacara Amandil, e ele não tivera escolha, além de mata-la. Uma vez que o corpo foi retirado do lugar, voltou-se outra vez para a nora – você está bem?

— Queria que nada disso tivesse acontecido. Fiz tudo o que pude, e foi em vão...

— Em vão? O dragão está morto por sua causa.

— Não fui eu a mata-lo, fui? – a elfa ainda estava perturbada pelo que acabara de acontecer. Haviam sido muitos eventos, em pouquíssimo tempo, e agora uma profunda exaustão tomava conta de si, além da sensação de culpa.

— Causou a morte dele, indiretamente; impediu que anões, homens e elfos matassem uns aos outros; bloqueou o Gargalo, impedindo verdadeira carnificina. Salvou Tauriel. Salvou Fili e Kili. Tirando-me a Pedra Arken, trouxe-me de volta à razão. Acha mesmo que foi tudo em vão? – ele acariciou o rosto da moça – Fez toda a diferença do mundo! Se não houvesse começado tudo isso, a Sombra teria se espreitado em segredo até ser tarde demais. Fez toda a diferença, criança.

Ela deu um sorriso triste, e então falou:

— Cometi um erro, meu rei. Um erro que está me consumindo internamente, e sobre o qual preciso falar, porque não sei como agir.

— Sabe que pode me contar o que for. - parecia haver uma cumplicidade entre ambos, um carinho e conforto, onde um apoiava o outro, dando-lhe calma e aconchego. Eram mais do que rei e princesa, sogro e nora... Eram amigos. Eram família.

Com um suspiro profundo, a jovem narrou ao soberano o que se passara entre ela e Thorin Escudo-de-Carvalho. Sabia que o rei ficaria com raiva, e que ressuscitaria o anão, se pudesse, para mata-lo de novo... Mas ele também poderia aconselhá-la quanto a como agir, agora. Poderia falar com Mithrandir, também, mas, no momento, precisava de um pai. E Thranduil representava esse papel, para ela.


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Notas finais do capítulo

E então? Ficou bom? Espero que sim, porque realmente me empenhei.
Adoro vocês, e peço desculpas mais uma vez.
kisses, flores!



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