Amandil - Sombras da Guerra escrita por Elvish Song


Capítulo 25
Depois da guerra


Notas iniciais do capítulo

Olá, pessoal! Aqui estou eu, com mais um capítulo para vocês. Um breve suspiro entre o tenso fim da Batalha dos Cinco Exércitos e o que há de se suceder (não vou dar spoiler). Espero que gostem!



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Legolas beijou afetuosamente a mão de Amandil, que estava fria e levemente trêmula, antes de perguntar:

— Tem certeza de que está bem o bastante? Com tudo o que aconteceu, especialmente hoje...

— A traição de Amálië me deixa com raiva, meu amor. Apenas isso – assegurou a elfa, beijando os lábios de Legolas – mas essa batalha deixou esta parte do mundo uma bagunça, e eu mesma causei alguns dos problemas. Tenho de falar com Dain, Fili e Kili, e também com Bard, e Mithrandir.

— Muito bem... – o príncipe não insistiria. Amandil não iria descansar enquanto não houvesse feito tudo o que sabia ser o certo. Nada a recriminar, pois ele mesmo agiria assim, em lugar da moça. – eu conversei com o senhor das Colinas de Ferro... Até onde sei, Fili declarou que não vai assumir o reino de Erebor, devido à maldição que acompanha sua família. Ele teme enlouquecer e se tornar um mau rei, se governar sob a Montanha. Pelo que pude compreender da conversa em khuzdûl de ambos, boa parte dos anões das Colinas de Ferro não desejam vir para Erebor, de sorte de Fili assumirá a liderança dos que lá permanecerem. Já o anão mais novo, Kili...

— Temos um problema, não é?

— Mais de um. Meu pai vai ter um ataque quando ouvir da boca de Tauriel que ela não apenas pretende, como vai se casar com Kili.

— Você não parece aprovar... – comentou Amandil.

— E não aprovo. Ele não é digno dela, mas sei que discutir com Tauriel é mais inútil do que falar com uma rocha. Ela o ama, e você sabe que nossa raça só ama uma vez. Não há nada a ser feito. Porém, Ada não vai aceitar esta união.

A jovem elfa ficou calada, apenas meditando a respeito. Algumas ideias giravam em sua mente, mas não as mencionaria a Legolas, uma vez que todas incluíam quebrar leis imemoriais. Se tivesse de haver alguma transgressão, que fosse da parte dela, para que Legolas não fosse punido, também. Tentando mudar de assunto, perguntou:

— E os humanos?

— Falei com Bard. Os anões cederão o que for necessário para reconstruir Dale. A reconstrução já se iniciou, e mulheres, velhos e crianças irão se abrigar em Erebor, até o fim dos reparos.

— Parece que tudo vai muito bem, afinal! – o semblante dela se entristeceu, então – e o funeral de Thorin?

— Em breve. Manda a tradição que um rei seja velado por três dias e três noites, antes de seu sepultamento, que deve acontecer amanhã.

Com um suspiro conformado, a guerreira subiu no lombo de seu cavalo e, dirigindo-se a Legolas, declarou:

— Tenho um último assunto a resolver, antes de poder conversar com todos. – ela arqueou as sobrancelhas sugestivamente, deixando claro o que ia fazer. Legolas anuiu e subiu ao dorso de sua montaria:

— Vou com você.

Incitaram os corcéis ao trote, saindo da cidade e indo para o sopé das montanhas. Descendo dos animais, atravessaram a pé a planície congelada, subindo então a encosta íngreme, até chegarem a um desfiladeiro, em cujo fundo corria um rio; o casal permaneceu ali, respirando o ar gélido do inverno, sentindo o vento e desfrutando da paz que era a solidão. Compreendendo a intenção de sua amada, Legolas se abaixou e tocou a terra: não era habilidoso em magia como sua noiva, mas o Príncipe das Florestas geralmente era ouvido pela natureza.

Com efeito, não tardou para que o gelo sobre o rio se fragmentasse, revelando as águas sob si. Ao vê-lo, a filha de Galadriel retirou de dentro do decote um embrulho, que ao ser aberto revelou uma pedra grande e brilhante, uma gema branca com mil arco-íris em seu interior.

— O coração da montanha... – declarou ela, atenta ao olhar maravilhado de Legolas que, contudo, parecia totalmente indiferente à atração maligna que o objeto exercia sobre os gananciosos. Um coração puro, o do príncipe, incorruptível pela torpeza da joia da ganância – com todos os males que já causou, é hora de voltar ao lugar que pertence – ela arremessou a pedra, que mergulhou para as profundezas do rio, o qual voltou a se congelar – longe dos olhos e das mentes de todos. Que os rios a carreguem para o mar, e que jamais outra pessoa volte a tê-la nas mãos.

— Ainda não compreendo como você resistiu. – disse o moço – como pôde não ser tomada pela ganância, portando a gema por tanto tempo?

— Um segundo, um minuto, um ano... Não importa. Ela só desperta a ganância que está dentro de cada um. Não sou gananciosa, Leg. Tenho muitos defeitos, mas ganância não é um deles. Assim como não é um dos seus. Pessoas como nós estariam a salvo. Mas a pedra sempre daria um jeito de cair nas mãos que pudessem fazer maior estrago.

— Como um dragão.

— Ou um rei élfico. – eles sorriram um para o outro, cúmplices, e se abraçaram. Agora estava quase acabando. Apenas mais um pouco, e poderiam ir para casa.

*

— Majestade – cumprimentou a moça, fazendo uma breve reverência a Dain Pé-de-Ferro – muito me alegra ver que se recuperou de seus ferimentos.

— Posso dizer o mesmo, princesa. – respondeu o anão – creio que estou em débito para com você, Amandil: meus primos só estão vivos por sua causa.

— Não há débito, Lorde Dain. Fili e Kili são meus amigos.

— E o que a traz até aqui, milady?

— A guerra, senhor. A guerra é o que me traz aqui.

— Guerra - havia surpresa na voz de Dain – acabamos de vencer uma grande batalha. Acha que mais estão por vir?

— Tenho certeza. A Sombra retornou, lorde Dain, e fará o possível para não ser banida novamente. A morte de Thorin foi uma tentativa fracassada de destruir a linhagem de Durin, e deixar os anões sem liderança. O despertar do dragão foi uma tentativa de aliança com a terrível arma que era Smaug. E a Sombra já se torna física, neste mundo. – ela vira em sonhos o que se passara entre sua mãe e Sauron, e podia prever mesmo sem alguma Visão o que se passaria, no futuro – Banido para o Leste, ainda fraco, nosso Inimigo se reagrupa. Neste exato momento, Saruman, o Branco, a Senhora da Luz, Lorde Celebörn e o Senhor Elrond se dirigem para cá. Os reis devem se reunir, e decidir o que fazer em relação a este mal.

O anão tinha um ar zombeteiro de incredulidade, mas Amandil sabia que ele próprio já pensara em tudo o que se passara, e chegara à mesma conclusão que ela: o mal retornara ao mundo.

— Suponhamos que o que diga seja verdade. Por que eu devo receber mais elfos, magos e humanos em meus salões, quando poderia apenas trancar os portões, e manter meu povo à salvo da guerra?

— Porque não haverá túnel fundo o suficiente, nem montanha alta o bastante para que o Mal ali não chegue. O Inimigo retornou, milorde. Os Nove despertaram outra vez, e é questão de tempo até que seus orcs se multipliquem outra vez. A guerra irá devastar essas terras, do mesmo modo como o fez, no passado. Vim para avisá-lo: os lordes se reunirão em Dale, dentro de três dias; seria prudente o senhor comparecer.

— Então, veio como menina de recados dos lordes de sua raça? – zombou o anão. Amandil se irritou, mas não deixaria que ele vencesse, tirando-a de sua impassibilidade.

— Vim por mim mesma, como princesa das Florestas Douradas. Sei bem da rixa ancestral entre nossos povos, e sabemos ambos que uma única batalha lutada lado a lado, não em aliança, mas devido a um inimigo em comum, não irá pôr termo em rivalidade tão antiga. Mas nossos povos, também, já foram amigos.

— Ainda não compreendo o que faz aqui.

— Sei que relutará em atender a qualquer proposta de aliança ou acordo de paz com minha raça. O que vim fazer, é pedir que reconsidere. Quando o chamado vier, e ele virá, não vire as costas ao restante da Terra-Média. – ela avançou um passo, até estar a um palmo do rei – deixe-me lhe mostrar o que vi.

Dain teria recusado, se a mão da jovem não se fechasse sobre seu punho, imergindo-o na visão dela. Visões de morte, de guerra e devastação. Visões de trevas e destruição se espalhando pelo norte e pelo leste, visões de Erebor abandonada aos Goblins. Não durou mais que uns poucos segundos, ao fim dos quais a princesa se afastou e soltou o punho do rei:

— É o que acontecerá, se as raças não se unirem. Pense no que lhe mostrei, quando receber o chamado. – ela se afastou – agora, com sua licença, Majestade, gostaria de ver meus amigos.

*

— Tauriel! – Amandil abraçou a irmã com cuidado, mas intensamente – tive tanto medo por você!

— e eu, por você – sussurrou a outra, retribuindo ao abraço, e logo em seguida envolvendo o irmão nos braços – como está nosso pai?

— Não se feriu, mas está, bem... Preocupado com você.

— Furioso comigo, você quer dizer – corrigiu a elfa – eu sei disso. Mas me curvei à vontade dele por séculos... Não mais. – ela fitou Kili, que dormia sob efeito de poderosos sedativos, uma vez que a dor na perna quase amputada era excruciante – o efeito da poção deve passar em breve. Ele estará presente no funeral do tio.

— Tem certeza da escolha que está fazendo, Tauriel? Sabe que ele nunca aceitará Kili em nosso reino. – disse o príncipe. Os olhos da moça ruiva lacrimejaram um pouco antes que ela respondesse:

— Eu não vou voltar, irmão. Nosso pai é a favor de fechar a floresta, defender nossas próprias fronteiras e esperar... Mesmo se não houvesse Kili, eu não voltaria. Não vou fechar os olhos enquanto o mundo desmorona ao meu redor, como também você não deveria fazer. – havia um brilho de determinação nos olhos da mulher: uma rebeldia que sempre estivera lá, latente, e que agora se manifestava, afinal, quando os últimos vestígios da criança que buscava agradar ao pai sumiam ante a mulher na qual a capitã se convertera, afinal.

— E para onde você vai?

— Rivendell, os Ermos, Gondor... Ainda não sei. Mas certamente irei para um lugar onde precisem de mim, onde eu possa usar o que aprendi para dar combate à Sombra, ou ao menos prestar auxílio aos que o farão.

— Mas e ele, irmã? – perguntou Amandil, indicando o anão – sabe que a ferida dele nunca vai se curar totalmente. Ele não poderá mais lutar, e os anões não os aceitarão em seu meio. Ele precisa de um lugar onde possa viver a salvo, pois você não poderá lutar eternamente para defender a ambos.

— Eu sei. – Tauriel acariciou os cabelos de seu amado, beijando-lhe a fronte, e era possível ver em seus olhos o quão intenso era seu sentimento por ele – encontrarei um lugar. Encontrarei um jeito. – ela meneou a cabeça – é irônico, não é? Fizemos tudo para salvar a vida dele... Mas não o salvamos de verdade, afinal. Um ano, cem, quinhentos... Não importa o que eu faça, o quanto me dedique, ele ainda será mortal. Cedo ou tarde, será tirado de mim, e ainda assim, não estou disposta a desistir dele. – ela sorriu, confusa – que sentimento é esse? Não deveria fazer diferença quando ele será tirado de mim, mas a ideia é... Insuportável. Quero tê-lo comigo quanto tempo puder. Qual é a lógica disso? Protelar o sofrimento? Não faz sentido...

— Amor não faz sentido – disse Legolas. Não concordava com o relacionamento da irmã, mas gostava ainda menos da dor nos olhos dela – Mas não é menos real por causa disso. Há momentos que valem por toda a eternidade. Não será melhor uns poucos séculos com ele, do que a eternidade ao lado de alguém a quem não ame?

Tauriel sorriu e, levantando-se do leito, abraçou o irmão:

— Eu te adoro, Leg. Obrigada por ser meu irmão.

— Sempre – respondeu o elfo – não importa onde você esteja, ou a quem ame. Sempre serei seu irmão e, se precisar de mim, só precisará chamar. Eu irei. Eu sempre irei.

Ela sorriu e beijou o rosto do príncipe. Em seguida, dirigiu-se a Amandil:

— Posso me trocar em seu quarto? Devo estar apresentável no funeral de Escudo-de-Carvalho.

A elfa mais moça anuiu, indo ajudar a amiga a despertar Kili. Ainda um pouco dopado, ele pouco falou, e certamente nada que fizesse sentido; um curandeiro veio examiná-lo, e um pajem se encarregou de ajudar o príncipe anão a se banhar e vestir, quando ele despertou. Nessa hora, os três elfos voltaram ao quarto onde Amandil despertara e, como nos velhos tempos, aprontaram-se juntos, como se ainda fossem as crianças que, nas noites frias de inverno, dividiam a mesma cama. Algumas coisas nunca haveriam de mudar, não importava quanto tempo se passasse.

Havia um ar de tensão e apreensão no ar: não se tratava apenas da situação estranha que se estabelecera, aquela aliança forçada entre humanos, elfos e anões, que mais parecia uma paz armada... Havia também a Sombra rondando, com seus planos parcialmente ocultos... E, para Amandil, havia seus sonhos. Os pesadelos que, ela sabia, eram mais do que produto da imaginação. Algo muito ruim fora libertado, e esperava o momento de avançar; a morte do dragão fora algo com que o Inimigo não contava, mas seria necessário mais do que um lagarto gigante morto para frustrar a Sombra. Amandil sabia disso. Sabia que Sauron, o Trapaceiro, o tenente de Melkor, retornara... Mas não seria ela a dizer isso para Legolas e Tauriel. Que eles o soubessem quando os reis e rainhas se reunissem, pela boca da própria Senhora da Luz, que fora quem confrontara o servo de Morgoth. E o silêncio, aquele segredo mantido de seus dois melhores amigos no mundo – um deles seu noivo – a torturava. Mas não era o momento de falar, ainda. Este era um peso que devia carregar sozinha, pelo menos por enquanto.


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Notas finais do capítulo

Bem, a reunião dos reis e rainhas do leste será no próximo capítulo. Espero que tenham curtido, e peço desculpas pela demora, ok?
Beijos enormes
PS - reviews?



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