Pretending escrita por Aline Song


Capítulo 8
Cedendo


Notas iniciais do capítulo

Oi, galera! Finalmente, voltei! Quero, do fundo do meu coração, pedir um milhão de desculpas pela demora. Eu também leio fanfic e sei como é chato ficar esperando pela atualização. Nem vou tentar me justificar, a verdade é que eu não estava mesmo inspirada, apesar de já saber o que ia acontecer nesse capítulo, não sabia como colocar as ideias em palavras, e não acho justo com vocês publicar um capítulo mal escrito só pra poder atualizar mais rápido. Porém, essa semana a inspiração veio e eu espero que vocês gostem.
Pra compensar a demora, já comecei a trabalhar no próximo capítulo, e quero combinar uma coisa com vocês: vocês comentam bastante e eu posto o próximo ainda essa noite ou, no máximo, amanhã. O que vocês acham? Combinado?
Agora, vamos finalmente ao capítulo. Espero de verdade que vocês gostem!



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Capítulo 7

POV Luke

Quando chego ao teatro onde Tracey se apresentará mais tarde, poucas pessoas já estão sentadas, a maioria ainda circula pelos corredores e espaços entre os bancos, sendo que a maior parte delas são adolescentes mais ou menos da mesma idade que eu, recebendo seus familiares e amigos. Logo nas primeiras fileiras avisto os pais de Tracey e uma mulher de cabelos castanhos bem claros sentada ao lado deles. Como se tivesse sido avisada de que cheguei, a senhora Morgan se vira de costas e acena para mim. Agradeço pelas luzes ainda estarem acesas e por isso não preciso tropeçar em ninguém, mas confesso que estou um pouco tenso por ter de passar tanto tempo na companhia do pai de Tracey. O pai de Georgina era um cara jovem e muito liberal, e quase nunca se importava muito com o que a filha fazia ou deixava de fazer. Já os pais de Tracey são diferentes, e eu sinto uma necessidade estranha de agradá-los.

Alcanço a fileira onde eles estão sentados e a mãe de Tracey se levanta para me cumprimentar. Em seguida, se vira para o marido:

– Querido, se lembra de Luke?

– Claro. – ele se levanta também, e se posiciona atrás de sua esposa. – É filho de Karen Crawford não é? Lembro de você ainda criança. É um prazer revê-lo. – Então ele aperta a minha mão em um gesto de cumprimento. Seu aperto é firme, como se estivesse dizendo que sabe que não estou ali apenas como amigo de sua filha. Porém, mais uma vez eu agradeço mentalmente por não ter de passar por toda uma apresentação e coisas do tipo “cuide bem da minha filha”.

– O prazer é meu, senhor Morgan.

– Luke, essa é minha irmã Quinn. – a senhora Morgan fala de novo, e agora aponta para a mulher ao seu lado. Quinn é bem mais jovem que a mãe de Tracey, e é de se admirar que ela já seja diretora de um colégio. Com seus cabelos castanhos e mechas loiras, e seus olhos claros, mal aparenta ter trinta anos.

– Como vai, Luke? – ela se aproxima e me abraça. – É um prazer finalmente conhecer o namorado de Tracey. Minha sobrinha tem um ótimo gosto.

Fico sem saber o que responder, mas não tenho como negar que Quinn é simpática, e parece realmente ser tão legal quanto Tracey diz que é. O que destrói totalmente a imagem que venho construindo dela durante a última semana. A verdade é que, desde que Tracey me disse que sua tia planejava levá-la para longe, eu criei certa aversão a Quinn, porém, parece que isso não durará muito.

Nós nos sentamos e os pais de Tracey começam a conversar entre si. Enquanto isso, Quinn se vira para mim e começa a me perguntar várias coisas. No começo, penso que ela está fazendo um tipo de interrogatório para descobrir se mereço namorar sua sobrinha, mas depois, conforme começa a fazer perguntas sobre as coisas mais banais possíveis, percebo que está apenas curiosa sobre a vida de Tracey. Antes das luzes começarem a se apagar, Quinn me confessa que Tracey sempre foi sua sobrinha preferida e que as duas sempre se deram muito bem. Depois disso ela se vira para frente para prestar atenção no espetáculo que está prestes a começar.

Uma mulher com o vestido longo azul e com um coque impecável entra no palco e começa a falar sobre como está feliz em encerrar mais um ano de tanto trabalho e dedicação com mais uma grande apresentação de todos os membros. Ela fala mais um monte de coisas inúteis e então chama um grupo de crianças para o palco. No começo é divertido vê-las, porque apenas algumas estão realmente dançando balé, outras não têm a mínima coordenação motora e quase caem várias vezes. Acontece que depois de cinco minutos não consigo achar mais graça das crianças e começo a ficar com sono, como Tracey disse que ficaria, e então deixo minha mente vagar para vários outros lugares na tentativa de não dormir bem na frente da família dela.

Minha mente acaba escolhendo o mesmo lugar para onde tem ido há uma semana: o corredor vazio do colégio onde eu e Tracey nos beijamos pela primeira vez. Primeira e única até agora. Não que eu não tenha tido vontade de beijá-la novamente, pelo contrário, para a minha total perdição, tenho vontade de beijar Tracey a cada instante que estamos juntos, e isso tem estragado todo o relacionamento que construímos até agora. Quando descobri que Tracey seria minha monitora, passei horas pensando nos momentos terríveis que teria de aturar ao lado dela, afinal, eu não a suportava. Depois, quando toda a história de namoro falso começou, percebi que Tracey não era apenas a menina nerd que pensei que fosse, e comecei a enxergar nela muitas qualidades que antes não era capaz de ver. Quando Jake resolveu tentar se aproximar dela as coisas mudaram mais uma vez, porque descobri que não quero ter de me afastar dela, não quero perdê-la, e agora, depois do beijo, percebi o que ela realmente significa para mim. Não apenas a garota que está me ajudando a superar o problema com Georgina e a provar que ela não tem poder sobre mim, não apenas uma amiga em quem posso confiar de verdade, é mais que isso, sei que é. Quero estar com Tracey, quero ficar com ela. O problema é que não sei como dizer isso a ela. Não sei como Tracey se sente em relação a isso e não quero assustá-la. Não quero tomar a atitude errada e fazer com que ela se afaste de vez. E no meio de tudo isso ainda está Georgina. Não sei como vou contar a Tracey sobre a última vez que minha ex-namorada me procurou e sobre tudo o que ela me disse.

Desde que nos beijamos no corredor as coisas não são mais as mesmas. Quando estamos juntos as coisas não fluem mais tão naturalmente quanto antes. Nós vamos juntos para a escola, saímos com nossos amigos, passamos o intervalo juntos também, mas algo mudou. Há sempre uma tensão entre nós, como se estivéssemos sempre prestes a dizer algo um ao outro, mas então perdemos a coragem e ninguém fala nada. Acho que ambos pensamos que, de certa forma, é melhor manter as coisas como estão do que ter de encarar os fatos e tomar uma decisão sobre o que iremos fazer de agora em diante. Pelo menos é isso que eu penso. É melhor ter Tracey comigo dessa forma, do que dizer a ela como me sinto e correr o risco de perdê-la.

De repente todas as luzes do palco se apagam, e nós ficamos no escuro por alguns segundos, até que uma única área, bem no centro do tablado é iluminada, e lá está ela: Tracey.

Tracey parece um anjo no centro do palco. Eu não estava prestando atenção no resto da apresentação, mas talvez essa seja mesmo a ideia. Sua roupa é toda branca, incluindo as meias e saia. Ela gira e conforme vai se movimentando de um lado para o outro a única luz que ilumina o teatro a acompanha. Por um momento não penso em mais nada, só consigo observá-la e reparar em como seus movimentos são leves, delicados, ela faz isso com tanta facilidade que parece realmente simples. Tracey parece estar voando e está tão incrivelmente linda lá em cima, que não consigo desviar minha atenção. Há alguns meses eu nem imaginava que Tracey sabia dançar, agora, vendo-a se mover desse jeito, fico me perguntando quantas vezes mais Tracey Morgan vai me surpreender.

Outra luz se acende no palco e outra pessoa ganha destaque, dessa vez é um garoto. Ele caminha na direção de Tracey com passos firmes. Os dois ficam tão próximos que parece até que vão se beijar, e é ai que eu começo a me sentir desconfortável. Graças a Deus eles não se beijam, apenas tocam as mãos e começam a dançar juntos. Ele, que é forte e bem mais alto que Tracey a gira nos ombros e depois disso sou obrigado a vê-los dançando sozinhos por intermináveis minutos. Não gosto do jeito como eles dançam, parece tão íntimo. E por que ele sempre tem que tocá-la? Fico me mexendo na cadeira várias vezes, tentando disfarçar o quanto estou ficando irritado, até que Quinn me encara e solta uma risadinha. É o momento de tentar disfarçar melhor.

Finalmente mais bailarinos entram no palco e a música fica mais intensa. Todo o tédio que senti antes vai embora, e me concentro totalmente. Tenho que reconhecer que a apresentação é bonita, estou satisfeito por ter vindo, sei que Tracey está feliz por isso. Ela, com toda a certeza é a melhor entre todas as bailarinas dali, não é a toa que é a principal. Não tiro meu olhar dela, mas também não deixo de tomar conta do tal cara com quem ela estava dançando toda a vez que ele se aproxima.

A apresentação chega ao fim e a cortina vermelha se fecha, abrindo novamente logo em seguida para mostrá-los todos em fileira agradecendo aos inúmeros aplausos. Nós da plateia ficamos de pé e eu tento fazer contato visual com Tracey. Ela também está procurando por rostos conhecidos e quando me vê, sorri. Seu sorriso é o mais lindo de todos ali e eu me sinto orgulhoso por ser direcionado a mim.

Lá fora nós aguardamos Tracey trocar de roupa e vir nos encontrar. É agora que serei posto a prova. Nós vamos sair para jantar com os pais dela e Quinn. Eu estaria nervoso se não estivesse ainda pensando no quanto ela estava linda no palco e no quanto aquele garoto estúpido parecia estar gostando de dançar com ela. Na verdade, enquanto estou aqui fora com os três, o pai de Tracey não me parece assustador.

– Gostaram da apresentação desse ano? – Tracey aparece logo atrás de mim. Ela está radiante. Seus cabelos estão molhados e ela está maquiada, diferente de como costumo vê-la todos os dias, mas está linda, e está tão feliz que parece que vai flutuar a qualquer momento.

– Você estava linda, querida. Foi a mais talentosa de todas, como sempre. – seu pai é o primeiro a responder e logo a abraça. Ele a trata com todo o carinho possível, provavelmente tentando compensar o tempo que passa longe de casa.

– Seu pai tem razão, a apresentação foi ótima. – diz a senhora Morgan.

– Foi maravilhosa, Tracey! – Quinn fala empolgada e abraça a sobrinha. – Você estava perfeita. Não acha, Luke?

Tracey me encara, esperando que eu responda. Se eu dissesse tudo que pensei quando a vi dançar, ficaríamos aqui pelo menos meia hora. Mas eu não teria coragem de falar na frente de seus pais. Então, apenas concordo com Quinn.

– Claro. Você estava linda, Tracey.

– Obrigada.

– E então, nós vamos jantar ou não? – pergunta Quinn.

– É claro que vamos. Você vem no carro com a gente, Quinn. Tracey e Luke podem ir no carro dele. – a mãe de Tracey responde e eles saem em direção ao carro da família.

– Luke. – o pai de Tracey me chama – dirija com cuidado.

– Sim senhor, senhor Morgan. – eu respondo sério, e Tracey sorri ao meu lado.

– Você gostou mesmo da apresentação? – ela pergunta chegando mais perto de mim enquanto caminhamos até meu carro.

– Sim. Você dança muito bem.

– Obrigada. – ela sorri orgulhosa com o elogio e eu aproveito esse momento em que a tensão não nos cerca. – Não ficou com sono nenhuma vez?

– Não.

– Tem certeza?

– Ok, só na parte das crianças. Mas na sua vez eu prestei atenção em tudo. Juro.

– Eu acredito em você.

Abro a porta do carro para Tracey e ela entra. Eu entro em seguida e dou a partida. Assim que saímos do estacionamento passamos por um grupo de adolescentes que participou da apresentação. Tracey acena para eles, e o primeiro a acenar de volta é o garoto com quem ela dançou.

– Você sempre dança com algum cara?

– O quê?

– Nessas apresentações. Você sempre tem que dançar com algum garoto?

– Depende da coreografia que ensaiamos, do tipo de música, do que vou representar. Por quê?

– Nada. Só não fui muito com a cara desse com quem você dançou. – Tracey solta uma gargalhada.

– Luke, você nem o viu direito.

– Vi sim. E não gostei.

– Tudo bem, então.

– Você podia pelo menos me dizer que ele é gay, só para amenizar as coisas. – ela ri de novo.

– Andrew não é gay, eu já disse. Não sei por que... – não espero Tracey terminar de falar e freio o carro de repente, fazendo com que nossos corpos sejam arremessados bruscamente para frente. Eu não acredito que esse cara é o tal Andrew.

– O que é isso, Luke? – Tracey pergunta assustada enquanto um homem nervoso buzina atrás de nós. Volto a dirigir normalmente antes de responder.

– Esse Andrew é o mesmo Andrew que você beijou? – pergunto sem rodeios.

– É. Qual o problema?

– E você ainda pergunta? Tracey, quantas vezes ficou com ele?

– Uma vez! Você enlouqueceu, Luke?

– Tem certeza?

– É claro que sim. Olha, fiquei com Andrew há anos, e depois ele foi embora da cidade. Voltou no ano passado, com uma namorada. Agora está solteiro, mas eu não estou, não é?

Demoro um pouco para processar as palavras da Tracey, ainda estou concentrado no fato de eles terem ficado apenas uma vez, de ele ter tido uma namorada a agora não ter mais, só depois me dou conta do que ela quis dizer. Tecnicamente eu sou o namorado de Tracey, ela está me dizendo que está comigo, e que não preciso me preocupar.

Mudando o clima que se instalou dentro do carro, pego em sua mão e entrelaço seus dedos nos meus antes de depositar um beijo ali.

– É, tem razão.

***

Durante o jantar tudo correu bem, os pais de Tracey se esforçaram para deixar o clima tranquilo e Quinn parece ficar mais a vontade conversando comigo e com Tracey do que com eles. Depois de beber algumas taças de vinho ela já está bem mais alegre e observa os casais que dançam no salão do restaurante.

Segundo Tracey esse é o restaurante preferido de sua tia, e todas as vezes que ela vem para os Estados Unidos, eles vêm jantar aqui. O lugar até que é bem agradável. As mesas são dispostas ao longo de uma varanda, de modo que podemos ver o a noite lá fora. A música é boa e no centro do restaurante há um espaço para quem quiser dançar. Os pais de Tracey já foram e voltaram sorrindo como um casal de adolescentes. Quinn suspirou dizendo que gostaria de ter alguém para dançar com ela, Tracey não disse nada, pelo menos não até agora. É então que uma nova música se inicia. You and Me, da banda lifehouse, começa a tocar e pelo modo como Tracey sorri, sei o que ela está pensando.

– O que foi? – pergunto.

– Nada, é só que... eu amo essa música.

– Convide-a para dançar, Luke. – Quinn me incentiva e eu penso um pouco na ideia. Sou péssimo dançando, e Tracey é excelente. Mas nós não vamos participar de nenhum concurso de dança nem nada, e eu posso ver nos olhos dela o quanto ela quer que eu a convide. Essa coisa de dançar deve ser algo romântico para garotas. Acho que posso fazer isso por ela, afinal, não é como se alguém do colégio fosse me ver agora.

– Não precisa. – Tracey fala para mim e depois se vira para sua tia. – Luke odeia dançar.

– Vamos, vem dançar comigo. – eu digo e Tracey se surpreende.

– Luke, não precisa fazer isso.

– Eu sei, mas eu quero. Vai recusar? – Então eu me levanto e estendo a mão para ela. Seus pais e Quinn nos encaram com expectativa até que Tracey segura minha mão e me acompanha até a pista de dança improvisada no centro do restaurante. Me afasto o suficiente para que ninguém em nossa mesa possa nos observar e me aproximo dela. Coloco minhas mãos em sua cintura e começamos uma dança tímida.

– Por que está fazendo isso? Eu sei que você detesta dançar.

– Porque você está muito feliz hoje, e quero que continue assim. – minha sinceridade pega Tracey de surpresa. Ela apenas concorda com a cabeça e vejo suas bochechas corarem. – Espero que não se importe se eu acabar pisando no seu pé.

– Não me importo.

Aproveito a proximidade com Tracey para olhá-la assim, bem de perto. Desde que nos tornamos próximos, me pergunto todos os dias como pude não ter reparado antes no quanto ela é linda. A resposta para minha pergunta vem na letra da música que estamos dançando.

“Something about you now, I can't quite figure out. Everything she does is beautiful, everything she does is right…”

A verdade é que a beleza de Tracey não está só em sua aparência, ela vem de dentro, é preciso conhecer seu coração para poder perceber o brilho que irradia de Tracey a cada gesto que ela faz. Agora que conheço não posso mais arriscar que ela se afaste de mim.

Com todas essas coisas em minha cabeça, me sinto um completa idiota por não ter coragem suficiente de dizer tudo a ela, mas quando penso na hipótese de ela me dizer não, quando penso que Tracey pode preferir Jake a mim, que ela pode dizer que devemos deixar tudo como está ou até pior, que pode dizer que eu estou enganado e terminar tudo entre nós, sinto medo. Então prefiro tê-la como tenho agora, aqui, em meus braços, mesmo que não seja pra valer.

– Luke, está acontecendo alguma coisa? Você ficou tão quieto. Tem alguma coisa que quer me dizer?

Olho em seus olhos tentando enxergar neles a coragem de que preciso, mas encontro as mesmas dúvidas e medos que tenho, e lá no fundo, bem escondido, os olhos escuros de Tracey também têm esperança, mas não sei o que isso quer dizer. Assim, tento apenas fazer com que os meus olhos digam a ela tudo que estou sentindo agora.

– Não, não quero falar sobre nada agora. Vamos só aproveitar esse momento.

“Cause it's you and me and all of the people with nothing to do, nothing to prove…

And it's you and me and all of the people, and I don't why I can't keep my eyes off of you.”

Quando o vocalista canta o refrão da música mais uma vez, percebo o quanto ela poderia ser nossa, e puxo Tracey ainda mais para mim. Ela descansa seu rosto em meu ombro e eu me permito sentir seu cheiro, dizendo para mim mesmo que não vou deixá-la escapar de mim.

POV Tracey

Depois de um bom tempo no restaurante, mamãe decide que está cansada o suficiente para querer ir embora, e nós vamos para o estacionamento. Luke pega em meu braço e me faz andar um pouco atrás dos outros, apenas com ele.

– Será que você consegue convencer seus pais a deixá-la passar mais um tempo comigo essa noite?

– Não sei, Luke, amanhã ainda é sexta, temos aula. – digo isso, mas no fundo estou feliz por Luke ainda querer que eu fique com ele.

– Eu sei, mas prometo que não vamos demorar muito. É importante. – ele me olha como se fosse um cachorrinho filhote querendo colo, e eu não posso dizer não aos seus olhos azuis quando eles me encaram assim. Sim, eu sei, estou perdida.

– Vou falar com eles.

Corro na frente de Luke e ao invés de falar com minha mãe, vou direto até minha tia Quinn. Sei que ela vai me ajudar. Digo a ela que eu e Luke apenas vamos conversar por mais alguns minutos, que não ficamos completamente sozinhos desde a escola e ela logo compreende. Tia Quinn sempre foi boa em me entender, e ela sempre está disposta a me ajudar, principalmente se for para dobrar meus pais. Minha tia então diz para eu não me preocupar com meus pais e apenas pede para que eu não volte muito tarde. Vou ao encontro de Luke agradecendo a Deus por tia Quinn estar aqui.

– Tudo certo, podemos ir.

No carro, Luke fica extremamente silencioso, mas segura minha mão. Essa atitude é completamente estranha para nós dois, e eu começo a ficar com medo do que pode estar acontecendo. Quinze minutos depois percebo que estamos nos afastando do centro da cidade, e reconheço o caminho que tomamos. É o mesmo que pegamos quando fomos à casa de praia de Georgina.

– Luke, você está me levando para a casa de Georgina? – pergunto com os olhos arregalados.

– Você é louca? – ele sorri e a tensão se alivia. – Estamos indo até a praia.

– Luke, você disse que a gente não ia demorar!

– Eu sei, e não vamos. Uma hora, uma hora e meia no máximo. Prometo.

Concordo porque estou curiosa para saber o que é tão importante assim para Luke, e porque precisamos ir até a praia para que ele me diga. Quando chegamos ele tira uma pano velho do banco de trás, abre a porta para mim e me guia até a areia. Luke não solta minha mão, é estranho da parte dele, mas gosto disso.

– Agora fala, por que estamos aqui? – pergunto enquanto ele estende o pano velho na areia da praia e nós nos sentamos.

– Nosso primeiro encontro foi aqui. Achei legal que viéssemos de novo. – ele diz sem olhar para mim, apenas olhando para o mar e entrelaçando seus dedos aos meus. Também não sei o que dizer a Luke. Tenho medo de que essa seja a hora em que ele me pergunta se sinto algo por ele. Não quero dizer que estou apaixonada sem saber o que ele sente. Luke tem estado muito estranho desde que nos beijamos. As vezes acho que ele finalmente vai me dizer algo que me dará uma direção a seguir, mas então ele trava e voltamos a estaca zero. Estou completamente perdida em relação a ele. Só sei que não quero ser a única a me apaixonar aqui. Não quero ter de escutá-lo dizer que estou confundido as coisas. Por isso, só vou dizer a verdade a ele quando sentir que posso fazer isso sem me machucar.

– Você disse que era importante que viéssemos aqui. Está me deixando preocupada.

– Está tudo bem. Eu só acho que... precisamos conversar. Você não acha? – concordo com a cabeça, ansiosa demais para dizer qualquer coisa. – Antes de tudo eu preciso te contar uma coisa. – Luke faz uma pausa e se vira para mim, segurando minha mão com as suas duas agora. – Georgina me procurou hoje depois da aula. Ela e Henry terminaram de vez. Pelo o que ela disse os dois não estavam se dando bem há algum tempo e perceberam que levavam vidas muito diferentes para continuarem juntos. Ela estava triste, me pediu perdão. Também disse que estava arrependida de ter terminado comigo e que, se eu quisesse, estava disposta a tentar de novo.

Por um momento sinto ódio de Georgina. Quem ela pensa que é? O que a faz pensar que pode procurar um garoto comprometido e dizer essas coisas a ele? Mas depois sinto um medo enorme tomando conta de mim e aquele aperto no meu coração já tão conhecido está de volta. Tenho medo de saber o que Luke respondeu a ela.

– E o que você disse? – pergunto em um fio de voz, reunindo toda a coragem que existe em mim.

– Eu a perdoei. – então é isso. Eu e Luke terminamos aqui. No fim das contas todo esse tempo não valeu de nada, bastou Georgina procurá-lo uma única vez e ele a aceitou de volta. Eu deveria ter imaginado que isso aconteceria, aliás, ela mesma me avisou que eu nunca poderia competir com ela. – Entenda Tracey, eu e Georgina passamos muito tempo juntos para que eu não a perdoe. Embora o que ela fez tenha me decepcionado e me magoado, passamos por muitas coisas boas juntos que são mais que suficientes para que eu não guarde todo esse rancor.

– Eu entendo, Luke. Está tudo bem. – não sei como ainda não surgiu nenhuma lágrima, nenhum nó na garganta, mas agradeço silenciosamente por isso. – Vocês voltaram. Eu entendo.

– O quê? De onde tirou essa ideia?

– Não voltaram? Mas você disse que a perdoou.

– E perdoei, mas não voltei com ela. Tracey, escute, Georgina foi muito especial para mim, e de certa forma sempre vai ser. Foi minha primeira namorada, a primeira garota por quem me apaixonei, e foi pensando nisso que decidi esquecer o que ela havia feito quando ela apareceu lá em casa hoje mais cedo me pedindo para perdoá-la. Não posso negar isso a ela.

Agora estou com mais ódio de Georgina por ser tão hipócrita assim. Ela não se importou em magoar Luke quando o trocou por outro sem nem sequer avisá-lo do que estava acontecendo, e agora se faz de coitadinha, mas também sinto um pouco de raiva de Luke por não perceber o quão falsa ela é.

– Não vai dizer nada?

– O que quer que eu diga?

– Está brava comigo, Tracey? Eu te trago aqui, sou sincero com você e ainda fica brava comigo?

– Tem certeza de que está sendo sincero comigo, Luke?

– O que quer dizer?

Tenho vontade de dizer que ele não está sendo sincero porque não me diz nunca o que realmente sente. Porque não olha nos meus olhos e fala se quer ficar comigo ou se quer voltar para sua Barbie Georgina. Mas não quero mais brigar com Luke, não tenho forças para isso agora, e não quero que ele se afaste de mim, portanto, não digo nada disso a ele.

– Quanto a outra coisa que Georgina disse, o que você respondeu?

– Respondi a verdade, que tenho namorada e que não posso tentar mais nada com ela agora.

– Não pode ou não quer, Luke? Porque Georgina quer, e ela não vai desistir fácil. – estou perdendo a paciência agora, sei disso. Solto minha mão das dele e aproximo nossos rostos. – Você é quem precisa decidir o que quer.

Luke também sabe que perdi a paciência, porque me olha irritado como não fazia há tempos.

– E você, Tracey, o que você quer? Porque eu quero o mesmo que você. Espero que saiba disso.

Gostaria de ter coragem para dizer que quero ficar com ele para sempre. Mas entendo o jogo de Luke, ele não vai dizer se eu não disser. Mas eu também não vou ceder. Então, antes que ele me questione mais uma vez, me aproximo dele e o beijo. Faço isso sem pensar em mais nada, apenas na vontade que tive de fazê-lo durante toda essa última semana.

Imediatamente, Luke retribui ao beijo. Diferente do nosso primeiro, esse já começa intenso, porque ambos estamos nervosos. Ele coloca a mão em minha nuca e me puxa para mais perto. Me aproximo dele e entrelaço meus dedos em seus cabelos. Nossos corpos estão colados agora, e eu sinto o calor de Luke irradiando para mim. Acho que nunca antes estive tão perto de um garoto assim, e nunca pensei que a sensação pudesse ser tão boa. Conforme o beijo fica cada vez mais intenso, as mãos de Luke descem para meus braços e apertam minha cintura, até que perdemos o fôlego e nos separamos.

– Por que fez isso? – ele me pergunta com a respiração acelerada.

– Me perguntou o que eu queria, e era isso que eu queria. É isso que eu quero, Luke. Não quero brigar com você, não quero que se afaste. Você me disse no restaurante que eu estava muito feliz hoje e que queria que eu continuasse assim. Também quero continuar assim. Mas pra isso nós não podemos brigar nem discutir. Vamos só aproveitar o momento. Não foi isso que você disse?

Luke não diz nada, apenas sorri, se aproxima de mim e me beija de novo, e de novo e várias e várias vezes. E é assim que passamos essa noite. Luke e eu, juntos onde estivemos pela primeira vez como namorados, onde aprendi a confiar nele. Lá no fundo há uma vozinha que quer me dizer para não me sentir tão bem assim, que insiste em pensar que Luke está indeciso entre Georgina e eu. Mas falo mais alto e digo a ela para calar a boca, nem que seja só por mais algum tempo. Se Luke disse a Georgina que não pode tentar nada com ela porque está comigo, e se estamos aqui hoje, é porque tenho chances, por menores que sejam. Sou sim capaz de competir com Georgina Harper.


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Notas finais do capítulo

E ai, o que acharam? Até o próximo capítulo! Xx.



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