Pretending escrita por Aline Song


Capítulo 7
Certezas


Notas iniciais do capítulo

E ai, galera?! Como vocês estão? Dessa vez voltei rapidinho pra compensar a demora da outra vez né haha e sim, de madrugada porque essa é a hora que eu funciono melhor haha
Vocês vão ver que esse capítulo começa bem reflexivo, porque essa parte é importante pra que vocês entendam como Tracey e Luke estão se sentindo. Porém, algo me diz que vocês vão curtir o final.
Queria avisar também, que algumas ideias desse capítulo, foram tiradas do livro Para Todos os Garotos que já Amei. Eu já tinha falado nos avisos da fic que esse livro da Jenny Han foi uma das inspirações pra criar essa história, mas acho melhor reforçar pra não correr o risco de ninguém me acusar de plágio kkkk
Por último eu queria agradecer a quem comentou no capítulo anterior, vocês me deixaram muito feliz!
No mais, é isso. Leiam, aproveitem o cap, e comentem. Lembrem que quanto mais comentários, mais animada eu fico pra escrever hahaha.



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Capítulo 6

POV Tracey

As coisas têm acontecido muito rápido para mim ultimamente. Tudo tem mudado muito rápido, e eu não sei mais como lidar com isso. Há dois meses, eu estava nesse mesmo quarto com Mollie que até então era minha melhor e única amiga, discutindo sobre as tais aulas particulares que eu teria de dar a um dos jogadores de lacrosse em troca da minha tão sonhada carta de recomendação para universidade. Se naquele dia eu tivesse assistido a um trailer do que estava prestes a acontecer nos próximos capítulos da minha vida, simplesmente não acreditaria.

Agora estou sentada em minha escrivaninha, com meu diário aberto, pensando no que escrever e em tudo que tenho para contar. Faz tanto tempo que não escrevo que mal sei por onde começar. Tenho andado muito ocupada nas últimas semanas, fazendo coisas diferentes das que costumava fazer. Não somente ir para o colégio, assistir as aulas, ir ao balé, conversar com Mollie, escrever, dormir. Tenho feito tantas coisas ultimamente. Tenho ido a festas em casas na praia, a jantares em família, em praças onde costumava brincar quando criança. Tenho saído com jogadores de lacrosse e líderes de torcida e assistido aos treinos e jogos de Luke.

Luke. Ele é o ponto de partida de tudo isso. Quando paro pra pensar em cada uma das mudanças que vem acontecendo, percebo que tudo está ligado a ele. No dia em que o encontrei com meu diário na mão, ciente de todos os segredos que guardei, tive certeza de que me arrependeria de ter aceitado a proposta da senhorita Herrera. Mas hoje, depois de todos esses dias, só consigo me dar conta do quanto estava errada. Sei que a ideia era apenas que eu ensinasse algumas matérias a ele, e que o ajudasse a melhorar suas notas, mas no fim das contas, Luke é que acabou me ensinando muito. Me sinto uma garota tão diferente do que era há alguns meses. Me sinto melhor do que costumava ser, e Luke é o responsável por isso.

Porém, por outro lado, Luke também é o responsável por toda a confusão de sentimentos que estou vivendo agora. Antes eu era uma pessoa cheia de certezas, hoje só consigo encontrar perguntas sem respostas. Tudo parecia tão simples, eu e Luke só precisávamos fingir que estávamos namorando por um tempo e tudo estaria certo. Georgina saberia que Luke não estava sofrendo por ela, Luke me ajudaria a chamar a atenção de Jake, todos sairiam ganhando. Mas, se tudo é tão simples, por que tenho a sensação de que estou perdendo o controle do que estou sentindo?

Sei que o plano de Luke está dando certo todas as vezes que Georgina me lança um olhar mortal em alguma de nossas aulas juntas ou em um dos corredores, ou então, quando Jake vem falar comigo e me acompanha até meu armário depois da aula de biologia, sempre querendo saber por que ainda não fui vê-lo jogar. Luke costuma ficar irritado quando conto isso a ele, por isso, tenho evitado falar. Porém, pensar que estamos alcançando o objetivo disso tudo, me assusta muito mais do que eu pensei que fosse possível. Isso significa que, muito em breve, não precisaremos mais fingir namoro algum. Nosso relacionamento vai poder terminar tão rápido quanto começou, e ai, o que será de mim e Luke? Tento dizer a mim mesma que isso é tudo que eu mais quero. Que essa era a intenção desde o começo, que toda essa mentira acabasse o quanto antes. Mas o aperto que sinto por dentro só me mostra o quanto estou me enganando.

Quanto mais me aproximo de Jake, mais deveria me sentir feliz, e quando estou com ele, realmente me sinto, mas depois, quando fico sozinha, só consigo questionar se, para ficar com Jake precisarei me afastar de Luke. E eu não quero me afastar de Luke, não quero perdê-lo. Sei que estou sendo egoísta, mas não posso fugir do que estou sentindo. A questão é: quero tanto estar perto de Luke a ponto de abrir mão de ficar com Jake? Eu gosto tanto de Luke assim? E se a resposta for sim, o que isso significa? Significa que estou apaixonada por ele?

Sinto meu coração martelando contra meu peito, e um nó se fecha em minha garganta. Tenho vontade de chorar, porque estou com medo, estou com medo de estar apaixonada por Luke. O pior de tudo é que mal posso conversar com alguém sobre isso, afinal, o único que conhece toda a verdade é ele mesmo. E o que eu diria? “Olha, Luke, talvez eu esteja me apaixonando por você. O que vamos fazer agora?”. Além disso, ainda tem a sombra de Georgina nos rodeando. Se ela quiser Luke de volta, e se ele ainda sentir algo por ela, sei que nunca poderei fazer nada para mudar isso. Como ela me disse naquele dia, nunca poderei competir com ela.

Me levanto da escrivaninha desistindo de escrever no diário e me perguntando como pude ser tão ingênua a ponto de me meter nessa enrascada. Desejo internamente poder voltar no tempo e nunca ter aceitado o pedido da senhorita Herrera, mas logo depois me arrependo, porque sei que de certa forma, tudo isso vale a pena.

Cansada de pensar nisso tudo pela milésima vez nessa semana, vou para o banheiro tomar um banho e me preparar para o jogo de hoje a noite.

POV Luke

São quase sete da noite, e eu tenho que sair de casa para buscar Tracey e levá-la ao jogo de futebol. Não estou com a mínima vontade de fazer isso. Na verdade, já estou pronto há vinte minutos, mas estou enrolando para sair, na esperança de me atrasar o suficiente para que Tracey se irrite comigo e desista de ir. Também já considerei a ideia de ligar e dizer que estou com muita dor de barriga e que vamos ter que deixar pra outro dia, mas me sinto culpado só de pensar nisso. Não quero magoá-la. Sei que ela está animada pra essa noite. Sei também que ela sempre quis ir a um jogo de Jake, ainda mais sendo convidada por ele. Ela mesma me disse isso um dia. Disse que sempre quis que ele a convidasse como costuma fazer com as calouras vagabundas com quem ele sai. Claro que Tracey não usou essas palavras, isso fica por minha conta.

A verdade é que estou com raiva. Estou com muita raiva de Jake. Tenho vontade de tirar satisfação com ele e perguntar quem ele pensa que é para convidar a minha namorada para assistir a seu jogo idiota – e sim, minha namorada, porque para Jake, é isso que Tracey é – e, dependendo do que ele me responder, eu decido se quebro ou não a cara dele. Mas sei que não posso fazer isso. Sei que não tenho o direito de interferir desse jeito na vida de Tracey. O acordo era esse mesmo, eu deveria ajudá-la a se aproximar dele, não tem lógica nenhuma eu ser o primeiro a tentar estragar tudo. O que eu deveria fazer é esperar mais algumas semanas e finalmente dar um fim nisso, deixá-la livre pra ficar com quem quiser, afinal, Tracey já fez demais por mim. Mas eu não consigo nem pensar nessa ideia, de modo que continuo fingindo não perceber as investidas de Jake pra cima dela.

Outra verdade é que estou com ciúme. Por mais que eu não queira admitir nem em silêncio apenas para mim, estou com ciúme dela. Porque Tracey é uma garota especial, é diferente das outras, e me faz sentir muito bem quando estamos juntos. Gostaria de ter sido o único a perceber essas qualidades nela, mas parece que Jake também percebeu. Gostaria de dizer a ele que infelizmente – pra ele – Jake percebeu tarde demais, e que eu enxerguei a verdadeira Tracey primeiro, por isso, tenho direitos sobre ela. Mas um segundo depois percebo o quanto egoísta isso é e me sinto um imbecil.

Não sei qual o problema comigo. Comecei isso tudo por causa de Georgina, e nem sequer sei o que ainda sinto por ela, a não ser magoa toda vez que lembro de sua traição. Porém, Tracey tomou um lugar importante nessa história toda, e embora eu não tenha certeza se toda a minha preocupação em relação a Jake é apenas por não querer dividi-la ou se realmente tenho sentimentos por ela, de uma coisa eu sei: Tracey é a pessoa que menos merece se machucar nessa história toda, e eu não suportaria ser o responsável por vê-la sofrer. E é por isso que não posso ser egoísta com ela. Assim, pego as chaves do carro e vou para a casa de Tracey para levá-la ao jogo, mesmo sabendo que posso a estar entregando a Jake. Mesmo sabendo que posso estar perdendo-a.

POV Tracey

Tudo correu perfeitamente bem no jogo de sexta-feira. O time da escola, e claro, de Jake, venceu, mas não foi só por isso que foi divertido. A verdade é que foi bem legal estar lá. Geralmente eu costumava abominar momentos assim, mas estar no meio de todo mundo, torcendo pelo nosso time, foi animador, e me fez esquecer de todos os meus problemas por um tempo. Todos os amigos de Luke foram, e Mollie e Vicky também, porém, esta última teve de ficar a maior parte do tempo junto das líderes de torcida. É claro que Georgina também estava lá, se exibindo com sua saia curta. Várias vezes me peguei torcendo para que ela levasse uma bolada na cara que amassasse seu nariz, e algumas vezes até me permiti rir imaginando a cena.

Acabei descobrindo que Luke e Mason ficam muito engraçados quando assistem a um jogo, porque eles não param de gritar e não conseguem ficar sentados por mais de um minuto. No final da partida, nós fomos todos para uma lanchonete que estava cheia de pessoas da escola, e acho que essa foi a primeira vez que saí com tanta gente. Quando Luke foi ao banheiro, Jake aproveitou para vir falar comigo. Ele disse que havia ficado feliz por eu ter ido vê-lo jogar, e que com certeza dei sorte a ele. Não soube bem o que responder, estava mais preocupada com as chances de Luke voltar do banheiro a qualquer momento. Mas no fim, deu tudo certo.

Agora estou pronta para mais um dia de aula. Na verdade, estou quase pronta, ainda preciso conferir se peguei todas as coisas que preciso levar para o colégio hoje. Dentro da sacola estão minhas meias e sapatilhas de balé, além de uma saia que usei em uma apresentação há um ano, mas que ainda serve perfeitamente, e o volume que ela fez é exatamente do que eu preciso para o dia de hoje. É halloween, e em nossa escola, nessa data, sempre fazemos um concurso de fantasias. Só participa quem quer, e é claro que eu não participei em nenhum dos anos anteriores, afinal, são sempre as mesmas pessoas que vencem essas porcarias. Mas nesse ano Mollie e Vicky insistiram muito para que eu fosse fantasiada, e até mesmo Luke me pediu para escolher uma fantasia, alegando que eu preciso viver tudo que o ensino médio tem a me proporcionar.

Depois de muito protelar, eu acabei decidindo participar do tal concurso, e ontem à noite liguei para Mollie pedindo ajuda para pensar em uma fantasia de última hora. Ela ficou eufórica de tão animada, mesmo sabendo que nenhuma de nós vai ganhar isso, mas acho que a diversão é o que vale. No fim das contas, ela acabou se lembrando dessa roupa que usei na minha última apresentação anual de balé, e me sugeriu que a usasse hoje, junto com um par de asas e uma varinha que ela vai me conseguir com os responsáveis pelo figurino do clube de teatro, e eu me fantasiarei de fada. É patético, eu sei, mas Mollie jura que vou acabar gostando.

Assim que termino de conferir se peguei tudo, ouço Luke buzinando lá embaixo. Desço as escadas correndo e vou direto para seu carro. Quando entro, ele observa minha sacola volumosa por causa da saia, claramente curioso.

– O que tem ai?

– Minha fantasia! – eu digo animada, esperando que ele fique feliz porque eu decidi ceder e me fantasiar junto com todos eles, mas Luke parece um pouco desapontado.

– Você não disse que não queria fantasia?

– É, mas mudei de ideia. Acho que preciso viver tudo que o ensino médio tem a me proporcionar. – sorrio para ele repetindo exatamente o que ele me disse e ele sorri um pouco agora.

– E você vai se vestir de que?

– De fada. Foi a única coisa que Mollie e eu conseguimos arrumar de ontem pra hoje.

– Legal.

Legal? É só isso que Luke tem a dizer? Fico decepcionada com sua reação. Achei que ele ficaria mais feliz em me ver compartilhando esse momento com ele e seus amigos, e mais uma vez fazendo coisas que não fazia, mas acho que me enganei. Mais uma vez desisto de decifrá-lo e volto minha atenção para a mensagem que acabou de chegar em meu celular. Fico digitando quase o caminho todo até o colégio, já que Luke não está muito disposto a conversar, e só quando estamos quase chegando é que ele volta sua atenção para mim.

– Com quem você tanto conversa nesse telefone? Não vai me dizer que é com o Jake. Porque se ele tiver tido a coragem de pedir seu número eu vou ser obrigado...

– O que? Você está ficando louco, Luke? De onde tirou essa ideia?

– Não está conversando com Jake?

– Não.

– Então com quem?

– É minha tia Quinn, e minha madrinha também. Ela é irmã da minha mãe e mora em Amsterdam, dirige uma escola lá. Tia Quinn está vindo nos visitar e quer de todo jeito que eu vá com ela para a Holanda quando ela voltar. – Luke engasga de repente e eu fico sem entender nada. Ele realmente está muito esquisito hoje.

– Como assim quer que você vá com ela?

– Como eu disse, minha tia é diretora em uma escola maravilhosa, e ela acha um desperdício que, com o histórico escolar que tenho, eu não tenha feito nenhum intercâmbio ainda. Ela insiste que eu devo aproveitar a oportunidade de estudar um tempo em outro país.

– Mas pra isso você não precisa estar inscrita em um programa de intercâmbio?

– Sim, mas como tia Quinn é a responsável pela escola, ela conseguiria uma vaga pra mim fácil, fácil.

– E você vai?

– Claro que não. – posso ver o alívio no rosto de Luke e isso me deixa feliz – esse é meu último ano, não quero terminá-lo longe de vocês.

– Vocês?

– É, vocês. Mollie, Vicky, Mason, você.

– Jake. – Luke completa.

– Ele também.

Ficamos em silêncio por um momento porque inserir Jake no assunto parece ter deixado o ar mais pesado. Tenho vontade de perguntar a Luke por que ele está tão preocupado com Jake ultimamente, mas não faço isso, é melhor não estragar nossa manhã.

– Mas e ai, quando sua tia chega?

– No fim da próxima semana. Ela vem para minha apresentação anual do balé.

– Sua apresentação do que?

– É a apresentação que fazemos todos os anos com o grupo de balé. Nós ensaiamos o ano inteiro, e depois fazemos uma grande apresentação com todos os membros.

– E quando é que você ia me convidar para assistir? – a pergunta de Luke me pega de surpresa.

– Não pensei que você iria querer ir. Você não gosta de balé, vai ficar entediado.

– Mas eu quero. Posso ir ou não?

– É claro que pode, Luke! Vai ser na quinta que vem. Amanhã mesmo trago um convite para você.

De repente me sinto extremamente feliz com a hipótese de Luke me assistir dançando. Mas também fico imensamente nervosa. Mais do que nunca tenho que fazer tudo certo, tudo tem que sair perfeito. Quero que ele me admire quando me vir no palco, assim como o admiro quando o vejo jogar lacrosse.

***

– Tem certeza que isso é necessário? – pergunto a Mollie quando ela insiste em me maquiar em um dos camarins que fica atrás do auditório.

– A maquiagem é a alma de tudo, Tracey. Você vai ficar muito melhor quando eu terminar, confie em mim.

Mollie já está vestida. Eu adorei sua fantasia esse ano. Ela está com uma trança lateral impecável e uma roupa exatamente igual a que Katniss Everdeen usa no primeiro filme da franquia Jogos Vorazes. Até um arco e flecha de mentira minha amiga conseguiu, e eu acho melhor nem perguntar como. Ela passa uma maquiagem delicada em meus olhos, porque eu disse que só aceitaria se ela não me deixasse parecendo um palhaço, mas quando Mollie termina e eu me olho no espelho, tenho que dar o braço a torcer. Minha amiga fez um belo trabalho.

– Mollie, quando foi que você ficou tão fera assim?

– São anos nesse clube de teatro, Tracey. Alguma coisa eu tinha que aprender. – Mollie diz isso, mas no fundo ela sabe que é uma ótima atriz.

A maquiagem que ela fez em mim ficou ótima, quase não dá para perceber nada. Não estou como essas garotas que parecem que caíram num pote de farinha logo que levantaram da cama, mas o batom cor de rosa e a sombra clarinha deram um ar angelical perfeito para combinar com a fantasia.

Mollie então, arruma as asas em minhas costas e me dá orientações para cuidar muito bem delas e devolvê-las no fim das aulas de hoje – como se por acaso eu fosse querer roubá-las – mas mesmo quando já estamos prontas, ela não faz menção de deixar o camarim e voltar para os corredores da escola.

– O que está acontecendo, Mollie? Você quer me dizer alguma coisa? – é claro que quer. É por isso que ela insistiu para que viéssemos para cá e não para um banheiro qualquer.

– É só que... acho que você precisa saber de uma coisa.

– Fala logo. Você está me deixando nervosa.

– Tudo bem. Eu ouvi algumas garotas comentando mais cedo sobre Georgina e seu namorado universitário. Parece que as coisas não estão mais indo tão bem entre eles. Ouvi dizer que os dois andam brigando porque Henry não quer abrir mão de sua vida de festas na faculdade só porque Georgina não pode estar presente.

Fico em silêncio por um tempo digerindo essa nova informação. Georgina e o namorado estão brigando. O quanto isso me afeta? Será que eles vão terminar o namoro? E se sim, o meu falso namoro termina também?

– Por que está me contando isso, Mollie? – nem sei por que faço essa pergunta. É claro que Mollie também pensa que, caso Georgina fique solteira novamente, ela vai querer Luke de volta.

– Só quero que você esteja preparada para o caso de Georgina terminar e querer voltar com Luke. Você sabe, os dois namoraram por muito tempo, ela com certeza deve pensar que o tem na palma da mão.

Todos esses problemas envolvendo Luke, Jake, Georgina e eu estão prestes a me deixar maluca. Eu estou cansada de pensar sobre isso. Acho que se me questionar mais uma vez sobre qual o rumo que tudo isso pode tomar, meu cérebro vai explodir.

– Por que todo mundo acha que Luke vai terminar comigo caso Georgina fique solteira? – pergunto nervosa. Não quero descontar meu nervosismo em Mollie, mas preciso colocar isso pra fora.

– Não foi isso que eu disse, Tracey. Eu só quero que você tome cuidado com o que ela pode fazer. Na verdade, não me passou pela cabeça que Luke pudesse terminar com você.

– Não?

– Não. Ele adora você.

– Como sabe disso?

– É só reparar no jeito com que ele te olha quando você não está olhando pra ele. Ele olha muito pra você. Quando você não está prestando atenção. Ele olha para ver se você está se divertindo.

Meu coração dispara dentro do peito quando ouço isso, e é impossível conter um sorriso. Tenho vontade de sair correndo e abraçar Luke agora. O quanto ele me acharia louca se eu fizesse isso?

***

Quando entro no corredor do terceiro ano, abarrotado de pessoas fantasiadas, me sinto estranhamente bem. Pensei que seria esquisito estar aqui vestida assim, mas a verdade é que hoje é um dos poucos dias em que me sinto realmente fazendo parte de um grupo dentro dessa escola, assim como quando Luke me trouxe para ver o jogo de futebol, ou quando eu e Vicky assistimos Mason e Luke treinando. Esse é o primeiro ano em que estou realmente integrada com a rotina das pessoas com quem estudei a vida inteira, agora percebo que lá no fundo sempre desejei isso. É mais uma das coisas que devo a Luke.

Quando finalmente o encontro entre tantas pessoas no corredor, ainda estou sob o efeito da última coisa que Mollie me disse sobre ele, e tenho vontade de abraçá-lo, e embora seja uma coisa comum que ninguém estranharia entre namorados, sei que teria de explicar essa reação a ele, então, deixo minha vontade de lado e apenas sorrio, esperando que ele me veja logo. E ele vê. Luke retribui meu sorriso com outro tão lindo que toma toda a minha atenção por alguns segundos, o que me faz reconhecer pela milésima vez o quanto estou ferrada. Só então me permito reparar em sua fantasia e na de seus amigos.

Luke e todos os seus amigos do time, decidiram se fantasiar de heróis, e eles formam o grupo mais divertido que já vi. A maioria deles está muito engraçada porque as calças são um pouco justas, como é o caso de Mason, que está hilário com sua roupa vermelha de Flash. Já Luke, teve a boa ideia de arrumar uma fantasia um pouquinho maior, se livrando assim das calças coladas. Ele veio de homem aranha, seu super herói, preferido, mas não está usando a máscara ainda. Nenhum deles está.

– Você está linda. – ele diz quando me aproximo e eu me sinto repentinamente tímida como não costumo ficar perto de Luke.

– Ah, por favor. Como eu posso estar bonita nessa fantasia improvisada?

– Você precisa acreditar mais em mim, Tracey.

– Bom, se você está dizendo.

Eu acabo me distraindo no meio dos garotos, que assim como eu, adoraram a ideia de Mollie para sua fantasia. Só nos damos conta de que já deveríamos ter ido para o ginásio quando o corredor está quase completamente vazio. É no ginásio que acontece a votação para a melhor fantasia.

Assim que chegamos, a primeira pessoa que vejo é Georgina. Ela usa uma fantasia de vampira, sua maquiagem impecável imita um rastro de sangue no canto de sua boca, o que me deixa ainda com mais medo dela. Mas o que realmente chama atenção são suas botas de cano alto que vão até a coxa. Os saltos são enormes, não sei como ela consegue ficar em pé, e não sei por que ela veio com uma roupa tão ousada num concurso da escola. Tenho certeza de que ela deve ter festas muito mais animadas para ir hoje à noite.

– Ela sabe que estamos no colégio, não sabe? – Mollie pergunta e eu sorrio. Às vezes parece que Georgina se esquece de que somos apenas estudantes do colegial.

Quando a vê, Luke se aproxima de mim e segura minha mão. Sei que ele quer mostrar para ela que estamos juntos.

– Você já ouviu os boatos? – pergunto e pela expressão dele sei que sabe do que estou falando.

– Já.

– E ai?

– E ai, o que?

– Como “e ai o que?”, Luke? Não sente nada sobre isso?

– Eu não estou nem ai. Se o relacionamento de Georgina está ruim, ela só está tendo o que merece.

É o que Luke me responde, e depois muda de assunto. Sei que ele está mentindo. Sei que saber disso mexeu com algo dentro dele. Talvez seja apenas com seu orgulho. Talvez Luke esteja realmente achando bem feito que Georgina esteja se dando mal em seu namoro, o que seria compreensível depois do que ela fez com ele. Torço para que seja apenas isso, e para que Luke não esteja vendo oportunidade nenhuma nessas supostas brigas do casal.

O clima no ginásio é animado. Todos estão se divertindo com as fantasia uns dos outros. É realmente engraçado ver tantas roupas criativas, e tantas outras sem noção. Depois de quase uma hora que estamos aqui, a senhorita Herrera sobe em um palco improvisado dizendo que a contagem dos votos já foi feita, e que ela irá anunciar os vencedores.

Depois de dizer algumas coisas sobre como ela adora esse clima de festa no colégio e de como todas as fantasias estão ótimas, ela finalmente anuncia o resultado. É óbvio que Georgina venceu. Ela é a rainha dessa escola, mesmo sendo uma bruxa má. O mais engraçado de tudo, é que o garoto vencedor foi Jake, com sua impecável fantasia de pirata. O quão irônico isso é? Eu e Luke nos encaramos e caímos na gargalhada, claramente pensando a mesma coisa.

– Que otários. – diz ele enquanto o casal vencedor sobe no palco.

– A fantasia deles nem é tão boa assim. – mentira.

– Jake parece um animador de festa infantil.

– E Georgina então? Está igualzinha a uma stripper. – eu digo e nós continuamos rindo sem parar da situação. É óbvio que nós dois sabemos que tudo isso é mentira. Os dois realmente estão maravilhosos em suas fantasias, nós só não queremos dar o braço a torcer e aplaudir junto com todo mundo enquanto as pessoas por quem somos ou éramos apaixonados recebem seu prêmio.

***

Quando o dia na escola finalmente termina, eu já estou cansada de andar por aí com essas asas e de segurar essa varinha. Me troco o mais rápido que posso no primeiro banheiro que encontro e vou até Luke que me espera em seu armário.

– Está pronta? – ele pergunta e eu concordo com um aceno de cabeça.

– Só preciso entregar as asas e essa varinha no clube de teatro. – Aponto a varinha para ele. Luke está guardando algumas coisas em seu armário, é assim que eu vejo uma bola de pelos vermelha lá dentro.

– O que é isso, Luke? – estico meu braço para pegá-la e ele tenta me impedir.

– Não é da sua conta.

– Me deixa ver, vai. – ele não quer ceder, mas eu insisto. – Anda Luke, você leu meu diário, agora tem obrigação de me deixar ver. – então eu enfio minha mão lá dentro e puxo a bola de pelos. É uma peruca. Uma peruca ruiva. – O que é isso?

– É uma peruca. Nunca viu uma?

– E por que você tem uma peruca ruiva em seu armário? – pergunto sorrindo.

– Eu comprei pra você. – admite ele em um tom mais baixo.

– Pra mim? Olha Luke – falo bem baixinho, para que só ele escute – nosso namoro é de mentira. Não posso realizar seus fetiches.

– Haha, como você está engraçada hoje, Tracy.

– Tá bom, parei. Agora fala, por que comprou essa peruca pra mim?

– Não é óbvio? – Continuo encarando-o, mostrando que pra mim nada parece óbvio – Você disse que não ia se fantasiar, então, como eu vim de homem aranha, achei que não se importaria em usar uma peruca para ser minha Mary Jane.

Olho para Luke séria por mais um tempo e depois começo a rir. A rir muito, porque isso é muito engraçado. Tudo bem, é fofo da parte dele também. Mas é tão engraçado pensar que ele achou que eu fosse realmente usar essa peruca.

– Por isso ficou com aquela cara quando eu disse que me fantasiaria? – pergunto e continuo a rir.

– Qual é a graça? – ele está começando a ficar irritado.

– Não é óbvio? – repito a pergunta que ele me fez há minutos atrás.

– Olha só, se somos namorados, nada mais normal que usarmos uma fantasia de casal. – com essa eu morro de rir e Luke fecha a cara para mim. – Quer saber, você está muito chata hoje.

– Está me chamando de chata? – paro de rir e o encaro, ainda com um pequeno sorriso no rosto.

– Estou.

– Se me chamar de chata de novo vou ser obrigada a fazer um feitiço pra te manter calado. – digo apontando a varinha para ele.

– Não seja idiota, Tracey.

– O que você disse? – eu pergunto e balanço a varinha bem em frente ao seu rosto.

– Eu disse: não seja... – assim que ele começa a falar, coloco uma mão sobre sua boca, impedindo que ele continue. Luke tenta falar, mas eu aperto a mão com mais força.

– O que? O que foi? Não consigo ouvir você, Peter Parker. – brinco me referindo a sua fantasia. – Acho que meu feitiço deu certo.

Luke, então, estica a mão e faz cócegas em mim, eu dou uma gargalhada tão intensa que quase solto a varinha. Saio correndo pelo corredor, mas Luke corre atrás de mim fingindo lançar teias nos meus pés. Rindo, eu fujo dele por todo o longo corredor, e posso sentir as pessoas nos observando. Percebo quando passamos por Georgina e depois por Jake, mas nem eu e nem Luke nos importamos e continuamos com nossa brincadeira. Um professor grita para pararmos de correr, e nós obedecemos, mas assim que viramos em um outro corredor, dessa vez completamente vazio, recomeçamos. Estou sem fôlego quando encosto em um dos armários, mas ainda estou rindo. Luke vem logo atrás de mim, e eu acho que ele vai parar do meu lado, mas ele não para.

Luke está bem na minha frente agora, se aproximando cada vez mais, impedindo que eu saia do lugar. O clima de diversão se dissipa totalmente, uma tensão paira sobre nós, mas não é uma tensão ruim, muito pelo contrário. Luke chega bem perto de mim, e eu posso sentir sua respiração acelerada pela corrida.

– Parece que eu finalmente peguei você. – então, Luke me beija, tão de repente e inesperado como tudo que tem acontecido conosco. E para minha surpresa, percebo que venho ansiando por isso muito mais do que imaginava. Os lábios de Luke são tão macios, e no começo me sinto nervosa, mas ele apoia a mão na minha nuca e acaricia meus cabelos de um jeito tão tranquilizador e gostoso, que de repente, não me sinto mais nervosa. Deixo que minhas mãos subam para seus ombros, e então para sua nuca, fazendo um carinho tímido ali, torcendo para que ele sinta a mesma coisa que eu. Eu nunca imaginei que beijar pudesse ser tão bom.

Devagar, nós cortamos o beijo, e nos afastamos só um pouco. Nenhum de nós sabe o que dizer ao outro, de modo que ficamos nos encarando por algum tempo. Pela primeira vez, percebo um brilho nos alhos azuis de Luke que nunca vi antes. É assim que sei que estou bem mais perdida do que pensei. Estou apaixonada por Luke.

POV Luke.

Há algumas semanas atrás eu e Tracey estávamos nessa mesma situação, eu estava prestes a beijá-la pela primeira vez, então eu fugi. Fugi de uma garota porque tive medo de ver arrependimento em seus olhos, tive medo de que ela me rejeitasse. Naquele dia, passei a noite toda acordado pensando no quanto eu havia sido ridículo. Eu nunca tinha passado por uma situação como essa antes. Mas agora, olhando nos olhos de Tracey assim, tão de perto, não consigo decifrar seus sentimentos, mas sei que ela não se arrepende, sei que ela não quer que eu desapareça. Seus olhos brilham para mim tão intensamente, que agora eu consigo entender porque naquele dia me pareceu tão assustador ver outra coisa em seu olhar que não fosse esse brilho.


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Notas finais do capítulo

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