Pretending escrita por Aline Song


Capítulo 6
Mudanças


Notas iniciais do capítulo

Antes de tudo eu quero pedir mil desculpas pela demora! Eu já tinha pensado em tudo que eu queria que acontecesse nesse capítulo, mas não sabia como colocar em palavras, por isso acabei demorando tanto. Por isso e porque estava lendo um livro maravilhoso chamado Fúria Vermelha. Alguém ai já leu? Se sim, me mandem MP pra gente comentar sobre hahaha
Prometo não demorar tanto com os próximos capítulos, afinal, a história já está indo pra sua reta final. Mas, só reforçando, se você quer me animar a escrever mais rápido, comentários ajudam muito nesse processo hahaha
Agora, vamos ao cap, espero que vocês gostem.



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Capítulo 5

POV Tracey

Quase morro de vergonha quando minha mãe insiste em esperar por Luke comigo e depois em nos acompanhar até o carro. Aparentemente, ela e a mãe de Luke estão eufóricas com a notícia do nosso namoro, e passaram a semana toda falando sobre o tal jantar. Claro que saber disso só serviu para me deixar um pouco mais tensa, mas, por algum motivo, as duas decidiram não fazer desse um jantar de família e minha mãe não quis ir. Pelo menos por isso posso agradecer. Sinto-me finalmente aliviada quando estamos só eu e Luke no carro dele.

– Sua mãe é engraçada. – diz ele sorrindo enquanto liga o carro.

– Ela é exagerada, isso sim. – acabo rindo também de todas as recomendações dadas por minha mãe, e Luke liga o rádio. Durante uma boa parte do trajeto até sua casa permanecemos assim, em silêncio. Tento dizer a mim mesma que não estou disposta a conversar porque estou nervosa por ter de jantar com a família de Luke, mas sei que tem algo mais me incomodando.

Durante todo o dia a conversa com Georgina não saiu da minha cabeça. Fico pensando no que ela quis dizer com “não pense que pode competir comigo”. Em nenhum momento tive a intenção de competir com Georgina Harper, afinal de contas, essa ideia de namoro de mentira nem foi minha. E como eu poderia saber que ela ia querer Luke de volta? Mas pensando bem, é isso que parece. Parece que somos inimigas. Luke e Georgina terminaram e menos de uma semana depois eu e ele já estávamos supostamente juntos. Do mesmo jeito que Luke não gosta do novo namorado de Georgina, é claro que ela também não gosta nem um pouco de mim, embora Luke não tenha a abandonado para ficar comigo. De certa forma, consigo entender sua raiva, o que não consigo entender é como pude ser tão burra a ponto de não imaginar que isso poderia acontecer. Ter Georgina como inimiga não é nada bom. A verdade é que estou com medo dela.

– Aconteceu alguma coisa? Você está tão quieta. Não vai me dizer que tudo isso é só por causa do jantar. – Luke questiona, ainda com os olhos no transito e eu agradeço mentalmente por isso. Assim tenho mais tempo pra pensar em uma resposta. Se ele estivesse me olhando sei que não conseguiria mentir. Me pergunto como foi que ficamos tão próximos a ponto de eu não conseguir mais esconder as coisas dele.

Não quero falar sobre Georgina agora. Não quero estragar todo o clima com esse assunto. Ainda não cheguei a uma conclusão sobre qual será a reação de Luke quando eu contar o que ela me disse, e por isso quero evitar que ele saiba. Preciso da ajuda dele para que tudo saia bem nesse jantar, não quero correr o risco de que sua mente esteja em outro lugar, em outra pessoa.

– Não é nada, só estou nervosa.

– Não mente pra mim. Você costuma falar demais quando fica nervosa, e agora você está calada, e séria. Vai, fala logo, o que aconteceu?

Ótimo. Mesmo sem ver minha expressão Luke consegue saber quando estou mentindo. Agora sim eu estou completamente ferrada. Mesmo assim preciso tentar alguma coisa, não quero trazer Georgina para essa noite. Então, de repente outra coisa me vem a cabeça: Jake Carter. A conversa com Jake não foi tão pesada quanto o papo com Georgina. Posso usá-la como desculpa.

– Jake e eu conversamos hoje. – Luke olha rapidamente pra mim e de novo para o trânsito.

– E ai, como foi?

– Acho que foi bom.

– Acha? Sobre o que vocês falaram?

– Sobre você. Sobre eu e você. – bem nesse momento paramos em um sinal vermelho, e eu agradeço porque sei que Luke não estava mais nem um pouco atento à direção.

– Vocês falaram de mim? Por quê?

– Jake me perguntou por que estou namorando você.

– Como assim? Explique direito, Tracey, não enrola.

– Ele acha que nós não temos nada a ver um com o outro. Disse que você não parece o tipo de cara que eu namoraria. Foi isso. – não digo que Jake acha que sou demais para Luke, porque eu não acredito nisso, mas ele parece perceber que foi exatamente isso que Jake quis dizer.

– Que otário. Jake Carter é um otário. – Luke está sorrindo, mas sei que está irritado.

– Qual é o problema?

– Você não percebe, Tracey? Jake está tentando se aproximar de você. Provavelmente ao nos ver juntos, ele se deu conta da garota incrível que você é e se arrependeu de nunca ter tentado nada antes. – por um momento deixo de pensar no que Luke está dizendo sobre Jake e meu cérebro se concentra no elogio que ele acabou de me fazer. É verdade que Luke e eu nos aproximamos muito nas últimas semanas, e que nossa relação mudou completamente, mas eu não podia imaginar que ele me considerava uma garota incrível. Acho que nem mesmo ele se deu conta do que acabou de dizer. – Mas ele está jogando bem baixo. Está tentando se aproximar de você fazendo a minha caveira. Que babaca! Segunda-feira vou colocá-lo no lugar dele.

– Luke! Você está louco? – o sinal fica verde e Luke segue em direção à sua casa, agora muito mais sério. Achei que falar sobre Jake não seria um problema, mas acho que me enganei. – Não pode falar nada com Jake. Ele me fez prometer que não ia contar nada pra você.

– O quê? – Ops! – Ele fala mal de mim pra minha namorada e não quer que eu fique sabendo?

– Luke! Por que está tão nervoso? Não aconteceu nada demais, Jake não falou mal de você, ele só me questionou porque nos acha diferentes, e realmente somos, mas eu disse a ele que isso não significa nada e encerrei o assunto.

– Foi isso que você disse?

– Foi, eu juro. – finalmente Luke relaxa um pouco – agora fala, por que isso te deixou nervoso? Pensei que um dos motivos disso tudo fosse justamente fazer Jake querer se aproximar de mim.

– Tracey, você é minha namorada. – ele faz uma pausa e me encara por alguns segundos – Mesmo que não seja pra valer, só nós dois sabemos disso. Jake não pode achar que chegar em você é assim tão fácil entende?

– Entendi. Me desculpe.

– Não peça desculpas, você não fez nada. – Luke sorri de lado pra mim e eu me sinto melhor. – Foi só isso que vocês conversaram?

– Ele também me chamou para vê-lo jogar qualquer dia.

– Foi por isso que você pediu pra eu te levar ao futebol? – agora Luke parece desanimado.

– Foi. Você não quer me levar?

– Eu vou levar você, Tracey. Promessa é dívida.

Não entendo muito bem a reação de Luke, mas depois de alguns minutos desisto de tentar decifrá-lo. Definitivamente falar sobre Jake foi uma péssima ideia, e definitivamente alguma coisa está diferente com Luke, mas não consigo identificar o que é. Porém, eu paro de me preocupar com isso a medida que chegamos cada vez mais perto de sua casa.

Luke mora em uma cobertura gigantesca num bairro próximo ao centro da cidade. Lembro de ter ido a sua casa várias vezes quando era pequena. Eu odiava. Nossas mães se conhecem desde o colégio e esperavam que seus filhos também fossem amigos. Apesar de todos os esforços delas, eu e Luke fomos irredutíveis, nós brigávamos o tempo todo, e quando resolvíamos fazer qualquer coisa juntos sempre era pra arrumar alguma encrenca. Com o passar do tempo, mamãe e a senhora Crawford desistiram de tentar nos aproximar. Eu fiquei amiga de Mollie e Luke conheceu seus amigos, mas o destino parece compartilhar das mesmas ideias de nossas mães, de modo que hoje, estamos aqui, no elevador do prédio de Luke, subindo até o décimo segundo andar. Agora seu semblante está tão tranquilo como de costume e a tensão que se instalou no carro após a conversa sobre Jake já se dissipou. Quando saímos do elevador, Luke me leva até a porta de seu apartamento, mas antes de abri-la segura minha mão e diz:

– Fique tranquila, Tracey. Vai dar tudo certo lá dentro. É só ser você mesma. Minha mãe vai adorar você, na verdade, algo me diz que ela já adora.

Luke tinha razão. Sua casa está completamente diferente. Os móveis agora são muito mais modernos, e tudo tem um tom claro que me faz ter vontade de tirar os sapatos para não sujar nada. Tenho certeza que se fosse lá em casa minha mãe me obrigaria a fazer isso. Mas como Luke não o faz, eu também não faço. Fico observando o ambiente tão bem decorado e sinto vontade de ter uma casa igualzinha a essa.

– Eu disse que minha mãe tinha mudado tudo depois do divórcio. – Luke sorri e me puxa pela mão. – Mamãe, Tracey está aqui.

Então a senhora Crawford aparece na sala. Ela está com um vestido azul marinho que vai até os joelhos e um sapato de salto preto. Seus cabelos loiros penteados perfeitamente em um coque, deixam seus delicados brincos de pérola a mostra. Apesar de estar bem arrumada, ela parece simples, e dá um sorriso meigo e aconchegante para mim. Rapidamente entendo porque ela e minha mãe são amigas, elas têm o mesmo jeito, são extremamente parecidas, e isso me faz sentir bem mais confortável.

– Tracey, querida! Quanto tempo faz que não a vejo, você está tão linda! – ela me abraça e eu retribuo sem saber ao certo o que dizer – mal acreditei quando Mason contou que você e Luke estavam namorando. Você acredita que meu filho não tinha me dito nada?

Ela fala sem parar, exatamente como minha mãe faz quando Luke vai lá em casa me buscar para irmos a algum lugar. Eu olho para ele pedindo alguma ajuda.

– Mãe, é claro que eu ia contar. Só estava esperando ter certeza de que era sério.

– Então, se Tracey está aqui, significa que agora você tem. – Ela olha para mim sorrindo e eu tenho certeza de que estou ficando vermelha. – Fico muito feliz, querida. Seja bem vinda a família.

– Obrigada, senhora Crawford. É um prazer reencontrá-la depois de tanto tempo. – olho para Luke e ele faz sinal de positivo, indicando que eu disse a coisa certa.

– Ora meu bem, não precisa me chamar de senhora, me chame apenas de Karen ok? Somos amigas. – Ela sorri mais uma vez, agora mais abertamente, e se vira para Luke. – Chame seu irmão, o jantar já vai ser servido.

– Espere um momento. – Luke diz pra mim e se afasta um pouco, indo até a escada. – Tommy, vem jantar. – ele grita e Karen aperta os olhos.

– Se fosse para gritar eu mesma gritava, Luke. Tracey vai pensar que somos mal educados.

– Tracey já está acostumada comigo, mãe. Não é, amor? – Luke passa o braço pelos meus ombros me levando até a sala de jantar. Sei que ele diz isso para me irritar, porque ele só me chama de “amor” quando quer me provocar. Sinto minhas bochechas pegando fogo, e prometo mentalmente me vingar dele por isso. Antes de nos afastarmos, posso ver Karen sorrindo enquanto nos observa.

***

Para a minha surpresa, e principalmente para o meu alívio, o jantar foi muito mais tranquilo e divertido do que imaginei que seria. Quinze minutos depois de chegar, já estava a vontade com a mãe e com o irmão mais novo de Luke, de modo que não precisava mais formular exatamente cada frase que ia falar antes de pronunciá-la.

Tommy é o que posso chamar de um mini Luke, com a única diferença de ter os cabelos bem loiros, mas Luke também os tinha quando era da idade do irmão. Tirando isso, os dois são idênticos, tanto no físico, quanto no jeito de se comportar. Ao que tudo indica, Luke é uma inspiração para Tommy, que o olha com total admiração. O garoto é bem esperto, e conversa sem parar. Me sinto orgulhosa quando, na hora da sobremesa, ele me diz que sou mais legal que a antiga namorada de Luke, que segundo ele nunca ria de suas piadas. Tracey: 1, Georgina: 0.

Quando terminamos de comer e saímos da mesa, me sinto meio perdida, sem saber o que fazer, mas Luke logo pega minha mão e me leva em direção as escadas na sala de estar, enquanto sua mãe e Tommy vão assistir TV juntos.

– Mãe, se precisar de nós, estamos no meu quarto. – Luke avisa para Karen, e meu corpo congela no lugar. – O que foi, Tracey?

– Como assim estamos no seu quarto?

– Nós vamos subir.

– Por quê?

– Por que não?

– O que sua mãe vai pensar de mim, Luke?

– Tracey, para de ser boba, nós não vamos fazer nada demais, afinal nem somos namorados de verdade. – ele fala o final da frase quase sussurrando, bem próximo a mim. – Além disso, minha mãe já está acostumada, eu e Georgina sempre ficávamos no quarto.

– Quer que sua mãe me compare com a vadia da Georgina? – era só o que me faltava.

– Georgina não é vadia. – Luke não fica nervoso por eu ofender sua ex-namorada, apenas parece realmente não acreditar que ela seja uma vadia, mesmo depois do que ela fez com ele. Isso me faz pensar que provavelmente ele ainda goste dela, e por algum motivo que desconheço, meu coração se aperta.

– Vai defendê-la? – questiono Luke com as sobrancelhas erguidas. Não sei por que estou agindo assim, mas de repente sinto uma vontade enorme de discutir com ele.

– Não estou defendendo ninguém, mas é que as vezes as pessoas têm uma imagem errada de Georgina. Ela não é tão ruim assim. Sua primeira vez foi comigo, sabia? – não posso acreditar que Luke está me contando isso.

– E agora ela está transando com Henry. – Luke então baixa seu olhar. Ele não consegue me encarar e eu percebo como estou sendo mesquinha dizendo uma coisa dessas. Acontece que Georgina é sim uma pessoa ruim, e não merece que Luke sinta nada de bom por ela. – Me desculpe, Luke, eu não quis dizer isso. É só que... Georgina é uma bruxa na escola, ela se acha melhor que todo mundo. Como pode não enxergar isso?

– Tem alguma coisa que você quer me contar sobre Georgina, Tracey? – Tem.

– Não.

– Então o que você quer? Porque você não quer subir, e eu não quero ficar discutindo no meio da sala, então vamos logo encerrar esse assunto.

– Eu quero assistir TV com Tommy.

– O que? Fala sério, Tracey.

– Anda, vem logo, Luke. – dessa vez eu o puxo pela mão e Luke me segue contrariado. Karen fica feliz ao nos ver entrando na sala de televisão, e eu sei que estou certa, ela também não gostava de ver Luke e Georgina trancados no quarto. Meia hora depois Tommy nos convence a jogar videogame com ele, e eu acabo ganhando dos dois irmãos. Luke fica surpreso, mas o que ele não sabe é que Mollie tem dois irmãos gêmeos que sabem ser bem persistentes quando o assunto é games.

Depois disso, Karen nos faz contar como começamos a namorar, e nós nos enrolamos um pouco no começo, mas até que nos saímos bem. Também contamos a Tommy como Karen e minha mãe nos obrigavam a passar horas e horas juntos quando éramos crianças e como nós detestávamos isso. Karen morre de rir, e jura que não sabia que era tão ruim assim para nós. Por fim, ela acaba se lembrando de que sempre nos levava a uma praça rodeada de brinquedos e areia, e que Luke sempre dava um jeito de me fazer terminar a brincadeira com a boca cheia de terra. Tommy fica gargalhando um tempão com essa história, e Luke segura o riso quando vê a careta que faço pra ele. Quando são quase onze da noite eu decido que já é hora de ir embora e agradeço a Karen pelo jantar e pela conversa. Tommy está sonolento no colo da mãe, mas me faz prometer voltar para jogar videogame com ele outras vezes.

POV Luke

O jantar com minha mãe e Tracey foi bem melhor do que eu esperava. No fundo, eu sabia que ia dar tudo certo, Tracey sempre fica nervosa demais a toa, já disse mil vezes a ela que ela sofre por antecedência, mas eu realmente não esperava que ela fosse se dar tão bem assim com minha mãe, e principalmente com Tommy. Com minha mãe é até compreensível, afinal, ela e a mãe de Tracey são amigas de infância, mas conquistar Tommy de primeira não é pra qualquer um. Tracey conseguiu em um dia o que Georgina não conseguiu em dois anos.

– O que foi? – ela me pergunta de repente.

– Por que a pergunta?

– Você está sorrindo. – eu mal tinha percebido isso.

– Foi divertido hoje, não foi?

– Foi. E não foi tão difícil como eu pensei que seria.

– Eu falei pra você.

– Você estava certo.

Na verdade, as coisas hoje foram bem intensas pra gente. Não sei se Tracey também sentiu isso, mas eu me sinto assim. A conversa sobre Jake, a discussão em relação a Georgina, o jantar, foi muita coisa em uma única noite, e agora estamos bem próximos da casa de Tracey, mas é bem nesse momento, quando estamos só eu e ela, que eu consigo relaxar por completo, e não quero desperdiçar um momento como esse, assim como não quero pensar porque me sinto desse jeito quando estou com ela. Penso por alguns segundos num jeito de poder passar mais algum tempo dessa noite com Tracey, até que uma lembrança do jantar me faz ter uma ideia. Viro em uma rua que fica a dois quarteirões da casa de Tracey, fazendo o retorno, e ela me olha sem entender.

– O que está fazendo, Luke? Aonde a gente vai?

– Calma, você já vai ver.

– Você está me sequestrando? – ela pergunta sorrindo e eu sorrio de volta.

– Confia em mim, vai ser divertido. – cinco minutos depois estaciono bem em frente a praça em que nossas mães nos levavam quando éramos crianças.

– Eu não acredito, Luke. – Tracey diz já descendo do carro. – Por que estamos aqui?

– Quero relembrar os velhos tempos. – Tracey fica séria e arregala os olhos.

– Vai me fazer comer terra?

– Claro que não. – digo e rio da cara engraçada que ela faz. – vem comigo.

Tracey segura em minha mão e nós andamos por todo o parque até encontrarmos o velho balanço em que costumávamos ir. Acho que talvez esse fosse o único lugar em que ficávamos por alguns minutos sem brigar. Nós costumávamos nos sentar um do lado do outro, e apostar quem gangorrava mais alto, mas Tracey sempre acabava indo rápido demais e caía, eu ria dela e ela saía chorando.

Agora nós nos sentamos também, do mesmo jeito que antes. O corpo delicado de Tracey se encaixa perfeitamente, eu fico um pouco desconfortável, mas não reclamo.

– O quão inusitado isso é? – ela pergunta com o olhar distante. – Se nos dissessem naquela época que estaríamos nessa situação, eu nunca acreditaria.

– Nem eu. Se alguém me dissesse que eu iria gostar de passar meu tempo com Tracey Morgan eu ia morrer de rir. – Tracey então olha pra mim, com um sorriso discreto em seus lábios, como se dissesse que entendeu muito bem o recado, que eu gosto de estar aqui com ela, que eu gosto de estar em qualquer lugar com ela. Acontece que isso me assusta pra caralho.

– Como isso foi acontecer com a gente?

– A culpa é toda sua, Tracey.

– Minha?

– É claro, por deixar seu diário aberto pra qualquer um que quiser ler.

– Você que é um mal educado, e chantagista. – ela diz rindo, mas depois começa a refletir. – Não é estranho? Nós dois dividimos esse segredo, sabemos coisas tão importantes um do outro, mas outras coisas tão simples nós nem nos lembramos de perguntar.

– Então vamos fazer um jogo. Eu te conto uma coisa sobre mim, e você me conta uma coisa sobre você. Mas tem que prometer sinceridade. Promete?

– Prometo. – Tracey sorri empolgada e se balança um pouco no balanço em que está sentada.

– O que você quer saber?

– Qual sua cor preferida? – ela dispara imediatamente e eu solto uma gargalhada. – O que foi?

– De tantas perguntas que você poderia fazer, você quer saber logo a minha cor preferida?

– Eu quis começar com uma coisa simples – Tracey confessa – e eu gosto de detalhes.

– Ok, é azul. E a sua?

– Não tenho.

– Como assim não tem? Todo mundo tem uma cor preferida, Tracey!

– Eu não tenho. Eu não consigo me decidir. Eu gosto de vermelho, mas também de verde e de amarelo. Sempre muda.

– Você é estranha, Tracey.

– Você já me disse isso.

– Vai, outra pergunta.

– Ta bom, já que você não gostou da pergunta da cor, vou perguntar uma coisa pessoal.

– Manda.

– Pra onde seu pai foi depois do divórcio?

Não costumo falar sobre o divórcio dos meus pais com muita frequência. Não tenho ressentimento nenhum desse momento da minha vida, mas não gosto de falar sobre isso. Não gosto de falar sobre como Tommy sofreu quando meu pai foi embora, e de como tive que fingir que não estava mal para parecer forte pra ele. Mas Tracey está esperando uma resposta e eu sinto vontade de conversar sobre isso com ela.

– Ele se mudou para Los Angeles. Sempre quis viver lá.

– E ele não vem ver vocês?

– Às vezes. Mas quase sempre somos eu e Tommy que vamos visitá-lo. Duas ou três vezes por ano. Ele tem outra família agora. Não pode deixá-los por muito tempo.

– Mas vocês também são a família dele.

– Acho que ele não vê as coisas dessa forma. Pra falar a verdade eu já cansei de tentar entender qual é o problema com ele. Eu tenho minha mãe e tenho Tommy, não precisamos dele pra nada.

– Eu sinto muito, Luke. Não devia ter tocado no assunto. – Tracey parece estar se sentindo culpada por ter me feito pensar em meu pai, mas a verdade é que me sinto bem em ter dito isso a alguém.

– Não sinta. Está tudo bem.

– Tem certeza?

– Tenho. E os seus pais, Tracey? Como eles são? Como é crescer em família?

– Bom, acho que não sou a mais indicada pra contar isso. Papai vive viajando. É por isso que moramos aqui. Ele acha que essa cidade é tranquila o suficiente pra que eu e minha mãe possamos viver a maior parte do tempo sozinhas. Mas eu não o culpo. Alguém tem que administrar os negócios.

Ficamos em silêncio por um momento. Provavelmente pensando em nossas famílias tão diferentes e tão iguais. Até que eu me lembro de algo que quero que ela me conte desde o lual na casa de praia de Georgina.

– Quantos garotos você já beijou, Tracey?

– Não! Nem vem, Luke, eu não vou te contar. – ela fica com as bochechas vermelhas imediatamente e eu não consigo não achar graça.

– Você tem que me contar, são as regras do jogo. – Tracey fica séria por um tempo, não diz uma palavra, nem sequer olha pra mim. – Vamos lá, Tracey, deixa de ser criança.

– Ta bom, ta bom. Foram quatro. Quatro. Ta feliz agora?

– Não. Eu trabalho com nomes.

– Por que faz tanta questão?

– Fala logo. Quem foram? – Tracey solta um longo suspiro antes de começar a falar.

– Um deles foi o primo mais velho da Mollie. Ele veio passar as férias aqui, eu tive uma quedinha por ele e enfim... você já sabe. Teve também um garoto que conheci num acampamento de verão, nós ficamos na última festa do acampamento. Teve uma vez, a pior de todas, em que Mollie e eu viajamos pra casa de sua avó, e ela cismou que tínhamos que ir a uma festa horrorosa com suas primas mais velhas. Nós bebemos demais pela primeira vez, e eu beijei um garoto que nunca tinha visto antes, foi horrível, porque no geral não faço esse tipo de coisa. – Tracey diz isso com uma cara tão engraçada que eu não consigo não rir. No geral eu não estou curtindo muito ouvi-la falar dos garotos que beijou, mas me sinto melhor ao saber que ela não sente mais nada por nenhum deles. – Do que está rindo?

– Quer dizer que você só beija alguém se estiver apaixonada?

– Mais ou menos. Pelo menos preciso sentir alguma coisa por ele.

– Entendi. Mas vai, continua, ainda falta um.

– Ta. O último, que na verdade foi meu primeiro beijo, foi Andrew, um amigo do balé. – com essa eu caio na gargalhada. – Do que você está rindo, Luke?

– Beijou um garoto gay?

– Andrew não é gay, de onde tirou isso?

– Você disse que ele é do balé. – Tracey revira os olhos exageradamente pra mim.

– Você é tão infantil às vezes. Não é preciso ser gay pra dançar balé, idiota.

– Hey, não precisa ofender. Desculpe.

– Tudo bem, dessa vez vou deixar passar.

– Sua vez de perguntar.

– Você ama Georgina? – Tracey pergunta sem nem pensar, e me pega totalmente de surpresa. Fico em silêncio, sem saber o que dizer. – Ama?

– Georgina me decepcionou, é verdade, mas antes disso, nós nos dávamos bem entende? Eu sei que gostava dela. Acho que sempre vou sentir carinho de certa forma. Não sei como me sentiria se ela não estivesse com outro. Nós tínhamos planos juntos. Foram anos de namoro. É difícil encarar isso tudo.

– Luke, você disse tantas coisas, mas não me respondeu nada.

– Eu não sei. Não sei se a amo.

– Faz o seguinte: pensa nos seus sonhos. Pensa em tudo que você quer conquistar um dia. – ela faz uma pausa, me dando tempo para que eu pense nessas coisas. – Agora pense na Georgina. É ela que você quer ao seu lado quando seus sonhos se tornarem realidade?

Dessa vez o silêncio nos toma por completo. Não faço ideia do que dizer a Tracey. Sei que tudo que senti por Georgina significa muito. Ela foi minha primeira namorada, a primeira garota pela qual me apaixonei, e tivemos bons momentos, mas também foi a primeira garota a me colocar um par de chifres. Sei das qualidades de Georgina. Sei que se me sinto magoado em relação ao que ela fez é porque ainda existe alguma parte de mim que sente falta dela. Mas por outro lado, tem uma garota comigo agora, que mesmo tendo entrado na minha vida de repente, me conhece melhor do que ninguém, e que tem tomado conta dos meus pensamentos cada vez mais.

– Foi assim que você soube que amava Jake?

– Quem te disse que eu amo o Jake?

– Não ama?

– Eu sou apaixonada pelo Jake há muito tempo. Mas eu não conheço ele além das aulas de biologia. A gente só ama quem conhece.

Há alguns meses atrás eu achei que conhecesse Georgina. Mas a Georgina que eu conhecia não me trairia e começaria a namorar com outro quando ainda estava comigo. Há alguns meses atrás eu também achava que odiava Tracey Morgan, e vejam só como estou agora.

Depois de mais algumas perguntas e mais algumas confissões, Tracey me pede para levá-la para casa, como tenho feito bastante ultimamente, eu atendo a seu pedido sem reclamar. Quando chegamos, estaciono meu carro, mas sinto uma incontrolável vontade de ir com ela até a porta. Tracey não diz nada. Apenas deixa que eu a acompanhe. Parada bem em frente a sua porta, ela se vira para mim, mas nem eu, nem ela, temos muito mais a dizer. Ainda estou com as últimas conversas dessa noite na cabeça. Jake está tentando se aproximar de Tracey. Esse era nosso plano. Ela gosta dele. Mas ela acabou de dizer que não o ama, e eu não quero que ela se afaste de mim, porém, se Tracey ficar com Jake, vou perdê-la. Não é justo que eu também tenha uma chance?

Não sei de onde estão vindo essas ideias, mas quando olho nos olhos de Tracey parada a centímetros de mim, não me importo mais com isso, só consigo pensar que quero beijá-la, e preciso fazer isso agora. Preciso ter essa chance. Afasto uma mecha de seu cabelo e acaricio seu rosto com o polegar, me aproximando ainda mais dela. Pra minha surpresa, Tracey não se afasta, mas posso sentir sua respiração sobressaltada em meu rosto. Estou prestes a saber qual a sensação de beijar de Tracey Morgan quando me lembro do que ela disse há minutos atrás.

Tracey só beija um cara se sentir algo por ele. Lembro do arrependimento em seu rosto enquanto ela contava sobre o garoto desconhecido com quem ficou, e de repente, sinto medo de ver esse mesmo arrependimento em seus olhos depois que beijá-la. Assim, olho em seus olhos pela última vez nessa noite e a beijo na testa, deixando-a sozinha na porta de casa. Fugindo de uma garota pela primeira vez em toda a minha vida.

POV Tracey

Demoro mais de uma hora para conseguir dormir depois que Luke me deixa em casa. Rolo na cama inúmeras vezes pensando em tudo que aconteceu hoje. Mais especificamente no que acabou de acontecer. Sei que de alguma forma alguma coisa mudou entre Luke e eu esta noite. Estamos muito mais próximos e isso me deixa feliz, porque me sinto bem quando estou com ele, mas por outro lado tenho medo do que esse novo sentimento possa significar e tenho mais medo ainda por estar tão decepcionada por Luke não ter me beijado quando me deixou na porta de casa.


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Notas finais do capítulo

E então? O que acharam? Comentem e até o próximo! Xx.



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