Bittersweet escrita por Ana Paula Puridade, Lua


Capítulo 12
Capítulo 12


Notas iniciais do capítulo

Oi, galera, tudo bem? Quem tá aqui hoje é a Lu e tenho que dizer que esse cap quase não sai, Ana ficou sem tempo pra postar e eu também, mas antes tarde do que nunca, certo? Aqui está ele, bem grandinho, esperando por vocês.
Boa leitura =)



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NARRAÇÃO DA BONNIE

Como na maioria das vezes, novamente acordei no meio da noite. Tinha virado rotina e posso dizer que quase já me acostumei com o chá de todas as madrugadas. Normalmente eu não encontrava ninguém no caminho, mas dessa vez, quando entrei na cozinha, vi Stefan de pé no centro do cômodo falando com ele mesmo.

— Caroline, eu tenho algo pra te dizer. — ele falou, depois abalançou a cabeça. — Não, assim não. Caroline, eu quero te c...

Franzi o cenho. Ele estava simulando uma conversa?

— Se vai terminar com a minha amiga, não devia treinar isso aqui onde ela pode te ouvir. — falei, fazendo-o me notar.

Ele se assustou e virou rapidamente na minha direção, notando minha presença.

— Pensei que todos já estavam dormindo.

— Eu estava, mas acordei. — falei, indo direto ao armário pegar a caixinha de chá. — Sinto ter te interrompido, era algo importante?

— Não. Sim. Mais ou menos. — ele balançou a cabeça, como se para clarear a mente. — Era importante, mas não tem que se desculpar.

Coloquei água para ferver e peguei duas xícaras do armário, depois virei-me para ele na mesa.

— Algo importante e que envolve Caroline, devo me preocupar?

— Não, não é nada grave... A não ser que...

— Que...? — arqueei as sobrancelhas. — Stefan, você fica dando voltas, está me deixando preocupada de verdade.

— Desculpa. — ele tomou uma respiração profunda. — É que não sei se esse é o momento certo, me entende?

— Não. — falei, ficando ainda mais confusa. Foi então que a primeira coisa que eu disse ao entrar na cozinha voltou à minha mente. — Stefan, se vai terminar com a Care...

— Não! — ele se apressou pra dizer. — Não é isso, isso nem passou pela minha cabeça.

Soltei um suspiro de alivio, nem consigo imaginar como minha amiga ficaria arrasada. Ela ama tanto Stefan...

— Então qual é o problema? — perguntei, servindo chá nas duas xícaras e empurrando uma na direção dele. Ele torceu os dedos, nervoso, depois colocou açúcar no chá e tomou um gole, tendo finalmente coragem pra falar.

— É que eu não sei se é uma boa hora para... pra perguntar a ela se quer se casar comigo.

Eu arregalei os olhos, imóvel. Não que eu nunca tivesse imaginado Caroline casando, eu obviamente imaginei isso um dia, sabia que o jeito espontâneo e divertido dela certamente conquistaria alguém, e nesse caso foi Stefan, eu apenas estava surpresa, não sei exatamente com o que, mas estava. Imaginar uma coisa e realmente ver aquilo acontecer era bem diferente.

— Bonnie? — Stefan chamou nervoso. — Você está bem? Seu coração está acelerando...

— Uau. — falei, balançando a cabeça. — Eu não sei o que dizer.

Ele estreitou os olhos, baixando o olhar para o chão.

— Acho que eu tinha razão, não é o momento certo. Talvez eu deva esperar até...

— O que? — o interrompi. — Não, não, não, Stefan. Você não tem que esperar nada, quer dizer, momento certo? Existe momento certo pra ser feliz?

— Bom, nós temos muitos problemas por agora...

— E quando é que não temos? Você sabe que podemos contar nos dedos os momentos de alegria por aqui e se você ama Caroline e quer realmente estar com ela pelo resto da vida... Bom, você não tem por que esperar.

Ele sorriu, com o olhar distante.

— Eu realmente a amo. — disse ele. — Você sabe como é? Quando você pensa que sua vida está um lixo, mas tem aquela pessoa ali do seu lado, que te faz ver as coisas boas de novo, quando você encontra carinho, respeito, confiança, a amizade e o amor, tudo na mesma pessoa?

Supus que era uma pergunta retórica, então não respondi, ele não estava esperando uma resposta e mesmo se tivesse, eu não saberia como responder.

— Ela vai ser a garota mais feliz da cidade quando você disser isso a ela... Isso se já não estiver ouvindo tudo lá em cima.

— Ela está dormindo, não vai ouvir. — ele riu. — Só ouvimos algo se for nossa intenção.

— Então acho que vamos ter um casamento em breve.

— Se ela responder “sim”.

— É impossível ela dizer “não”. — falei. — Você comprou um anel?

— Comprei, espero que ela goste.

— Ela é meio exigente, — concordei. — Mas vindo de você, sei que ela vai amar.

— Quando você entrou na cozinha... — ele tomou um gole de chá e depois coçou a nuca, meio sem jeito. — Eu estava... É...

— Treinando o pedido?

— Mais ou menos. Eu não quero que seja nada mecânico, mas também não quero improvisar e acabar fazendo besteira. Algum conselho?

Eu ergui as sobrancelhas pra ele.

— Baseado em todos os pedidos de casamento que já tive, que formam um total de zero, sim, eu tenho muitos conselhos.

Ele rolou os olhos, parecendo com Damon ao fazer isso.

— Você é garota, se alguém te pedisse em casamento, como gostaria que fosse?

Era estranho pensar nisso, alguém me pedindo em casamento, não que eu não quisesse casar um dia, mas é só que... Fazia tempo que eu não pensava em meu futuro, pode soar estranho, mas é verdade, era difícil imaginar meu futuro quando a cada segundo não tenho certeza se haverá um, principalmente com uma coisa tão humanamente normal quanto casamento. Então eu não respondi como eu mesma...

— Se eu fosse a Caroline, — dei ênfase no nome da loira quando comecei a falar. —Ia gostar que falasse como se sente e iria preferir que isso fosse bem longe do Damon, pra evitar as piadas e interrupções dele.

— Faz sentido. — Stefan concordou.

— E eu acho que você não ia querer que ela percebesse, certo? Então talvez devam estar num lugar em que sempre estão juntos, você faz o pedido, ela aceita e depois você a leva para comemorar num local que seja simbólico pra ambos.

— Eu tenho o lugar ideal. — ele sorriu. — Você me ajuda a arrumar as coisas? Você conhece ela desde que nasceram, sabe melhor do que eu das coisas que ela gosta.

— É claro. — respondi sorrindo. — O que eu não faria por vocês?

[...]

Não sei onde Stefan tinha ido, nem onde estavam Caroline ou Matt. Damon estava quieto em algum lugar da casa fazendo o que eu não sei. E eu estava na cozinha, sentindo-me mais tranqüila sobre viver numa casa cheia de vampiros depois que Stefan contou que eles não ficam 24h por dia ouvindo minha respiração para saber onde eu estou, ouvem apenas o que querem.

Eu geralmente usava os minutos livres para estudar o livro de feitiço dos Gemini e era isso o que estava fazendo agora. Concentrada, olhando os rituais do clã e notando como eram diferentes dos de Emily. Normalmente era fácil pra mim me concentrar na magia, a palpitação e vibração nas minhas veias era natural desde que aceitei que magia fazia parte de mim e de quem eu era, mas essa magia era... Difícil de aceitar, não por ser complicada, mas sim porque valorizava o poder acima da vida.

— Quer dar uma volta?

Assustei-me quando a voz de Damon soou muito perto de mim e quase saltei do lugar, ele estava com o rosto abaixado na altura do meu, uma mão na mesa e a outra nas costas da minha cadeira.

— Que susto. — falei. Ele apenas ignorou, fechando o grimório e tirando-o de cima da mesa. — Damon, eu estava lendo isso.

— Do que adianta só ler e não praticar, hein?

Com o livro na mão, ele começou a se afastar, provavelmente esperando que eu o seguisse. E conseguindo.

— O que um vampiro sabe sobre magia? — perguntei de braços cruzados.

— Considerando que passei 150 anos atrás das bruxas mais poderosas do planeta esperando que elas pudessem tirar Katherine da tumba, acho que sei muito sobre magia...

Nisso ele tinha um ponto, mas eu não iria admitir.

— Você nem pratica. — falei.

Ele me encarou com um sorriso presunçoso.

— Magia é como sexo, só porque eu não pratico, não quer dizer que não conheço. Nesse caso eu conheço os dois muito bem.

— Ok, — dei-me por vencida. — Me mostre o que você sabe.

— Sobre sexo? Eu adoraria.

— Não! — respondi rápido, sentindo meu rosto esquentar. Odiava quando ele me deixava constrangida e odiava mais ainda o sorriso de canto que ele dava quando percebia que tinha conseguido me deixar sem jeito. — Eu quis dizer sobre magia.

— Será um prazer, Bonbon.

Ele ainda estava com aquele sorriso.

— Eu estou falando da magia. — ressaltei.

— Sim, é claro.

Rolei os olhos. Damon nunca mudaria.

[...]

— Então... floresta? — perguntei enquanto descíamos do carro.

Damon olhou em volta, aprovando o lugar. Não era tão longe da casa dos Salvatore, levaria uns 20 minutos para chegar a pé, mas de carro só levou uns 6. Não era nada excepcional, o mesmo de sempre, árvores, roxas, um córrego...

— Bruxas são servas da natureza, nada melhor do que você praticar aqui.

— Bem pensado.

— Mas... — ele virou-se pra mim, esperando que eu prestasse atenção nele. — Sem canalizar nada.

Franzi o cenho.

— Qual o objetivo?

— Não vai haver natureza por perto sempre que você precisar. — ele explicou, sentando-se no chão e acenando pra eu sentar ao lado dele. — Pra você a mágica pode ser só uma coisa que você usa quando está com problemas, mas para os seus antepassados era uma religião.

Sentei ao lado dele, em silêncio, interessada no assunto. De repente ele estava concentrado, o que era difícil de ver.

— Tem Hécate, a Deusa grega das bruxas. O Candomblé, que foi levado pelos negros da África ao Brasil e ainda é praticado. Magia egípcia, Voodoo... — ergui as sobrancelhas, voodoo era o tipo de coisa que só via nos desenhos do scooby-doo. — Não ria, — disse ele. — E eu não vou te ensinar a fazer um bonequinho meu pra você ficar espetando com agulhas.

Eu ri um pouco e pedi a ele para continuar.

— Todas essas coisas que hoje são mitos, nós dois sabemos que tem fundos de verdade. Cada Clã tem um jeito particular de praticar magia, o seu em especial, o Clã Bennett, tenta fazer o certo e baseia os poderes em pedir favores aos espíritos, e nós dois sabemos que isso acaba limitando os seus poderes, certo? Quando os espíritos não estão felizes em como você usa os poderes que eles te dão, simplesmente o tiram de você. Por isso é bom sempre conhecer outros tipos de magia, assim você não precisa dos limites deles.

— Isso me lembra Expressão. — falei com uma careta.

— O pensamento é o mesmo, — o vampiro concordou. — Mas Expressão te deixa louca, conhecer outros tipos de magia não vai te deixar louca. Será uma zona de escape pra quando os espíritos te deixarem na mão e, cá entre nós, isso acontece muito.

Baixei os olhos pro chão, meio desconfortável em admitir isso, mas era um fato que meus poderes foram tirados de mim outras vezes quando os espíritos pensaram que eu não os estava usando com responsabilidade, ou estava usando para algo ruim.

— Acho que no fim eles só queriam o que é melhor pra mim.

— Acho que você pode decidir o que é melhor pra você.

Eu o encarei e ele estava sorrindo pra mim, parecia mesmo que acreditava que eu era capaz de mais do que mostrava e isso me deu um súbito incentivo de aprender mais.

— Tudo bem, você me convenceu. — falei. — Parece que você entende bastante de magia, então... Qual é a minha primeira lição?

Ele ficou de pé e estendeu a mão, me ajudando a levantar, depois começou a descer em direção ao córrego e eu o segui.

— Grandes poderes pedem uma estrutura física mais forte. Você tem sangramento nasal quase sempre que faz um feitiço porque o seu corpo é fraco.

— Você poderia dizer “frágil”.

— E qual a diferença?

— A diferença é que com “frágil” eu me sinto menos inútil.

— Ok, — Damon revirou os olhos. — Temos que fortalecer o seu corpo “frágil”.

Quando chegamos à beira do córrego, o vampiro olhou a redor, parando o olhar a cima de nós, no lugar de onde tínhamos vindo.

— Aquela rocha ali, — ele apontou. — Mova-a um metro pra baixo, pelo menos.

— Como isso vai me fortalecer? — perguntei.

— É um exercício, mova.

Dei de ombros e assenti, tentando mover a pedra, mas o problema de ser uma rocha é que ela estava enraizada na terra e movê-la acabou sendo mais difícil do que achei que seria.

— Pedi um metro e ainda não vi um centímetro, — Damon assoviou.

Revirei os olhos, tentando bloqueá-lo longe da minha mente.

— Vamos lá, Bonbon, eu sei que você é mais forte do que isso. — de repente as mãos dele estavam nos meus ombros, a voz dele vindo suave das minhas costas, numa tentativa macia de me incentivar. — Você não está fazendo isso certo, está apenas puxando a rocha, mas ela é muito pesada, tem que fazer terra e pedra trabalharem juntas, uma empurrar a outra para fora.

Ele largou meus ombros e eu fechei os olhos, tomando uma profunda respiração e buscando me centrar, mais uma vez.

— Se concentre, — Damon sussurrou bem perto da minha nuca. Pensei que ele já tinha se afastado, mas a voz dele baixa tão perto de mim me arrepiou e acabei perdendo novamente a concentração que ele queria que eu tivesse.

— Eu... acho que não estou muito boa pra concentração. — falei, na verdade queria pedir pra ele se calar, não fiquei confortável com o fato de que a voz dele me distraiu de um jeito que eu não entendia.

— Relaxe, — disse ele, as mãos voltaram pros meus ombros e eu fiquei completamente rígida, pois dessa vez os polegares dele se moviam em círculos e os arrepios reapareceram na minha nuca.

— O que você está fazendo? — perguntei.

— Você está muito tensa aqui, Bonnie, tem que relaxar.

“Não consigo com suas mãos em mim”, eu quis falar, mas me contive. Já era estranho demais estar tendo essas reações. Preferi ficar quieta, e não pensar nos indicadores dele massageando minha clavícula e os polegares massageando meu pescoço, em como os dedos dele sabiam exatamente onde tocar, onde acariciar e a quantidade certa de pressão. Balancei a cabeça, tentei a tática de Damon, relaxar, mesmo que minha primeira reação tenha sido ficar tensa, eu tinha que lembrar a mim mesma que a questão aqui era o progresso com mágica e não outra coisa.

Mas tentar isso não deu certo. Minhas mãos começaram a suar e minha respiração ficou pesada, quaisquer que fossem minhas tentativas, estavam sendo falhas.

— Você não está cooperando. — disse Damon.

— Desculpe, — murmurei.

— Tem que limpar a mente, você está pensando em muitas coisas. — disse ele, mas na verdade eu estava pensando em uma coisa apenas: por que eu estava tão tensa apenas com um mero toque?

— Eu vou tentar outra vez, — falei, dando um passo para longe, fechei os olhos e me preparei, mas não passou três segundos antes de ouvir a voz dele outra vez atrás de mim.

— Não feche os olhos, tem que olhar para saber o que está fazendo.

Agora, em vez de segurar meus ombros, ele apenas deslizou os dedos pelos meus braços e depois segurou cada uma de minhas mãos, imobilizando-as sem que eu as conseguisse mover.

— Você não está nem se esforçando, — falou. — Não pode deixar as distrações te dominarem, elas são fraquezas.

Eu franzi o cenho. A distração era ele, será que ele sabia disso? Estava fazendo de propósito? Sabia que os toques dele estavam me distraindo ou não? Se sabia, eram intencionais? Ou eram só pra me ajudar a "relaxar" realmente?

— Vamos tentar outra coisa, — ele suspirou, desistindo daquele método. — Esvazie a sua mente, ok? Não tem passado, não tem futuro, o tempo mais importante é o presente e no presente você só precisa mover aquela pedra, sei que consegue, já enfrentou desafios maiores antes.

— Tá ok, — sacudi os braços, soltando-me das mãos dele. — Me dá um pouco de espaço, quem sabe eu consigo se você parar de falar.

— Aí é que está o problema, Bon. — ele novamente me segurou pelos ombros, e indicou a pedra com o olhar. — Nem sempre vai ter silêncio, nem sempre você estará no meio de uma floresta calma, nem sempre vai ter tempo ou alguém pra te ajudar, e eu sei que a raiva te incentiva muito, mas nem sempre vai ter alguém pra te irritar e trazer a magia pra fora de você, e mesmo que tenha, vai acabar te enfraquecendo! Você precisa manter o foco, ok? A minha voz não está aqui, eu não estou aqui, tudo o que há aqui é você e sua magia, entende?

Eu entendia. Eu sabia disso porque vivenciava o tempo todo, várias vezes foi a raiva que me fez usar magia, mesmo sem perceber. Distração e raiva eram duas coisas que iriam me afastar de meu verdadeiro objetivo, seja ele qual fosse. No fim das contas, Damon estava certo e estava apenas tentando me ajudar a melhorar. Suspirei, buscando calma outra vez.

— Eu entendi agora. — falei. — Vou fazer certo dessa vez.

Não fechei os olhos, fiquei atenta ao que estava fazendo, assim como Damon disse que eu tinha que ficar. Ele ficou ao meu lado, de braços cruzados, enquanto eu sentia a vibração sob minha pele aumentar de intensidade, a magia correndo em minhas veias, e a rocha finalmente se moveu. Eu continuei, até chegar a um ponto certo para largar a pedra, um metro ou mais de distância do local em que estava antes.

— Consegui. — falei. — Aí está a sua pedra idiota.

— Foi bom, — Damon sorriu. — Mas foi um exercício fácil, quero ver se você vai se sair bem quando eu pedir um feitiço pra ter netflix de graça pro resto da vida.

— Se existir um feitiço desse tipo, eu vou ser a primeira a querer.

Eu esperei uma resposta que não tive, em vez disso, no mesmo segundo, Damon me puxou ao encontro dele tão rápido que fiquei surpresa e sem entender quando meu rosto bateu forte no peito dele. Eu ergui meu olhar na mesma hora e vi que a rocha estava rolando em nossa direção, Damon estava me protegendo, com os braços em volta de mim, como um escudo, a rocha cairia com força nas costas dele. Eu só consegui enterrar de volta meu rosto no peito dele e fechar os olhos, enquanto esperava pelo baque inevitável. Tudo durou menos de dois segundos, mas o baque não veio. Fiquei confusa quando nada aconteceu, estava com as mãos apertando forte a camisa de Damon e meu coração batia muito rápido, ainda assim, tive coragem de olhar e vi, espantada, a rocha flutuando poucos centímetros acima da cabeça de Damon. O vampiro, raciocinando melhor do que eu, foi ágil pra afastar nós dois de perto da rocha.

— Você pode soltar. — ele murmurou.

Eu engoli em seco e a pedra finalmente caiu no chão, com um estrondo barulhento.

— Eu fiz isso. — constatei.

As minhas mãos ainda estavam presas na camisa de Damon e o meu coração ainda estava acelerado pelo susto, quando ele ergueu meu queixo, examinando meu rosto.

— Isso é suficiente por hoje, vamos pra casa.

Eu vi sangue na roupa dele e sabia que era meu. Tinha tido outro daqueles sangramentos nasais, meu corpo "frágil" tinha falhado bem na última hora.

— Ok, — concordei, deixando ele me guiar até o carro.

[...]

O caminho de volta pareceu mais rápido que o de ida, talvez Damon tenha acelerado mais, mas quando chegamos percebi o carro de Stefan em frente à casa, lembrei que a casa estava vazia, Stefan iria falar com Caroline e aquele provavelmente era o momento.

— Damon, você pode me contar um pouco mais sobre o que aprendeu sobre magia? — pedi, tentando distraí-lo.

— Claro, podemos falar mais amanhã, agora preciso de uísque.

Ele abriu a porta do carro, pronto pra sair.

— Espera, Damon. — o segurei pelo braço, impedindo que ao menos colocasse um pé para fora. — Não entra lá.

Ele arqueou uma sobrancelha.

— Por quê?

— É que o Stefan e a Caroline estão lá.

— E daí? — ele olhou pra casa. — Só estão sendo melosos como de costume.

— Você está ouvindo a conversa deles? Não ouça, é falta de educação.

— Eu ainda não entendo porque não posso entrar na minha casa.

— Só dê um tempo a eles, ok? Alguns minutos.

Damon suspirou, fechando a porta do carro e desistindo de sair.

— Tudo bem, — concordou. — Então, já que vamos ficar aqui... Eu tenho um presente pra você.

— Você tem um presente pra mim? Devo me preocupar?

— Só se não gostar de couro, — ele brincou, pondo a mão no bolso e tirando uma bolsinha de camurça em forma de trouxa, que estendeu na minha direção com um sorriso.

— Não sei o que me assusta mais: você me ensinar magia ou resolver me dar presentes.

— Aproveite que hoje estou de bom humor.

Eu sorri, desfazendo o nó da bolsinha e tirando de dentro uma pulseira com três pingentes pequenos, um em forma de folha, outro em forma de concha e, o menor de todos, em forma de gota.

— São relicários, — Damon disse. — Qualquer um percebe que sua magia oscila, então esse aqui tem uma pétala de camomila — ele apontou o que tinha forma de concha. — E esse aqui tem uma semente de maracujá. — falou, mostrando o que tinha forma de folha. — São duas ervas que ajudam manter a calma, mas nesse caso vai te ajudar com o controle da magia.

— E esse aqui? — perguntei, me referindo ao último, que se parecia uma gota.

— Esse é só um pingente.

Eu encarei a pulseira, era feita de couro marrom fino trançado e os pingentes tinham uma cor dourada envelhecida, o acessório em si era rústico e não combinava com nada que eu tinha, mas ainda assim eu estava com um sorriso fácil no rosto admirando aquilo.

— Obrigada, — falei pra Damon.

— É claro. — ele respondeu, segurando minha mão esquerda e colocando a pulseira em meu pulso. — Não pode esquecer de usar, lembra do que eu disse? Vai te ajudar com o controle.

— Entendi, tenho que usar sempre.

— Isso mesmo e... Puta merda! — ele ficou imóvel.

Eu franzi a testa.

— Damon? O que foi?

— O Stefan acabou de pedir a Barbie em casamento.

— Você estava ouvindo a conversa deles? Eu falei pra não ouvir.

— Espera, você sabia que ele ia fazer isso? E não me contou?

Eu suspirei, cansada.

— Damon, se eu não te conhecesse, diria que está preocupado que Stefan passe a dar mais atenção pra Caroline do que pra você.

Ele encolheu os ombros.

— Claro que não.

— Então qual é o problema?

Ele fez uma careta antes de responder.

— Eu vou ser cunhado da Barbie, oficialmente. Vou ter que ouvir e ver a melação deles pra sempre, não deve existir tortura pior.

NARRAÇÃO DO STEFAN

Conversar com Bonnie havia me aliviado um pouco, haviam acontecido tantas coisas nesses últimos tempos que eu não sabia mais ao certo se pedir Caroline em casamento no meio de tudo isso seria uma boa ideia, afinal de contas, Kai havia voltado, os Hereges e Lily estavam em algum lugar de Mystic Falls e não ficariam quietos, até quando essa paz duraria?

Tive receio por Caroline, ela teve a melhor amiga sequestrada, sofreu muito com tudo isso e agora ela passa dia após dia cuidando para que Bonnie se sinta bem. Era tão gentil, amável, têm uma felicidade transbordante e estar com Caroline é ser afetado por toda aquela felicidade dela, aquela energia contagiante, ela faz qualquer coisa simples ser algo maravilhosamente incrível.

Não pensei que conseguiria amar novamente depois de Elena, ela era minha alma gêmea, como todos diziam, e vê-la com Damon destroçou meu coração. Mas Caroline se encarregou de lutar por mim, esteve ao meu lado, era minha melhor amiga, a pessoa que eu mais confiava. Mesmo quando eu tive meu cérebro “fritado” por Quetsyah, algo em mim sabia que podia confiar nela, que ela jamais me abandonaria. Arrisco dizer que já a amava sem saber, pois naquela época eu ainda estava carregado de magoa de Damon e Elena para notar os sentimentos novos que chegavam para mim.

Quando pude raciocinar, notei o que estava em minha frente o tempo todo, Caroline nunca desistiu de mim, ela nunca me magoou, sempre esteve comigo, nunca me abandonou nem mesmo quando eu merecia ser abandonado, quando menos esperei ela se tornou o amor da minha vida, e hoje não vejo minha vida sem aquela Vampira Loira, controladora, que enche minha vida de alegria.

Eu queria que isso fosse para sempre.

Segui algumas dicas de Bonnie, preparando uma surpresa para Caroline. Primeiro eu havia pensado em pedi-la em casamento num local especial, um local bem importante para nós dois, mas queria que realmente fosse surpresa a Caroline não percebesse nada, então decidi que faria o pedido em casa, apenas depois sairíamos para comemorar. Eu mal podia esperar para ver a Caroline voltando aquele lugar, sendo minha noiva.

Acho que nem quando estive prestes a executar planos mirabolantes para derrotar inimigos, eu fiquei tão nervoso. Mas deve ser natural, o momento em que um homem escolhe e tem certeza que vai passar o resto da vida dedicando-se a apenas uma única mulher, tenho direito de ficar nervoso, tive que planejar o momento, pensar no que vou dizer, tentar fazer tudo ser perfeito. Para as mulheres deve ser mais fácil, tudo que elas têm que fazer é ouvir e dizer “sim” (ou não).

Foi então que Caroline desceu as escadas, perfeita como sempre, o brilho no olhar e o sorriso radiante inundaram aquela sala. E de repente eu tive certeza mais uma vez da minha decisão, seriamos Caroline e eu para sempre.

— Você queria falar comigo? — ela perguntou, sentando no sofá ao meu lado.

— Sim, eu tenho uma coisa pra te dizer. — falei. Saiu mais sério do que eu esperava.

— Aconteceu alguma coisa? — perguntou preocupada, meu nervosismo a estava preocupando. Eu tinha que me focar.

— Não, não aconteceu nada. — falei calmo, para acalmá-la também. — É só que estamos sozinhos... Sabe há quantos dias não ficamos completamente a sós?

Ela sorriu, se aproximando mais de mim.

— Faz um tempo. — concordou. — E estou tendo umas idéias.

Toquei a bochecha dela, acariciando lentamente o rosto delicado.

— Eu já disse que te amo, hoje?

— Hoje ainda não. — ela estava sorrindo, os olhos claros e alegres, como em todos os dias. Aquele era o momento de eu dizer a ela como ela fazia eu me sentir.

— Sou tão sortudo por te ter. Você tem sido a minha fortaleza, o meu porto seguro, meu amparo. Iluminou a minha vida outra vez de um jeito que eu jamais pensei que alguém conseguiria fazer.

— Stefan... — ela sussurrou, segurando firme a minha mão que ainda estava em seu rosto.

Eu continuei.

— Você tem me amado, me respeitado e me apoiado em tudo, esteve do meu lado mesmo quando não mereci, mesmo quando fiz tudo para te afastar. É minha melhor amiga, minha confidente, eu já não sei o que seria de mim sem você, sem seu jeito divertido e controlador. É altruísta, linda por dentro e por fora, eu amo suas qualidades e também os seus defeitos porque sem eles você não seria Caroline Forbes, a garota que se tornou o amor da minha vida.

— Stefan, eu... Não sei o que dizer... — ela gaguejou, com os olhos úmidos. — Não tenho nada pra dizer a não ser que, as coisas que fiz por você, eu faria tudo de novo, se isso significasse ter você ao meu lado.

— Eu penso o mesmo. — falei, segurando a mão direita dela entre as minhas. — Hoje eu sei que os relacionamentos que tive foram degraus para que eu os passasse e te encontrasse no topo. Demorei pra ver, mas agora sei que as vezes o amor verdadeiro está naquela pessoa que esteve com você nas boas e nas más, que não pede que você mude, mas aceita seus defeitos e suas qualidades, por que o amor tem que ser construido, e o nosso foi, Caroline. Você foi minha melhor amiga, minha namorada e agora eu quero que seja para sempre.

Ela arfou quando me viu sair do sofá e ficar de joelhos em frente a ela.

— Oh, Stefan... — eu pus um dedo nos lábios dela, interrompendo-a.

— Me deixa terminar, — pedi. — Você sempre faz os discursos, hoje é minha vez.

Ela mordeu os lábios e assentiu, enquanto uma lágrima solitária rolou por seu rosto e eu usei o polegar para enxuga-la.

— Uma vez me perguntaram o que eu sentia por você e eu não pude responder, mas agora eu sei que sim, é amor, o mais puro que já senti e eu não vejo mais a minha vida sem você. — a respiração dela parou quando viu a caixinha de veludo que tirei do paletó. — Caroline Forbes, você quer se casar comigo.

— Sim, é claro que eu aceito me casar com você!

Ela me abraçou com força, beijando minha testa, minha bochecha e por último, minha boca.

— Eu te amo tanto. — disse ela, me olhando com olhos marejados. — A eternidade é pouco tempo pra estar ao seu lado.

Eu segurei a caixa de veludo em frente a ela, ela pegou e a abriu lentamente, os olhos brilhando quando viu o anel. Escolhi algo delicado como ela, diamante luminoso como ela, cravado em ouro dourado que me lembravam seus cabelos.

— É lindo. — ela sorriu.

Coloquei o anel no dedo dela, beijando carinhosamente suas mãos.

— Parece que a nossa família ganhará mais uma integrante, — a voz de Damon veio da porta, fazendo Caroline bufar pela interrupção dele. — Bem-vinda a família Salvatore, Barbie!

— Desculpa, Stefan, foi o máximo que consegui manter ele longe. — disse Bonnie, entrando na casa também.

— Bonnie, — Caroline chamou. — Você sabia de tudo?

A morena acenou com a cabeça, sorrindo.

— Parabéns, Care! Você vai se casar! — Bonnie a abraçou. — Stefan, estou tão orgulhosa de você, felicidades!

— Obrigado, Bonnie, sua conversa me ajudou muito. — sussurrei pra ela.

— Não a faça sofrer, hein? Ou eu terei que te encher de aneurismas.

— Pode deixar, não estou querendo ter meu cérebro frito de novo!

— Serei Caroline Salvatore, meu nome soa tão lindo! — Caroline riu.

Damon revirou os olhos.

— É, maninho, agora realmente terei que aguentar os dois por toda a minha existência. A loirinha te fisgou mesmo!

— Eu sei que essa é a sua maneira de dizer “ Hey, Stefan, estou feliz por você”.

— Vou abrir uma garrafa de Bourbon em sua homenagem. — ele ironizou, mas acabou sorrindo e me abraçou.

— Eu adoraria ficar, — falei, — Mas, Caroline e eu temos um lugar para ir.

— Stefan, para onde vamos? — ela perguntou ao meu lado, curiosa

— Vamos para aonde tudo começou!

[...]

Eu tive um enorme trabalho para arrumar aquele lugar, mas no final das contas havia ficado incrível, Bonnie havia me ajudado a decorar tudo,e com certeza ela havia aprendido muitas coisas com Caroline porque ela era realmente muito boa. Pensar nisso, sem querer me fez compará-las e o que me veio a mente me fez franzir a testa, aquele gesto que Damon sempre criticava em mim.

— Caroline, — chamei, enquanto andávamos de mãos dadas pela ponte de madeira. — Você acha que existem muitos outros casais por aí que encontram o amor assim como nós, na amizade?

— Talvez, — ela deu de ombros. — Não foi tão fácil pra gente, acho que depende de cada casal, todos têm as suas... peculiaridades.

— E o que você acha de um casal tipo... A Bonnie e o Damon?

Ela parou de andar imediatamente e me encarou.

— O que você está querendo dizer?

— Não estou querendo dizer nada, — falei rindo de como ela de repente ficou séria. — Só usei eles como exemplo.

— Mas por quê?

— Por nada, — segurei a mão dela novamente, voltando a andar. — Esquece isso.

— Agora que você tocou no assunto, não vou conseguir esquecer. Eu sei que Damon e Bonnie estão muito próximos agora, ela se importa muito com ele e ele se importa muito com ela, mas os dois juntos?

— Eu só estava pensando em quanta gente por aí tem a pessoa certa bem ao lado, o tempo todo, mas não percebe.

— É, — ela concordou. — Mas Bonnie não olharia assim pro Damon, ela tem bom gosto.

Rolei os olhos, a aversão de Caroline pelo meu irmão nunca iria acabar. Mas felizmente ela se esqueceu do assunto assim que percebeu onde estávamos.

— Stefan, — ela sorriu. — Eu não acredito.

— Festa do meu primeiro ano na Escola de Mystic Falls, estávamos no ensino médio e eu disse que... — ela me interrompeu.

— Que eu e você não iria acontecer. — completou rindo.

— E agora estamos voltando aqui, depois de termos amadurecido tanto, passado por tanta coisa, para eu te dizer que, Caroline, você e eu será para sempre!

Ela ficou em frente a mim, alguns centímetros mais baixa, com olhos úmidos e profundos me encarando.

— Stefan, eu te amo tanto, — a mão dela tocou meu rosto suavemente, enquanto aproximava-se de mim. — Você me completa, me faz sentir a melhor pessoa do mundo sempre que estou ao seu lado, e tudo que sou hoje devo a você, por que foi você que me ensinou tudo que sei, como ser uma vampira, você me salvou, e com você eu tenho amadurecido tanto, e saber que você sente o mesmo com relação a mim me faz ser a pessoa mais feliz desse mundo.

— Esse anel, — murmurei, tocando a mão dela. — Será o símbolo do nosso amor, do nosso vinculo inquebrável até trocarmos por anéis dourados, que mostrará para todo o mundo que eu sou seu e você é minha.

— Não precisamos de anéis, ou casamentos, ou nada disso, por que eu sou sua hoje, amanhã e eternamente.

— Mas na minha opinião, Caroline Salvatore soa melhor que Caroline Forbes! — disse rindo.

— Seu bobo, — ela sorriu também. — Pois saiba que na minha também.

— Hoje é o primeiro passo para uma vida eterna juntos.

— O nosso para sempre não é um metafórico, e sim um para sempre real!

— Eu sempre amarei você.

— Eu sempre te amarei também!

E então Caroline deitou sua cabeça sobre meu ombro e ficamos esperando o sol nascer, o sol nascia na representação que uma nova vida nos esperava, uma vida juntos. Não será perfeita, até por que não somos perfeitos e em algum lugar de Mystic Falls temos nossos inimigos esperando a primeira oportunidade para nos atacar, mas dessa vez estaremos juntos, e mesmo com tudo ao nosso redor sendo um caos, lutaremos e enfrentaremos tudo e todos para defender quem amamos, e viveremos, viveremos os pequenos e belos momentos de nossas vidas por que são esses que valem a pena, são esses que nos dão forças para enfrentar todo o mal que vem pela frente.


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Notas finais do capítulo

Agora eu entendo quando Damon diz que Steroline é meloso rsrs' To brincando, mas to falando sério.

Enfim... Espero que tenham prestado atenção direitinho, tem coisas que o Stefan disse pra Care que, a mim, pareceu que se encaixavam na situação de Damon e Bonnie também, e acho que Stefan também percebeu isso, tanto que usou os dois como exemplo...

Quanto a parte da Bon e seus arrepios, não me interpretem mal, eu sei que ela tem um trauma recente sobre abuso e nós, autoras, não pretendemos passar por cima disso, o caso é que Bonnie já tinha confiança em Damon e sabia que ele não faria mal a ela, juntando isso com os possíveis sentimentos que ela pode estar desenvolvendo... Os resultados foram esses. Mas notem que ainda assim ela também não estava confortável em como seu corpo reagiu.

Acontece que o corpo humano tem reações involuntárias, nem sempre obedece a mente e Bonnie também não ligou a imagem de Damon, alguém que ela confia, a imagem de Kai, que ela atualmente sente horror.

Enfim... Eu falo muito kk mas sintam-se livres para nos corrigir se estivermos erradas, ou para falar algo caso tenham alguma objeção... Ou simplesmente para deixar um comentário sobre o que acharam do capítulo.

Amamos vocês. Até a vista ^^