Interlúdio escrita por Lab Girl


Capítulo 11
Lição Aprendida


Notas iniciais do capítulo

Caros leitores,

antes de mais nada, minhas desculpas pelo sumiço e pela demora em atualizar esta fanfic. Tive questões pessoais para resolver, tive que readministrar meu tempo diante de novos horários, lidei com falta de inspiração e um tanto de preguiça também, confesso.

Mas aqui estou eu, retomando a história porque não seria justo com vocês que estavam acompanhando fielmente capítulo a capítulo, e nem comigo mesma, que não gosto de deixar histórias inacabadas.

Espero que o tempo de espera não tenha diminuído o interesse de vocês em saber como termina a fanfic. E tomara que eu consiga fazer a espera ter valido a pena.

Música-título e sugerida para o capítulo é "Lesson Learned" de Alicia Keys com participação de Jonh Mayer (https://www.youtube.com/watch?v=24gjW4Oqj2k).

Boa leitura!



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Passaram-se alguns dias e Megan se sentia bem melhor depois da alta do hospital. Felizmente não houve nenhuma complicação e o bebê estava bem. Ela tinha iniciado um acompanhamento mais rigoroso com a obstetra depois do acidente. Antes, só tinha feito a consulta que revelara a gestação, tão assustada e confusa com a notícia, nem tinha dado início ao pré-natal ainda - o que, agora percebia, tinha sido um erro de sua parte. Já se sentia responsável por aquela criaturinha que crescia em seu ventre e a queria como nunca imaginou que pudesse querer alguém, especialmente alguém que ainda nem conhecia.

Foi tomada por esse sentimento que criou coragem uma tarde para pedir que Edmilson a levasse até a Gambiarra. Precisava encarar Davi e colocar aquela história em pratos limpos de uma vez por todas. Ele só a havia procurado por telefone umas duas vezes desde aquela conversa breve no hospital, algumas semanas antes. E nunca falaram sobre a gravidez diretamente, ele só perguntando se estava tudo bem e ela respondendo que sim, a recuperação estava indo de vento em popa. Megan sabia que aquele era um assunto que teriam que falar frente a frente, e por isso não tinha se atrevido a sequer começar por telefone. Ela acreditava que ele ainda estava chateado por ter descoberto sua gravidez daquela maneira inesperada, e por isso a estava evitando. Mas sentia que era hora de se encararem e enfrentarem o que viria pela frente. Mesmo que não estivessem mais juntos e não fossem estar, precisavam pensar naquilo que tinham em comum - um filho.

Sentindo o calor por dentro, Megan correu a mão distraidamente sobre o ventre que já começava a despontar. No banco de trás do carro da família, sendo conduzida pelo motorista, ela tinha tempo para pensar em todas essas coisas enquanto seus olhos contemplavam a paisagem e as pessoas indo e vindo de um lado a outro do bairro que tinha aprendido a amar no último ano.

“Chegamos, senhorita Megan” Edmilson anunciou, estacionando próximo à sede da Plugar e da Brazuca.

Arrancada de seus pensamentos, ela virou-se para o motorista. “Me espere aqui, okay?”

“Sim, senhorita” ele menou a cabeça, descendo do carro e dando a volta para abrir a porta do lado dela.

Estendendo a mão para que ela descesse, Edmilson sorriu. Megan agradeceu a gentileza e tomou o rumo conhecido. Antes mesmo que alcançasse a entrada da ONG, um amigo peludo a reconheceu e correu até seu encontro.

“Linus, how are you, boy? Senti saudades” Megan sorriu, abaixando-se o suficiente para acariciar o pêlo macio do animal.

O cão abanava o rabo de maneira agitada, sinalizando seu contentamento em vê-la.

“Também é bom te ver de novo, amigão” ela fez mais festa para o cachorro, que soltou um latido animado.

Quando os olhos dela se ergueram, avistaram justamente quem procurava. E ele estava visivelmente surpreso por vê-la ali.

“Megan” Davi murmurou, quase sem acreditar. “Que surpresa inesperada te ver aqui. Você me parece bem… na verdade, está ótima” ele disse, meio sem jeito.

Hi, Davi” ela murmurou, acenando para ele. “Tem um minuto para conversar?”

Ele recolheu as mãos nos bolsos da calça, dando de ombros e respondendo numa voz quase tímida. “Tudo bem.”

“Pode ser no seu quarto?” Megan perguntou, apressando-se em explicar, “É mais discreto.”

Davi tirou as mãos dos bolsos e estendeu um braço, apontando o caminho e indicando que ela tomasse a dianteira. “Vamos.”

Eles andaram calados até a casa dele. Quando chegaram no portão, Davi o abriu e os dois entraram no ambiente. Megan sentiu o cheiro familiar dele no ar. E se lembrou de tantas coisas vividas ali. Discussões da Brazuca, tentativas de conquistá-lo, a primeira vez que fizeram amor…

“Senta” Davi falou, arrancando-a das lembranças.

Com um pequeno sorriso de agradecimento, Megan se sentou numa cadeira. E o viu ficar de pé.

“E você? Não vai sentar?”

“Não. Estou bem de pé.”

Megan percebeu que ele continuava arredio. Mesmo assim, estava ali por uma causa e ia levá-la adiante. Inspirando e cruzando as mãos sobre o colo, ela começou.

“Davi… sobre o bebê...”

“Por que não me contou logo que soube que estava esperando um filho meu?” ele a interrompeu antes que ela pudesse concluir.

E o que mais impressionou Megan foi que Davi não perguntou de quem era o bebê que estava esperando. Ele simplesmente afirmou que era dele. Isso fez o coração dela agitar-se dentro do peito.

“Eu… eu pensei que você ia ficar like louco. Que ia me perguntar de quem era o bebê e...”

“Eu sei fazer contas, Megan” Davi a cortou mais uma vez.

“Claro. É só que… well, como todos sempre me consideraram uma bitch...”

“Eu nunca te considerei assim” ele retrucou de forma direta. “Você viveu sua fase bad girl, e só. Mas eu sei que enquanto esteve comigo, foi só comigo.”

Sem querer, o canto dos lábios de Megan se curvaram num sorriso. “Thanks.”

A expressão de Davi, porém, permaneceu inalterada. Séria. Ferida. “Eu só não entendi por que você não me contou logo que descobriu.”

O sorriso dela morreu. Evitou o olhar dele. “Eu tive medo.”

“Medo de quê?”

Megan levantou a cabeça para encará-lo de novo. “Medo da sua reação. De que duvidasse de mim. Duvidasse de que o filho era seu. Depois de tudo que eu inventei pra ficar com você, fiquei com medo de você pensar que eu planejei isso também.”

Davi suspirou. “Ah, Megan… Você se dá conta agora de que tudo isso podia ter sido evitado? Se você não tivesse mentido da primeira vez…”

I know, Davi” ela o interrompeu, já sentindo a garganta arder, “Eu sei. E I´m sorry. Se eu pudesse voltar no tempo…”

“Não dá, Megan. Não dá pra voltar no tempo. É por isso que a gente tem que pensar antes de agir. Porque as nossas ações geram consequências.”

Ela se sentiu quase ofendida, olhou para ele, doída. “Of course.” Estava ciente disso. Mas as palavras dele reforçavam a noção… e doía.

“Você devia ter me contado assim que soube” Davi tornou a insistir.

Sorry” Megan repetiu a única palavra que conseguia dizer. “E agora?”

“Agora?” Davi suspirou, dobrando os joelhos e apoiando a mão no sofá enquanto se sentava, como se o peso da realidade o estivesse empurrando. “Agora o mundo virou de cabeça pra baixo.”

Megan sabia. E queria logo evitar o que tanto temia - que ele agisse corretamente por um estúpido senso de responsabilidade e nada mais, que julgasse que ela o pudesse querer prender com esse filho que estava a caminho. Então, soltou logo as palavras antes que pudesse pensar direito.

“Eu quero que saiba que eu não quero nada de você, Davi.”

Com isso, ele virou a cabeça rapidamente na direção dela. Séria, Megan continuou.

“Não se preocupe, não precisa se sentir amarrado nem obrigado a nada só por senso de responsabilidade.”

“Você tem noção do que está falando?” Davi franziu a testa, “Como assim? Você fala como se essa criança que você tá esperando fosse só sua.”

“Eu não quis dizer isso…” ela percebeu que podia tê-lo ofendido sem querer, mas antes que pudesse tentar se explicar, o estrago estava feito - o olhar de Davi lhe dizia isso, assim como as palavras que ele proferiu em seguida, impedindo-a de continuar.

“Essa criança que você tá esperando, ela tem um pai, Megan. E justo você devia saber que eu jamais abandonaria um filho meu. Eu cresci sem pai, sem mãe. Eu sei o quanto é importante ter uma família.”

Sorry, Davi. Eu não quis ofender” ela tentou, a voz trêmula, os olhos pedindo compreensão.

Mas, no momento, Davi não era capaz de compreender nada. Ele estava tomado por uma sensação de inconveniência, de mágoa, de coisas que não queria estar sentindo, mas não conseguia evitar. E atirou tudo isso em forma de palavras amargas em cima de Megan.

“Você pode ter todo esse dinheiro que tem, mas dinheiro não é tudo. Uma criança precisa de uma mãe, mas precisa de um pai também.”

“Eu não penso em impedir que você tenha contato com o bebê, Davi” Megan apressou-se em garantir. “Eu só quis dizer que não pretendo te obrigar a nada, nem quero que se sinta obrigado a fazer o que não quiser.”

“Eu pensei que me conhecesse melhor” os olhos de Davi ainda a encaravam como alvo. “Sempre fui um cara que assume as responsabilidades. Não ia ser diferente com um filho meu.”

Megan balançou a cabeça. “Of course. Claro. Só não queria que esse bebê fosse apenas isso pra você. Uma responsabilidade.”

“Responsabilidade” ele ironizou, rindo sem humor algum. “Taí uma palavra que você parece desconhecer, não é?”

“Não precisa me atacar para se defender” Megan finalmente ergueu o queixo, recobrando a postura.

Davi a encarou por mais alguns segundos em silêncio, o maxilar tenso, um brilho nos olhos que ela conseguiu perceber que misturava muita coisa. Dor. Raiva. Mágoa.

Megan engoliu em seco. Sabia que era a responsável por tudo aquilo. Queria muito um jeito de consertar aquele desastre emocional, mas, sinceramente, não sabia como.

Então, Davi se levantou do sofá abruptamente, andando na direção da porta do quarto.

“Aonde vai?” ela perguntou, o coração se apertando.

“Eu preciso ficar sozinho.”

“Então fique” Megan se levantou, puxando a bolsa consigo e encontrando com ele no meio do caminho. “Eu vou.”

“Não precisa, você poder fic-”

Bye, Davi” ela disse, acenando e saindo antes que perdesse a coragem.

Quando já estava alcançando a porta, contendo ao máximo as lágrimas para que não escapassem antes que saísse dali, Megan o ouviu se aproximar.

“Megan, espera.”


Virando-se, ela o viu vacilar. A encará-la com o peito arfante. Quando pensou em abrir a boca para dizer alguma coisa, foi surpreendida pela de Davi, cobrindo a sua num beijo totalmente inesperado e imprevisto.

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