Jon

Jon tratou logo de tirar o espanto de sua expressão. Não poderia demonstrar nenhum sinal de intimidação diante do inimigo. Era exatamente isso que o outro queria. Jon não sabia como, mas sentia que o Rei da Noite se fortalecia com o seu medo e temor. Talvez fosse porque o medo era cortante como os ventos frios do inverno. O temor parecia congelar o fogo que queimava dentro dele.

Ele logo tratou de dá o próximo golpe, que foi igualmente parado pelo rei da Noite. As espadas se encontraram novamente uma, duas vezes. Era como se o outro estivesse o testando. Ou seria ganhando tempo para que as criaturas avançassem cada vez mais? O que Jon sabia era que o Grande Outro não estava lutando com todas as suas forças. Jon resolveu sair da defesa e foi para o ataque. Quanto mais tempo aquele duelo demorasse pior seria. Mas destruição teria quando ele voltasse para seu mundo. Além tudo Jon tinha a impressão que o tempo passava de forma diferente naquele mundo sobrenatural. Era difícil saber quanto tempo teria se passado no seu mundo.

Com um movimento ousado tentou acertar no pescoço do rei da Noite, porém para seu espanto a sua espada somente cortou o ar quando este desapareceu da sua frente em um movimento muito rápido. Ele não sabia que o Grande Outro podia fazer isso. A filha da floresta não havia dito nada quanto a isso. Ao pensar na filha da floresta Jon se perguntou para onde ela teria ido. Ela havia desaparecido logo que Jon chegou na presença do rei da Noite.

Talvez por está em seu reino. No coração do Sempre Inverno o rei da Noite tivesse seus poderes mais fortes e pudesse fazer coisas mais difíceis, como por exemplo, desaparecer. Jon ficou em alerta, pois sabia que o inimigo poderia surgir a qualquer momento para o golpear de surpresa. E foi isso que ocorreu.

Seus olhos se arregalaram quando sentiu uma dor enorme na barriga. A espada que gelo do rei da noite havia o atingido em cheio. A lâmina havia atravessado todas as camadas de roupa e cota de malha que ele usava e se fincou em sua barriga.

Jon já havia sido atingido uma vez, na verdade várias, na barriga, mas daquela vez em que foi traído pelos irmãos da patrulha a dor não havia sido tão forte. Além disso, tinha o frio. Sua alma e seu corpo pareciam prestes a congelar. Devia ser a magia presente na espada do grande outro que gerava esse frio estranho.

Apesar da dor forte e do frio, Jon ainda queria lutar. Não iria desistir fácil. Lutaria até o último suspiro.

Jon sabia que tinha somente uma chance. Uma única chance de atingir o rei da Noite e que tinha que ser rápido. A espada de gelo ainda estava dentro dele. Tinha que aproveitar de atacar naquele momento.

O rei da Noite puxou a espada da barriga dele e foi nesse momento que Jon atacou com todas as forças que lhe restava. Ele podia até morrer, mas pelo menos teria recuperado a Alvorada. O golpe foi certeiro.

Sua espada mágica atravessou o gelo que compunha a pele do rei da Noite. As chamas da sua Luminífera pareciam consumir o inimigo por dentro. Foi questão de tempo para que rachaduras começassem a aparecer na pele do Outro. Essas rachaduras foram ganhando espaço até que o inimigo se despedaçou na sua frente. Somente pedaços cortantes de gelo restaram do que um dia foi o Rei da Noite.

Jon se deixou cair ao chão. Ao lado dos restos de seu inimigo. Estava sem forças e perdendo muito sangue. Ainda tinha a questão do frio que estava lhe fazendo bater os dentes e tremer. Sentiu saudade de Winterfell e de todas as pessoas que um dia amou. Mas tentou se consolar dizendo para si mesmo que havia vencido.

Sansa

—Eles estão escalando as muralhas, os soldados estão tentando os atrasar com flechas de fogo, mas será apenas questão de tempo para que estejam aqui dentro. A escuridão os ajuda a se camuflarem. O que faremos? - alertou um dos guardas que havia acabado de voltar das muralhas de Winterfell. Ele estava visivelmente com medo. Sua voz estava ofegante.

Desde que a Muralha havia caído havia se tornado difícil conter os avanços dos Outros. Os dragões e os exércitos armados de vidro de dragão ajudavam a os atrasar, mas a cada dia mais conseguiam passar. Algumas dessas criaturas haviam conseguido chegar na estrada do rei e seguiam cada vez mais ao sul. A noite apenas ajudava no avanço deles. Noite essa que a cada dia parecia mais fria.

—Esperaremos. Não há mais nada a ser feito. - falou Sansa com a voz pesada e cansada. A menina se vestia completamente de preto devido a provável morte do irmão Jon. Havia se passado uma semana e não havia notícias sobre o irmão e a longa noite continuava. As esperanças de todos estavam no fim. No fundo todos achavam que aquela luta não poderia ser ganha. Que seria apenas questão de tempo para que os Outros invadissem e que tudo chegasse ao fim. Sansa já se sentia sem forças, até para parecer forte na frente das pessoas de Winterfell. Tudo já estava ruim com o sumiço e provável morte de Jon, apenas piorou quando Arya sumiu. A menina quando soube do sumiço de Jon meteu na cabeça que tinha que ir atrás do irmão. Tentaram a impedir por três vezes, mas na quarta tentativa a menina conseguiu sair sem deixar rastros. Desde então eles não tinham mais notícias dela também... Lágrimas se formaram nos olhos de Sansa ao pensar que era provável que tanto Arya como Jon estivessem mortos. Seu único irmão que ainda estava com ela em Winterfell era Rickon e o menino estava doente...

Com a longa noite que se prolongava muito ficaram doentes por causa do frio e do medo que sentiam. Seu irmão Rickon começou a ter uma tosse forte e febre. Mal levantava da cama. Melisandre também estava doente. A verdade é que ela não estava bem desde que soube do ocorrido com Jon. Ela vivia repetindo que a culpa era dela, quando não estava dormindo, pois ela tinha que passar o dia todo dormindo.Mal ficava com a filha. A pequena Lyanna vivia chorando por saudades da mãe e do pai. Estava tudo muito ruim.

Sansa ainda estava pensando na atual situação quando ouviu gritos. Mas para seu espanto não eram gritos de medo, eram gritos de felicidade. Ela ouvia claramente:

—O dia está amanhecendo! A noite está chegando ao fim.

Sansa foi correndo até as muralhas de Winterfell e viu quando a escuridão da longa noite deu lugar ao alvorecer de um novo dia. Também viu que as criaturas que tentavam escalar a muralha não passavam de cacos de gelo no chão. As armas que os outros seguravam e as roupas estavam entre esses cacos.

A  visão do dia nascendo foi linda e trazia a esperança que todos precisavam. Ao olhar para o alvorecer Sansa lembrou de Jon e teve a certeza que ele havia conseguido cumprir sua missão. A esperança de reencontrar ele e Arya renasceu em sua alma.

Jon

Ainda estava no chão quando sentiu tudo mudar ao seu redor. Tudo parecia está se desfazendo da mesma forma que o Rei da Noite. Sua vista estava ficando turva, mas ele conseguia ver que parecia está em outro lugar. Ainda com a vista turva viu quando o céu negro sobre a sua cabeça começou a clarear. Viu o alvorecer de um novo dia ao longe. Uma lágrima escorreu pelo seu rosto diante da imagem. Aquela imagem para ele era a mais linda que tinha visto na vida. Nunca o nascer do Sol foi tão lindo.

Fechou os olhos cansados e sentiu flocos de neve caírem em seu rosto. Antes de tudo escurecer sentiu quando uma mão tocou na sua bochecha de forma carinhosa.