Os Jogos Dos Deuses escrita por Tsumikisan


Capítulo 8
Capítulo 8


Notas iniciais do capítulo

FICOU GRANDÃO. Ó.



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Mands estava com fome. Depois dos dois primeiros dias agitados na arena, os três seguintes pareceram absurdamente calmos. Ninguém havia morrido até então e Nêmesis não tinha se manifestado nem em forma de novas armadilhas nem por mensagens de Íris, e mesmo assim Michel ainda queria se manter em movimento constante. Depois do acidente com a Ave do Rio Estínfalo, ele acreditava que não ficar muito tempo parado em um lugar era a melhor forma de se evitar uma nova armadilha. Então eles dormiam em turnos e poucas horas de cada vez, deixando Mands de mal humor. Ela tentou comentar com Ray que Michel estava ficando neurótico, mas a garota parecia concordar com o que o irmão estava fazendo.

Estavam até indo bem, levando em conta que não tinham conseguido comida nenhuma. Tinham os cantis e ocasionalmente encontravam um riacho ou um lago subterrâneo (tomavam o cuidado de cheirar bem a água antes de beber), além disso o Acampamento havia enviado para eles um pacote de batatas chips que serviu para enganar a fome. Mands havia tentado cozinhar alguns cogumelos que não tinham cara de venenosos, mas tinham um gosto horrível e Ray acabou vomitando o dia todo. Pelo menos o desastre culinário serviu para receberem um presente de Zeus: um banquete completo e uma espada muito bonita para Michel.

Mas agora estavam sem comida de novo e o mal humor estava voltando.

Foi no sexto dia na arena que Mands conseguiu convencer Michel e Ray de que era melhor procurar comida separadamente, pois teriam mais chance de encontrar algo interessante caso cobrissem uma área maior. Michel realmente não queria se separar, mas ele enfim havia cedido.

Só que ele também tinha insistido para ir com ela, o que complicaria um pouco no que Mands realmente estava planejando.

— Eu sei me virar sozinha. – ela resmungou enquanto eles procuravam mais cogumelos. – A Ray deve estar precisando de ajuda.

O que provavelmente não era verdade. Ray sabia muito bem se cuidar e tinha ficado com a zarabatana e os dardos, então Mands realmente era a mais indefesa. Só que não podia fazer o que queria com Michel seguindo-a.

— Eu só quero passar um tempo com você. – Michel sorriu para ela. – Posso?

Ela ficou um pouco vermelha, mas escondeu o cabelo com o rosto, murmurando:

— Faz o que quiser então.

Continuaram a andar em silencio. Michel as vezes parava para catar alguns cogumelos ou uma planta crescendo no chão, deixando Mands impaciente. Ele pareceu notar que estava irritando a garota, pois depois de algum tempo comentou:

— Não acho que você esteja procurando comida. O que está tramando?

— Eu não preciso procurar. – ela respondeu rapidamente. – Sei onde tem comida.

Michel parou no exato momento.

— Você não esta querendo dizer que quer ir até né? – ela ficou em silencio. – Mands, isso é suicídio!

— Você não esta com medo do Leo né? Ou do Brant? GG? Por favor, não me diga que é da Iolanda.

— Não é isso! – ele bufou. – Mands, não faça isso, por favor. Vamos voltar, a Ray deve ter achado algo.

— Eu não estou te obrigando a vir comigo, Michel. – ela voltou a andar sem parar para ver se ele a seguia.

–-//--

Trindade estava ficando insuportável. Pelo menos era isso que Adrila achava, mesmo que Luke pensasse totalmente o contrario. A garota não parava de reclamar que queria seu celular (mesmo que provavelmente se ele estivesse ali, ela estaria atraindo sinal para todos os monstros da região), que precisava de uma cama pra dormir e que sentia falta de suas séries. Bem, Adrila também sentia falta de tudo isso, mas não fazia sentido ficar falando disso o tempo todo, não ia ajudar! Se Luke não fosse seu melhor amigo e ela não fosse acabar morrendo se não estivesse com o grupo, já teria dado o fora no quarto dia na arena.

A pior parte era que eles não sabiam racionar. Trindade comia quando estava afim. E se alguém a censurasse, ela se fazia de boba dizendo que era só arranjar mais depois...

... Ficaram sem comida no sexto dia.

— E agora? – Ias perguntou, nervosa, depois de Luke informar que não tinha mais nada nas mochilas.

— Você disse que tinha um plano, Trindade. – Adrila disse, com as mãos na cintura.

—Eu não disse que tinha um plano. – A garota respondeu com uma voz lenta e arrastada. – Disse que sei onde arranjar mais.

— Onde? Podemos ir agora. – Luke deu um sorriso otimista.

— Na cornucópia, obvio.

Adrila olhou para ela com descrença. Ias deu uma risada, achando que a amiga estava de brincadeira, mas Trindade já colocava a mochila nas costas e pegava a lanterna, sem desmentir o que tinha dito.

— É sério isso? – Adrila balançou a cabeça. – Não é assim que as coisas funcionam, Trindade.

— Ué, não é complicado. – ela respondeu ainda com a voz lenta. – Eles são nossos amigos, não vão nos negar comida.

— Nossos amigos?! Eles mataram o Dohan! Mataram o Maro! Até mesmo a Rayssa, que era tão perigosa quanto uma mosca, foi morta!

—Mas não temos certeza...

— É obvio que foram eles, droga! Luke, me ajude aqui.

Luke ficou em silencio, evitando o olhar de Adrila. Ias olhava para as duas parecendo indecisa, mas disse:

— Acho que ela tem razão, Triny.

— Até você Ias? Nossa, tipo assim, são seus irmãos! Eles não vão fazer nada com você.

— E a Julia? – Adrila contestou.

— Não sabemos se foram eles! – Trindade insistiu.

— É CLARO QUE FORAM ELES!

Luke se colocou entre as duas no momento em que Adrila gritou. Ele pos uma das mãos no ombro dela, tentando acalma-la.

— Podemos ir até lá dar uma olhada, Adri, não custa nada.

Ela sentiu seu rosto ficando vermelho de raiva e empurrou a mão dele para longe.

— Vai você então! – gritou, pegando a própria mochila e se afastando com passos duros. – Parabéns, agora é só mais um dos escravos dela!

Ela correu para longe deles, sem olhar para trás até sumir de vista na escuridão do túnel. Luke pareceu constrangido, mas Trindade olhou para ele e para Ias como se nada tivesse acontecido, dizendo:

— Vamos, então?

— Eu acho que deveria ir atrás dela. – Ele disse, sem jeito.

— Ah, podemos fazer isso depois. Não é bom que nós nos separemos tanto.

Ela passou o braço pela cintura dele e lhe deu um beijinho na bochecha. Luke acabou cedendo e caminhou com ela e Ias pelo mesmo caminho que haviam feito seis dias atrás. Não haviam bifurcações ou curvas, então foi fácil meia hora depois chegarem à Cornucópia. Estava um pouco distante da entrada do túnel em que eles estavam, mas não havia ninguém a vista em um raio de quilômetros. Trindade jogou o cabelo para o lado e disse a Ias:

— Você fica aqui e grita caso alguém apareça. Eu e Luke vamos pegar as coisas.

Ias acenou, concordando. Trindade e Luke andaram cautelosamente até a Cornucópia, sem fazer barulho. Ele olhava para todos os lados, temendo uma emboscada. Pararam em um ponto em que havia várias coisas ao redor e Luke desembainhou a espada que havia conseguido no primeiro dia, vigiando enquanto ela pegava alguns suprimentos espalhados. Não precisavam de armas, pois além da espada também haviam três facas na mochila que Trindade carregava e duas mini bombas na de Ias. Adrila havia levado consigo uma adaga, mas não faria muita falta.

Um movimento distante chamou a atenção de Luke. Ele estreitou os olhos para enxergar melhor e então deu uma risada.

— O que foi? – Trindade perguntou.

— Ah, ninguém vai nos incomodar. – disse.

— Por quê? – Ela parecia distraída, decidindo se era melhor pegar sopa enlatada de batata ou de carneiro. Por via das duvidas, colocou as duas na mochila.

— GG está lutando com Michel e Mands ali. Bella está caída, mas ele me parece estar ganhando.

Trindade não respondeu, pois havia encontrado algo de seu agrado na pilha de coisas. Era um Ipod! Por que diabos alguém deixaria um Ipod ali? Não seria útil de baixo da terra, a menos que... Ela tentou ligar e o símbolo da maçã apareceu na tela. Tinha bateria! Ela passou os dedos hesitante pela tela, encontrando as musicas. Ah, suas favoritas! Com certeza alguém tinha deixado aquilo ali para ela. Só precisava achar os fones.

— Espere aqui. – ela disse a Luke, procurando.

Deu praticamente a volta pela Cornucópia sem encontrar. Já estava desistindo quando viu o fio branco pendendo de uma mochila preta em cima de um engradado. Ela correu e pegou, colocando no ouvido e plugando o cabo. A musica encheu seus ouvidos instantaneamente, fazendo ela sorrir.

— Ei Luke! Olha o que eu achei! – Ela correu de volta para o lugar no momento em que um canhão soou.

Os fones caíram de seu ouvido e ela abriu a boca, chocada. Luke estava caído no chão com uma espada longa enfiada em seu peito, os olhos e a boca abertos. A mão que segurava a espada era de Leo, que agora a retirava com força, sorrindo. Ele tinha um corte no rosto e outro no braço que pareciam recentes.

— Eu disse para vocês que eles viriam. – ele comentou.

Brant estava do lado dele, segurando um arco e flecha que apontava diretamente para o peito de Trindade. Ela arregalou os olhos, gaguejando:

— Mas... Você nem sabe atirar.

— Uma ajudinha do meu padrinho Apolo. Você tem que ver a Iolanda, esses cortes que o Luke fez no Leo vão desaparecer em um segundo graças a benção que ele deu a ela. – Brant riu, mas depois ficou sério de novo. – Ah, espera, você não vai ver ela.

— Não faz isso Brant. – ela pediu com a voz manhosa. – Eu e você...

— Ah, sabem o que dizem. Sorte no jogo, azar no amor.

Ele soltou a flecha que disparou com uma velocidade incrível, cravando bem fundo no peito da garota. Ela caiu de lado, sufocando um grito. Leo se aproximou dela e finalizou o trabalho, recitando “Que Thanatos leve sua alma em paz”.

Não tão distante deles assim, GG parecia entretido. Treinava sempre com os garotos de Zeus e por isso conhecia os movimentos de Michel, apesar de ele conhecer os seus também. Mas agora era para valer e GG estava ganhando graças a sua raiva. Ele e Bella estavam fazendo a ronda quando encontraram o garoto roubando sua comida. GG foi logo para cima, sem notar Mands vindo por trás e batendo com força na cabeça de Bella com uma pedra. Agora estava com tanta raiva que se sentia mais forte, atacando Michel com voracidade. O filho de Zeus havia arranjado sabe-se lá como uma espada elétrica. Os pelos da nunca de GG se arrepiavam todas as vezes que aquilo passava perto demais de seu rosto. Até então já tinha levado dois choques, mas Michel estava na pior, com um corte feio na perna e outros dois no rosto.

Era uma dança perigosa. A cada estocada de GG que Michel impedia, a espada elétrica fazia um silvo perigoso. Estava fraco demais para canalizar a própria energia e lançar GG longe com um único raio e também estava preocupado com Mands logo atrás dele. Mas não pode evitar avançar ao notar uma brecha na defesa de GG. O filho de Poseidon foi rápido, colocando a espada na frente bem na hora, mas o impacto fez com que eles caíssem no chão e rolassem um para longe do outro. Michel se levantou primeiro, ofegando e gemendo.

Ele notou com o canto do olho Brant e Leo se aproximando por trás de Mands. Brant já estava preparando a flecha quando Michel gritou:

— Mands! Abaixe-se!

Ela obedeceu e a flecha passou zunindo, batendo nos destroços com força. Vendo que estava sendo cercada, Mands tentou correr para a entrada de túnel da qual ela e Michel haviam vindo. Mas não reparou que GG estava caído no meio do caminho, então quando passou, ele a agarrou pelo tornozelo, fazendo com que ela caísse com força no chão.

— Você nunca mais vai chegar perto da minha namorada. – ele rosnou, se erguendo e apontando a espada para ela.

— Michel! MICHEL! – Mands gritava, chorando.

— Não! – Michel tentou se aproximar, mas era tarde de mais.

GG fincou a espada com força na barriga da garota, que teve uma ultima convulsão antes de ficar completamente quieta. Um canhão soou e então ele correu para onde Bella estava deitada, com a cabeça ensanguentada porem respirando. Puxou com força um pedaço de seu macacão, arrancando-o e fazendo pressão sobre a parte onde a namorada tinha machucada. O pedaço de pano ficou encharcado em instantes.

— Não! Mands! – Michel gritava com raiva.

Brant e Leo agora vinham em direção dele, mas ele estava de saco cheio daquilo tudo. Sem se importar com o que podia acontecer, apontou a espada para os dois e concentrou todas as suas forças nela. Um som horrível de trovão ecoou pela arena, sendo ouvido em todos os cantos quando Brant e Leo caíram no chão inconscientes por causa da força que Michel havia aplicado no golpe.

— O que está acontecendo ai? – ele ouviu a voz de Wlad se aproximando. – Leo, é você?

Michel não pensou duas vezes antes de pegar a mochila na qual estava colocando as coisas mais cedo e correr de volta para o túnel. Wlad enfim apareceu, acompanhando não só de Iolanda, como também de Ias. O ar tinha um cheiro forte de ozônio e algo queimando. Iolanda deu um gritinho ao ver os amigos caindo no chão e correu para ajuda-los.

— O que aconteceu aqui? – Wlad perguntou a GG, o único acordado.

— Michel e Mands. – O garoto rosnou. – Mas eles não vão ser mais um problema. Depois dessa explosão, se Michel não morrer por ter abusado tanto assim dos poderes, ele vai ficar desmaiado por uns bons dias.

—Vocês chegaram a ver Trindade e Luke? – Ias perguntou timidamente.

— Não, Leo e Brant devem ter dado um jeito neles. – GG a encarou e depois olhou para Wlad. – Leo não vai gostar nada disso.

— Ele não tem que gostar. Matou Júlia sem perguntar minha opinião. Agora Ias vai se juntar a nós, por bem ou por mal.

— Como queira então. – ele deu de ombros e voltou a prestar atenção em Bella. O sangramento estava parando. – Bem vinda, maninha.

–-//--

Frost estava ajudando Aron a terminar de montar as bombas quando ouviu o primeiro canhão. Depois não conseguiu mais se concentrar, sorrindo satisfatoriamente nas outras duas vezes em que o som ecoou. Na terceira porem, ouviu algo diferente. Parecia que um trovão havia ecoado por todos os espaços do grande sistema de tuneis.

— Parece que as crias de Zeus estão brigando. – Ele disse de brincadeira.

— Quem você acha que morreu? – GV perguntou, fazendo uma careta.

— Não sei e na verdade não me importo também. – Frost deu de ombros.

Os seis dias na arena haviam sido produtivos. Diferente do grupo de Trindade, eles sabiam racionar comida, então ainda tinham o suficiente. E os planos para a armadilha estavam quase finalizados, só faltava algumas partes, mas nada que Aron não fosse conseguir fazer. Frost estava irritantemente radiante.

— Sério? Eles eram nossos amigos, cara. – GV parecia desconfortável, mirando a espada de ferro estigio em sua mão.

— Tem irmãos se matando ai e você está me julgando? – Frost ironizou. – Sério mesmo? Que bosta ein GV.

Ele continuou ajudando Aron com os fios, sem prestar atenção. O filho de Hefesto trabalhava rápido com as mãos, ignorando os dois. Nos últimos seis dias GV e Frost sempre discutiam algo bobo daquele jeito e Aron tinha cansado de tentar intervir. Eles teriam que acabar se entendendo, de uma forma ou de outra. Frost realmente não dava a mínima, só queria acabar logo com aquilo tudo, mas GV tinha outros planos:

— Só por que eles estão errados não quer dizer que devemos estar também. – disse. – Você me mataria? Tá, eu sou Romano, mas Mercúrio continua sendo Hermes. Você mataria a Foca?

— As vezes realmente tenho vontade.

— Frost! – GV gritou, ignorando a risada de Aron. – Isso é errado!

— Ah GV, cala a boca. Eu não me importo, sério. Só quero explodir algumas pessoas. De preferência o Leo primeiro. – o garoto pos a mão no queixo, pensativo. – Talvez fosse bom deixar o Wlad vivo sabe, ele é bem bonitinho.

Foi a gota d’agua. GV se levantou da pedra em que estava sentado e apontou a espada para Frost. O filho de Hermes ergueu a cabeça lentamente, deixando o que estava fazendo de lado e deu uma risada alta. Aron também olhou para GV, mas em nenhum momento parou de trabalhar com as mãos.

— O que você vai fazer? Não vai conseguir sobreviver aqui sem mim. – Frost revirou os olhos. – Abaixa isso.

— Não preciso de você. – GV estava tremendo. – Chega. Me procure quando toda a sua arrogância não tiver lhe subido a cabeça.

Ele embainhou a espada e colocou uma das mochilas nas costas, olhando para Aron. O filho de Hefesto não se moveu, sustentando o olhar de GV. Por fim o garoto desistiu, dando as costas para os outros dois e caminhando depressa para a entrada de túnel mais próxima. Assim que Frost o perdeu de vista, balançou a cabeça.

— Ele vai voltar. Ou vai morrer tentando.

— Você realmente não se importa? – Aron perguntou, voltando a prestar atenção no trabalho.

— É claro que eu me importo Aron. Já disse, isso é tudo um jogo para a “Nêmesis”. Eu vou salvar todo mundo aqui, só tenho que descobrir mais algumas coisas. Não tenho culpa se o GV é burro demais para perceber que não tem mais nada que eu me preocupe tanto no mundo quanto com esses campistas idiotas.

–-//--

Estava ficando frio. Arthur podia sentir até os ossos congelando. Havia ficado no mesmo lugar durante sete dias, comendo, bebendo água e refletindo. Em algum momento, achou que ficaria louco se não falasse nada, por isso havia começado a conversar em voz alta com os morcegos. Eles não respondiam, mas pelo menos Arthur podia expressar alguns pensamentos que não falava sobre nem com a namorada. E imaginava os morcegos respondendo, ouvia suas vozes dentro de sua cabeça. Ele e os morcegos eram amigos, diferentes de todos aqueles que estavam matando e morrendo na arena. Ele havia contado já nove tiros de canhão desde o começo dos jogos e já vira os rostos de Trindade, Luke, Mands e Julia, além daqueles que morreram no primeiro dia, nas mensagens de Íris que contabilizavam as mortes.

No nono dia em que estavam na arena, um dos morcegos sugeriu que ele começasse a andar, então ele o fez. Ia mais fundo pelo desfiladeiro, vendo onde deveria pisar com a ajuda de seu capacete de minerador com uma lanterna acoplada. Sua comida tinha acabado, mas ele havia achado frutinhas que os morcegos comiam e que davam para o gasto. Comia elas agora, conversando com seus amigos em voz alta:

— Me pergunto se os outros estão bem.

“Ficarão bem logo, eu prometo.” O morcego que havia sugerido que ele fosse para o fundo do desfiladeiro disse. Arthur notou que a voz desse era mais grossa e profunda que a dos demais.

—Eles vão? E eu?

“Ah, você será o primeiro.”

— Vou? Como?!

“É só você me encontrar”

Arthur olhou para cima, procurando o morcego, mas não via nada, mesmo com a luz que seu capacete produzia. Pensando bem, também não ouvia o bater de asas dos morcegos a um tempo e nem seus chiados constantes.

— Onde você está? – gritou.

“Olhe para baixo, filho de Horkos.”

Ele olhou para baixo, mas só havia o desfiladeiro, uma escuridão interminável. Era muito estranho, pois parecia que a luz de sua lanterna não conseguia passar pela escuridão, parando no meio do caminho. Parecia algo sólido e bem mais sombrio. O vento frio vinha dali, se espiralando ao redor de suas pernas como névoa.

— Acho que você não é um morcego. – Foi a brilhante conclusão a qual Arthur chegou.

A voz deu uma risada. Parecia estar vindo do fundo do desfiladeiro. O garoto sentiu os pelos de sua nuca se arrepiarem. A névoa agora agarrava suas pernas, parecendo puxa-lo para mais perto da beirada.

“Você não deveria me temer” a voz disse. “Afinal, eu sou o inicio de tudo isso pelo o que você preza”.

Arthur se lembrou de uma historia que havia ouvido a alguns anos no Acampamento. Seu herói, Percy Jackson, também havia sido iludido por uma voz assim, vinda de um abismo. Ele arriscou:

— Cronos? Você é Cronos?

A risada foi profunda e cheia de desprezo. O garoto sentiu até a terra em baixo dele se movendo com a força dela. Queria sair dali, mas agora a névoa envolvia até seus joelhos, puxando, sempre puxando...

“Cronos?! Não... Cronos é só uma peça nos meus jogos. Mas quando isso acabar, até mesmo ele deixara de existir.”

— Mas por quê? Por que está fazendo isso? Quem é você?

Ele estava praticamente na ponta dos pés sobre o abismo. O ar parecia estagnado ali e Arthur estava com dificuldade para respirar. Mas enquanto distraísse a escuridão, poderia pensar num plano para escapar.

“Cronos é imperfeito. Tem ganância e raiva. Os Deuses conseguem ser ainda piores, dominados por sentimentos que deveriam ser mortais. E logo em seguida, os humanos... A pior criação possível. Ao meu ver, está na hora de recriar esse mundo novamente, já que a primeira tentativa foi tão patética.”

— E como você pretende fazer isso?!

“Você verá. Acho que não tem por que adiar mais. Venha até mim, Filho de Horkos.”

Arthur sentiu a névoa apertando suas pernas e o puxando para baixo. A escuridão engoliu seu ultimo pedido de socorro sem piedade.

Os outros campistas mal sabiam que estavam a um passo a mais do fim definitivo quando outro canhão soou na arena.


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Notas finais do capítulo

Desculpem a demora owo Hehehehe



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