Os Jogos Dos Deuses escrita por Tsumikisan


Capítulo 6
Capítulo 6


Notas iniciais do capítulo

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Eles estavam no lago de canoagem com Brenda. Ela como sempre estava implicando com Maro, mas ele nem dava bola, pois só tinha olhos para Rubens. O mais novo estava com as pernas mergulhadas até o joelho na água e seus olhos estavam fechados, a brisa de final de verão soprando seu cabelo para longe do rosto. Maro adorava aquela imagem e poderia ficar o dia inteiro ali, olhando para ele se fosse possível. Como se sentisse o olhar sobre si, Rubens abriu os olhos, azuis como a água que o tocava.

— O que foi? – perguntou, franzindo o cenho.

— Nada. – Maro respondeu, com um sorriso. – Eu te amo.

— Ai meu Zeus. – Brenda reclamou. – Não comigo aqui, por favor. Acho que é hora de acordar, Rubens.

Ele se levantou assustado, batendo a cabeça na parede da caverna. Tinha sido apenas um sonho e até assim Brenda conseguia ser irritante, deuses! Rubens sentou-se e respirou fundo, mas logo se arrependeu. Sua viagem nas sombras o havia transportado para uma parte da caverna coberta parcialmente por uma substancia que parecia esgoto e que fedia como um. Ainda estava fraco demais para ir a outro lugar, então permanecera ali até adormecer. Podia sentir as lagrimas geladas no rosto até agora, o que indicava que também havia chorado dormindo. A culpa tinha sido dele, completamente, e ele nunca se perdoaria por isso.

Fechou os olhos e tentou sentir o espírito de Maro, mas não conseguiu achar nada. Aquilo era muito estranho, pois normalmente ele conseguia conversar com quem já havia morrido com facilidade. Talvez fosse por que o espírito de Maro achava falta de respeito tentar contata-lo naquele lugar nojento. Bem, ele tentaria de novo mais tarde.

Na correria, não havia pegado nada na Cornucópia e os efeitos da falta de comida estavam se manifestando. Ele pos a mão na barriga, dolorida por um dia inteiro sem alimento e murmurou para o nada.

— Pai. Se estiver me ouvindo, agora seria uma boa hora para aquele presentinho.

Foi quase instantâneo. Um buraco se abriu no teto do túnel e dele caiu uma garrafa d’água pela metade presa a um bilhetinho. Rubens tomou o conteúdo avidamente antes de ler o que o bilhete dizia:

“Faça alguns amigos e poderei ajudar como posso”

Aquilo realmente era um conselho de seu pai? Hades dizendo que ele devia formar uma aliança? Sério?! Rubens revirou os olhos e amassou o papel, jogando-o no conteúdo pegajoso que escorria das paredes. No momento, sua vontade de se vingar era maior que de sobreviver e agradar o pai.

Seu alvo, aliás, não estava muito distante. Frost devorava satisfatoriamente um café da manhã reforçado, junto com Aron e GV. Graças a sua furtividade ele havia pego quatro mochilas grandes e duas espadas, além de suas adagas.

— Poderia ter pego mais se não tivesse se desviado do plano. – Aron comentou, mordendo um pedaço de frango.

— Eu não ia conseguir carregar tudo, de qualquer forma. – Frost revirou os olhos. – E ele estava lá praticamente pedindo para morrer.

— Milord vai ficar uma fera com você quando voltarmos. – GV refletiu, olhando para a própria sopa de frango com batata enlatada. – Se voltarmos.

— Relaxa, eu tenho um plano. Mas até que eu consiga coloca-lo em pratica, temos que fingir que realmente queremos matar uns aos outros.

— Não acho que você estava fingindo. – GV largou a lata e pegou a espada que Frost havia pego para ele. Era uma espada longa de duas mãos, feita de ferro Estígio, negra como a noite. – Isso aqui obviamente estava lá para Rubens.

— O filho de Hades deve se mostrar merecedor para portar a espada de seu pai. – Frost respondeu, dando de ombros.

— Você fala que tem um plano, mas até agora não nos contou qual é. – Aron resmungou. Ele brincava com uma variedade de fios e engrenagens que Frost havia conseguido achar e enfiar em uma das mochilas.

— Por que estamos sendo vigiados, ué! “Nêmesis” – ele fez aspas no ar ao dizer o nome. – Deve estar louquinha comigo agora.

— Aposto que ela não esperava que você tivesse herdado alguns truques do seu pai. – GV riu. – Afinal a maioria dos filhos de Hermes tem facilidade para roubar discretamente, mas você fica praticamente invisível! Ninguém nem reparou em você quando desceu da base e começou a catar o que queria na Cornucópia...

Frost fez uma mesura de brincadeira e fingiu que tirava um chapéu para GV. Aron revirou os olhos e, deixando os fios e engrenagens de lado, disse:

— Ele vai ficar ainda mais convencido e vai encher nosso saco.

O garoto começou a procurar avidamente dentro de uma mochila enquanto GV ria. Frost aproveitou o momento para analisar as adagas que havia conseguido. Chamou-as de presas gêmeas, devido ao seu formato meio curvo. O sangue de Maro ainda estava em uma delas, meio seco, mas ele ainda não havia encontrado uma forma de limpá-lo e nem se preocupava também. Aquilo era mais uma prova de sua vitória.

— Ah, você pegou bombas de tempo. – Aron reclamou, puxando cinco tabletes de plástico com um contador automático em cada um. – De pressão seriam melhores.

— Vai dar para fazer uma armadilha com isso?

— Claro que sim. – Ele fez um muxoxo de impaciência. – Mas vai ser necessária muita precisão.

— Olha, eu só quero explodir a equipe do Leo e aquele Acampamento horrível.

— Você acha que aquele é o Acampamento de verdade, Frost? – GV perguntou, engolindo com dificuldade o ultimo pedaço de frango.

Frost ficou em silencio por um tempo, refletindo. Por fim, suspirou e olhou para o teto da caverna sem nenhuma emoção no rosto.

— Sim, é o verdadeiro Acampamento. Mas não o Acampamento em que vivemos agora. É complexo demais, mas o básico é que: aquilo é como nosso Acampamento vai ficar daqui a alguns anos.

–-//--

Julia correu até seu pulmão não aguentar mais. Ela desabou no chão, respirando descompassadamente e sentindo sua visão escurecer. Ficou naquela posição até sentir que conseguia levantar de novo. Cambaleou um pouco, tendo que encostar na parede e continuou a seguir em frente. Havia uma luz distante, provavelmente outro lago, mas era isso ou dar meia volta e encontrar a Ave Do Lago Estínfalo devorando o que restara das garotas. Infelizmente agora que o nível de adrenalina havia baixado, ela podia sentir os efeitos da fome e da sede. Sua boca estava muito seca e seu estomago parecia ter encolhido em milhares de vezes. Tudo que a movia era sua força de vontade.

Acabou descobrindo que a luz vinha de uma poça de lava bem funda. Estava em uma caverna circular e parecia que um reator tinha acabado de explodir ali. Haviam papéis chamuscados nas paredes e bancadas de madeira com objetos que haviam derretido e fundido uns nos outros. Várias peças de metal e cobre estavam esquecidas no chão, aguardando alguém que nunca viria para monta-las.

Ela se aproximou de um dos papeis presos a parede. Nele havia um protótipo de um dragão mecânico, com detalhes e contas que ela nunca entenderia. O que chamou a sua atenção foi o nome em letras garrafais e corridas: “FESTUS”.

Aquele era um dos bunkers do chalé de Hefesto. Aron teria adorado encontrar aquilo. Mas não, logo ela que não entendia nada sobre aquelas anotações havia achado. No entanto, se realmente era um bunker, provavelmente havia uma saída em algum lugar. Julia tateou as paredes de cima a baixo, até enfim empurrar uma porta escondida no teto, abrindo-a. Não estava muito iluminado além dela, mas era tudo o que tinha, por isso segurou firme e se ergueu para fora do bunker.

E estava de novo no Acampamento Meio Sangue destruído. Ela ofegou, quase tropeçando em uma pedra solta ao sair do alçapão. Estava próxima ao monte de lava fumegante que antes era o chalé de Hefesto e um pouco adiante estava a Cornucópia, recheada de coisas uteis, e o principal, comida! Sentindo seu estomago roncar, ela tentou ser cautelosa, pois ainda poderiam ter tributos por ali. Só que estava tão fraca e tão faminta que não se aguentou e correu em direção a um engradado próximo, cheio de mangas e goiabas frescas. Comeu com casca e tudo, sem se importar.

— Eu estou tãaao entediada, Vitu. – Ela ouviu uma voz feminina próxima dizer e se assustou, abaixando-se atrás da caixa no exato momento em que Brant e Iolanda se aproximaram.

— Sei bem o que fazer para tirar esse seu tédio. – Brant disse sugestivamente.

Eles ficaram em silêncio por um tempo até que Iolanda riu e disse:

— Para com isso, você sabe que eu tenho namorado.

— É, infelizmente. – ele suspirou. – Por que todas as garotas bonitas tem namorado? Não sobra nada para os caras comuns, como eu.

Os dois riram alto. Julia imaginou se notariam se ela saísse dali correndo e voltasse para o bunker ou, caso notassem, a seguiriam.

— Mas sério, quatro dias? É muito tempo! E estamos em uma caverna, eu nem sei que horas são.

— O plano do Leo é muito bom, Io. Esperamos aqui, com suprimentos garantidos, durante quatro dias. Enquanto isso, os outros gastam o que conseguiram e em algum momento vão ter que vir buscar mais ou sobreviver de morcegos.

—E quando eles vierem, acabamos com eles. – Iolanda resmungou. – É, eu sei. Estava lá quando Leo explicou. Mas não acho que o Frost seja burro a ponto de vir aqui buscar comida. E o grupo da Ray também, já sofreram duas baixas, não se arriscariam mais.

— Mas os outros sim. E quando terminarmos com eles, é só irmos atrás do Frost e da Ray. É bem simples. Vamos ganhar esse negocio, estou sentindo.

— Só tem um ganhador, bobo. – Julia não estava vendo, mas podia jurar que Iolanda revirou os olhos. – O que vamos fazer quando só restarmos uns aos outros? Você vai me matar? – perguntou manhosamente.

— Claro que não, Io. GG pensou nessa parte. Como ele mesmo disse, o que Nêmesis pode fazer se nos recusarmos a nos matarmos? Só resta nos dar a vitória!

— Faz sentindo. – Mas Iolanda não pareceu convencida.

Eles estavam se afastando. Julia juntou o máximo de frutas que conseguiu dentro do macacão e correu de volta para a entrada do bunker. Estava quase lá quando uma manga escorregou entre seu braço e a fez tropeçar e cair de cara no chão. Sentiu o rosto e as mãos ardendo, mas o reforço de couro nas roupas havia absorvido boa parte do dano. Estava se recuperando da queda quando sentiu mãos firmes sobre ela.

— Viu? Leo tinha razão. Eles vêm procurar comida mais cedo ou mais tarde. – Brant riu.

— Ah, é uma das suas irmãs. – Iolanda entrou no campo de visão de Julia. Ela parecia preocupada e ansiosa. – O que vai fazer?

Julia tentou se debater e morder a mão de Brant que a segurava, mas bastou Iolanda dizer “Pare” com sua voz melodiosa para que ela ficasse quieta contra a sua vontade. Sua mente parecia enevoada e apenas a filha de Afrodite era o foco.

— Vamos leva-la até os outros. Wlad ainda é o líder do chalé, ele vai saber o que fazer.

Pelo menos ele havia sido delicado, erguendo-a do chão e a carregando com firmeza. Iolanda ia logo atrás, fazendo contato visual a todo instante de modo que o efeito de seu charme não se perdesse. Não tardou para Julia ser colocada no chão novamente. Ela piscou e olhou ao redor. Bella e GG estavam abraçados, sentados em cima de uma mesa, observando-a com interesse. Haviam pilastras quebradas ao redor deles e a cadeira grande onde normalmente Milord estaria sentado estava partida ao meio. Aquele era o pavilhão de refeições do acampamento em sua versão mais horrível. A única coisa que parecia ter restado era a pira de pedra no centro. Parecia que alguém tinha feito uma oferenda exatamente naquele momento.

— Fique quietinha, ok? – ela ouviu a voz melodiosa de Iolanda em seu ouvido e obedeceu.

— O que faremos com ela? – Brant perguntou, soltando-a. – Onde está Wlad?

— Foi dar uma olhada nos chalés que restaram. – Leo se levantou, analisando Julia. – É melhor decidirmos sem ele.

— Ela poderia nos ajudar. – GG sugeriu. – Uma filha de Poseidon a mais, seria uma boa.

— Ah é? E ai a Ray aparece e você diz “Ela também poderia nos ajudar”. E depois vem o filho de Hades, o tal do Rubens, e você “Ah, ele pode ser útil”. – Bella balançou a cabeça. - No fim teremos até a Trindade na aliança e então Nêmesis não aceitara de jeito nenhum entregar o prêmio a todos.

— Bella tem razão. – Leo coçou a cabeça, refletindo. Apontou então para Brant. -Busque uma espada boa para ela. Não matarei alguém indefeso, não há honra alguma nisso.

Brant foi pegar a espada depressa. Julia olhou suplicante para todos ao redor, mas ninguém parecia querer contestar. Quando o garoto voltou, entregou-lhe uma espada bem leve que se equilibrava perfeitamente e a ajudou a ficar de pé.

— É o seguinte. Se você conseguir me desarmar, pode ir embora daqui. Caso não consiga... – Leo fez uma pausa. – Bem, a Arena é cruel.

Ele a atacou agressivamente. Os treinos no Acampamento Meio Sangue valiam de alguma coisa, pois Julia havia aprendido que por ser mais fraca que o oponente, não deveria ser agressiva. Tinha que se desviar, esperar que ele ficasse cansado o suficiente, entender a tática do inimigo para que encontrasse suas falhas. Mas Leo parecia não se cansar, mesmo que todos os seus movimentos errassem o alvo ele tentava novamente, cada vez mais perto. Na verdade, era ela quem estava começando a se cansar. Os golpes de Leo eram lentos, mas fortes o suficiente para desequilibra-la. Ela cambaleou para o lado e seria atingida com certeza se uma voz não tivesse interrompido:

— O que está acontecendo aqui?

Wlad se aproximava, segurando com firmeza uma espada. Ele olhou de Leo para Julia por alguns segundos e seu rosto ficou vermelho. Brant, sentindo o que estava vindo, segurou seu amigo com força. O filho de Poseidon se debatia, gritando:

— Deixe-a em paz Leo! Você não pode decidir isso!

— Desculpa, Wlad. – Leo suspirou. Julia aproveitou a balburdia para se levantar e ficar em posição de defesa novamente. – Você é um irmão para mim e por isso eu tenho que fazer isso.

Ele voltou a atacar, mas Julia estava preparada e desviou. Seus olhos captaram então algo de diferente. A pele de Leo tinha um brilho avermelhado que ficava mais intenso à medida que a batalha prosseguia. Ela enfim entendeu por que o garoto não se cansava da luta.

— Você tem a...

— Benção de Ares. Sim. – Leo sorriu e então avançou. – E estou cansado desse joguinho.

GG teve que ajudar Brant a segurar Wlad, por que o garoto havia dado uma cotovelada forte no nariz do irmão, fazendo com que sangrasse. Vendo que não conseguiria lutar contra os dois e salvar Julia ao mesmo tempo, Wlad cerrou os dentes e se concentrou em fazer todo o chão tremer. GG e Brant caíram, deixando-o livre, mas Julia também perdeu o equilíbrio completamente e caiu para trás, sentindo a espada de Leo contra seu pescoço. O garoto estava se mantendo de pé graças a benção que havia recebido. Ela engasgou com a própria saliva e o único olhar que encontrou foi o de Wlad. Ele parecia pedir desculpas.

— Que Thanatos tenha piedade de sua alma. – Leo recitou, antes de cortar a cabeça dela.


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Notas finais do capítulo

Juro pra vocês que nada do que ta escrito aqui foi baseado no que foi dito no grupo -Q



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