Os Jogos Dos Deuses escrita por Tsumikisan


Capítulo 5
Capítulo 5


Notas iniciais do capítulo

Heeey ho



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Sara parou de correr e desabou no chão, ofegante. Tinha sido claramente a melhor escolha não tentar ir diretamente para a Cornucópia, pois se tivesse ido a essa hora já estaria no Elísio. Ela tentou se recompor, encostando-se na parede da caverna. Estava bem escuro, mas não o suficiente para que ela ficasse completamente sem visão, mas tinha que prestar atenção aonde ia se não acabaria se machucando.

Aproveitou que tinha parado e analisou as coisas que tinha conseguido. A garrafa d’água estava cheia, mas mesmo que sua boca estivesse levemente seca, ela resolveu guardar para situações mais agravantes. Deixou-a então de lado e pegou a caixinha. Era aproximadamente do tamanho de seu punho e totalmente roxa com detalhes verdes que brilhavam intensamente. Havia algo inscrito no topo com um pequeno lacre facilmente retirável, mas ela não podia ver o que exatamente era. Decidiu então descansar um pouco. Tateou um pouco na escuridão até achar uma pedra bem afiada e a segurou com firmeza com a mão direita, deixando os ouvidos apurados para o mínimo som, fechou os olhos e suspirou. Até ali tudo estava dando relativamente certo.

O mesmo não poderia ser dito sobre Julia. Ela havia fugido quando viu Brant se aproximar, então não conseguira pegar nada da Cornucópia. Agora vagava sozinha por um túnel largo, sem suprimentos e sem nem idéia de onde estava indo. A única sorte que tinha era que em algum momento um pequeno riacho começou a surgir e a água era tão cristalina que era possível ver pequenos cristais brilhantes no fundo que iluminavam tudo ao redor. Também havia um cheiro adocicado no ar, mas ela não soube identificar o que era. A nascente deveria ser no fim do túnel, por isso Julia seguia para lá. Pelo menos tinha um objetivo. Estava andando ao que pareciam horas, por isso decidiu descansar. Sentou-se atrás de uma pedra grande e fechou os olhos. Sem querer, acabou adormecendo.

Acordou sem saber quanto tempo havia se passado e sentindo todo seu corpo doendo. Já ia se levantar quando algo lhe chamou atenção. Vozes bem próximas, talvez por isso tivesse acordado. Ela se virou com cautela, sentindo ainda mais dor nos músculos adormecidos, mas sem fazer nenhum som.

Michel, Ray, Quéz, Nat e Mands estavam ali, parecendo cansados. Havia muito sangue na blusa de Michel e nas mãos de Mands. Quézia parecia não se aguentar em pé, sendo ajudada por Nat, que a colocou delicadamente deitada de barriga para baixo. Atrás da pedra que estava, Julia não podia ver o que estava acontecendo com as duas, mas ouviu claramente o gemido de dor de Quéz quando Nat puxou algo de suas costas. Mands também parecia muito ferida, sentada com as pernas cruzadas e segurando o braço com força enquanto Michel procurava algo que podia ajudar na mochila que havia conseguido rapidamente na fuga.

— Ataduras. – Ele jogou para Nat. – E uma pomada que eu não sei bem para que serve. Dois cantis, uma zarabatana e sete dardos.

— Fique com os dardos. Se ver algo se aproximando, atire. Ray, encha os cantis. Eu vou cuidar das duas.

Ela foi até Mands para analisar o ferimento no braço dela. Cada segundo que passavam ali deixava Julia mais nervosa e irritada por não ter pego uma arma. Ray estava bem próxima enchendo o cantil, se olhasse para trás poderia vê-la os observando, mas em momento algum se virou. Julia conseguiria mover a água do riacho se fosse necessário e isso a deixou mais tranquila. Os minutos se passavam lentamente, como se zombassem dela.

— É o máximo que eu posso fazer. – Nat bocejou, colocando a blusa de Quéz de volta algum tempo depois. O braço de Mands já estava enfaixado e ela estava deitada de lado de costas para Julia, mas pelo movimento de sua respiração, podia-se dizer que estava dormindo. – Usei a pomada, espero que não infeccione.

— Eles vão pagar. – Ray resmungou.

— Pode ter certeza, maninha. – Michel deu um longo bocejo. – Mas não vai ser por agora, provavelmente. Que tal...

Ouviram um som forte e distante que parecia um canhão, deixando todos tensos. O som se repetiu mais duas vezes antes de se silenciar.

— O que foi isso? – Nat sussurrou para os amigos.

— Não sei. Precisamos ficar atentos.

— Podem dormir. – Ray disse, notando que os dois bocejavam abertamente. Ela pegou o tridente de Nat no chão. – Eu fico de guarda.

Eles obedeceram. Nat colocou a cabeça de Quez em seu colo, encostando-se na parede e fechou os olhos. Michel deitou-se do lado de Mands, mas não demorou muito a pegar no sono. Ray estava sentada de costas para Julia, tão centrada que parecia uma estatua. A própria Julia tentou relaxar também, mas não conseguia. Alguma coisa estava muito errada. O cheiro doce se intensificava e seus olhos pesavam, mas ela não queria dormir. Lutou contra a necessidade, ficando de olhos bem abertos. O som do tridente escorregando das mãos de Ray pareceu estranho aos seus ouvidos entorpecidos. Talvez dormir não fosse uma má idéia. Talvez...

Ouviu um chapinhar na água se aproximando com rapidez. Julia abriu os olhos bem depressa, arredando um pouco para o lado de forma que ficasse mais escondida pela pedra. Dali, pode ver uma sombra se aproximando e seu dono logo em seguida.

Era um pássaro enorme. Parecia uma garça que havia tomado shakes de proteína demais e agora estava tão alta que tinha que curvar o pescoço para andar pelo túnel e tão larga que suas asas raspavam nas duas paredes opostas. Infelizmente apesar disso não deixava de ser rápida. Julia arregalou os olhos ao notar que sua cabeça, bico e asas eram feitas de ferro fundido.

A ave parou bem perto de onde Michel e Mands estavam deitados, mirando-os com grande interesse. Ela grasnou baixinho e começou a afiar o bico em um dos diamantes do lago. Tinha uma pequena chance de ser inofensiva, mas Julia sabia que não tinha tanta sorte. Poderia correr na direção oposta a que a ave viera enquanto ela estivesse ocupada com os outros, mas seus pés não se moviam. O pássaro terminou de afiar o bico, e o levantou ameaçadoramente sobre a cabeça de Michel.

— MICHEL! MANDS! – Julia não conseguiu evitar gritar. – PESSOAL, ACORDEM!

O animal parou o que estava fazendo, confuso. Ele olhou para Julia confuso, como se estivesse se perguntando por que uma de suas presas estava acordada. Foi o tempo necessário para Ray se levantar assustada e lançar o tridente nele. Infelizmente, a arma bateu na cabeça de metal sem causar nenhum dano maior do que fazer o pássaro grasnar.

— É a Ave do Lago Estínfalo! – Nat avisou, tentando levantar Quez.

— Não me importa o nome, só corre! – Julia disse, já obedecendo ao próprio conselho.

Mands e Michel acordaram assustados e começaram a correr também. Ray tentava ajudar Nat a fazer com que Quéz se levantasse, então o pássaro foi diretamente nelas, perfurando a barriga da garota inconsciente em um instante.

— Não! – Ray gritou, com lagrimas nos olhos.

— Vamos! Não podemos fazer nada! – Nat empurrou a amiga para que ela corresse.

Os outros já estavam muito á frente. Julia viu as duas tropeçando para alcança-los, mas o pássaro era muito rápido. Então ela parou e concentrou toda a sua força de vontade na água, fazendo-a jorrar com força bem na cara feia de metal dele. O bicho ficou atordoado por um instante, grasnando com raiva e dando certa vantagem para as garotas. Ray conseguiu se aproximar de Julia e ultrapassa-la, mas Nat ainda estava bem distante. O pássaro já corria novamente em sua direção , o bico pronto para atacar. Estavam tão próximos um do outro que o próximo jato d’agua de Julia atingiu Nat também.

A garota caiu no chão no mesmo momento, se contorcendo e gritando:

— AI! Machuca! A água, e-ela é ácida!

Dessa vez a ave não se deixou distrair pelo truque, apenas balançou a cabeça para livrar-se das gotículas e atacou Nat com uma bicada forte bem na perna. Julia assistiu horrorizada, presa ao chão.

— Desculpe! Eu não sabia... Eu...

— Só corra! – Nat choramingou, sentindo a dor espalhar por todo o corpo.

— Mas eu...

— CORRE MENINA IDIOTA!

Ela sussurrou “desculpe” mais uma vez e correu. Não podia mais ver Michel, Mands e Ray a sua frente, mas ouvia o pássaro destroçando Nat logo atrás. Chegou a um lugar com uma bifurcação e seguiu para a esquerda, tentando livrar-se do rosto suplicante da garota em seus pensamentos. Enquanto corria, ouviu mais dois tiros de canhão sendo disparados.

–-//--

Arthur estava deitado em cima da mochila que havia conseguido, olhando para as estalactites no teto. O caminho que havia seguido tinha dado para um desfiladeiro com um rio de lava correndo logo embaixo. Ele se acomodou na beirada, com as pernas balançando perigosamente. Talvez tivessem passado cerca de nove horas desde o inicio dos jogos. Nesse meio tempo ele só havia ouvido cinco tiros de canhão e alguns morcegos.

Dentro da mochila que tinha conseguido haviam três pacotes de salgadinhos, uma garrafa d’água, um capacete de minerador com uma lanterna e três granadas pequenas. Ele já havia bebido um terço da garrafa e comido metade de um pacote de salgadinhos e agora olhava o lento fluxo de lava lá em baixo pensando em sua namorada. Como ela estaria encarando tudo aquilo? Ele sentia muita falta dela e esperava sair daquilo tudo vivo, ou pelo menos poder vê-la uma ultima vez.

Seus pensamentos foram interrompidos por uma música que se parecia muito o refrão daquela música “What’s Up” da 4 Non Blondes. Enquanto tocava, uma mensagem de Íris apareceu na sua frente com o símbolo de Nêmesis – a balança – e as palavras escritas em caixa alta: “AS BAIXAS”.

O rosto de Dohan tomou conta da mensagem, as palavras “6-4-Raphael” logo em baixo. A imagem durou cerca de um minuto e foi substituída por Rayssa, com um “10-4-Rayssa”. Depois foi “1-10-Maro”, “5-5-Quézia” e “5-13-Natália”. A música tocou por mais alguns segundos e a mensagem de Íris se dissolveu no ar, trazendo de volta o silencio profundo.

E assim terminou o primeiro dia dos Jogos Vorazes.


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Notas finais do capítulo

Lets go o/



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