A Reunião dos Heróis escrita por MaçãPêra


Capítulo 22
As Respostas Que Não Queremos


Notas iniciais do capítulo

Oeeee!
Agradeço pelos comentários. Vlw pra vcs que estão acompanhado.
Esse título parece bem interessante, não é? Hehehehe...
Fiquem comm o cap...



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P.O.V. Zeke

Acho que babei mais do que Percy quando ele está dormindo.

Vocês não estão entendendo. Aquela garota na minha frente não é simplesmente a Tris, ou então a Shailene Woodley. Aquela é Beatrice Prior! A Divergente que mora em uma Chicago distópica do futuro em uma sociedade corrupta e manipuladora. E ela está na minha frente! Não é demais?

Literatura de ficção cientifica foi uma das melhores criações da humanidade. É o meu gênero favorito. Distopias, alienígenas, viagens no tempo, tudo isso são coisas incríveis. Confesso que prefiro Jogos Vorazes a Divergente, mas isso não deixa a trilogia nem um pouco pior (sem contar com Convergente. Eu achei um pouco chatinho). Divergente me mostrou uma nova visão do mundo e da minha própria mente. Agora estou frente a frente com a garota que vivenciou tudo isso.

Por alguns segundos, esqueci-me de todos os meus problemas e preocupações. Esqueci-me de Rachel, meus pais, o ataque e a quase morte que tivemos há poucos minutos.

Tris, em uma região coberta do quintal, percebe que estou olhando fixamente para ela. Eu fico vermelho. Adianto-me para me proteger da chuva rapidamente e estendo minha mão.

– É um prazer te conhecer, Beatrice. – Não seio motivo, mas a formalidade sai de mim eu perceber.

– Pode me chamar de Tris. – Parece mais uma ordem do que uma permissão ou pedido.

A garota me analisa atentamente. Eu já estava acostumado com garotas me analisando de cima a baixo (eu não usaria o termo “analisando” para essas garotas em específico, mas... Acho que deu pra entender). Tris me analisa como se quisesse descobrir todas as minhas camadas de segredos, medos e mentiras. É um pouco assustador e impressionante ao mesmo tempo.

Ela me cumprimenta. Mariana, a garota mais nova, se aproxima.

– Você não é o irmão do Uriah, é? – A menina tem um brilho nos olhos, como se eu fosse um panda gigante e fofinho.

– Não – Ted responde no meu lugar – Nem eu, nem Zeke somos personagens. É uma longa história. Eu tenho uma pergunta. Sei que acabamos de chegar e mal nos conhecemos, mas aqui está meio chuvoso e frio. Você poderia nos deixar entrar?

– Mas é claro! Lá dentro podemos conversar sobre toda essa loucura que está acontecendo! Peguem suas coisas e me acompanhem – Ela está superanimada com isso, como se o mundo não estivesse em perigo. Não vou censurá-la.

Pego minha mochila preta, que estava caída ali perto. Todos os outros pegam suas mochilas e entramos na casa.

A sala de jantar onde entramos é simples. Possui uma mesa de vidro retangular com seis cadeiras dispostas simetricamente. Na parede, os quadros são montagens de quebra-cabeças emoldurados. Tinha imagens de pinturas de pessoas famosas, alguns de Leonardo Da Vinci, Van Gogh e Picasso. Também há quebra-cabeças temáticos de filmes e livros, como Harry Potter, Enrolados e Peter Pan. À minha direita, a sala de jantar é ligada a uma sala de estar. Do outro lado de onde estou possui uma porta ligada à cozinha e um corredor que deve levar aos quartos.

– Neguinhaaaaaa! – chama Mariana. Qunado ela fala normal, sua voz é baixinha, mas quando ela grita, é de estourar os tímpanos ­­– Faz almoço pra mais cinco!

– É o quê, menina? – grita a voz de uma mulher de volta, naquele típico sotaque cearense.

Uma mulher baixinha e gordinha surge na entrada da cozinha. Ela está usando fones de ouvido conectados a um celular em seu bolso. A mulher está esfregando um pano por dentro de um copo redondo. Ela quase o deixa cair quando nos vê.

– Mas menina... – continua. Ela coloca o copo na mesa de vidro e tira os fones – Da onde surgiu toda essa gente?

Mariana olhou-nos como se pedisse desculpas. Depois se voltou para Neguinha.

– Liga pra mamãe. Fale pra ela que chegou mais gente. – Neguinha pega seu celular e digita algumas coisas enquanto volta pra cozinha. – Ah! Diga pra ela que eles conseguiram derrotar o moço vermelho! – Mariana se volta para nós. – Vocês estão precisando de um banho. Podem usar o banhe...

– Marianaaaaaaaaa! – duas vozes idênticas foram ouvidas de algum lugar daquele corredor.

Todo mundo nessa casa têm voz supersônica?

– Já podem vir! – grita a garota de volta. Ai. Meu ouvido.

Ouvem-se passos pelo corredor. Dois garotos gêmeos, de idades entre 6 e 7 anos entram na sala. Os dois param subitamente quando nos veem.

– Oi – diz o gêmeo de camisa azul. Só assim pra diferenciar os dois. Seus olhos estão arregalados.

– Quem são esses? – pergunta o gêmeo de camisa verde. Ele olha pra Mariana interrogativamente.

A garota suspira cansativamente.

– Pedro e Henrique, esses são: Ted, Zeke, Percy Jackson, Ian Kabra e Remo Lupin. – Ela aponta para cada um de nós. – Pessoal, esse é Pedro, o Idiota. – Aponta para o de camisa verde. – E esse é Henrique, o Retardado. São meus irmãos.

– Uou! – disseram Pedro e Henrique ao mesmo tempo.

– Percy Jackson! – Pedro exclamou o nome do semideus como se tentasse pronunciar uma palavra difícil em inglês.

– Professor Lupin! – disse o outro gêmeo.

Os dois ficaram parados, boquiabertos, olhando para Remo e Percy.

– Que demais! – disse o que tinha gritado “Percy Jackson”. Nem sei mais quem ele é. Pedro ou Henrique?

– Tá bom. Agora vocês vão ficar aí, sentadinhos, esperando o almoço ser servido enquanto nossos convidados tomam banho – ordena a irmã.

– Tá bom. – Os dois se sentam em suas cadeiras.

– Me sigam.

Enquanto Mariana nos guia até os banheiros. Escuto um dos gêmeos perguntando a Remo:

– Você pode me ensinar a fazer um Avada Kedrava?

– Talvez mais tarde – responde o bruxo.

– Yeeei! – comemora o garoto.

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Para o almoço: coxa e sobrecoxa, feijão, arroz branco, purê de batata, paçoca de carne seca e suco de cajá.

Todos tinham tomado banho e se trocado. Como o clima estava frio e chuvoso, vesti uma calça jeans e uma camisa verde e preta de manga longa. Sentamos-nos na mesa retangular quando o almoço foi colocado na mesa.

Ted pega uma coxa com o garfo e dá uma mordida pequena.

– Então, diga aí. Desde quando Tris está aqui?

– Já faz uns três ou quatro dias... – responde Mariana.

– Fui eu que encontrei ela lá no quintal – disse o gêmeo de camisa azul. – Ela tava lá. O cara vermelho também tava.

– É – concorda o outro gêmeo – O cara vermelho não deixava ninguém sair daqui. Só a mamãe e a Neguinha. A gente teve que ficar preso em casa por três dias! Três dias!

– Não estou entendendo –admite Percy – Por que ele deixa sua mãe e sua empregada saírem, mas não deixam vocês? Tris eu até entendo, ela é uma personagem. Suponho que vocês não sejam...

– Não somos – afirma Mariana – Talvez ele seja um devorador de criancinhas que não quer deixar suas presas escaparem? O que importa é que vocês o derrotaram.

– Acho que ele só estava impedindo que outros personagens cheguem até vocês – opina Ian.

Mariana olha para Ian por alguns milésimos de segundos e desvia o olhar para o prato.

– Eu só li até o quinto livro de The 39 Clues – disse Mariana para o purê de batata – Mas até lá você era um babaca traidor.

Ian parece ofendido.

– Evoluí muito a partir daí.

Mariana levanta o rosto para ele com curiosidade.

– Você se importa de me dar um spoiler? – Ela não esperou pela resposta. – No final, você fica com a Amy?

Ian não esperava por essa. Suas bochechas ficaram rosadas.

– N-não. P-por que eu...

– Oooooownn! Você fica tão fofinho quando gagueja. – A garota olha para ele como se ele fosse o panda gigante.

Ian fica mais vermelho e retorna ao seu pedaço de sobrecoxa.

– Vamos ao que interessa! – anuncia Remo repentinamente. Ele não abriu a boca desde que chegamos aqui. Quase me esqueci de sua presença – Tris, todos os personagens que encontramos até agora, e que tivemos a oportunidade de conversar, tiveram parte de suas memórias relacionadas aos eventos do dia anterior apagadas. Qual é a última coisa da qual você se lembra?

Algo estranho acontece. É como se Tris entrasse em choque. Ela ficou observando o nada com uma expressão urgente, mas eu não entendi exatamente o que é. Depois ela se voltou para a comida em seu prato e bebeu um gole de suco.

– Nada de importante.

– Então não teria problema contar pra gente, teria? – questiona Remo.

– A última coisa de que eu me lembro é... Eu e o pessoal, Tobias, Caleb, Cara, etc... A gente estava pensando no que fazer. Um plano para impedir que joguem o soro da memória... Vocês que leram meu livro já devem saber.

Ela bebeu mais do suco de cajá e ficou olhando o prato com arroz e feijão.

– Não parece que é somente disso que você se lembra – comenta Ted.

Tris se levanta abruptamente, derrubando o copo com suco. Ela se dirige até o corredor e segue até onde não posso ver mais.

Silêncio tenso.

– Acho que ir lá ver ela... – diz Mariana sem muita vontade.

– Não, deixe que eu vá – falei me levantando.

Fui até o corredor. A primeira porta à esquerda ia para um banheiro. Vazio. A segunda porta à esquerda ia ao quarto dos gêmeos. Nada. A primeira porta à direita ia ao que eu suspeitava ser o quarto da mãe de Mariana, Pedro e Henrique. Silêncio. Sei que ela está no quarto no final do corredor, o quarto de Mariana. Abro a porta lentamente e encontro Tris, de costas para mim, sentada na cama.

Ela provavelmente me ouviu entrar, mas não disse nada, só ficou olhando para um armário.

Sento-me ao seu lado a uma distância respeitosa. Ela não reclama. Fico em silêncio por um tempo. Quando decido falar, ela diz:

– Eu devia estar morta.

Acho que concordar com isso não seria a melhor resposta. Negar isso seria mentir, então fico calado.

– Eu não me lembro de ter morrido. Mariana me mostrou o momento em que isso acontece no livro.

– Se você morreu, como pode estar aqui?

Se ele morreu, como Remo pode estar aqui?

– Eu... Eu não me lembro em todos os detalhes... Mas eu sei que foi culpa minha... Foi tudo culpa minha – Tris leva a mão ao rosto – Eu ativei um soro que ficava no meio de Chicago. Era o soro da morte. Sei que ele deve ter se espalhado por uma grande área e alcançado meus amigos. Não sei por que fiz isso, mas eu fiz. Eu ativei o soro.

Fico deprimido. Tento pensar claramente. Os livros não dizem nada sobre um soro no meio da cidade. Tem alguma coisa errada.

– Nós vamos descobrir o que realmente aconteceu. Aposto que encontraremos algum conhecido seu. Não é hora de desistir. Não perca as esperanças. – Penso em minhas palavras e sei o que devo fazer. – Aliás, eu também preciso saber o que aconteceu comigo, com meus pais. Não vou desistir até encontrar respostas.

Deixo Tris sozinha no quarto. Ela precisa de espaço só pra ela. Eu sei o que devo fazer. Sei por onde começar.

Vejo os gêmeos conversando com Remo, Percy e Ted. Encontro Mariana pedindo spoilers pra Ian. Ela queria saber se ele e Amy se beijaram nos livros seguintes. Ian foi salvo quando chamei Mariana.

– Onde fica o hospital mais próximo? – pergunto.

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– Zeke? – pergunta, novamente, a enfermeira idosa a minha frente.

Estou no hospital que Mariana me sugeriu. Limpo e quase vazio. Umas poucas pessoas na sala de espera e alguns médicos andando de lá pra cá. Uma equipe de homens vestidos de branco entrou com uma mulher grávida em uma maca.

A enfermeira com quem converso se chama Helga, ela já deve estar na casa dos 50. A mulher parece impressionada e assustada, como se tivesse me reconhecido quando eu disse meu nome. Minha intenção era procurar por algum documento com informações sobre meu nascimento. Todo hospital possui essas coisas arquivadas.

Helga fez o sinal da cruz duas vezes e pede para eu esperá-la. Ela desaparece em uma portinha e volta segurando uma pasta, acompanhada de uma mulher mais jovem. Só uns poucos anos mais jovem que Helga.

– Zeke não é um nome muito comum aqui no Brasil. Na verdade, nomes com “Z” não são nada comuns. Eu reconheceria esse nome em qualquer lugar. O último bebê que eu ajudei a nascer. Meu último trabalho como parteira. – Helga se volta para a mulher ao seu lado – Não se lembra, Jô? Sua primeira conquista? Você não sabe o quanto é especial, garoto.

Eu comecei a entender o que estava acontecendo.

– Espere aí... Foram vocês que...

– Nós presenciamos seu nascimento Zeke. Eu fui a primeira a pegá-lo no colo – Jô sorri para mim como se lembrasse daquele dia. – Foi há dezessete anos. Aquele dia foi tão mágico, mas também tão trágico...

Meu coração bate forte.

– Trágico?

Helga e Jô entreolharam-se.

– Zeke, como estão seus pais atualmente? Eles estão... Bem?

– Eu nunca os conheci.

– Entendo... – Helga não parece surpresa com minha resposta. A expressão de Jô é de decepção. Helga me entrega a pasta. – Aqui tem informações que você pode achar úteis.

Pego a pasta e a abro. Encontro minha certidão de nascimento. As primeiras coisas que vejo são:

20/11/1997

NOME: Zeke Fernandes Dourado

MÃE: Joice das Cruz Alvez Fernades

PAI: Victor Santiago Dourado

Li aqueles nomes milhares e milhares de vezes. Finalmente encontrei. Foi mais fácil do que pensei, mas eu encontrei. Quando me entregou no orfanato, minha mãe deixou uma carta junto comigo. Meu primeiro nome estava escrito na carta, a cidade em que nasci também, mas não tinha meu sobrenome ou o nome dos meus pais. Fernandes Dourado. Uma lágrima escorre pelo meu rosto.

– Seus pais eram um casal lindo, Zeke. Sua mãe estava emocionada momentos antes de você nascer. Quando sua mãe e seu pai viram como você era... Teve uma confusão enorme, briga... Foi horrível...

– Qual era o meu problema? O que aconteceu? – pergunto confuso.

– Zeke – diz Jô calmamente – Seus pais... Os dois eram negros.

Fico paralisado. Como assim?

– Sua mãe era afrodescendente. Tão preta quanto café. Ela morava em Salvador, mas veio para Fortaleza morar com seu pai. Ele tinha pele tão escura quanto a dela. No momento em que seu pai pôs o olho em você... O raciocínio é bem fácil.

Ele não era o pai.

– Ele ficou tão raivoso que quebrou algumas coisas. Ele foi tirado do hospital a força. Fizemos vários exames, todos eles indicavam que Victor era realmente seu pai, mas ele não quis acreditar. Ele negou com todas as suas forças, mas teve que levá-lo para casa mesmo assim. Nunca mais vi Joice, Victor ou você depois daquilo, mas, pelo visto, não deve ter acontecido nada de bom...

Pela segunda vez na minha vida (a primeira é uma história longa) me senti culpado pela minha aparência. Meus pais me abandonaram por causa da minha cor. Minha mãe deve ter sofrido muito por causa de meu pai, por isso ela voltou para Salvador, a terra onde vivia. Ela não teve condições de me criar sozinho, então me deu para um orfanato.

Mais lágrimas foram derramadas. Limpo-as rapidamente.

– Como é possível? – pergunto às enfermeiras – Como é possível que eu tenha nascido branco?

– Nós o levamos para um geneticista. Primeiro nós pensamos que, talvez seu pai ou mãe tivesse um gene que permitisse que sua cor fosse assim. Não encontramos nada. Você é um caso raríssimo, precisava ser estudado, mas seria antiético. Agora que você cresceu, percebo que é muito diferente de seus pais. Tão bonito.

Devolvo a pasta a ela.

–Obrigado, senhoras.

– Não tem de quê, querido. Estaremos aqui, se precisar de qualquer coisa.

Despeço-me delas e saio do hospital. Encontro Ian do lado de fora. O garoto me acompanhara até ali. Remo dissera que não seria bom sair sozinho. Ian se voluntariou na mesma hora (obviamente, ele queria se livrar de Mariana).

– Encontrou o que queria?

– Não sei o que eu queria – respondo. – E você? Sabe o que quer?

Pergunto a ele sem me referir a algo específico.

– Acho que sim.

–E o que isso seria?

Ian não responde de imediato. Ele está relutante.

– Uma segunda chance.

Voltamos à casa de Mariana.


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Notas finais do capítulo

Por coincidência, o aniversário de Zeke foi ontem, 20/11. Por pura coincidência, o aniversário dele é no dia da consciência negra.
Fiquem com a grande revelação na cabeça.
O que o homem vermelho fazia na casa de gente como Mariana, Pedro e Henrique?
O que ele realmente queria?
TUDO nessa fic é improtante. "Não existem coincidências em ficção. Tudo acontece por um motivo"
Até a próxima...
:):):)



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