Hoje é meu último dia de paz, último dia antes de começar o duro trabalho de aturar quatro aliens. Sério, se eu quisesse um emprego assim eu estaria na nasa, não? Mas ok, não adianta reclamar apesar de que isso é inevitável, hoje tenho coisas muito mais importantes para me preocupar. É a última apresentação de Spring Awakening, eu faço a Wendla e depois de uma longa temporada, vamos parar e se dedicar a outras peças e até mesmo outras coisas. Spring Awakening já está faz anos na Broadway e eu como Wendla estou faz mais ou menos três anos, já era hora de dar um break. Eu sentirei saudades,  foi uma das melhores peças e tinha um elenco unido e normal.

- Tá pronta? - Anne entrou no meu camarim.

Ah sim, esqueci de dizer. Os protagonistas tem um camarim principal pois tem mais trocas de roupas e precisam de maior concentração. Anne era minha sub, ou seja, caso eu passe mal, não possa comparecer a peça por qualquer imprevisto ela é minha substituta. Os substitutos na Broadway estão sempre em cena, como figurantes e são treinados a nível do original para caso entrem em trabalho, não ocorra diferença e não percebam que é um sub. Anne é linda e é muito boa, ela ficará oficialmente com o papel da Wendla na próxima temporada do espetáculo. Além de tudo, Anne é minha melhor amiga. Eu atuo com ela desde os nove anos.

- Estou. - Sorri. - Tô um pouco nervosa.

- Não fica assim, boba! Você já faz isso há anos. - Ela segurou minhas mãos, ela me conhecia. Ela sabe que eu preciso apertar alguma coisa quando fico nervosa, não pensem besteira apesar que já aconteceu uma vez de.. bom, deixa pra lá. Era bom apertar uma mão amiga para me passar confiança. - Não sei porque ainda fica nervosa..

- É a última apresentação, Anne! Não pode dar errado, estou tão nervosa quanto a primeira.. Não quer se apresentar hoje por mim? - Olhei no relógio - Ainda faltam 15 minutos, dá tempo de você se arrumar!

- Não quero e não vou, Lizzie! É a sua noite, suba lá e arrase. - Ela sorriu. - Até porque.. tem uma platéia especial aqui hoje.

- Oh my God! Quem? - Me exaltei. - Brian está aqui?

- Não, nem sinal dele! - Ela revirou os olhos, ela não gostava mesmo de Brian e eu não tirava a sua razão. - É melhor ainda.. adivinha só.

- É famoso? - Perguntei.

- No mundo inteiro. - Ela prolongou tanto o inteiro que eu poderia jurar que era a Madonna na platéia, mas ela não viria denovo. Ela veio ano passado com suas filhas e aquelas duas detonaram minhas maquiagens! Odeio quando os famosos trazem seus filhos.. - A banda TOKIO HOTEL!

- Tá brincando, né? - Exclamei. - Não! Só pode estar brincando..

Era só o que me faltava, o que eles estão fazendo aqui? Pelo amor de Deus! Hoje era pra ser perfeito e já não vai ser mais, até porque eu acho que eles vão entrar nos bastidores antes ou depois, a qualquer momento eu diria e também porque Brian não estava aqui. Não que eu esperava que ele viesse, aposto que Brian está em qualquer lugar com alguma garota barata. Ele me traía e eu sabia disso, até parece que eu gosto não é? Não é bem assim, um dia vocês entenderão. Brian é um cara legal e isso que importa, tudo bem que ele tem exatamente 72 defeitos desde a última vez que contei, mas também tem suas qualidades e são por elas que estou com ele, o resto é apenas um detalhe que interessa e preocupa somente a mim. Minha vida já é tumultuada o bastante para querer mais problemas, mais do que eu acabo de arrumar.

Eu tenho 22 anos e praticamente não tive adolescência, eu fiz meu primeiro comercial com dois anos. Ele era de fraldas, bom.. minha mãe sempre quis que eu fosse uma atriz mas eu não queria, eu negava até o final pois gostava de cantar desde pequena e desejava ser cantora, achava pura besteira ficar decorando falas e repetindo. Até que ela me obrigou com nove anos a fazer um teste para uma peça aqui da  Broadway e desde então não parei mais, criei uma paixão que antes nem se quer sabia se existia com o teatro musical e espero continuar aqui pelo resto de minha vida.

Meus pais sofreram um acidente quando eu tinha 16 anos e eles sobreviveram, não sou nenhuma orfã.. porém, eles necessitam cuidados especiais desde então. Eu não aguentava a tamanha pressão, eu apenas fazia peça aos fins de semana por conta do colégio mas fui obrigada a apresentar com mais frequência por causa deles. Eu precisava trabalhar e então conversei com o Kris Hanggi e finalmente comecei a fazer peças diariamente para pagar enfermeiras para cuidarem de meus pais.

Mudei de casa com 19 anos, moro num apartamento pequenininho em frente ao de Anne, compramos juntas. E você deve se perguntar aonde entra o Brian, não é? Bom, eu o conheci com 12 anos e ele era aquele tipico gordinho chato que nos irrita na sexta série.. agora ele não é mais gordo. Dizem que muita briga dá em casamento e bom, isso eu acho que é verdade. Não vejo a hora dele me pedir em casamento! Sinto que estamos quase lá. Ele sempre esteve ao meu lado me apoiando e talvez por isso eu não consiga deixá-lo, mesmo com todos seus defeitos. Tá, não é só por isso...

- Lizzie, que cara é essa? - Ela se sentou. - Você sabe que o Brian é..

- Um cafajeste, já sei. - Suspirei. - Mas não é por ele, Anne! Até parece que não me conhece..

- É por que então?

- Por causa da banda, oras! Eles não deveriam estar aqui.. Anne eles são ridículos. - Eu revirei o olhar. - Eu não quero conhecê-los! - Tá certo que dentro de 24 horas eu seria praticamente obrigada a conhecê-los mas quanto mais tempo eu conseguir adiar isto, melhor. Certo?

- Por que tanta raiva? Ficamos tantas horas sem falar que você não me conta mais nada? - Ela começou a fechar as minhas maquiagens enquanto falava, ela sempre me ajudava com bagunça do camarim. - Explique-se.

- Anne, eu vou ter que treiná-los! E aquele porco espinho homossexual será o meu par! - Respirei fundo. - O meu par, Anne! Eu não mereço uma coisa dessas..

- Sabe que isso até vai ser bom? Você pelo menos vai se distrair e tirar da cabeça esse Brian..

- Já falamos sobre isso, não? - Me levantei. - Olha, tenho apenas oito minutos e espero que eles não apareçam aqui. Com quem eles estão?

- Com o Kris, acho.. Não sei, eu apenas vi o de tranças na porta do camarim feminino.

- Você tem que me ajudar! - Comecei a me trocar rapidamente e a jogar as roupas para ela. - Anda, você vai apresentar hoje.

- E você vai ficar onde? Tá louca?

- Cala a boca e fala baixo! - Sussurrei. - Eu entro a partir da quarta cena, pelo menos vai dar tempo deles saírem dos bastidores e aí eu retomo a peça como se nada tivesse acontecido e a platéia não vai se quer notar..

- E se o Kris..

- Se o Kris perguntar você diz que eu estou com dor de barriga. - A interrompi. - Eles não podem me ver, quer dizer.. eu não posso ver eles. Ai, tá vendo? Tô até nervosa!

- Você tá me devendo uma, Lizzie.. Não vou me esquecer disto. - Ela respondeu tirando a roupa de figurante e vestindo a da primeira cena de Wendla.

- Eu vou ficar escondida aqui. - Entrei dentro do pequeno banheiro que havia ali. - Não diga nada a ninguém, ok? - Ela assentiu e eu fechei a porta.

Eu sou muito idiota mesmo, já sei! Insegurança é um dos meus maiores problemas, se eu me irritar já perco a concentração e saíria tudo errado, gr! Só espero que ninguém entre aqui ou minha carreira pode estar arriscada, porque aliás, eu não estou com dor de barriga. E outra, não informei ninguém. E só pra completar, é o último dia de apresentação e eu quase estraguei tudo. Eu não, eles.