Oração ao Tempo escrita por Tifa Lockhart Valentine
A noite seguia seu curso, seus amigos já bebiam, dançavam e se divertiam como se não houvesse amanhã, mas não se sentia no mesmo clima que eles. Aproveitando uma brecha enquanto Naruto cantava no karaokê, abriu a porta de vidro e saiu para a sacada.
O cenário era de tirar o fôlego. A primeira neve do dia caíra a pouco e deixou a cidade salpicada de branco, brilhando sob as luzes. Era possível enxergar a felicidade que rondava as pessoas de longe, todos ansiando pelo novo ano que se aproximava.
E se sentiu sozinha.
O vento frio a envolveu e deixou que seus sentidos despertassem do torpor da bebida, afastando-a do calor que emanava da casa, dos seus amigos. Deixando que seus pensamentos lentamente se voltassem para o relógio.
Vários anos se passaram, várias situações inusitadas e tristes, mas não deixou de ter esperança, de ter fé de que tudo daria certo. Só que sentia medo.
Sentia tanto medo.
Não percebeu quando começou a sentir o aperto em seu peito, quando não conseguia mais respirar. Mal sentiu o frio quando segurou o parapeito, escorregando para o chão enregelado. Achava que ia morrer ali, sozinha, sem nunca encontrar seu par.
Como poderia fazer isso? Como poderia continuar a respirar?
— Olhe para mim, Hinata.
A voz grave chamou sua atenção, tentou focar em quem a chamava, mas não conseguia enxergar através das lágrimas.
— Vamos, Hinata, preste atenção na minha voz. - sentiu o toque cálido em seu pescoço - Conte comigo até dez.
A respiração ardia em seu peito, o olhar desfocado. Precisou de alguns instantes para entender o que era pedido. Não conseguiu encontrar a voz para dizer nada.
— Em voz alta, vamos.
Juntou todo o restante de força que tinha, sugou o ar tentando encontrar fôlego e sussurrou - Um...
Sentiu dor ao respirar, mas a mão quente permaneceu em seu pescoço. Sentiu outro toque em sua testa e logo depois ser apoiada no ombro.
— Continue, Hinata.
Fechou os olhos com força e se concentrou na contagem, concentrou-se na voz e no calor do toque que a envolvia - Dois...
A respiração já não queimava tanto, recebeu apoio para ficar novamente de pé e recostada contra o parapeito gelado - Três...
Deixou de se preocupar com o que acontecia ao seu redor, com o que inundava seus pensamentos - Quatro.
Sentiu quando a mão quente deixou seu pescoço e segurou suas mãos frias - Cinco.
Conseguia escutar a música que continuava a tocar e seus amigos cantando no karaokê - Seis.
Ficou aliviada por saber que não estragou a festa de ninguém - Sete.
Piscou os olhos e percebeu que já não havia lágrimas - Oito.
Encarou os olhos negros de Sasuke à sua frente - Nove.
Respirou fundo uma última vez - Dez.
Secou o rosto, deu um pequeno passo para trás e suspirou, enquanto encarava o amigo. Notou um leve sorriso de canto nos lábios dele.
— Obrigada, Sasuke.
Ele deu de ombros e se espreguiçou, escorando-se no parapeito e encarando a vista - Não por isso, Hinata.
O silêncio os envolveu confortavelmente e permaneceram assim, cada qual perdido em seus pensamentos. Perguntava-se o que teria feito Sasuke sair do meio da festa.
— Sabe... - assustou-se quando ele quebrou o silêncio - Nem tudo são flores.
O encarou sem entender.
— Ninguém realmente fala sobre isso, então a gente acaba achando que nunca mais teremos problemas depois que o relógio zera - ele continuou como se não esperasse resposta e sentiu seu peito se apertar novamente - Só que a realidade não é bem essa.
Como se esperasse exatamente essa frase, Naruto se espreme na porta de vidro, o olhar marejado e começa a se lamentar - Sasukeeee... O Kiba não me deixa cantar mais...
Não pôde deixar de rir enquanto via o olhar quase assassino que Sasuke lançava ao namorado e entendeu exatamente o que ele quis dizer.
— Sasuke... - ele voltou-se para ela - Obrigada por me ajudar. - sorriu, incapaz de dizer o quanto o amigo a ajudou.
— Não perca tempo preocupada com o amanhã, Hinata - ele sorriu de canto novamente enquanto recebia um abraço choroso do namorado - Eu te garanto que no final, tudo vai se encaminhar.
Enquanto voltava a ficar sozinha na sacada fria, levou a mão ao coração sentindo-o bater lentamente, a respiração vinha facilmente e sorriu. Não havia com o que se preocupar. Estava, afinal, cada dia mais próxima de encontrar aquele que seria seu par.
O céu se encheu de cores com os fogos de artifício que lhe roubaram o fôlego.
Não quer ver anúncios?
Com uma contribuição de R$29,90 você deixa de ver anúncios no Nyah e em seu sucessor, o +Fiction, durante 1 ano!
Seu apoio é fundamental. Torne-se um herói!