Oração ao Tempo escrita por Tifa Lockhart Valentine


Capítulo 3
It’s times like these you learn to live again




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Já se acostumara com os casais se formando ao seu redor. À medida em que crescia, foi adotando mais e mais blusas com mangas compridas, pulseiras e faixas em seus pulsos, tudo para evitar aquele olhar de pena que cada pessoa que a conhecia lhe mandava.

Não havia motivos para ficar triste, para pena. Em 11 anos encontraria a sua pessoa especial.

O outono se arrastava, trazendo uma insinuação de frio. Os alunos da escola estavam curtindo o sol de final da tarde enquanto terminavam de guardar os materiais utilizados na aula de educação física. Sorria tranquilamente para Kiba, que discutia audivelmente com Naruto e Sasuke – algo sobre os dois estarem namorando e não ajudando na organização -, quando um grito ecoou por todo o pátio.

A atenção de todos se voltou para Ino que gritava, agachada no chão, visivelmente em pânico.

– O que foi, Ino-porca? – Sakura encarava a amiga sem entender. A loira tremia e chorava, incapaz de explicar o motivo de tanto medo.

– Deve ser um inseto. – Shikamaru bocejou e continuou escorado na parede, os olhos voltados para o céu – Problemática.

E como se nunca tivesse pensado em outra coisa, Shino caminhou com calma até a garota chorosa e pegou delicadamente o inseto preso em seu cabelo. O pátio inteiro observava a cena, mais ninguém demonstrara alguma iniciativa.

– Está tudo bem, Ino. – a voz grave de Shino ecoou no silêncio que se instaurou, pontuado apenas pelos soluços da garota – Era apenas uma cigarra. Ela já não está aqui.

A reação da garota foi provavelmente impulsiva e tomou a todos de surpresa, principalmente o garoto de óculos escuros. Ela o abraçou, com força. Escondendo seu rosto na curva do pescoço dele.

Os meninos gritaram palavras de quase obscenidades enquanto as meninas se impressionavam com a demonstração de carinho que a loira dedicava ao moreno.

Sentiu seu coração batendo mais forte. Em um vislumbre percebeu que os relógios de ambos zeraram. Que eles haviam se encontrado.

Os relógios eram algo que ninguém sabia exatamente explicar. A tecnologia, os cálculos... Tudo o que se sabia era que aqueles números que piscavam de forma decrescente indicavam o tempo necessário para se encontrar a sua alma gêmea.

E ali, na sua frente, estava a prova de que o que sabiam não era um conhecimento completo sobre aquilo. Shino e Ino se conheciam há mais de quatro anos, estudavam juntos e se viam todos os dias. O fim da contagem se deu apenas quando ele a salvou de uma cigarra.

Havia mais entre o relógio e o Computador do que julgava sua vã filosofia.

Levou a mão ao coração disparado. Encarou cada um de seus amigos e amigas que se riam do mais novo casal da escola e se perguntou se um deles poderia ser o seu par.

–x-

A percepção de que os relógios, aqueles números que insistiam em regredir a cada instante, eram de certa forma não tão confiáveis como imaginava-se, deixou toda a sua sala ressabiada. Vários alunos que ainda aguardavam encontrar seu par juntaram-se e começaram a procurar aqueles que possuíam valores iguais em seus pulsos.

– Hinata! - Sakura acenava animada, chamando-a - Venha, rápido!

Sentiu uma pontada em seu peito. Respirou fundo, armou-se com um pequeno sorriso e aproximou-se do grupo.

– O-oi, Sa-Sakura-san.

– Hinata, estamos procurando os pares de nossos relógios! - a garota de olhos esmeraldas sorriu - Quer participar?

Os olhares de todos no grupo se concentraram sobre si, Kiba estava ali, assim como Shikamaru e Chouji. Os outros rapazes e moças não faziam parte da sua sala e não os conhecia. Sentiu o rubor esquentar o rosto como de costume e repuxou a manga da blusa de frio, incomodada.

– Nã-não ac-cho que fu-funci-cione as-ssim… Sakura-san…

– Ah, vamos lá, Hinata. Se aprendemos uma coisa hoje é que esses relógios não zeram quando conhecemos nosso par! - a rosada estava impaciente e um pouco irritada - Vai me dizer que não gostaria de ganhar alguns dias a mais com o seu amor antes dos seus relógios zerarem?!

Pensou por um momento, uma pequena ponta de dúvida se insinuando em seu coração. Será? Será que já conhecia aquele que a faria feliz? Será que a sua pessoa estava ali, ao seu lado?

Respirou fundo e encarou apenas os olhos verdes da sua colega de sala.

– A-ado-raria co-conhecer o m-meu p-p-par ag-agora, Sakura-san, m-mas real-mente acho que n-não é assim q-que fui-funciona. - forçou um sorriso e se odiou por estar gaguejando - N-não m-me imp-porto em esp-perar o-o t-tempo que for…

Era óbvio que não era isso que aquelas pessoas queriam escutar, então fez uma leve reverência e começou a caminhar para a saída. Neji já fora para casa, afinal a aula dele acabava mais cedo, então faria o longo percurso sozinha.

Já se encontrava a alguns metros da saída do colégio, ainda se sentindo meio triste com a conversa que tivera com Sakura e seu grupo. Não gostava de discutir com seus amigos, mas não pôde simplesmente aceitar o que a rosada dizia em silêncio. Não quando Sakura queria expor seu relógio, não quando todos do grupo olhavam para ela, não quando já fizera sua paz com o tempo que restava para encontrar seu par.

– Hinata-chan!

A voz aguda de Kiba a tirou de seus pensamentos. Parou e sorriu enquanto esperava o amigo que corria para alcança-la.

– O-oi, K-kiba-kun…

O rapaz coçou a parte de trás da cabeça, visivelmente sem graça. Sorriu, entretanto, para ela.

– O Neji já foi embora, né? Eu a levo para casa.

Sorriu e assentiu para o amigo, sabia que não adiantava questiona-lo quando ele se decidia sobre algo. E, afinal, Kiba parecia querer lhe dizer algo.

– Obrigada, Kiba-kun. Tem certeza que não vai atrapalhá-lo?

Ele negou com a cabeça e começaram a caminhar novamente.

Gostava de Kiba, ele é uma pessoa animada que sempre estava feliz e divertia-se ao lado dele. Conversavam sobre amenidades e sobre o novo casal da sala.

– Shino é muito sortudo! Ino é linda e gentil. Só a acho muito barulhenta para ele.

Riu divertida. Shino era a pessoa menos falante que conhecia.

– Talvez Shino-kun comece a falar um pouco mais agora…

– E ela pode acabar ficando mais quieta!

Riram mais um pouco e Kiba segurou sua mão, a apertando carinhosamente. Acabou parando quando ele estancou o passo e se virou para encará-la. Sentia o rosto esquentando sob o olhar criterioso e carinhoso de Kiba.

– Desculpa, Hinata-chan.

– P-por q-que se des-desculpa, K-kiba-kun?

Ele levou a mão ao seu rosto em um carinho lento. Sentiu que queimava sob seu toque, mas um pequeno sorriso queria se formar em seus lábios.

– Sempre gostei de você, Hina, por isso pedi para a Sakura chama-la… - ele sorriu de leve - mas havia me esquecido de que não gosta de atenção.

A intensidade do olhar de Kiba estava começando a assustá-la. Ele com certeza nano era seu par, era impossível, então por que via tanto sentimento no olhar dele?

– K-kiba-kun… - sua voz era quase um sussurro.

– Não gostaria, Hina-chan, de descobrir se sou seu par?

Ele aproximou seu rosto, encostando suas testas. Era impossível desviar o olhar daqueles orbes castanhos. Seu coração batia desenfreado e tinha certeza que o rosto estava vermelho.

– Kiba-kun… - respirou fundo e fechou os olhos, empurrando levemente o peitoral do amigo - Por favor…

Sentiu-se sendo liberada por ele e deu um passo para trás, as mãos sobre o peito e desviou o olhar para os pés, enquanto esperava que seu coração se acalmasse.

– Desculpa, Hina… - a voz de Kiba estava baixa e rouca - Eu gosto tanto de você…

– Ah… K-Kiba-kun… - abriu os olhos e o encarou, ainda muito envergonhada - E-eu t-tamb-bém go-gosto m-muito de v-você…

Ele sorriu e deu um passo para voltar a se aproximar, mas levantou as mãos e balançou a cabeça.

– É-é um am-migo m-muito imp-portante p-para mi-mim. - ao ouvir a palavra amigo, viu o brilho sumir do olhar dele. Respirou fundo e, juntando o restante de coragem que tinha, continuou - m-mas é impossível sermos p-pares. O-o m-meu re-relógio ainda pis-pisca…

Para provar o seu ponto, levantou a manga da blusa de frio que usava, mostrando, pela primeira vez, seu relógio para outra pessoa - que não Neji. Kiba encarou aqueles números que piscam e pegou seu braço, passando os dedos sobre eles.

– Parece que não sou mesmo o seu par… - respirou fundo e sorriu de lado - Pelos meus cálculos conhecerei meu par ainda essa semana.

– K-kiba-kun… - chamou baixinho, escondendo seu pulso novamente - o s-seu…

O rapaz voltou a sorrir e apontou para seu próprio pulso.

Seu sorriso foi diminuindo enquanto encarava incrédulo o local em seu pulso direito onde até alguns instantes atrás ainda mostravam números.

– O quê..?

Encarou o amigo enquanto ele perdia as forças nas pernas e caía ajoelhado na sua frente.

– Kiba-kun?

Já não havia brilho no olhar de Kiba. Ele apenas encarava o pulso, arranhando o local onde o seu relógio ficava com a unha.

– Cadê?!

O desespero dele era palpável, sentia seu coração doer enquanto observava o amigo. Para a reação dele ser tão intensa, isso só podia dizer que ele não esperava ter o relógio zerado.

– Hina-chan… - seus olhos marejavam enquanto puxava a manga da blusa dela, vendo que seu relógio ainda piscava - Cadê o meu?

Abraçou o amigo apertado, chorando com ele. Havia algo errado, o relógio dele não poderia ter zerado frente a um par, pois estavam sozinhos no parque. Kiba a apertou no abraço e chorou longamente, praticamente uivando de dor. Tentou consolá-lo, mas não havia o que dizer.

O relógio zerado só podia significar que algo aconteceu com o par de Kiba.

Os deuses pareciam querer mostrar, especialmente hoje, que aquela evolução mágica que associava dois humanos por toda a vida não era algo 100% certo. Que possuir um relógio que piscava não significava necessariamente ser feliz.

Ainda que estivesse triste e preocupada com seu amigo, Hinata sentiu o coração se apertar em seu peito. E se algo acontecesse nesses 11 anos?


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