Caravaneiros do Limbo escrita por GlauSimões


Capítulo 2
They are the Devil in Disguise


Notas iniciais do capítulo

Antes de tudo, eu gostaria de agradecer pelos comentários maravilhosos que recebi! Arrriba, Valentina, AngelSPN e Spartacus! Vocês não fazem idéia de como é bom receber retorno dos leitores/as. Suas palavras me incentivam a continuar escrevendo!

Também gostaria de agradecer a todos que adicionaram esta fanfic aos seus acompanhamentos e favoritos! :D

Este capítulo irá esclarecer muitas coisas, inclusive o nome da fanfic. Além disso, contará um pouquinho da história dos Homens das Letras, do trabalho da família Lavigne e trará surpresas - talvez não tão inesperadas.



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— O que você está fazendo aqui? — Dean insistiu em perguntar.

— Eu vim verificar com meus próprios olhos se Horace escreveu mais algum livro de dados empíricos, para que eu e minha irmã possamos continuar nosso estudo sobre o Limbo. Eu sou um Homem das Letras, afinal. — falou Vincent.

— Escute, eu entendo que há homens das letras espalhados pelo país, e quem sabe, pelo mundo, mas aqui não é não é um ponto turístico, cara.

Os olhos de Vincent faiscaram como brasas e seu rosto adquiriu um tom avermelhado: — Você está insinuando que não sou bem-vindo aqui? Quem você pensa que é para me dizer onde eu posso ou não posso ir? — ele avançou um passo em direção a Dean, que logo tomou uma postura de defesa.

Sam percebeu que se Vincent atacasse seu irmão, Dean não pensaria duas vezes antes de revidar, por isso revelou: — Nós somos Sam e Dean Winchester. Nós somos caçadores, mas também há uma linhagem de Homem das Letras em nossa família.

—Winchester? Um Winchester e meu avô ajudaram na escrita do Estatuto da sociedade. —Dean e Sam se entreolharam.

— Você acha que há mais livros relevantes de autoria de seu avô aqui? — questionou Sam.

— Com certeza. Ele foi membro da Ordem por mais de vinte anos. Escutem, eu sei que sou a parte infratora do acordo, mas me diga: você não faria a mesma coisa se soubesse que a chave do Abrigo foi recuperada e que uma lenda provou ser realidade? — Vincent argumentou.

O intruso percebeu um semblante impassível no rosto de Dean, no entanto Sam pareceu ponderar o pedido. O Winchester mais novo compreendeu que o invasor não entrou no Abrigo com a intenção de oferecer perigo ou ameaça, mas sim com o auxílio de seus instintos e pelo desespero mascarado no simples conjunto de palavras. Cada passo dele foi guiado pela urgência de seguir uma jornada que precisa continuar a ser escrita. O livro de Horace era a base para a família Lavigne continuar o legado dos Homens das Letras, assim como o diário de seu pai era um item norteador para os Winchester continuarem a exercer o negócio da família.

Apesar de Dean demonstrar-se um pouco contrariado, os irmãos Winchester guiaram Vincent pelos extensos e vazios corredores do Abrigo. — Ás vezes, você demonstra empatia demais, Sammy. — reclamou Dean.

— Eu sei o que estou fazendo, Dean. — replicou Sam.

— Como vocês encontraram a chave? — questionou Vincent.

— Longa história. — disse Dean em um tom seco, encerrando o assunto.

Não demorou para o trio alcançar uma sala arredondada equipada com diferenciadas maquinarias. Entre estas: telégrafo, rádio amador e computadores. Uma mesa incomum com um mapa mundial luminoso chamou a atenção de Vincent, que observava tudo literalmente de boca aberta, enquanto se esforçava para verbalizar uma frase que fizesse sentido.

A admiração do Homem das Letras chegou ao extremo quando entrou na biblioteca. Nada passou despercebido pelos olhos do descendente da Ordem que leu e ouviu muitas histórias desde a infância junto com sua irmã. Vários itens lendários adquiriram forma e solidez diante de si: as estantes repletas de livros, as espadas, fotos dos antigos membros dispostos em quadros nas paredes, entre outros. O estudioso não conseguiu reprimir um nó na garganta assim que reconheceu Horace em uma delas. Seu estimado avô, de quem tinha uma remota lembrança em meio ao véu brumoso da passagem do tempo.

Vincent despendeu alguns minutos analisando obras dispostas nas várias prateleiras da biblioteca. Seus dedos percorriam as lombadas dos livros, quando, de repente, foram atraídos a um livreto como se fossem atraídos por um ímã : – Achei! Eu sabia que ele deveria ter deixado um registro como este!

— O que é isto? — perguntou Dean.

— É um registro sobre a evolução da fórmula de um sedativo desenvolvido a partir da planta Salvia Divinorum.

— Você se refere à planta que está sendo chamada de a “nova maconha”? — questionou Sam.

Dean não conseguiu evitar uma risada escapar de sua garganta, provavelmente imaginando os Homens das Letras fumando folhas da planta durante espécie de ritual de preparação antes no início dos estudos.

— Sim. É a mesma planta, porém, os Homens das Letras estavam a estudando para um propósito completamente diferente. Se usada de forma regrada, ela pode facilitar as projeções astrais conscientes, além de torná-las mais estáveis e vívidas. — Vincent esclareceu.

— Por que eles estavam desenvolvendo essa pesquisa? — o Winchester mais novo elaborou uma nova pergunta.

— Vocês estão brincando, não estão? Se vocês já fizeram uma viagem astral pelo menos uma vez, sabem o que há lá! — Vincent argumentou. — Quando os homens das letras começaram a elaborar a formula do sedativo, alguns membros da sociedade e até mesmo alguns caçadores se ofereceram como cobaias. Primeiramente, alguns sentiram os efeitos agressivos devido à falta de conhecimento sobre a dosagem correta e tiveram alucinações. No entanto, após vários experimentos, eles tiveram êxito ao realizar a primeira viagem astral para estudar o Limbo. Em uma dessas projeções, eles descobriram que espíritos vingativos ajudariam no planejamento da volta de um demônio poderoso ao nosso mundo. Infelizmente, eles não tiveram tempo de avisar aos caçadores e de articular uma estratégia de defesa. O resto da história vocês sabem: o Abrigo dos homens das Letras foi desativado misteriosamente.

— Abaddon! — os irmãos Winchester disseram em uníssono.

— Abaddon?! — perguntou Vincent surpreso — Vocês se referem ao demônio que foi escolhido a dedo pelo próprio Lúcifer para ser um dos Cavaleiros do Inferno?

— Yep.

— Ele ainda está entre nós?

— Nope. Eu mesmo dei um fim no desgraçado. — Dean informou.

— Horace criou a livraria como uma base emergencial por este motivo! Eles já sabiam o que estava por vir! Eles mantinham algumas Atas das reuniões lá, provavelmente das últimas, além de pequenos ensaios da nova pesquisa, porém a obra bruta e completa sempre esteve aqui. — Vincent concluiu.

— Os homens das Letras prosseguiram com a pesquisa até conseguir algum resultado ou Abbadon chegou antes? — perguntou Sam.

— Felizmente, eles conseguiram alguns resultados, porém poucos. Vocês não vão gostar nem um pouco deles. — anunciou Vincent analisando os semblantes dos irmãos Winchester. — Eles alegaram que o Limbo tornou-se uma dimensão perigosa após Gadreel falhar em sua missão de proteger o Jardim do Éden. Desde então, esse plano se tornou uma arena onde ocorrem os diversos tipos de assombrações e possessões de espíritos que vocês combatem. Além disso, os últimos registros sobre o Limbo alegam visitas de demônios a esta dimensão. — ele revelou.

Os irmãos Winchester não falaram uma palavra, apenas se entreolharam. Sam franziu a testa em choque e engoliu em seco, mantendo a boca em uma linha dura, e Dean crispou os lábios e trincou os dentes, direcionando o olhar a um ponto qualquer do chão.

— Pelo fato de que poucos documentos foram arquivados na livraria, eu e minha irmã fizemos poucos avanços na pesquisa — Vincent quebrou o silêncio, fazendo os irmãos olharem para ele. — Descobrimos que alguns espíritos estão firmando parcerias ou até mesmo pactos com demônios.

— Há quanto tempo faz? — Dean perguntou

— Aproximadamente há um mês.

— Esses desgraçados estão arquitetando o plano há um bom tempo! — Dean esbravejou e socou a mesa. — Nos leve ao Limbo! — pediu.

—O quê?! —Sam e Vincent soaram surpresos.

— Espere só um segundo, Dean. — falou Sam levando o irmão a alguns passos de distância de Vincent para que pudessem conversar em particular. — Ficou louco? Não sabemos o que realmente está acontecendo nessa dimensão paralela. Por enquanto, são apenas hipóteses! — o caçador mais jovem argumentou.

—Você acha que são apenas hipóteses, Sam? Durante os tempos que eu andei com o Crowley, eu tive a oportunidade de conhecer a mente dele muito bem. — revelou o caçador mais velho a contragosto.

Após ressuscitar, devido ao poder da Marca de Caim e tornar-se um aliado de Crowley, Dean explorou um mundo novo, no qual ele adquiriu poderes sobrenaturais, adicionados a uma ruptura de seus princípios humanos e de caçador, resultando em um comportamento instável e imprevisível desencadeado por uma insaciável sede por sangue. Foram longos meses sentindo-se indestrutível enquanto colecionava uma lista de mortes que levavam a sua assinatura. Uma extensa lista de vidas interrompidas simplesmente por terem sido um empecilho no cumprimento de seus objetivos torpes e distorcidos.

Dean teve seu corpo baleado, esfaqueado e flagelado por diversas armas humanas e celestes, no entanto, agora, salvo e curado da Marca de Caim, estava ileso às custas de um alto preço desconhecido que seria cobrado de seu irmão. As marcas dos dias sombrios estavam apenas registradas na memória do caçador, as quais eram relembradas à noite e durante o dia e o perturbavam impiedosa e dolorosamente da mesma forma que as lembranças do período em que esteve no Inferno.

— Você acha que Crowley está coordenando isso tudo? — questionou Sam.

— Você acha que não? — Dean instigou.

— Eu não sei o motivo de vocês quererem ir ao Limbo, mas devo alertá-los que apesar da substância ter sido aperfeiçoada, ela ainda produz alguns efeitos colaterais. Além disso, o Limbo é uma dimensão extremamente inóspita. —Vincent alertou.

— Que se dane o perigo! Eu lido com ele todos os dias da minha vida. — o caçador mais velho se direcionou a Vincent. — Eu vou te contar o que está acontecendo em poucas palavras. É o seguinte: um grande conflito irá acontecer se não descobrirmos como abrir os portões do Céu, os humanos irão pagar o preço. Diante das circunstâncias, essa pode não ser a escolha mais correta, traça de livros, mas é a melhor que nós temos. Podemos contar com você?

O ronco dos motores da moto e do Impala rompiam o silêncio da madrugada. A rua era iluminada pela iluminação pública e pela forte luz da lua cheia prestes a ser ofuscada por nuvens. A livraria estava em plena escuridão, no entanto, havia pessoas trabalhando no seu interior, em um lugar escondido e protegido.

A lua projetou sua luz nas silhuetas semelhantes mescladas à penumbra permitindo que os irmãos Winchester vislumbrassem as estantes abarrotadas de livros até o teto. Vincent abriu uma porta de um pequeno hall de circulação da escadaria que dava acesso à residência e pressionou o interruptor. As lâmpadas principais e auxiliares ligaram. Porém, uma das luminárias que ladeavam um amplo espelho de moldura prateada permaneceu desligada. Provavelmente estava queimada.

O pesquisador aproximou-se da luminária em questão e mexeu na lâmpada. No segundo seguinte o belo espelho revelou-se ser o portal de uma engenhosa passagem secreta. Uma escada dava as boas vindas a quem entrasse no ambiente oculto e conduziu o trio ao subsolo que abrigava a base auxiliar. Ao chegar aos pés da escada, observou-se que o recinto escondido sob a livraria era consideravelmente menor do que o Abrigo oficial. Porém, sua extensão era suficiente para o desenvolvimento das atividades que ali ocorriam.

O esconderijo não era equipado com muitas maquinarias tecnológicas: havia apenas uma dupla de computadores convencionais, dispunha de um pequeno laboratório químico amador e ao lado deste, quatro estofados, provavelmente destinados aos trabalhos relacionados ao uso do soro, um armário de metal onde eram guardados os documentos da Sociedade, algumas estantes repletas de livros e um grande mapa mundi ao lado de um mapa dos Estados Unidos, os quais estavam demarcados com pinos vermelhos, amarelos e verdes, com a predominância dos amarelos.

— Eu encontrei o registro sobre as contra indicações e os efeitos colaterais com as principais notas sobre a evolução do soro e trouxe dois irmãos caçadores. Eles precisam de nossa ajuda. — o Homem das Letras anunciou seu retorno.

O constante ruído de dedos ágeis batendo no teclado de um computador parou: um homem alto que deveria estar além dos seus cinqüenta anos e de semblante ranzinza juntou-se ao trio com o auxílio de uma bengala. As lentes espessas dos óculos deixavam seus olhos azuis duas vezes maiores do tamanho natural.

— Caçadores. Ajuda... Por que vocês vieram até nós? — Donald dispensou as boas vindas.

— Ontem nós retornamos de Winfield , onde ficamos por uma semana e tudo o que fizemos foi ver uma adolescente possuída definhar até a morte. Hoje de manhã, um amigo nosso nos avisou que não se tratou de uma possessão desenvolvida por demônios, mas sim por espíritos revoltados. Eles avisaram que se os Portões do Céu não forem abertos, o sofrimento que a garota passou foi apenas uma pequena amostra do que as pessoas sofrerão. Nós acreditamos que são os demônios que estão fomentando a revolta dos espíritos e utilizando-a como um sistema de recrutamento de suas falanges. Isso significa que algo muito grande está por vir. — Sam explicou a gravidade da situação.

— Típico. Vocês sempre nos procuram quando não há outro lado para onde correr. — comentou Donald com desdém enquanto deixava as páginas do livreto deslizar em seus dedos.

Sam lembrou que seu avô paterno, Henry, uma vez mencionou o relacionamento atribulado entre caçadores e Homens das Letras, devido suas diferentes formas de lidar com o sobrenatural. No entanto, estes dois grupos estudavam e agiam para o mesmo propósito, por isso, no mínimo, deveria haver um espírito de coleguismo entre eles. Se a inospitalidade de Donald fosse fruto de alguma desventura com algum caçador, o que era provável, eles teriam que ser um pouco tolerantes. No caso dos Lavigne, teriam que saber jogar com eles.

— Isto é um incentivo a nos ajudar? — Sam retirou o livro do casaco e mostrou ao homem.

— Escrito por Horace Lavigne. — Dean enfatizou o nome.

O caçador mais velho percebeu que o semblante pesado Donald derreteu tal como uma máscara de cera. Sam percebeu seu irmão se mexer ao seu lado, em claro sinal de contentamento ao ver o efeito produzido sobre o homem.

Uma voz soou : — Um homem de palavra. — os olhos dos dois caçadores pairaram sobre a mulher cujos cabelos ondulados caíam para além dos ombros, Olívia. — O que vocês testemunharam foi um tipo raro de possessão. — Olívia continuou enquanto se aproximava do grupo.

— Não sentimos cheiro de ozônio e tampouco sinais de ectoplasma ou sentimos queda na temperatura. — replicou Sam.

— O livro, primeiro. — Olívia apontou seu pai com os olhos, indicando a quem Sam deveria entregar o livro.

Donald sentiu o peso do livro em suas mãos e bastou uma rápida olhada no nome do autor para assegurar-se que aquele exemplar era o autêntico. Envolveu aquele livro em seus braços, indiscutivelmente leais ao legado da família Lavigne. Donald finalmente poderia saciar suas aflitivas dúvidas e até mesmo preencher algumas lacunas deixadas pelo pai. O filho de Horace dispôs o estimado livro em uma prateleira, encaixando-o em uma vaga entre outras obras, aparentemente há muito tempo reservada.

— Bem, uma vez que um espírito domina suas faculdades e se for de sua vontade, ele pode não deixar nenhum tipo sinal de sua presença porque consome muito a energia deles. Muitos casos de exorcismos tiveram um fim trágico por que os exorcistas não estavam cientes disso. O famoso caso da garota alemã, Anneliese Michel, é um exemplo. — Olivia continuou.

— Como se acaba com eles? — questionou Sam.

— Do modo comum: encontrando os restos mortais, salgando-os e queimando-os. O grande desafio desse tipo de possessão é que a entidade raramente mostra seu rosto, pois permanece no Limbo, o que torna muito mais difícil sua identificação e consequentemente, o levantamento de dados de quando ainda estava viva. — Vincent falou.

— Seja o que for, o que está acontecendo no Limbo já está em curso. — disse Olívia se aproximando do grupo. — Ontem à tarde, eu fiz uma projeção astral de emergência após receber uma ligação de um caçador de Topeka que relatou um estranho caso de um homem que tomou um choque de mil volts e se levantou do chão após um simples desmaio. Não houve nenhum dano físico. Eu fui até o Limbo e constatei que há poucos Ceifeiros na cidade. — ela concluiu.

Os irmãos Winchester se entre olharam. A última vez que um evento parecido a este aconteceu foi quando Alastair tentou matar dois Ceifeiros na cidade de Greybull, Wyoming. Haveria duas opções para causar a falta de representantes da Morte: eles estavam sendo novamente mortos ou estavam cometendo suicídio. Tal como Tessa, por não agüentarem ouvir as súplicas dos espíritos no Limbo e nada poderem fazer. A segunda possibilidade soou mais plausível do que a primeira.

— Ceifeiros suicidas — revelou Dean com pesar ao fechar os olhos e arquear as sobrancelhas.

Vincent automaticamente olhou alarmado para a irmã, na expectativa que ela dissesse algo, já que ela era a principal responsável por estudar o Limbo, as criaturas que nela transitavam, bem como a dinâmica entre elas. No entanto, Olívia exibia um olhar desfocado, ao passo que digeria a informação.

— Desde que os Portões do Céu estão fechados, nenhuma alma é recebida ou regressa à Terra. Os Ceifadores não devem estar suportando os pedidos de ajuda. Oceanos de espíritos clamando por um descanso e não podem fazer a passagem. — Sam explicou — É difícil não se revoltar perante a isso. — ele falou mais para si mesmo do para os outros.

— É melhor darmos continuidade ao estudo de conjuntura do Limbo em busca de evidências do tal programa de recrutamento antes que os pinos vermelhos ganhem mais espaço no mapa. — a Mulher das Letras falou ao substituir o pino amarelo aplicado na capital do estado por um que representava gravidade máxima.

— Vocês sabem o que isso significa, não sabem? — questionou Sam em um tom sugestivo.

Como para bom entendedor, meias palavras bastam, Vincent direcionou-se ao seu pequeno laboratório e resgatou de uma estante um dos frascos cheios de substância. O químico demonstrou perícia e cautela ao selecionar os materiais esterilizados e individuais necessários para realizar atividade.

— Vocês estão dispostos demais a usarem uma substância que não conhecem. — Donald constatou ao observar que seu filho preparava dosagens para quatro pessoas.

— Agradecemos sua preocupação, mas nós sabemos como nos virar do outro lado. — informou Dean exibindo um tímido sorriso cínico ao perceber a acidez contida na voz de Donald.

Sam e Dean estavam acomodados nos móveis, semelhantes a divãs, dispostos no espaço reservado às atividades que seriam praticadas em breve, e apenas perceberam que Donald não se juntaria a eles nesta empreitada quando o avistaram organizando o material reservado em uma pequena bandeja enquanto Vincent tomava seu posto em um estofado.

— Espero que ninguém tenha medo de agulha. — falou Donald, pela primeira vez, desde os irmãos caçadores chegaram, uma sugestão de humor e sorriso despontou em seu rosto.

Após a introdução de cateteres intravenosos no braço de cada um, a dose foi aplicada. O primeiro a recebê-la foi Vincent e o segundo foi Dean, que recebeu algumas instruções de Donald: — Relaxe e deixe sua mente vazia — o caçador entreabriu um dos olhos e espiou o homem grisalho aplicar o líquido cristalino na porta de injeção do dispositivo com destreza. Sam foi o próximo a receber o sedativo, o qual não tardou para surtir efeito e a última coisa que ele ouviu foi uma voz distante feminina dizer: — Nos vemos do outro lado.

Antes de aplicar a substância em Olívia, Don avisou: — Vocês terão apenas tempo suficiente para realizar uma rápida sondagem. Não desperdicem tempo e mantenha esses dois sob controle. — a pesquisadora de olhos azuis escuros apenas assentiu e aguardou suas pálpebras pesarem.

●●●

A madrugada era um bom horário para ir à cidade de Topeka, pois era mais fácil saber quem era vivo ou morto. A noite estendia seu manto cintilante sobre o município que celebrava seu período mais florido do ano devido o festival anual de tulipas. As flores coloriam a cidade e emanavam seu perfume, agraciando os seus cidadãos. No entanto, o cenário de trás do véu do Limbo, era exponencialmente contrastante: estava frio demais para uma noite de primavera e pairava um suave odor de ozônio.

— Vamos dar uma olhada na cidade. É melhor nos separarmos. Nos encontramos neste locar em poucos minutos. — sugeriu Dean.

— Não. Nós temos pouco tempo e vocês tem muita coisa para aprender — contrapôs Olívia.

Assim que a pesquisadora terminou de falar, o quarteto ouviu um grito que pareceu vir de cima e não tardou para algo cair próximo ao grupo. Era uma pessoa. Um homem que acabou de se jogar do prédio que se erguia atrás do quarteto, o qual se aproximou lentamente do corpo imóvel, cuja imagem começou a oscilar freneticamente até desaparecer e ressurgir berrando frases indecifráveis da janela de qual pulou, iniciando um novo ciclo.

— Um Eco da Morte. — comentou Sam. — Nós achamos um espírito em um piscar de olhos — ele complementou olhando para o homem que estava esticado no chão novamente.

— Na verdade dois, olhem — corrigiu Vincent, apontando para o outro lado da rua.

Uma garota em idade escolar atravessava a ampla avenida quando de repente, seu corpo foi iluminado por uma luz forte como se estivesse vindo um carro em sua direção, porém a rua estava completamente deserta. A estudante esticou os braços com as mãos espalmadas em frente ao seu corpo, a fim de proteger-se da colisão eminente: a menina foi projetada para o alto, rodopiando no ar e logo ela desapareceu, apenas para repetir tudo de novo.

Assim que o grupo atingiu a esquina do quarteirão seguinte, avistou um terceiro espírito perdido, porém este não estava preso ao ciclo vicioso dos seus últimos momentos de vida. Muito pelo contrário, estava ciente de que não estava mais vivo: um homem tombado sobre seus joelhos queixava-se das múltiplas desventuras que teve durante sua existência. Lamentava-se de seus inúmeros erros e blasfemava por não ter respostas as suas súplicas. Sua ira atingiu o ápice ao ultrajar a entidade suprema de Deus. À medida que o homem se revoltava cada vez mais, o quarteto sentiu-se enregelar de frio com a incômoda sensação de que vestes de gelo se apegavam aos seus corpos.

As luzes da avenida oscilaram algumas vezes até apagarem por completo durante poucos segundos.O quarteto olhou ao redor, porém nada avistou além do vazio, pois o espírito irritado e confuso havia desaparecido. Um odor fétido acentuado e nauseabundo revoltou-lhes o olfato.

— Enxofre. —falou Sam levando a mão ao nariz —Eles estão aqui!­ — constatou.


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Notas finais do capítulo

Espero que a leitura não tenha sido enfadonha devido ao grande número de informações, mas elas foram realmente necessárias. A notícia boa é que partir deste ponto os fatos começam a tomar forma :D.

Leitores fantasminhas, não fiquem no Limbo! Não tenham medo da luz! Preciso conhecê-los para interagir com vocês. :)

A pergunta que não quer calar: há algum(a) corajoso(a) que aceitaria tomar uma dose do sedativo de Salvia Divinorum? hahaha

Aguardo vocês nos comentários para trocamos algumas idéias. :)