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Capítulo 4
Capítulo 4


Notas iniciais do capítulo

Boa noite a todos, quero começar essa nota pedindo desculpa não só poder demorar a postar, como também pelo sumiço. Tive alguns problemas técnicos e fiquei sem notebook por algumas semanas, corri o risco até de perder os arquivos, mas felizmente deu tudo certo.
Aqui está o capítulo 4 e obrigada pela paciência de aguardarem.
Lets go, boa leitura!



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Capítulo 4

– São seus cabelos enormes ou estou com a sensação de que você cresceu? – Edward brinca, enquanto me pega no colo e me rodopia.

Estamos todos reunidos na sala da casa dos meus pais, há balões, comidas e faixas de boas vindas para mim. Rosalie está sentada em uma poltrona de frente para mim, sorrindo, enquanto eu pego Renesmee no colo e não me canso de enchê-la de beijos. Eles me observam com estranheza, como se eu não fosse mais a mesma pessoa, mas tento me abster disso e não fazer comentários sobre.

– Nunca mais passe três anos sem voltar pra casa, mocinha. Eu sei que seus avós foram soldados, que seu pai serviu a Marinha, mas eu cansei, não quero mais filhos na guerra.

– Mãe, se você tivesse noção de cada vida que eu salvei, nunca diria isso – sorrio para ela – estive com o coração de um menino iraquiano nas minhas mãos e completamente dilacerado e o reconstruí do zero, praticamente. Se vocês soubessem o quão inspirador isso é...

Meu pai, Carlisle, apóia uma de suas mãos em meu ombro e me dá um sorriso de apoio. Jasper havia me buscado no aeroporto com flores, cartões de boas vidas e bombons, mas a única coisa que eu conseguia pensar era na carta de Emmett, que repetidamente passava pela minha cabeça.

– Sabe do que eu preciso? Preciso saber se a Bella foi uma amiga e cunhada descente e me arrumou um apartamento.

Bella já iria responder, quando minha mãe entra no meio.

– Claro que não, você vai ficar aqui essa noite.

– Mamãe, eu... Eu não consigo lidar mais com muito movimento, eu tenho pesadelos a noite, eu vou assustar vocês. Eu só preciso do meu cantinho, prometo que amanhã bem cedo eu to aqui comendo sua torta de maçã e provando sue café.

Ela me olha desconfiada e rola os olhos.

– Certo.

– A chave está com o Jasper, Ali. Trouxemos sua mudança de Baltimore, assim como suas roupas. Está tudo lá. Aliás, o apartamento é no centro de Forks, assim como você pediu, em cima do Bar do Joe. E seu carro está na garagem do prédio também.

– Você é um anjo, Bells.

Levanto-me e me despeço de todos. Já se passa das onze da noite, de apesar de estar tarde, ninguém está com sono.

– É bom te ter de volta – Rosalie, minha irmã, diz, abraçando-me e chegando perto do ouvido – Depois você tem que me contar dos soldados bonitões da guerra.

Olho para ela sorrateira, sem que ninguém escute.

– Isso com certeza.

Nós duas rimos e ela se apóia em um de meus braços, deitando sua cabeça em meu ombro.

– Olha isso.

Rosalie me mostra seu anel de diamantes, muito menor do que eu esperava que ela exigisse.

– Eu sei que é simples, mas acho que por ele vale a pena.

– É mesmo? – sorrio para ela, apertando sua mão em apoio – Eu preciso conhecê-lo.

– Precisa mesmo. Acho que vocês dois se darão muito bem, ele também veio da guerra e acho que está na mesma situação que você. Vai ser bom duas pessoas para se apoiarem, ainda mais que agora ele está ainda mais perto de pertencer a nossa família. Eu não sei o que você passou lá, mas eu recebi uma irmã que comparando àquela que foi embora, só voltou com a mesma face. Você é outra Alice.

– Eu vi coisas, passei a sentir coisas que me tornaram outra pessoa. Não vejo isso como algo negativo, Rose.

– E nem eu. – ela sorri, me abraçando apertado e afundando seu rosto em meus cabelos – Estou feliz por você estar de volta, senti sua falta, Ali.

– Eu também, irmã. Conversamos mais depois?

– Claro. Espero que tenha uma boa noite na sua nova casa.

– Ah – rolo os olhos – É provisório, não pretendo me apegar muito.

Rosalie sorri e eu sigo para fora de casa, com Jasper me abraçando.

– Você não acha tudo estranho?

– Como assim?

– Nos últimos anos eu só te encontrei na Alemanha, ou em Baltimore, ou em Connecticut. Não sei, te ter em Forks de novo é como voltar na adolescência.

– Não somos mais adolescentes, Jass. Não quero ser estraga prazeres, mas já passamos dos 30.

Jasper gargalha e liga o carro, nos guiando em direção ao centro.

– Você... Quer companhia essa noite?

E aí está. Ai está o momento em que eu não queria chegar. E se uma coisinha que eu dissesse ou fizesse pudesse fazer tudo desmoronar? E se eu tivesse escolhido outra vida para mim? Ou outra pessoa? E se eu decidisse ter lutado por Emmett?

Mas eu não o fiz. Assim como também não escolhi lutar por Jasper. Logo eu, que lutei por tantas vidas, havia desistido de tudo que poderia me fazer realmente feliz. E sou covarde, não luto nem por aquilo que mesmo sem fazer forças, ainda está em minhas mãos.

– Eu queria, Jass, e muito. Mas estou cansada e me acostumei a dormir sozinha. Só queria te pedir pra ser um pouco paciente, está bem? O último ano não foi nada fácil, me readaptar não vai ser nada rápido.

–Sim, eu... Já esperava por isso. Mas vou deixar o celular do meu lado essa noite. Qualquer coisa é só me ligar que eu venho correndo.

– Obrigada, Jass.

A gente para em frente ao prédio simples da lanchonete do Joe e eu viro-me para ele, lhe dando um selinho.

– Amo você, Ali. Senti sua falta mais do que qualquer coisa nesses anos.

– Eu também, eu também.

Nós sorrimos para o outro e quando saio do carro me pergunto se lhe retribui os sentimentos para enganá-lo, ou para enganar a mim mesma.

(...)

O apartamento é pequeno, tem apenas um quarto, uma cozinha com balcão americano fazendo divisória com a sala. Tudo está no seu devido lugar, com uma decoração de bom gosto, exatamente da forma que eu gosto. Aqui é silencioso, diferente do que eu estava acostumada nos últimos anos, e não tem cheiro de poeira, ou guerra, mas também não tem cheiro de paz.

Me dirijo até o banheiro e retiro minha farda, pendurando-a em um canto, e enquanto deixo a ducha quente cair em cima de mim, fecho os olhos e relembro de cada palavra que li naquele avião...

“Doutora Mary Alice Brandon... Sargento... Querida...

Enfim, existem tantas formas de começar essa carta, e tantas coisas que eu poderia escrever nela... Tantas palavras bonitas e promessas... Mas eu sei que você não quer ouvir nada disso. Nesse momento eu queria que você tivesse noção e me explicasse, como cardiologista, porque meu coração bate tão forte que o peito dói, e não consigo gritar ou respirar, mas ao mesmo tempo sinto tudo, cada veia e cada fibra, cada osso e cada nervo, todos vivos e alertas em meu corpo, como se tivessem recebido uma carga elétrica. É possível eu estar assim por que te conheci? E fiz da nossa noite juntos o momento mais especial que já passei na vida? Eu não quero deixar você ir. Alice, eu não quero deixar você ir. A única coisa que quero fazer é comprar sua passagem para minha casa e fazer com que você fique lá comigo até que sejamos mais íntimos que um casal de velhinhos, mas a vida é diferente, e acontece de termos que seguir outro rumo, às vezes você tem que fazer a coisa errada. Às vezes você tem que cometer um grande erro para descobrir como fazer as coisas direito. Os erros são dolorosos, mas eles são a única maneira de descobrir quem você realmente é. Então, mesmo que eu te veja semana que vem, ou daqui a 10 anos, peço para que nunca deixe de ter fé. Toda vez que se sentir desacreditada, lembre daquele cara idiota que se apaixonou por você só em ver seu sorriso no barracão cirúrgico das Forças Armadas Americana. Lembre-se que ao final de um dia, a fé se torna uma coisa engraçada. Ela aparece quando você menos espera. É como se, um dia qualquer, você percebesse que o conto de fadas é um pouco diferente do seu sonho. O castelo pode não ser bem um castelo. E que não é tão importante ter um ''felizes para sempre'' e sim um ''felizes nesse exato momento''. E, uma vez ou outra, as pessoas podem até te deixar sem fôlego. E você, Alice, você me deixa sem fôlego e ao mesmo tempo me faz respirar de novo. Obrigado pela oportunidade de ter se feito presente em minha vida.

Uma boa caminhada, Doutora

Com todo carinho do mundo,

Tenente Emmett McCarty”

Não tenho muita paciência pra permanecer embaixo d’água, acabo então não demorando no banho. Bella havia não só arrumado as minhas roupas, como também feito a compra de casa e ajeitado tudo em seu devido lugar, me dando o trabalho de apenas sair do banho e ir atrás de um copo de leite e biscoitos.

Coloco-os em uma bandeja e volto para o quarto, vestindo um par de meias e me enfiando debaixo das cobertas. Emmett a essa hora poderia estar fazendo o mesmo que eu, e quando eu abro o skype e o adiciono, vejo que ele já está online. Penso se devo chamá-lo ou não, se aquilo tinha um real significado ou não. Mas antes que eu pudesse pensar duas vezes, sua janela aparece para mim.

Emm: Chegou bem em casa?

Sorrio comigo mesma, tentando não expor toda minha euforia, e respiro fundo, digitando numa rapidez nunca vista.

Alice: Sim. Já revi família e amigos. E você?

Emm: Cansado, jantei com meus pais. Vim pro meu apartamento, mas esse lugar parece ser grande demais pra mim.

Alice: Aqui também. Tudo muito quieto.

Emm: Vem pra cá!

Alice: Você sabe q eu quero. Aliás, aquela carta foi a coisa mais linda que já recebi na vida.

Emm: Chamada de vídeo?

Alice: É melhor.

Não demora muito para que o convite apareça e eu o aceito imediatamente. Nossa conexão demora para se estabilizar, mas logo vejo seu rosto na tela, iluminado apenas pela claridade do monitor no notebook. Emmett está sorrindo pra mim, enquanto passa a mão nos cabelos despenteados.

Faço uma trança enquanto aceno para ele.

“Não resisti em esperar até amanhã pra conversarmos” – ele diz, com um sorriso aberto e uma voz rouca.

“Eu também. Fiquei com medo de ser apressada demais.”

“Você não é apressada. Nunca é.”

“Você que pensa.”

Acho que estamos sem graça, ou sei lá, crentes de que tudo que acontecera na Alemanha ficara exatamente lá. Nós passamos segundos, talvez minutos, apenas nos encarando pela tela do computador, incrédulos de que tudo isso realmente estava acontecendo.

“Já encontrou seu noivo?” – Emmett quebra o silêncio.

“Sim, e não foi a coisa mais agradável do mundo. E você?”

“Ainda não, ela não mora aqui. Na verdade acho que a cidade dela é próxima a Seattle e eu estava pensando...”

“Emmett, não, por favor, não diga isso.”

“Dizer o que? Que estou louco pra te ver de novo? Olha, eu vou entender se você me disser que não corresponde um terço do que eu disse naquela carta, vou entender também se me disser que quer seguir sua vida com seu noivo, mas não me negue te ver de novo.”

“Se a gente se ver de novo, isso não vai acabar nunca.”

“Você quer que acabe?”

Abaixo meus olhos, perturbada demais para responder de imediato. Uma hora você têm que tomar uma decisão. As fronteiras não mantêm as pessoas para fora; elas te prendem dentro de si. A vida é confusa mesmo, é assim que fomos feitos. Então você pode desperdiçar sua vida desenhando linhas ou então você pode viver cruzando-as. Mas há algumas que são perigosas demais para serem cruzadas, e aqui está a verdade sobre a verdade: Ela dói. Então, nós mentimos.

“Eu acho que deve acabar.”

O semblante dele do outro lado da tela é indecifrável. E como ficamos em silêncio, ele simplesmente fecha nossa janela e fica off-line, sem nem ao menos me dar boa noite. Tudo bem, o que mais eu poderia esperar depois daquela resposta?

Aguardo um instante para ver se ele me bloqueia, mas isso não acontece. Acho que é melhor desligar tudo e dormir e acaba que é exatamente isso que eu faço. Demoro para pegar no sono, enquanto palavras de uma carta que agora estava guardada em uma de minhas gavetas rodopiam em minha mente.

(...)

– Você por aqui, tão cedo? - Bella arqueia a sobrancelha ao chegar na cozinha de minha mãe e me encontrar sentada no balcão. Esme faz ovos mexidos, não há ninguém em casa além de nós.

– Costume de acordar cedo. Onde está a Nessie?

– Edward a levou para a escolinha. Está sendo uma experiência interessante.

Eu havia prometido para mim mesma que não mencionaria o assunto sobre Emmett com ninguém além de Jane, mas Bella era minha parceira, minha irmã, minha melhor amiga, e ela sempre soube quando havia algo de errado.

– Que tal irmos lá em casa? Fiz um capuccino maravilhoso.

– Não roube minha filha por muito tempo, Bella. – minha mãe brinca, enquanto Bella me arrasta pelo braço até os fundos. Nós duas caminhamos em silêncio até seu chalé, e quando entramos, sinto que finalmente posso respirar de forma desesperada como eu havia ansiado desde a hora que acordei.

– O que aconteceu? – Bella me questiona, e eu apenas balanço a cabeça e sento-me no sofá, afundando meu rosto em minhas mãos.

– Eu me apaixonei por outra pessoa.

Bella Swan arregala os olhos, extremamente espantada, e se senta ao meu lado, sem dizer uma só palavra. Ela sabe que eu preciso falar, que eu preciso desabafar, e apenas segura minha mão e me deixa prosseguir.

– Isso nunca aconteceu. Eu estudei anos fora, eu passei três anos na guerra, e no último momento, no último dia antes de vir pra casa, eu acabei com tudo.

– Alice, como?

– Eu...Eu não sei. Eu cuidei dele no Iraque, nós voltamos pra Alemanha, tomamos algumas cervejas e quando vi já estava tendo a noite mais maravilhosa da minha vida num quarto de motel alemão. Agora ele me quer de novo, quer me ver de novo. Céus, ele também é noivo, mas tenho a sensação de que se eu dissesse sim, ele largaria tudo por mim. E tem o Jasper... Bella, ele me esperou esse tempo todo. Não posso fazer isso.

– Você quer que eu te aconselhe?

– Você sempre teve o melhor a dizer, Bella.

Ela respira fundo, esfregando sua mão na minha e sorrindo.

– Você superou as expectativas de todo mundo sabia? Quero dizer, você se tornou uma mulher tão boa e maravilhosa, tão diferente de tudo que fomos na adolescência... Sempre esperei as melhores coisas de você, e Alice, não faça disso um erro. Se apaixonar não é um erro. Você passou anos fora, você e o Jass são de longe pessoas completamente diferentes agora. Nós passamos toda a vida nos preocupando com o futuro. Fazendo planos para o futuro. Tentando prever o futuro. Como se desvendá-lo fosse aliviar o impacto. Mas o futuro está sempre mudando. O futuro é o lar dos nossos medos mais profundos e das nossas maiores esperanças. Você não tem que se privar de nada por conta das atitudes de alguém para com você. Jasper te esperou porque ele quis, você nunca pediu isso a ele.

– Eu sei, mas...

– Olha, uma coisa é certa: o futuro assusta a gente o tempo todo, mas quando ele finalmente se revela, nunca é como imaginamos. E aconteceu com você.

Balanço a cabeça negativamente, enquanto me levanto atordoada e caminho até a janela, sem pensar duas vezes na resposta.

– Não posso ir em frente com isso.

– O que quer dizer?

– Quero dizer que cometi um erro e estou indo dar fim nele agora. Diga a Esme que já estou de volta.

Não espero uma resposta de Bella, apenas tiro a chave do carro de dentro do bolso e caminho até a entrada da casa, com pressa. Eu sempre gostei de dirigir, principalmente nos dias de apreensão, nos dias em que eu só precisava pensar. Mas agora era um dia diferente. Não havia no que pensar, eu tinha apenas que reparar os danos e fazer com que ninguém sofresse pelas minhas escolhas, mesmo que eu acabasse por sofrer com isso.

Chego em casa e retiro o chip do meu celular, quebrando-o. Emmett não conseguiria ligar para mim.

Ligo o computador e entro no mesmo instante no skype. Não espero um segundo até ir a janela de Emmett e bloqueá-lo, sem dar a chance de ler as mensagens que ele havia deixado naquela manhã. Eu não podia. Eu não devia.

A vida humana é feita de escolhas. Sim ou não. Dentro ou fora. Em cima ou embaixo. E também há as escolhas que importam. Amar ou odiar. Ser um herói ou um covarde. Brigar ou se entregar. Viver. Ou morrer. Essa é a escolha importante. E nem sempre ela depende das suas vontades, ou do seu amor. Porque apesar de tudo, não podemos escolher quem amamos, mas podemos escolher quem queremos ser.


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Notas finais do capítulo

O que acharam? Eu particularmente criei um espaço especial no meu coração para esse capítulo. Até o próximo.